Os treinos de Quadribol costumavam deixar os jogadores animados e cada vez mais ansiosos para a próxima partida. Os times da Lufa-lufa e Grifinória estavam treinando juntos, ambos com a autorização da Madame Hooch, e das professoras de cada casa.
Durante a espera pelo término do treino da Lufa-lufa, James estralava os dedos das mãos e batia os pés no chão, ansiosamente.
— Você vai ter um infarto — Sirius puxou as mãos de James.
— Estou aliviando o nervosismo — James reclamou, olhando para o campo de seu lugar na arquibancada.
— Você nunca fica assim nos treinos — o garoto ao seu lado desconfiou. — O que aconteceu?
James hesitou um pouco antes de contar o que lhe afligia no momento.
— Ellie está me evitando desde a semana passada — ele suspirou. — Eu chamei ela para assistir ao treino. Eu tenho quase certeza de que ela não vai aparecer.
— O que você fez agora?
— Por que toda vez sou eu quem fiz alguma coisa? — James bufou, irritado.
— Você contou para ela que vai sair com a Lily?
James assentiu com a cabeça e observou Sirius colocar a mão na testa. O garoto revirou os olhos e tornou a encarar o melhor amigo ao seu lado.
— Você é burro?
— Depende do ponto de vista.
— Não depende coisa nenhuma — Sirius estreitou os olhos. — Você é burro de todos os pontos de vistas possíveis.
— Não precisa magoar — James desviou o olhar, tímido.
Assim que desviou a atenção do melhor amigo ao seu lado, James encontrou Ellie entrando no campo e subindo as arquibancadas. Ele deu um sorriso aliviado, mas uma carranca invadiu o seu rosto assim que reparou melhor na menina.
As suas pálpebras estavam fundas e inchadas e os seus olhos estavam avermelhados. A palidez em seu rosto davam a impressão de que a menina estava doente, até mesmo para quem não a conhecia muito bem.
— Oi — ela cumprimentou, sem esboçar nenhuma reação.
— Oi — James respondeu, tímido. — Que bom que você veio.
A juíza em campo chamou o time da Grifinória após o time da Lufa-lufa ter terminado o treino. James se levantou e deu um último olhar em direção a Ellie, sentindo-se culpado por vê-la naquela situação. Ela desviou o olhar e James caminhou com a vassoura no ombro até o campo.
— Que clima.
A garota se sentou ao lado de Sirius e fixou a atenção no campo. Incomodado com o silêncio entre eles, Sirius cutucou o braço de Ellie para chamar a atenção da menina.
— Dormiu quantas horas essa noite?
— Zero horas — Ellie sussurrou, apoiando as mãos no queixo. — Passei a noite em claro para estudar para os exames da próxima semana— ela mentiu.
— Estudando a fórmula da água caindo dos seus olhos? — Sirius perguntou. — Não mente para mim.
— Eu não quero falar sobre ontem ou vou voltar a chorar como um bebê — ela gaguejou. A voz dela estava muito fraca.
— Você é um bebê, é por isso que chora como um deles — Sirius deu um riso fraco, abraçando a garota ao seu lado. — Uma hora ele vai perceber o que está fazendo.
— Ele não vai perceber — ela fungou. — Eu acho que a culpa é minha de estar acontecendo isso.
— Como assim?
— Eu aceitei ajudar ele a chamar Lily para sair — Ellie esfregou as mãos nos olhos avermelhados. — Eu sou muito idiota de ter começado a gostar de James. Pode falar a verdade.
— Não é, não - Sirius negou. — Você não manda no seu coração. Quer dizer, ninguém manda nos próprios sentimentos.
— Eu deveria ter pelo menos percebido me tocado que estava sendo uma idiota — ela colocou a mão na testa. — Eu quero chorar de novo.
— Por que você veio se está mal?
— Porque não quero que ele ache que eu estou brava — Ellie explicou. — Apesar de tudo, não quero que a minha amizade com ele acabe por causa de uma paixonite sem noção.
— Como você consegue desprezar tanto os seus sentimentos? — Sirius revirou os olhos. — Para com isso.
— É uma forma de fingir que eles não existem.
Eles ficaram em silêncio e prestaram atenção no treino. Enquanto Sirius gritava palavras de incentivo para os jogadores em campo, a menina ao seu lado estava perdida e distraída com os próprios pensamentos.
Ela estava inabilitada de descrever como se sentia. Apenas sabia que assim que olhasse para James, ela se recordaria do momento em que ele contou que iria sair com a garota dos seus sonhos, e o seu coração doeria, como se estivesse sendo arrancado do seu peito.
Sem que ao menos notasse, algumas lágrimas rolaram pelas suas bochechas pálidas e ela piscou para afastá-las, desejando não ser vista aos prantos em meio a um treino de Quadribol.
— Sirius — Ellie chamou em um tom quase inaudível. — Eu já volto.
— Você está bem?
— Sim — mentiu. — Eu só preciso ficar um pouco sozinha.
— Eu não vou deixar você sozinha desse jeito.
— Eu já volto — Ellie insistiu, lutando contra as lágrimas. — Eu prometo que não vou demorar muito.
Sirius concordou com a cabeça, mesmo se sentindo culpado por tê-la deixado sozinha naquela situação, e Ellie desceu as arquibancadas. O ar sumiu de seus pulmões durante a corrida, fazendo Ellie sentir uma sensação de queima naqueles órgãos.
A garota não estava nem um pouco preocupada em saber o seu destino. Apenas desejava ficar sozinha em qualquer canto do castelo, e principalmente longe de James, não aguentava ter de lidar com a sensação de palpitação no coração toda vez que colocava os olhos no jovem.
Ellie viu-se em uma sala escura. Aquele momento foi quando se deu conta de que havia chegado na Torre de Astronomia. Ela se sentou no chão da sala, cobrindo o rosto com as mãos e se desatou a chorar. O choro saía involuntariamente, como se não existisse uma forma de contê-lo.
O silêncio profundo se cessou com o barulho da porta ao se abrir, e Ellie se preparou para ouvir um sermão por estar no lugar errado na hora errada.
Ela limpou os olhos com as mãos e se deparou com uma figura masculina. Um garoto que aparentava ter a sua idade, vestindo as vestes da Corvinal, o seu cabelo estava completamente desarrumado e ele levou um susto ao parar os olhos em Ellie.
— Me desculpa — ele gaguejou. — Não sabia que já tinha alguém aqui.
— Não tem problema — Ellie se levantou. As bochechas estavam vermelhas de vergonha. — Já estava de saída também.
— Você está bem?
Ellie soltou um murmúrio semelhante a uma afirmação, mas o garoto não se convenceu muito com a resposta dada pela menina. Controlar as lágrimas era um dos maiores desafios para a jovem de cabelos áureos, ainda mais quando alguém a olhava com uma expressão de preocupação.
— Desculpa — ela soluçou. — Eu sou uma idiota. Não consigo nem controlar um choro na frente de estranhos.
— Não fala assim — ele repreendeu. — Meu nome é Liam. Agora eu acho que não sou tão estranho assim.
— Meu nome é Ellie — ela retribuiu a apresentação.
— Quer conversar?
— Você não vai querer saber sobre a minha lamentável vida amorosa — Ellie deu um riso forçado e enxugou as lágrimas com a manga de sua blusa.
— Contando que a minha vida amorosa também não é uma das melhores — Liam deu um sorriso fraco. —, eu sou todo ouvidos.
Ellie se amaldiçoou em sua mente por estar chorando e desabafando com alguém que ela mal conhecia, mas se não contasse o que estava perturbando o seu coração, ela acabaria se sufocando com tantas sensações.
— Você não tem culpa de estar gostando dele — Liam falou após ouvir a menina. — Foi algo que simplesmente aconteceu.
— Achei que você fosse rir e me chamar de idiota — ela suspirou. — É o que eu sou.
— Eu sei que acabei de conhecer você, mas tenho certeza de que ele não sabe o que está perdendo — Liam aconselhou. — E tenho certeza de que vai encontrar alguém que te ame do jeito que você merece.
Ele provavelmente estava certo.
O único problema era que Ellie não conseguia se ver completamente feliz caso não estivesse com a pessoa que estava pensando naquele exato momento, e em todas as horas de seus dias.