O Desassossego da Alma

By fIawIess

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Submersa na monotonia, Charlotte decide fazer as malas e começar a sua vida num outro país, no qual pudesse r... More

O Desassossego da Alma
001 - Música e Vinho Tinto
002 - Entrevista
003 - Solidão
004 - Experiências
006 - Decisões
007 - Olhares
008 - Silêncio
009 - Apatia
010 - Exasperado
011 - Probabilidades
012- Sufoco
013- Ansiedade
014 - Contacto
015- Relações
016- Convívio
017- Noite
018 - Borboleta
019 - Chuva

005 - O dia seguinte

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By fIawIess

Quando o som do despertador de Charlotte soou, instantaneamente foi adiou. Ainda meia adormecida, os seus reflexos foram rápidos o suficiente para apagar aquele barulho e voltar a dormir. Naquele breve intervalo de tempo, e devido ao seu cansaço extremo, inconscientemente, achou que já era sábado e que não havia problema em dormir mais um pouco. Mas o bater constante na sua porta, alguns minutos depois, fê-la despertar, por fim, confusa.

- Charlotte, não vais trabalhar hoje?

Um pico de ansiedade percorreu o todo seu corpo e logo se apressou em olhar para o seu ecrã, para confirmar o dia da semana. Sexta-feira. Toda aquela luminosidade fez com os seus olhos instantaneamente se semicerrassem, revelando o peso da sua fadiga, e a sua cabeça estremeceu com os breves movimentos, fazendo-a logo recordar as memórias tremidas e melindrosas da noite anterior.

- Charlotte? – Thomás insistiu novamente, batendo uma vez mais com os nós dos seus dedos na porta e com uma voz bastante rouca e cansada.

- Sim! Eu adormeci!

Thomás sorriu, do outro lado da divisão, e decidiu dar-lhe espaço, agora mais sossegado por a ter acordado. Por outro lado, Charlotte, estava desesperada e sentia-se numa luta interna entre ignorar o seu estado deplorável e acalmar-se para se conseguir despachar a tempo do seu trabalho. Procurava fazer o máximo de coisas possíveis, no mínimo tempo possível, mas na sua cabeça só via um motivo para, logo na sua primeira semana de trabalhar revelar uma falta de profissionalismo. O problema estava na deslocação pois ainda tinha um longo caminho de viagem até ao metro e deste até ao atelier. Colocou, portanto, o conjunto de roupa mais rápido que os seus olhos viram no seu armário, um simples vestido bege, e apressou-se em passar um corretor de olheiras, pois não queria nada aparecer no trabalho com um aspeto tão esgotado.

Quando saiu do quarto reparou que o estado do seu colega de casa também não era o melhor, algo que a fez sorriu, por compartilharem o mesmo sentimento. Thomás comia a sua torrada e meia de leite, sossegadamente, analisando os passos apressados e desajeitados da rapariga britânica. Os seus cabelos ainda estavam todos desajeitados e o seu vestido não estava propriamente ajustado ao corpo, revelando a sua falta de atenção matinal. Por momentos pensou em chamar a atenção, mas, com medo de ser mal interpretado, decidiu simplesmente guardar a sua observação para si.

- Obrigada por me acordares! Se não me tivesses batido à porta eu ia ficar a dormir porque devo ter adiado o despertador... - Charlotte fez uma breve pausa para respirar e enquanto procurava pela sua bebida de amêndoa no frigorifico. – É que ele já devia ter tocado e eu nem me lembro disso, sequer!

- Se a noite de ontem não tivesse sido tão catastrófica, eu provavelmente não teria notado se ainda cá estavas, mas acabei por confirmar quando vi que tinhas as chaves no móvel da entrada.

- Obrigada! A sério!

Charlotte sorriu timidamente, verdadeiramente sentida com a sua preocupação, e evitou olhá-lo, focando apenas em verter a bebida para a chávena, sem fazer asneiras. Já havia feito asneira que chegue!

- Vá, agora despacha-te a comer! Eu levo-te ao trabalho para não te atrasares.

- Oh, não é preciso, Thomás. Eu vou só beber isto e levo umas bolachas para o caminho, eu consigo!

Charlotte não queria incomodar e fazê-lo atravessar a cidade só para a deixar no trabalho. Além disso, ainda estava envergonhada com a sua queda e com a confusão que causara devido a isso e, naquele momento, ela só queria passar o mais despercebida possível.

- Se estamos assim é por minha culpa, por isso, eu insisto.

Charlotte sorriu, olhando-o nos olhos pela primeira vez esta manhã, ainda que o contacto não tenha durado muito tempo. Ele parecia-lhe muito bem-disposto, apesar do aspeto, e, em certa parte, ela estranhou. Sentia constantemente ser um incómodo e questionava-se como é que ele conseguia ser tão atencioso com ela.

- Por isso, come rápido e algo nutritivo. – disse Thomás, olhando de uma forma depreciativa para o pacote de bolachas que ela tinha na mão. - Em vinte minutos colocamo-nos lá.

Charlotte sorriu amavelmente e assentiu com a cabeça, voltando a colocar o pacote de bolachas no armário. E pode, por fim, respirar.

Uma vez que acabou o seu pequeno-almoço, apressou-se em ir para o quarto calçar-se e acabar de se arranjar. Thomás também já estava quase pronto, mas fazia as coisas lentamente, para que ela não sentisse grande pressão. Já prestes a sair de casa, Charlotte olhou para a tela exposta na sala, que ainda se encontrava numa confusão enorme, e sorriu. Ainda ficou alguns breves segundos a admirar, sentindo um misto de emoções da noite anterior, mas sorriu, verdadeiramente, apreciada com a sensação que aquela mistura de cores lhe transmitia.

.

As horas pareciam não passar naquele dia. Charlotte sempre que olhava para o relógio apenas via a diferença no último dígito e se havia dia que era queria que se passasse rápido era aquele. Os seus ânimos só se animaram quando os seus colegas de trabalho se aproximaram da sua mesa, marcando com isso o meio da manhã.

Durante o caminho até ao café, Charlotte não conseguira marcar a sua presença. Presencialmente, caminhava junto a eles, mas na sua cabeça ela só queria que chegasse a hora de se voltar a deitar nos seus lençóis e deixar de existir. Porque existir estava a ser doloroso, quanto mais não fosse pela sua dor de cabeça que teimava em não passar, nem com o reforço dos comprimidos.

- Charlotte, está tudo bem? – Louis inquiriu assim que se sentaram na mesa habitual. – Estás com um ar tão murcho, normalmente estás sempre sorridente e divertida.

- Estou bem, apenas com uma grande ressaca.

- Ressaca? – Manon inquiriu com um pequeno sorriso. – Que aconteceu ontem?

Charlotte não queria, de todo, explicar aquela situação, até porque além de estar sem energia para tal, sentia que estaria a expor um segredo que não lhe pertencia; ainda que fosse não propriamente o caso. Simplesmente não sentia que seria correto. Então, sem grandes demoras, limitou-se apenas a contornar um pouco a realidade passada.

- Simplesmente bebi demasiado ontem. Fiquei a ouvir música e a beber vinho no meu quarto e quando dei por mim já tinha bebido demasiado.

- Estou a ver que estás a gostar dos vinhos franceses.

Angèle comentou, entre pequenas e dóceis risadas. Charlotte forçou um sorriso, não querendo parecer arrogante.

- Demasiado até!

- E o teu colega de casa? – Manon inquiriu num tom animado, colocando a sua mão sobre o seu queixo.

- O que tem ele?

Charlotte por breves segundos paralisou. Estava confusa com a sua inquisição, achando por momentos se lhe estava a perguntar se ele também tinha bebido com ela. E porque é que ela havia de omitir isso? Não havia mal nenhum.

- Já descobriste se ele tem namorada?

- Manon! – Louis exclamou chocado.

- Louis, eu estou solteira há demasiado tempo e aquele rapaz é mesmo giro. Devias vê-lo! – exclamou para o rapaz, com um tom cheio de entusiasmo.

- Eu não lhe perguntei diretamente, mas pelo que percebi não tem... - Charlotte sentiu-se mal por dizes isto.

Charlotte chegou à conclusão de que o seu sentimento depreciativo, relativamente ao interesse da Manon, estava ligado ao facto de uma das suas duas amigas, até ao momento, se querer envolver com o seu colega de casa. Em certa parte, ela achava que iria ser estranho, caso isso realmente acontecesse, mas, por outro lado, também rapidamente considerou estar a exagerar na sua reação. Isto, também, não passava de uma conversa divertida entre amigos.

- Bem, se ele não for para ti, depois apresenta-mo Charlotte. – Louis disse na brincadeira. Charlotte apenas sorriu.


Após o café, Charlotte começou a sentir-se melhor. A sua cabeça já não latejava de uma maneira tão agressiva, porém, dava para notar claramente que ela não estava a ser produtiva. Já na sua secretária, os seus olhos tentavam focar, com algum custo, o ecrã do computador, mas, ainda que o seu olhar estivesse colocado no programa de arquitetura, na sua cabeça ela apenas revia a noite anterior, vezes e vezes sem conta. A vergonha acabara por se desvanecer e, em contrapartida, uma certa alegria a invadia agora, quando pensava na sua queda. Realmente, só ela para fazer uma habilidade daquelas.

E aquele quadro. Aquele quadro simbolizava tanto para ela, algo que ela nem conseguia descrever. Talvez uma ligação àquela cidade, àquele apartamento, àquele sentimento de liberdade que desde que pisara Paris pela primeira vez sentira. Ela ainda não o sabia explicar. Sabia apenas que, a primeira coisa que iria fazer quando chegasse a casa seria pendurá-lo na parede. 

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