Capítulo 30:

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Happy to lay here; just happy to be here, I'm happy to know you.
Feliz de me deitar aqui; simplesmente feliz por estar aqui, estou feliz por te conhecer. (Paperweight – Joshua Radin and Schuyler Fisk).

Algumas horas depois, eu estava sentada no sofá do meu apê que dividia com Bruno, enquanto puxava os saltos que estavam acabando com meus pés. Henrique trancou a porta atrás de si e Bruno não estava em casa.

Estranhamente, meu coração estava acelerado demais, fazendo com que meu peito subisse e descesse com a respiração descompassada.

- Vou tomar um banho. – Ele informou, sentindo-se em casa e usando as roupas que deixou por lá nas vezes em que dormiu aqui com Júlia. – Não. – Ele disse repentinamente. Me virei em sua direção, ainda tonta com a bebida e as luzes da balada. – Vou comer algo, na verdade. Pode ir à frente se quiser.

Eu dei de ombros, passando por ele a caminho do meu quarto, enquanto ele seguia rumo à cozinha. Eu tirei o vestido bem lentamente, deslizando-o pelo meu corpo e lembrando-me dos pontos altos da noite. Deslizei pelo box do banheiro e liguei a ducha, me encharcando sob ela.

- Sabe. – Dei um pulo com a voz repentina e cobri minhas partes íntimas rapidamente, até notar que Henrique entrava no banheiro com uma boxer escura pendurada em seu quadril e uma fruta em sua mão. – Sua casa está precisando de compras. Tem mais comida pra Júlia que pra você. – Ele comentou, mordiscando sua maçã e sentando-se no chão, me olhando entre o vidro que nos separava. Meu corpo correspondeu à presença do seu instantaneamente, enquanto ele não parecia me ver nua diante de si.

Ele continuou a conversar como se nada tivesse ocorrido nos últimos anos. Eu continuei a me lavar, mas eu não correspondia à conversa. Minha mente estava perdida. Perdida naquilo que eu sabia que tivemos. Naquele sentimento que escondemos por tanto tempo. Tão desnecessário. Mas era só eu me lembrar de Júlia. E saber para quê todo aquele esforço valia. Nosso afastamento acabou salvando-a.

Seja lá do que fosse. Nós tínhamos salvado nossa pequena Júlia DeLucca. Nós tínhamos deixado viver com quem ela merecia viver. E não nas garras de Natan ou nas patas de Melissa. Eu com certeza a amava como uma filha. E sorria, não para aquilo que Henrique lembrava, mas pelo nosso primeiro momento se passando por minha mente.

– Acho que é bem óbvio. – Me lembrei de sua voz murmurando naquela noite, e um arrepio intenso me percorreu no presente.

Eu não o conhecia como os outros e me virei em um pulo, apenas para me deparar com seus olhos intensos e sua sobrancelha negra se erguendo em sua testa branquinha. – Olá, visitante. – Aquela foi a noite em que ele me apelidou para o resto da minha vida. Aquele foi o dia em que ele entrou em minha vida para ficar presente nela.

Não chegar e sair repentinamente, como achei que tinha acontecido há algum tempo. Lembrar aquele momento fez a chama do novo reacender em mim. Mas agora, fingindo que tomava banho naquele box, eu estava me sentindo vazia. Me sentindo vazia por ele ainda estar falando, enquanto comia os restos da maçã.

Eu sabia que tinha pedido calma há um tempo. Mas em pé ali em baixo daquela água, eu não queria distância alguma. Eu o queria sob a água junto comigo. Meu maxilar travou em si mesmo. Oras! Corra atrás, pensei. Eu o olhei pelo vidro e vi os olhos penetrantes como naquela noite. Olhos verdes, tão claros, que eram quase cinzas prateados. Incríveis.

Ele sorriu, com os dentes a mostra, coisa que começou a fazer comigo depois de uma longa convivência.

Ainda assim, me virei para terminar de lavar meu cabelo. E continuei com as memórias que insistiam em não sair da nossa primeira noite.

Apenas MeuWhere stories live. Discover now