,Aphrodítē

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    Mais um dia que nasce e como sempre, de um jeito único. Me levanto, tomo o café da manhã e vou até a sala. A casa está vazia já que minha tia Izabelli tem se dedicado totalmente ao tricô. Quase esqueço! Elisa! Ela disse que ainda não está se sentindo muito bem, mas logo mais tarde vou puxá-la para as aulas. Mais tarde.

    Me lembro bem do que Miranda falou: Minha memória... Sendo assim creio que poderei então ver Cecília quando eu quiser já que ela é memória somente minha... Mas por que não a vejo? Tem algo que não consigo parar de pensar: Cecília é minha memória, mas eu sou memória dela? Nem ao menos nos conhecíamos...

    Minha mente deve estar conturbada a ponto de não conseguir enxergar minha própria memória. Pego um disco aleatório de música clássica e um drink de vodka. Me sento e fecho meus olhos, espero pelo que ainda não sei o que é, se é que é algo definido. Saindo do meu corpo me vejo pesado, carregado de algo que não é nada bonito de se ver. Leve somente o cabelo e a barba.

    Decido me despir de todo peso, toda má sensação. Tomo mais um gole e encosto a cabeça.

Ouço alguém rir e abro os olhos. Cecília! Ela está sentada do meu lado.

    Fico tão feliz que esqueço o copo. Rapidamente a abraço e ela me abraça de volta. Ela age como se sempre estivesse ali. Olhando o seu rosto percebo que ela sempre esteve nos meus sonhos e em alguns delírios também. Continuo olhando pra ela e de alguma forma ela me diz não preciso me preocupar porque ela vai continuar ali.

- Tenho que me acostumar contigo aqui, não é? – Digo sorrindo

    Ela concorda fazendo sinal de positivo com o rosto e sorri também, tudo nela é lindo, mas... Agora, digo, desde que isso tudo aconteceu eu a enxergo como uma filha ou algo assim. É incrível a nossa ligação. Agora não estou mais sozinho como me sentia durante toda a vida, tenho Cecília. Ela continua sentada comigo e fecha os olhos, deixando claro que está escutando a música.

- Você gosta de Mussorgsky? – pergunto

    Ela continuou com os olhos fechados e encostada na cadeira. Pego de novo o drink e tomo mais uma dose, resolvo fechar meus olhos também. Agora sim estou em paz.

    Com um leve susto eu acordo, sim, dormi na poltrona. Me sinto deveras leve, faz tempo que não pego no sono assim. Me esqueci das aulas de Elisa! Já é quase noite, o que me lembra também que não almocei, mas estranhamente não sinto fome. Fui até meu quarto, peguei uma cartilha, lápis e borracha, e logo depois fui direto para o quarto dos fundos para dar as aulas que tinha prometido à Elisa.

Bato na porta e ouço um arrastar de chinelos, Elisa abre a porta e se espanta ao me ver.

- Prometi as aulas não prometi? – Pergunto mostrando o material em mãos

    Ela se assusta e ri ao mesmo tempo. Parece extremamente nervosa. Pergunto se ela está bem e se desculpa pelas roupas. Ela está vestida com uma roupa comum só que fina e um sobretudo com aparência de velho.

    Assim que entramos percebo que ela fez do quartinho dos fundos com banheiro de Izabelli um lugar muito confortável e cheiroso. Estava tudo muito bem arrumado.

De repente ouço alguma coisa bater bem forte no muro ao lado e um homem aos gritos. Me espanto

- O que será que aconteceu? – Pergunto abismado

- Não se preocupe, senhor Bernardo... A vizinhança aqui é terrível... – Ela responde com todo jeito, como se estivesse se esforçando pra juntar as palavras.

- Está tudo bem?- Pergunto novamente

- Está sim senhor... – Mais uma vez ela responde com essa submissão que as vezes me incomoda.

Decidi começar a aula, sei que ela precisa dormir pra poder trabalhar cedo.

- Hoje será só o começo, tudo bem? Algo rápido. Até onde você sabe? – Pergunto enquanto me sento no sofá.

- Eu sei escrever meu nome... - Responde com uma certa alegria no canto na boca

    Pedi que escrevesse o seu nome em um papel e ela não conseguiu, pois estava tremendo. Era perceptível que alguma coisa estava a aflingindo.

    Ela tira o sobretudo e coloca sobre a mesa. A partir deste ponto não consegui mais me concentrar em nada. Pensei que como homem eu iria conseguir me controlar, mas diante desta mulher controle não existe. Assim como seu busto, o resto do seu corpo é inteiramente escultural, os cabelos cacheados colocados de lado e seu jeito retraído instigam algo que não se explica.

- Desculpe, senhor Bernardo, estava começando a suar... – Diz ela rindo pelo aparente nervosismo.

- Não tem problema... – Respondo tentando controlar a respiração, mas claro que há um problema, ela é um problema completo.

    Pelo que percebi, as letras ela já sabe então entreguei a cartilha e a observei contornar as leras, mas mais uma vez ela estava tremendo. Aqui estamos nós como dois colegiais. Por um descuido, Elisa deixa o lápis cair e por reflexo levo minha mão em direção ao lápis no chão e ela também fez esse movimento. Com os dois na mesma posição nossos olhos se entrelaçam.

    Por dois segundos me vejo nos olhos dela e então nossa boca se toca, deslizo as costas da minha mão do seu queixo até a nuca e ela continua a tremer. Sinto as mãos dela me procurarem e seus olhos desejando a minha boca.

    Jogo a cartilha e tudo mais no chão, a deito no sofá gentilmente e fico observando-a acumular desejo em seus olhos. Agora entendo... Desde o começo era por isso que ela estava nervosa.

    Ela puxa meu quadril para si e me abraça deixando exposta a sua respiração no meu ouvido, o que faz meus pelos se ouriçarem escostados na pele morena colada em mim. Retiro a blusa de Elisa e jogo longe depois da mesa, ela retira a minha camisa e se junta ao meu corpo, sinto seus seios tremerem com a batida do coração. A sensação de ter esse corpo em mim levanta meus mais primitivos instintos, sei que também despertaram nela e isso me aguça ainda mais. Me levanto do sofá com suas pernas encaixadas no meu quadril a levo pra cama e até agora a voz que estava saindo tremida da garganta jorra como uma castada. Ela abafa os gemidos com a mão pra ninguém escutar, a cam a range e o ritmo aumenta. Não existem mais roupas, somente um perfume de morena deitada sobre meu peito, esperamos o sol nascer.





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Próximo capítulo: A morte

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