Capítulo 19:

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NI: Quando postei essa história num outro site... minhas leitoras me mataram com esse capítulo e o próximo... Enfim, aqui vai:

*

And now, it's time to leave and turn to dust.
E agora, é tempo de partir e deixar a poeira. (To Build a Home – The Cinematic Orchestra).

As alças das malas estavam atadas em minhas mãos. Bruno e Cate vinham logo atrás, acompanhando meus passos. Bruno carregava a mala maior. O dia estava ensolarado lá fora, aquecendo minha nuca livre de cabelos, que estavam atados em um rabo-de-cavalo-alto. O carro negro me aguardava do lado de fora do edifício. Eric tocou seu quepe, mostrando-me que estava a espera. Mesmo ao ligar para papai e pedir que o mesmo viesse me buscar para me levar a casa da praia, eu sabia que ele chamaria Eric e provavelmente alguma moça de confiança para compras e afins.

A realidade escorregou por meus ombros, enquanto meus olhos se embaçavam. Me virei e abracei Bruno, ficando nas pontas dos pés para afundar meu rosto em seu pescoço. Eu não precisava lhe contar a verdade. De alguma forma, eu sabia que ele sabia o que estava acontecendo de verdade. Suas mãos pressionaram minha cintura, mantendo-me próxima a ele. Eu tive vontade de chorar e lhe contar toda a verdade. Vontade de levá-lo comigo, pois companhia melhor não havia.

Cate se mostrou emotiva do outro lado, enquanto tocava sua mão em meu ombro e sorria de canto, tentando afastar as lágrimas que escorreram por sua face. Ainda relutante, me soltei do calor de Bruno e me agarrei à felicidade que Cate sempre emanava. Ah, amiga se você soubesse a verdade de tudo. Ela imaginava que eu ficaria por lá apenas por alguns dias. Beijei seu rosto e arrumei seus cabelos, sorrindo em sua direção.

- Tchau, pessoal. – Disse com voz embargada, olhando de Bruno para Cate.

- Da próxima vez, vamos com você. – Bruno disse, dando-me uma piscadela e estendo a mala para Eric assim que o mesmo se aproximou.

Eric pegou todas as malas e as levou em direção ao carro, abrindo o porta-malas e organizando-as lá dentro. Bom, estava tudo feito. Despedida simples feita. Um vulto me chamou a atenção do lado direito dos meus olhos. Eu não precisava me virar para saber quem era. Eu não queria me virar para ver que Henrique estava lá e para saber que de alguma forma ele sabia o que estava ocorrendo de verdade.

O choro tomou conta do meu corpo todo de novo. Lágrimas escorreram livres e depressa e Bruno olhou para o lado, notando a presença de Henrique. Eu sabia que se ficasse um segundo a mais, ele me convenceria a ficar.

Corri.

Corri em direção ao carro que me aguardava. Corri em direção ao futuro que impus a mim mesma. Corri o mais depressa que pude, com toda a tristeza me embalando em um abraço glorioso. Abri os lábios em um grito mudo, não querendo passar por aquilo. Lembrando-me de suas palavras calculadas e doces. Não vou sair da sua vida com muita facilidade. Ah, Henrique, eu estou te enxotando dela. Mesmo sem querer, mesmo sem realmente conseguir. Será que me afogarei em uma depressão profunda novamente? Será que as memórias de tempos bons me pressionarão a fazer algo que não agrade a ninguém? O passado nos impedia de começar ou continuar. Eu não podia lhe contar toda a absoluta verdade. Não podia contar que fora abusada e estuprada quando criança. Não podia lhe contar ao caminho que todo aquele acontecimento constrangedor me levou.

Era por isso que estava partindo por sabe Deus quanto tempo. Eu queria distância do que me levasse de volta para Natan, mas, ao mesmo tempo, eu não queria me distanciar de Henrique como Melissa me obrigou a fazer. Bati a porta do carro atrás de mim e fitei Henrique correndo com pressa incontida em direção ao carro e, mesmo quando Eric deu partida e acelerou pela cidade, ele continuou correndo até Bruno agarrá-lo pelo ombro, segurando-o.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now