Capítulo 5:

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Tap on my window, knock on my door. I want to make you feel beautiful.
Dê um toque na minha janela, bata na minha porta. Eu quero fazer você se sentir bonita. (She Will be Loved – Maroon 5).

- Docinho? – Chamou Bruno ao colocar a cabeça pela fresta da porta.

- Fala. – Eu disse sorrindo.

Estava muito bem humorada nos últimos dias. As coisas estavam caminhando de forma boa desde a festa. Recuperei-me da abstinência de conversa com minha melhor amiga, Eliot e eu estávamos nos entendendo cada vez mais, Henrique estava sendo o amigo magnífico que qualquer garota desejava e Bruno estava sendo o mesmo de sempre, perfeito.

- Preciso te contar uma coisa. – Disse ao fechar a porta atrás de si.

Cedeu o colchão com seu peso ao se sentar.

Só então desviei os olhos das pesquisas para a Jimks do notebook e fitei os olhos de Bruno. Parecia ser algo sério.

- Arranjei um apartamento. – Disse aguardando minha reação.

- Aconteceu alguma coisa aqui? – Indaguei preocupada.

Ele movimentou as mãos. – Não. É que arranjei um temporário para me concentrar nos papéis que tenho recebido. Como não sei quando tempo vai durar a reforma na nossa cobertura. – Deu de ombros.

Bruno fazia teatro nas horas vagas e vinha ensaiando para algumas peças, por isso o entendia. Sua carreira estava caminhando para onde ele sempre sonhou, crescer no teatro e partir pro cinema, torcia por ele.

- Me passa o endereço. – Pedi sorrindo.

- Para o que? – Indagou remexendo as sobrancelhas.

- Que pergunta tola, meu caro. Para eu te visitar, é claro!

*

Bruno realmente foi embora naquela noite. Não foi uma despedida repleta de lágrimas e abraços, foram mais risadas e beijos no rosto. Então tranquei a porta do quarto e aguardei o ritual de todas as noites: Henrique gemendo junto a uma voz feminina ou à Laila.

Disse a Bruno que ficaria tudo bem, a verdade é que ficaria tudo bem com a nossa amizade e não comigo. Sempre gostei de dormir acompanhada, talvez por que isso me afastava dos meus piores pesadelos.

Lágrimas embaçaram minha visão e deixei que as mesmas rolassem por minhas bochechas. Ouvi risadas distantes de Cate e Eliot. Logo depois a voz de Henrique veio acompanhar a conversa. Talvez eles achassem que eu quisesse ficar sozinha... mas eu não queria. Só queria que alguém tivesse a mesma atitude de Bruno. Queria que alguém chegasse de mansinho e me abraçasse bem apertado só para afastar minhas péssimas lembranças; lembranças do dia em que decidi fazer um péssimo corte de cabelo, do mesmo dia em que desisti de parecer uma garota atraente por sentir medo dos homens.

Tudo por culpa de apenas um homem. Um que destruiu minha vida e que, apesar do tempo, continua a destruir meu futuro. Tinha medo disso: cair novamente na depressão. Naquela profunda que me levasse a pensamentos obscuros e colocados de forma incoerente. Formas indescritíveis para eu acabar com meu sofrimento de forma incorreta.

Tentei me lembrar das palavras reconfortantes do Dr. Franco, que me acompanhou durante a pior jornada da minha vida. Lembrei-me de suas palavras com os olhos fechados. Nas formas que impôs para que eu afastasse os malditos pensamentos. Sempre me aconselhou para manter distância do isolamento, porém minha mente precisa descansar de todas as coisas, a rotina. Precisava ficar sozinha, mesmo que aquilo me trouxesse pavor.

Muito tempo se passou. Fitei o teto branco até que luzes coloridas piscassem sob minhas pálpebras. Tentei dar sentido a tudo que já acontecera comigo. Só conseguia me lembrar dos piores momentos da minha vida. Era errado. Devia ter pensamentos felizes. Relembrar das coisas que me faziam bem. Colocar uma pedra sobre o passado duvidoso. Só não conseguia.

Apenas MeuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora