Capítulo 44:

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She's staring at me, I'm sitting wondering what she's thinking. Nobody's talking, cause talking just turns into screaming.Ela está me encarando, estou sentado querendo saber o que ela está pensando. Ninguém falando, porque falar só se transforma em discussão. (Mad – Neyo)

O chão sob nossos pés tremeu. A mesa tremeu junto aos talheres. Os risos cessaram e, assim que as luzes se apagaram automaticamente junto a música suave que tocava ao fundo, Júlia passou a chorar com o susto. Henrique estava com a mão na minha coxa, e foi por isso que senti que algo de muito errado estava acontecendo. Seus dedos pressionaram minha carne e seu desespero passou por seu toque para mim.

- Rick? – Sussurrei. Minha voz embargada, minha garganta ardendo. Estava tentando – apenas tentando – estabelecer a calma pelas crianças que estavam sob minha responsabilidade.

Porém foi impossível controlar meus nervos internos. Minhas mãos estavam trêmulas, ouvidos em alerta e coração completamente acelerado. As batidas ressoando contra meus ouvidos.

- Vocês precisam sair daqui. – Murmurou ele com a voz rouca. Sua mão se soltou da minha perna e ele me pegou pelo braço com extrema pressa e de maneira completamente rude, por um momento meus pés deixaram de tocar o chão.

Cate se ergueu junto a mim assim como Emily. Os rapazes ficaram em alerta, notaram o medo transposto por mim, minha reação paralisada. As crianças choravam pelos estrondos que ressoavam do lado de fora. Uma gritaria irrompeu. Sons cortantes, berros ordenando coisas inteligíveis. E eu lá, intacta. Imóvel. Uma chacoalhada me acordou do transe. Henrique berrava diante do meu rosto. As crianças não estavam mais lá. Mas as lágrimas sim. Molhando todo meu rosto. Júlia estava agarrada a Bruno, em seu colo, enquanto o mesmo a segurava com extremo cuidado e proteção. Murilo estava no colo de Eliot, completamente acomodado, mas tão desesperado.

Nada me acordava, até que aqueles olhos me iluminaram. As lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Senti meu ímpeto aumentar, meu direito e obrigação de ser uma mãe naquele momento. Mesmo sem útero, mesmo sem possibilidade de ver minha barriga crescendo. Mesmo com Júlia sendo filha do homem que me humilhara e da mulher que enganara Henrique por tanto tempo. Fora por conta dos olhos dela que não olhei nos olhos dele e segui os dois casais até um elevador escondido atrás de uma parede falsa, escondida por uma estante de livros e completamente revestida com a cor correta. Henrique já estava com um aparelho no ouvido. Um cinto com armas, uma Glock na mão e um colete a prova de balas. Olhos desesperados e atentos.

Foi quando notei também que aquilo era uma atitude afetuosa de alguém que nos amava, de alguém que queria a proteção de todos os presentes. Aquilo que ele estava fazendo: Dando valor a minha vida e das crianças do que a sua própria. Ele já esperava o ataque, e eu sabia que Carlos estava por trás daquilo. Entrei com pressa no elevador com os demais. A porta dupla e automática se fechou entre nós. Nossos olhos pregados. Seus lábios entreabertos e a calma no despencar dos seus ombros. Ele sussurrou sem que eu pudesse ouvir sua voz: "Eu amo você." E então as portas se fecharam, nos separando e me deixando com a sensação de que nunca mais o veria.

Os rapazes acalmavam as crianças e eu chorava em silêncio para que elas não vissem.

- Mamãe, mamãe! – Júlia chamou.

No instante em que aquela voz preencheu o recinto com um sussurro, Cate agarrou minha mão, me disponibilizando a pouca força que ainda restava em seu corpo. Olhei para trás e sorri de maneira fraca, um sorriso rijo.

- Porque o papai não veio? – Ela indagou com o olhar perdido, a cabeça empoleirada no ombro de Bruno.

Engoli o choro, a dor preenchendo minha garganta. – Ele vai nos encontrar lá fora, tá bom?

Apenas MeuWhere stories live. Discover now