As primeiras estrelas, brandas como um leve toque, anunciavam a chegada da noite de uma preguiçosa quinta-feira. Da janela aberta do quarto, Ellie admirava o brilho noturno. O vento acariciou maviosamente os seus cabelos e a sua pele, causando uma sensação de cócegas.
Ela se afastou da janela e caminhou até o encontro de um cesto com os discos de vinil. O seu passatempo favorito era escutar músicas dentro de seu quarto, e com ninguém por perto, ela adorava dançar como se não houvesse amanhã.
Escolheu um disco aleatório e apoiou o mesmo sobre a vitrola. A música ecoou pelas paredes de seu quarto e a menina fechou os olhos, acompanhando o ritmo da música de sua maneira e ignorando todos os outros ruídos.
Mesmo duas batidas rápidas na porta não interromperam o seu momento. Como a porta estava entreaberta e as notas musicais podiam ser ouvidas do lado de fora, a pessoa espiou entre a pequena abertura. Era James, estava na casa da jovem por convite do irmão mais velho.
Um suspiro esvaiu de seus lábios e um sorriso genuíno preencheu o seu lugar ao ver a garota dançando e seguindo a melodia.
— Pelo visto você tem mais talentos do que eu imaginava — ele disse em um tom mais alto do que a música.
— Por Merlim! — Ellie exclamou, arregalando os olhos. — James? — perguntou, um tanto surpresa com a presença do garoto.
— Eu assustei você? — James corou. — Desculpa.
— Quase me mata do coração — ela se recuperou do susto. Um sorriso breve apareceu no seu rosto. — O que você está fazendo aqui?
— Remus me convidou junto com os outros meninos para passar a noite aqui — o jovem explicou. — Ele pediu para chamar você para participar de um jogo.
— Qual jogo?
— Eu não sei bem como explicar — James coçou a nuca. — É um jogo trouxa que mexe com dinheiro. É mais complicado do que na vida real. Eu não queria jogar, mas ele disse que você gosta.
— E o que eu gostar do jogo tem a ver? — ela deu uma risada infantil.
— Se você gosta, eu também gosto — ele sorriu, tímido. — Vai vir comigo ou prefere a companhia dos Beatles?
— Você não vai querer saber a resposta — Ellie caçoou.
— Que senso de humor admirável — James alfinetou, forçando um sorriso terrivelmente falso. — Com quem aprendeu a ser assim?
— Com um garoto que conheci há algum tempo. Ele é um pouco estranho, fomos dar uma volta e ele me beijou, mas finge que nada aconteceu há dias — disse ela, mordendo o lábio.
— Acho que você está errada — ele cutucou a ponta do nariz de Ellie com o dedo indicador. — Ele poderia beijar você de novo agora mesmo.
— E eu acho que agora não é uma boa hora — Ellie provocou. — Talvez mais tarde, senhor Potter.
James colocou as mãos sobre a área do coração de maneira dramática. A jovem de cabelos áureos revirou os olhos e quase não conseguiu segurar uma risada sarcástica.
— Bem que eu já estava sentindo falta de levar um fora — ele encarou o chão. — Eles fazem parte da minha vida. Não tem jeito mesmo, eu nasci para amar e não ser amado.
— Isso não vai me fazer te beijar.
— Isso o quê? — James voltou a encará-la.
— Esse drama cinematográfico.
— Só queria te fazer rir — ele deu de ombros. O riso contido da menina finalmente abriu brechas para sair de seus lábios. — E eu consegui.
Ela abraçou James em uma atitude inesperada. Inicialmente, o jovem da Grifinória ficou um tanto encabulado com o abraço, mas retribuiu com o mesmo nível de afeto e carinho. Quando se separaram do abraço, James sorriu e acariciou as bochechas dela.
Aquele momento fê-lo lembrar a noite do seu primeiro beijo com a garota de seus sonhos.
— A cena está linda, mas me enjoou — Sirius falou do andar inferior. — Querem descer para o jogo começar? Eu já não aguento mais o Remus explicando sobre o dinheiro dos trouxas.
— Isso é importante para o jogo.
— E também é o trabalho do banqueiro — disse Peter, lembrando as funções de cada pessoa no jogo.
— Eu só quero ser rico — Sirius esfregou uma mão na outra. — Tem como o banqueiro me ajudar com esse problema?
A paciência de Remus estava visivelmente no limite após inúmeras explicações. Quando todos já haviam entendido as regras e as peculiaridades do jogo, a partida começou. O primeiro jogador a andar no tabuleiro foi Sirius Black.
— Você não pode pular quantas casas que você quiser — Remus alertou. — O dado mandou você pular seis casas.
— Eu não obedeço nem a minha família, não tem motivo para obedecer um dado — ele deu de ombros.
— Se você não jogar da maneira correta, seguindo as regras, você vai ser desclassificado — Remus suspirou. — Pula seis casas. Agora.
— Que chatice — Sirius andou as seis casas no tabuleiro. — Eu já não estou gostando desse jogo.
A partida continuou com os dados sendo arremessados sobre o tabuleiro. O nervosismo aumentava a cada jogada, principalmente no momento em que Ellie se estressou com James por tê-la feito dever dinheiro para o banqueiro.
— Eu odeio você! — Ellie arremessou um dos dados do jogo em direção ao rosto de James.
— É mesmo? — ele desviou do dado. — Então, não roube o dinheiro da minha casa da próxima vez!
— James, você precisa pagar para Ellie as duzentas libras que deve na propriedade dela — disse Remus, enquanto analisava a frase no tabuleiro.
— Nem pensar! — James reclamou. — Ela foi presa. Eu não vou dar o meu dinheiro para uma criminosa!
A garota respirou fundo. Este era o principal problema em uma noite de jogos com os seus amigos, ela sempre ficava nervosa com alguém, costumava até achar que alguns jogos eram responsáveis pelo fim de amizades.
— Não é assim que se joga! — ela exclamou em um tom irritadiço.
— Vocês querem me deixar surdo? — Sirius berrou, interrompendo a discussão de Ellie e James. — Todo mundo já sabe que eu vou ganhar. Essa discussão é desnecessária.
— Você não sabe nem pular as casas direito — Peter reclamou.
— Essa é a minha maneira de jogar.
— A maneira errada!
— James só sabe roubar, Sirius não obedece os dados, Peter está escondendo o dinheiro para não ser cobrado e Remus não cobra as pessoas direito. Vocês são um desastre — Ellie revirou os olhos.
— Você acaba de ser presa por roubar da minha casa e está falando que eu roubo? — James se revoltou com a acusação. — Eu tenho uma notícia para você.
— Eu te roubei no jogo! Uma única vez para poder comprar comida — ela exclamou. — Você está roubando a partida inteira.
— Nada justifica um roubo.
— Se você falar mais alguma coisa, eu vou ser presa de novo por agressão física — a garota cerrou os olhos claros. — E não vai ser no jogo.
— Você já pode ser presa por ameaça — Remus riu.
— Você é um banqueiro, não um policial — Ellie repreendeu o irmão. — Eu não quero jogar a próxima partida. Esse jogo é um destruidor de lares.
— Quem destrói lares é você que roubou da boca da minha família — James provocou.
Ele deu uma risada com a expressão de seriedade cruzando o rosto da menina. Ela rapidamente juntou todos os dados do tabuleiro e atirou em direção à James, começando uma pequena guerra e declarando o fim da partida.