Capítulo 28:

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NI: Tô torcendo pra vocês começaram a gostar do Henrique de novo, galerinha <3

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Be my friend, hold me, wrap me up, unfold me. I‘m small, I'm needy, warm me up and breathe me.
Seja meu amigo, me segure, me envolva, me descubra. Eu sou pequena, estou carente. Me aqueça e me respire (Breathe Me – Sia).

Uns dez dias depois, eu estava decorando o quarto de Júlia. Com ela me ajudando, é claro. Naquela manhã, eu passei em sua casa antiga cheia de caixas e a coloquei na cadeirinha no banco traseiro, prendendo todos os cintos que a salvaram no seu acidente e que levaram sua mãe embora. Ela conversava sobre as pessoas que passavam na rua, afastando os fios do seu rosto abanados pela brisa que entrava pela janela.

Ela era linda e não tinha culpa de ser filha de um casal... distorcido. Uma mãe louca de paixão por um homem que a amou em algum instante, mas de maneira tão superficial, que quase não existia sentimento. Um pai estuprador de meninas jovens e aquele foi o único momento em que agradeci pela morte de Natan. Deus sabe o que ele poderia ser capaz de fazer com a própria filha.

Estacionei numa vaga de uma loja de móveis planejados e soltei todos os cintos de Júlia, ajudando-a a descer do carro com cuidado e ativando o alarme. Ela mesma ajeitou o vestido rosa em que sua babá a vestiu e tomou a iniciativa de agarrar a ponta dos meus dedos entre sua pequena mão.

- O que viemos fazer aqui, dinha? – Ela indagou, abaixo de mim, levantando o rosto para me fitar melhor.

Era incrível, que com tão pouca idade, ela conseguisse falar as coisas e além de tudo entender o significado do que dizia. Ela tinha apenas três anos!

- Viemos comprar as coisas pro seu quarto novo, você não quer me ajudar a escolher? – Perguntei, olhando para baixo e sorrindo para seu rosto.

A resposta veio quando ela se soltou da minha mão e passou pelas portas automáticas, seguindo rumo às decorações brancas e rosas.

*

Naquela mesma noite, Júlia ligou para seu pai na empresa e pediu para dormir comigo, com a liberação dele, nós passamos em uma loja de roupas e compramos algumas para deixar no meu apê.

Chegamos conversando sobre as peças que ela escolheu, enquanto eu respondia àquelas perguntinhas constrangedoras que crianças costumavam fazer. Quando abri a porta, ela soltou as sacolas a sua esquerda e tirou os pequenos sapatos, organizando-os ao lado das sacolas e correndo em uma direção só, com os olhos brilhando e um grande sorriso se estendendo por seu rosto. Entendi o porquê quando ela pulou no colo de Henrique. Este, vestido como não se vestia há muito tempo. Com uma bermuda pendendo na cintura fina, os cabelos bagunçados. Todos estavam lá. Cate e Eliot, como nos velhos tempos. E Bruno e Emily, mostrando que os novos tempos estavam lá.

- Como foi o passeio com a mamãe? – Henrique indagou, talvez não notando o uso incorreto das palavras. Ainda assim, Bruno parou de mastigar seu pão, olhando de mim para ele e parando seu olhar sobre mim.

- Foi legal. – Júlia respondeu risonha, com os braços apoiados nos ombros de seu... pai.

Sim, aquele era o termo correto. Era ele quem criava e dava a educação correta. E acho que ele acertou em me colocar como mãe, mas não me sentia segura e nem bem com isso. Mesmo com o pedido de sua mãe antes da morte, eu me sentia uma ladra. E quem tinha que decidir isso não era ou Henrique e muito menos Melissa. Quem tinha de decidir se eu podia ser chamada de mãe era a própria Júlia.

*

Os dias estavam passando depressa. Júlia ficava no meu apartamento com Bruno frequentemente. E agradecia aos céus por ter sua presença nos meus dias mórbidos. Naquele final de semana – ou seja, no dia seguinte – ela iria ficar na casa dos avós maternos por um tempo, como o combinado após a morte de Melissa. Suas pequenas malas estavam todas arrumadas.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now