Capítulo 45:

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Mundo silencioso. Taxas de movimentação em alto mar parecem silêncio absoluto. Não acordado, sem ritmo rápido. Calmaria absoluta (Dauðalogn - Sigur Rós.)

Mesmo me sentindo perdidamente culpada, não senti arrependimento. Acreditava que qualquer pessoa apaixonada faria aquilo no meu lugar. Fiquei o tempo todo tão aflita com a sua segurança. E agora, vendo-o ali com tanto sangue saindo pelo canto do lábio e do nariz, eu sentia que havia feito o que era certo. Caso contrário, o sangramento estaria ainda pior.

- Agora só falta uma. – Carlos disse quando parou de mascar seu chiclete.

Henrique engoliu em seco, a raiva transparecendo em todas suas atitudes. Os ombros tensos. A pele dos braços onde os homens o seguravam estava avermelhada.

- Emily? – Carlos chamou.

O homem ainda me segurava pela cintura. E, lenta e imperceptivelmente, começou a se esfregar em mim. Fiquei cega. As bordas dos meus olhos ficaram negras e me tomaram a visão. A raiva transbordou de mim. As lágrimas cessaram e com o pé ainda descalço, ergui minha perna com mais força que acreditava ter e chutei o entre de suas virilhas.

O rapaz me soltou, provavelmente devido à dor que se alojou, bem... em suas partes. Henrique tomou uma atitude assim que demonstrei a minha. Ele não estava me esperando. Mas sabia que, ao se soltar, fez aquilo por eu estar insegura.

Os dois homens que os seguravam caíram ao chão. Mãos contra o abdômen, enquanto o outro segurava sua canela com impaciência. Rapidamente, ele correu até mim. Enxugou minhas lágrimas com seu toque costumeiro e me abraçou pelos ombros, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço...

O som de tiros se fez soar. Foi quando notei que um dos braços de Henrique não estava me abraçando, só o esquerdo o fazia. Era Henrique quem atirava. Seu peito vibrava anteriormente a cada disparo. Era ele que estava me protegendo. E além de tudo, cuidando para que as imagens não ficassem gravadas eternamente na minha mente.

Seu peito deixou de ficar tenso, e senti quando o braço que segurava a arma se abaixou. Só então ousei olhar por sobre seus ombros. Fiquei nas pontas dos pés, sentindo os frangalhos de invasão perfurar a sola dos mesmos. Vi Carlos sorrindo animadamente. Os corpos dos homens que o ajudavam estavam ao seu redor. As balas perfuraram o centro da testa de cada um deles. Perfeitamente o centro. O amor de minha vida tinha uma mira e tanto.

Carlos começou a aplaudir. Ele parecia encantado.

- Se não fossemos arqui-inimigos, poderia convidá-lo para participar da minha facção. – Ele deu de ombros, o sorriso permaneceu em seu nojento rosto.

Não ousei me soltar de Henrique.

- Eu nunca faria parte das coisas em que você se mete, Carlos. – Henrique disse com raiva.

- Ah, sim. Não precisa me informar. Natan já avisou isso. – Carlos deu de ombros, esfregando as palmas das mãos.

A menção ao nome me enojou. Henrique pareceu irritado. O mesmo estava de costas para Carlos, provavelmente em uma falha tentativa de me proteger. Emily permanecia escondida e Bruno provavelmente estava imerso em sombras naquele corredor.

Carlos poderia ser pego a qualquer momento. Mas duvidava que o erro fosse ser reparado com tanta facilidade. Se alguém puxasse o gatilho, estaria encrencado com a justiça. E acreditava que ninguém queria aquilo.

Me lembrei de crianças. Não entendi o porquê, provavelmente por estar apavorada. Mas me lembrei de Júlia, Murilo e do bebê de Cate. Graças a Deus ela foi a primeira a sair de lá.

Repentinamente, lanternas se acenderam ao nosso redor. Carlos avançou, pegou Henrique desprevenido, puxando-o pelo pescoço. Ele me soltou, provavelmente para que não fôssemos carregados juntos. Mas, ainda assim, em um fulgor do desespero, segui ambos.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now