Crumble to Ashes | Phoenix Lo...

Autorstwa mclaranogueira

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[LIVRO 2 DA TRILOGIA PHOENIX LOVE] Após terem embarcado em um romance que fez explodir as chamas que existiam... Więcej

Notas da Autora e Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45

Capítulo 26

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Autorstwa mclaranogueira

DAVID

Faz uns quinze minutos que estou esperando Kathryn voltar para o quarto com a minha mochila para que eu possa trocar de roupa. É óbvio que me ofereci para eu mesmo ir buscar no carro, porém ela insistiu por alegar que não é bom que as outras meninas me vejam por aqui, então acabei concordando.

- Shiver?! Shiver, o que é que está acontecendo aqui? – ouço a voz de uma mulher que aparentemente deve ter meia idade gritando do outro lado da porta.

- Me desculpe, Madame Russell. – Ouço a voz de Kathryn lhe responder.

- Você conhece as regras, sabe muito bem que é proibido hospedar clientes aqui. – Seu tom soa ríspido. – Eles devem ir embora logo após o término do serviço, todas têm ciência disso.

- Ele não é um cliente, ele é... um amigo. – Kathryn tenta contornar a situação, mas não acredito que vá ter muito sucesso.

Percebo que a mulher, que provavelmente é a cafetina do lugar, volta a erguer o tom, portanto me levanto para ir até elas para tentar resolver essa situação. Kathryn não pode se prejudicar por minha causa, eu não vou permitir que isso aconteça.

- Com licença, desculpe interromper, – digo, abrindo a porta e me deparando com as duas – eu não sabia que a minha estadia não era permitida, por favor, não prejudique a Kathryn. Eu não queria causar problemas a ninguém – tento amenizar a situação.

- E ele ainda sabe o seu nome verdadeiro? – A mulher fica abismada. – Meu Deus, isso é uma tragédia! – Ela passa as mãos pelos cabelos, preocupada, como se eu fosse algum tipo de ameaça séria. – É isso que acontece quando se dá liberdade demais, vocês extrapolam e quebram as regras.

- Madame Russell, – fico meio inseguro por não saber se devo chamá-la assim, mas ela não parece ter ficado incomodada – prometo que não falarei nada que possa prejudicar a senhora, o estabelecimento ou a Kathryn de qualquer forma, eu prometo. Meus lábios estão selados – garanto, numa forma de tentar livrar a platinada de qualquer culpa.

A senhora de cabelos castanhos meio ruivos bem cacheados me analisa e parece pensar por alguns instantes.

- Vai ter que pagar pela sua estadia – ela diz, arqueando uma de suas finas sobrancelhas.

- Dinheiro não é problema – afirmo. – Me diga o seu preço.

A cafetina desfaz a sua expressão de desconfiada e a torna em interessada.

- Quinhentos dólares – ela responde sem hesitar.

- Quinhentos? – Kathryn indaga, arregalando os olhos, aturdida. – Madame, é muito dinheiro por aquele quartinho.

- Fique quieta, Shiver – a cafetina a repreende. – Ainda estou sendo humilde, só o boquete que você deve ter feito nele já vale isso, e o garoto tem dinheiro. – Ela ergue o canto da boca em um sorriso malicioso.

A platinada permanece indignada, enquanto eu pego minha carteira e a abro, mas não me importo. Na verdade, a este ponto, não me importo mais com muita coisa. Tiro cinco notas de cem dólares e entrego à Madame que as pega e guarda no sutiã.

- Isso vale apenas por essa noite que passou – ela acrescenta. – Não está permitido a se hospedar aqui novamente.

- Tudo bem, não se preocupe, eu já vou arrumar outro lugar para ficar – deixo avisado. – Só peço que me deixe tomar um banho e trocar de roupa antes de ir embora.

- Está bem – a Madame concorda com o cenho formando uma expressão não muito satisfeita. – E vê se não me apronta outra dessas, Shiver, senão serei obrigada a tomar providências – alerta e se vira para sair de perto de nós.

Pego a minha mochila da mão de Kathryn e volto para o quarto, ouvindo o barulho de seus passos atrás de mim.

- Como assim você vai embora? – ouço-a perguntar.

- Sua patroa deixou bem claro que eu não sou bem-vindo aqui – respondo enquanto pego uma muda de roupa de dentro da mochila.

- Mas... – ela engasga e parece assustada, perdendo a fala.

- Relaxa, Kat, a Madame me proibiu de me hospedar aqui, mas isso não me impede de vir te ver e assistir ao seu show – explico e dou um leve beijo em seus lábios, fazendo-a sorrir.

- Ótimo. Hoje é meu dia de folga, posso te ajudar a achar um hotel ou um lugar para você ficar – a platinada acrescenta, parecendo animada em passar seu tempo comigo.

- Perfeito – concordo com um sorriso e sigo para o meu banho.

Tomo um banho quente não muito longo, pois não quero me aproveitar da boa vontade da proprietária do lugar, e, em seguida, visto minhas roupas no banheiro mesmo, escovo meus dentes e penteio meus cabelos. Quando volto para o quarto, Kathryn já está arrumada, vestindo uma calça skinny preta, um suéter cinza bem grosso, um casaco preto por cima e botas pretas de salto baixo. Seu estilo me lembra um pouco o de Crystal. Na verdade, muitas coisas sobre ela me lembram Crystal e ainda não sei dizer se isso é algo bom ou ruim.

- Pronta? – pergunto, pegando minha mochila de cima da sua cama.

- Sim. – Ela confirma com a cabeça, e eu passo meu braço ao redor dela para caminharmos juntos até o meu carro.

Abro a porta do carona para ela e jogo minha mochila no banco de trás, me sentando no banco do motorista.

- Onde estamos afinal de contas? – questiono, pois até agora ainda não me situei muito bem.

- Perto de Milwaukee – Kathryn responde. – Lá você vai poder achar um hotel para ficar, isso é, se você ainda quiser ficar por aqui.

- Nunca vim para esses lados, por isso fiquei meio perdido – explico. – E não, não, pretendo voltar para a minha casa por algum tempo.

Assim que digo isso, Kathryn liga o rádio do carro e parece satisfeita com a minha resposta. A música que começa a tocar é "Love Hurts" do Nazareth. Que decadência.

- Nossa, que música de corno – a loira resmunga ao prestar atenção na letra enquanto põe o cinto de segurança.

Faço uma careta de incômodo e desaprovação em resposta pois "corno" é exatamente meu estado de espírito que eu havia esquecido por alguns momentos. Meus chifres já voltaram a doer.

- Oops. – Kathryn percebe que falou o que não deveria. – Foi esse o motivo pelo qual aquela garota te magoou, não é? – Ela faz uma expressão de "foi mal", mas tudo bem, eu não acabei entrando em detalhes sobre a minha dor de cotovelo, ela não tinha como saber. – Desculpe. Eu sinto muito.

- Tudo bem, já foi. Não dá para reverter o passado – respondo na minha melhor pose de durão, mas a verdade é que estou evitando pensar muito nisso para que eu não tenha um colapso e desmorone de vez. A dor ainda consome cada milímetro da minha alma e cada célula do meu ser.

Acendo um cigarro enquanto conecto meu celular no carregador do carro e ligo o aparelho, que havia descarregado há horas. Quando a tela inicial aparece e todas as notificações carregam, vejo que há trinta e duas ligações perdidas da minha irmã. Literalmente. Trinta e duas.

Por mais que eu tenha fugido de Chicago, largado tudo para trás e não tenha nenhum interesse de me lembrar de nada sobre lá por um bom tempo, minha irmã deve estar morta de preocupação e eu não quero deixá-la aflita por minha causa, portanto decido ligar para lhe dar algumas satisfações. Ela atende no segundo toque.

- David? David, graças a Deus, você finalmente apareceu, eu já estava quase indo até a polícia – Anne diz afobada, meio que atropelando as palavras.

- Por favor, não acione a polícia. Eu estou bem, estou vivo, não aconteceu nada comigo, não se preocupe – garanto, tentando acalmá-la.

- Não me preocupar? David, como você espera que eu não me preocupe? Você praticamente fugiu de casa, indo embora no meio daquela neve, sem nem dizer para onde ia e ainda nem atende a nenhum dos meus telefonemas e espera que eu não fique preocupada? – Ela praticamente despeja as palavras em cima de mim, e eu a entendo totalmente, mas eu só queria esquecer tudo por algumas horas.

- A intenção era fugir mesmo. – Dou uma tragada no cigarro. – Mas não precisa se preocupar mais, estou bem. Fisicamente, estou bem.

- Quando você vai voltar? – Percebo um fundo de choro na sua voz.

- Ainda não sei. – Dou mais um trago. – Provavelmente quando eu me sentir bem o suficiente para encarar toda a realidade que ficou para trás.

Ouço Anneliese suspirar fundo do outro lado da linha.

- David, já passei por isso outras vezes com você e sei que não importa o que eu diga não vai fazer você voltar correndo para casa, então eu só peço que você se cuide. E me ligue pelo menos uma vez por dia para eu ter certeza de que você está bem. Por favor, eu não posso te perder – Anne suplica com uma voz de dor, mesmo sendo tão compreensiva, e é um pedido tão simples que eu não posso deixar de atender.

- Está certo – concordo. – E você não vai me perder. Eu te amo, Anne.

- Eu também te amo, Dave. – Considero isso como uma despedida, então desligo a ligação em seguida.

- Uau, foi uma conversa intensa. – A voz de Kathryn me desperta dos meus pensamentos e me faz voltar para a minha realidade atual. Ela ouviu toda a conversa pois coloquei a ligação no autofalante do carro.

- É, eu meio que causei um drama quando saí de casa e minha irmã ficou preocupada, mas agora está tudo bem. – Dou mais uma boa tragada no cigarro e solto a fumaça pela boca. Kathryn pega o restante da bituca da minha mão e a coloca em sua boca, finalizando o cigarro.

- E então, para onde vamos? – ela pergunta, jogando a bituca pela janela enquanto dou partida no carro.

- Pensei em te levar para almoçar em um restaurante legal, porém eu não conheço nada por aqui – respondo, seguindo as placas que sinalizam em direção a Milwaukee. – Aceito sugestões.

- Bom, o The Parisian é um restaurante muito famoso e elegante, mas é caro, por isso nunca fui, então...

- Você gostaria de ir lá? – indago, interrompendo-a.

- Não, eu não posso pedir isso pra você... – a loira diz sem jeito.

- Não foi isso que eu perguntei – retruco.

- Mas, David, eu...

- Não há espaço para discussões aqui – contesto. – The Parisian vai ser.

- Você não existe, David! – ela exclama com um sorriso tímido, parecendo lisonjeada e põe as mãos sobre o rosto.

Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto eu dirijo e coloco o endereço do restaurante no GPS. Kathryn decide mudar a vibe do ambiente mudando a música do rádio.

- Será que tem algo aqui que não seja rock ou música clássica? – ela questiona, pulando as faixas. – Ah, encontrei uma que é a minha cara! – diz, deixando em "Love Me Harder" da Ariana Grande com o The Weeknd.

- Isso é vestígio da minha ex. Ela que gosta desse tipo de música – explico, tentando afastar da minha mente as lembranças que vêm com ela. Como no dia em que estávamos no carro com essa mesma música de fundo e Crystal a sussurrava de forma sexy no meu ouvido enquanto nos amávamos de modo ardente no banco do motorista.

Ódio! Maldita Crystal, por que ela teve que acabar com tudo que nós tínhamos daquele jeito?

- David? Está tudo bem? – A voz de Kathryn me traz de volta à realidade. – Eu posso mudar se você quiser.

- Não, está tudo bem – garanto. Não posso fugir de tudo que me lembra Crystal pois muitas coisas me lembram ela, eu teria que ficar trancado no quarto sem ter qualquer contato com o mundo, então me obrigo a enfrentar as malditas lembranças de frente. É o único jeito.

Continuamos o restante do caminho em silêncio enquanto Kathryn cantarola a música e abaixa um pouco o vidro da janela, deixando um vento gelado entrar e bagunçar seus cabelos quase prateados, deixando as maçãs do seu rosto levemente coradas por conta do frio.

Poucos minutos depois, chegamos finalmente no tal restaurante The Parisian, que já denota toda a sua sofisticação pela fachada elegante. Dou a volta no carro e abro a porta para Kathryn, lhe estendendo a mão para ajudá-la a sair.

- Então... isso é um encontro? – a loira indaga enquanto eu enlaço meu braço no dela para caminharmos juntos.

- Se você quiser que seja... – respondo, mas logo me arrependo, pois sei que ela quer que seja, porém perguntou de um modo sutil para não sentir que está me pressionando, portanto, limpo a garganta e corrijo minha resposta. – Na verdade, sim, é um encontro – digo, firme.

Kathryn disfarça um sorriso sutil, mas que ainda consigo ver e faz meu coração se aquecer de alguma forma. O garçom nos sugere uma mesa no canto do salão e nos guia até ela.

Puxo a cadeira para que ela sente e peço duas taças de vinho quente para nos aquecer enquanto escolhemos nossos pedidos. Em seguida, o garçom se retira, nos deixando a sós.

- Pode pedir o que quiser, não precisa ter vergonha – afirmo ao perceber que ela está passando tempo demais analisando o cardápio.

- Eu não quero parecer abusada – Kathryn responde, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- O convite foi meu – friso. – Fique à vontade para escolher o que quiser.

- Você está me dando muita liberdade, vou ficar mal-acostumada – ela responde na brincadeira, e nós dois rimos. – E, falando nisso, você é o primeiro cara que me chama para um encontro, então isso significa muito para mim. Obrigada, David. – A loira abre um sorriso singelo e encantador.

- Isso é sério? – questiono, incrédulo, arqueando uma das minhas sobrancelhas. Kathryn é uma garota linda e já deve ter saído com muitos homens, não posso acreditar que eu sou o primeiro a chamá-la para sair.

- Aham – ela admite, um tanto constrangida. – Eu já fiquei com muitos caras, é verdade, mas todos eles só me queriam pelo sexo. Nenhum se interessou em saber o que existe por trás do meu corpo.

Essa é uma confissão triste, e admito que fico chateado por ela. Sim, Kathryn realmente é uma garota muito bonita e sensual, mas, mesmo com as poucas horas que passei com ela, percebo que ela tem muito mais a oferecer.

- Para a sua sorte, eu não sou como os outros caras – menciono. – Então pode me contar tudo sobre você, eu quero saber. A começar pelo porquê você trabalha naquele lugar.

- David, você é incrivelmente gentil, mas eu não quero que você exercite a sua piedade sobre mim – a loira rebate na defensiva.

- Quem disse alguma coisa sobre piedade? – rebato de volta. – Eu realmente quero saber. Desde o primeiro momento, você me deixou... – procuro a palavra certa – intrigado. – Ergo o canto da boca em um sorriso unilateral.

- Bem, você tem sido tão gentil comigo que seria indelicado da minha parte bancar a orgulhosa. – Ela se convence e toma um longo gole de vinho antes de começar. – Tudo começou quando eu fui expulsa de casa.

- Você foi expulsa de casa? – Fico impressionado, mas tento não demonstrar tanto para não a fazer se sentir mal.

- Sim. – Ela desvia o olhar de mim por um instante. – Eu venho de uma família extremamente conservadora e tradicional, e eu nunca concordei com a mentalidade fechada deles, sempre fui conhecida como a ovelha negra da família, mas sempre tentei respeitá-los ao máximo. – A dançarina faz uma breve pausa e parece procurar as palavras certas para falar em seguida. – Isso pode meio que soar como uma surpresa para você, mas eu sou bi. Sim, bi de bissexual.

- É por isso que você foi expulsa de casa? – tento não soar tão indignado no meu tom de voz.

- Mais ou menos. – Ela relaxa os ombros, parecendo um pouco mais à vontade com o assunto. – Antes de eu ter sido expulsa de casa, houveram uns boatos de que eu havia ficado grávida de um menino mais velho, que tinha fama de rebelde, e isso chegou até os ouvidos da minha mãe. Ela achou um absurdo e, obviamente, ficou furiosa comigo, mas acabou abafando o caso porque não queria que a nossa família ficasse mal falada na cidade e, bem, não sei se você sabe, cidades pequenas têm fama de fofoqueira por uma razão. – Kathryn suspira e dá mais um gole no seu vinho. – Eu não estava grávida e a mentira acabou sendo revelada eventualmente porque, no final das contas, não havia nada crescendo dentro de mim.

Enquanto Kathryn confessa a última frase, admito que sinto um pequeno tremor dentro de mim. A palavra "gravidez" ainda me assombra e é mais um fantasma que eu adquiri para a minha lista dos que vou carregar pela vida.

- Algum tempo depois, – a loira continua – quando eu estava me descobrindo bissexual, tiraram uma foto minha beijando uma garota que eu estava gostando na época. Descobri que as mesmas pessoas que inventaram os boatos da minha gravidez antes foram as mesmas que tiraram essa foto e que, obviamente, caíram nas mãos dos meus pais. – Percebo que ela engole brevemente um choro nesse momento, por mais que tenha tentado disfarçar. – A minha reputação, que já não era muito boa e estava ainda pior quando minha mãe descobriu que eu não era mais pura e recatada, simplesmente escorreu pelo ralo em uma velocidade impressionante quando eles viram aquela foto. Minha mãe me xingou e disse coisas terríveis para mim que ainda me assombram até hoje. – Uma pequena lágrima escorre do canto do seu olho esquerdo, e eu queria que estivéssemos mais próximos para que eu pudesse enxugá-la. – Ela disse que preferiria que os boatos da minha gravidez precoce fossem verdadeiros, pois ela preferiria isso a ter uma filha sapatona. Então eu tentei explicar para ela que gostava tanto de garotos quanto de garotas, mas foi ainda pior, porque ela me viu como suja, promíscua... uma puta, como ela mesma disse, dentre tantos nomes horríveis que ela jogou na minha cara. – Nesse instante, duas lágrimas atravessam seu rosto, uma de cada um de seus olhos, que atingem certeiramente meu coração como duas pontadas de dor.

Faço menção de abrir a boca para dizer alguma coisa, mas Kathryn sinaliza com a mão para que eu me cale, e obedeço. Sinto que ela quer terminar a história toda antes de ouvir qualquer coisa.

- Logo após a discussão, minha mãe me expulsou de casa sem que eu tivesse ao menos a chance de pegar as minhas coisas, fui embora de casa apenas com a roupa do corpo. Tentei abrigo na casa de alguns "amigos" – ela sinaliza as aspas com as mãos – e eles ficaram com vergonha de mim pelo que tinha acontecido e não queriam ser associados a mim. Então eu fiquei sem lugar para morar e não tinha para onde ir. Passei fome, passei frio, passei sede, e, acredite, eu tentei me virar e arrumar um emprego, mas quem é que iria empregar uma garota sem casa, sem família, sem identidade, de menor e sem estudos? Porque eu tive que abandonar a escola também pois não tinha qualquer condição de ir. – Kathryn conta fingindo uma serenidade que eu percebo que ela não tem sobre o assunto. Dá pra ver no seu olhar o quanto isso dói, o quanto isso machuca e o quanto isso ainda é um trauma muito grande na vida dela.

- Imagino que foi assim que a Madame te descobriu... – deduzo, tentando ajudá-la a conduzir o assunto.

- Sim – ela confirma. – Consegui vir para Milwaukee pegando algumas caronas e a Madame Russell me encontrou na rua pedindo por comida. Essa cena ainda está bem fresca na minha memória. – Kathryn fecha os olhos por um instante e parece retornar nas lembranças. – "Está perdida, minha jovem?" foi a primeira frase que ela me disse. Eu contei resumidamente a minha história para ela, que se compadeceu e se ofereceu para cuidar de mim, e eu mais do que depressa aceitei, afinal quem é que quer viver na rua a vida toda? – Ela dá uma risadinha nervosa. – Mas, apesar de parecer um meio de vida abusivo, a Madame Russell sempre foi muito boa comigo, nunca me forçou a fazer nada que eu não quisesse. As meninas são a minha família agora e a Madame se certifica de que nós sejamos todas bem tratadas.

- Mas você gostaria de fazer outra coisa se pudesse? – questiono, realmente interessado em saber. Estou completamente compadecido pela história de Kathryn e quero ajudá-la de alguma forma, é o mínimo que ela merece.

- Eu não quero soar ingrata, porque eu realmente sou muito grata a tudo que a Madame fez por mim, eu nem sei se ainda estaria viva se ela não tivesse me ajudado.

- Porém...? – incentivo ela a continuar.

- Porém não vou mentir e dizer que quero viver dessa forma a vida toda, é por isso que eu guardo quase todo o meu salário para que um dia eu possa terminar de estudar e fazer uma faculdade – a loira admite. – A Madame nos provê com tudo que precisamos mesmo, portanto não precisamos gastar com muito.

- Que curso você gostaria de fazer na faculdade? – pergunto, interessado em poder pagar para ela.

- Talvez soe estranho, mas... arquitetura! – ela abre um sorriso genuíno, o primeiro no qual sinto sinceridade desde que iniciamos essa conversa. – Adoro montar ambientes e decorar lugares, o que é irônico para uma garota que por um bom tempo não teve um lar.

O pensamento que surge no mesmo instante na minha cabeça é que se eu realmente decidir fazer engenharia civil e tomar conta da empresa do meu pai é a oportunidade perfeita para empregar Kathryn quando ela se tornar arquiteta.

- Eu quero pagar pela sua faculdade – declaro e, assim que o digo, o garçom chega com os nossos pratos, que se impressiona com o "o quê?" alto e surpreso que Kathryn solta, e eu peço desculpas por nós dois.

- De jeito nenhum, David, eu não posso aceitar isso – Kathryn contesta logo que o garçom se afasta de nós. – Nós mal nos conhecemos e todos sabem o quanto um curso superior é caro neste país, é muita coisa, não me importa que você seja rico.

- Eu quero fazer isso por você, Kat – insisto. – Eu gostei de você e senti uma conexão instantânea entre nós. Além do mais, depois do que eu ouvi, quero muito te ajudar.

- Obrigada pela generosidade, David, de verdade. – Sinto que vem um "mas" depois disso. – Mas eu não posso aceitar, seria abuso da minha parte.

- Bom, saiba que a minha proposta vai continuar de pé. Sempre – enfatizo.

- Tudo bem – ela concorda. – Agora vamos comer porque eu estou morrendo de fome. – diz na maior simplicidade e nós dois rimos.

Almoçamos em um clima agradável e conversamos sobre assuntos bem mais leves e descontraídos do que a pauta anterior. Kathryn não resiste em querer uma sobremesa e eu a deixo à vontade para pedir o que quiser.

Tendo terminado a nossa refeição, nós vamos embora do restaurante, que faz jus à sua fama por sinal, e eu solto um pequeno grunhido quando saímos e entramos em contato com o vento gelado e cheio de neve que cai do lado de fora. Frio realmente não é a minha praia.

Decidimos aproveitar o restante do dia para fazermos alguns passeios pela cidade, pelo que sei, Milwaukee é famosa por seus inúmeros museus e eu, como o bom nerd que sou, um grande entusiasta por esse tipo de lugar. Não é como se tivéssemos muitas opções com toda essa tempestade de neve também.

Passamos a tarde toda explorando os museus e alguns dos pontos turísticos mais famosos da cidade. Até paramos no Lakeshore State Park e aproveitamos que está tudo coberto de neve para brincamos com ela, fazendo anjinhos no chão, bonecos de neve e até guerra de bola de neve. Nosso tempo juntos é uma distração tão agradável que até me esqueço do caos que está a minha vida neste momento. Eu gosto disso sobre a Kathryn. Gosto de como ela me faz esquecer facilmente de toda a dor e sofrimento que atribulam o meu peito.

Por volta das oito da noite, finalmente escolho um hotel para fazer a minha estadia, ainda sem prazo determinado. Subo junto com a loira para o meu quarto e eu ligo o aquecedor assim que entro, estou com o rosto vermelho e as mãos congelando por conta do frio, mas não dispenso um bom banho bem quente. Na verdade, isso é tudo que eu preciso agora.

Aproveito que tem banheira aqui para preparar um banho quente e relaxante para mim. Digo para Kathryn ficar à vontade, pois é provável que eu vá demorar. Amo ter contato com a água em momentos que me sinto vulnerável, de alguma forma, ela me conforta.

Solto um pequeno gemido de alívio quando entro na água justamente por causa da sensação de aconchego e paz que ela me provoca. Coloco meus fones de ouvido e ponho alguma playlist aleatória para tocar. Então fecho os olhos e esqueço que o mundo lá fora existe.

*

- Quando você disse que poderia demorar, não achei que seria tanto. – Ouço a voz de Kathryn ressoar pelo banheiro, me fazendo despertar e rir.

- Desculpe. Eu precisava de um tempo para mim, para colocar as minhas emoções em ordem – explico. – Na verdade... você quer entrar? – ofereço, arqueando o canto da boca em um sorriso.

- Quer saber? Quero sim – ela responde prontamente, já tirando as suas roupas e entrando na banheira em seguida, ficando de frente para mim.

Seu corpo impecável é tão parecido com o de Crystal que eu poderia facilmente fechar os olhos e fingir que é a morena aqui comigo, assim como eu fiz ontem.

- Eu te faço lembrar dela, não é? – Kathryn indaga, me trazendo à realidade de que é ela, não Crystal aqui comigo. – Eu percebo o jeito que você olha para mim.

- Não posso mentir para você, então, sim, você está certa – admito. – Você não se incomoda com isso?

- Se isso não te fizer mal, não, não me incomoda – ela responde, segura. – Eu sei que você a ama e está tudo bem. E está tudo bem também se você quiser fingir que eu sou ela – a loira declara se aproximando um pouco mais de mim.

- Isso não faz você se sentir usada de alguma forma? – questiono, levando minha mão até as suas costas para aproximá-la mais de mim, até o ponto em que ela precisa se sentar sobre as minhas coxas para que possamos ficar pertos o suficiente.

- Nem um pouco. – Ela balança a cabeça negativamente. – Sinto que isso te conforta um pouco e eu gosto de fazer você se sentir melhor – afirma, passeando com os dedos de uma mão pelos meus cabelos e a outra explorando o meu rosto delicadamente. – Você é tão perfeito em todos os aspectos, David. Seu rosto. – Ela desliza a mão pelo meu maxilar. – Seus olhos. – Ela olha fixamente para mim. – Sua boca. – Ela acaricia meus lábios com o seu polegar. – Seu corpo. – Ela desce sua mão para o meu ombro e, em seguida, meu abdômen. – Seu cheiro. – Ela encaixa seu rosto perfeitamente entre a minha cabeça e meu ombro, inalando o aroma da minha pele e depositando um beijo delicado no meu pescoço. – Seu coração. – Ela leva sua mão até o centro do meu peito. – Como aquela louca pode ter tido coragem de ter jogado tudo isso fora? – Sua voz sai quase como um sussurro.

- Talvez ela não visse o que você está vendo – respondo, completamente inebriado pelo seu toque.

- Então ela só pode ser cega – Kathryn afirma e traz seu rosto até o meu, fazendo nossos lábios se encontrarem.

Beijamo-nos de forma lenta e sensual, sem qualquer pressa, desfrutando de cada toque, enquanto eu exploro seu corpo com as minhas mãos, usando uma delas para massagear os seus seios e a outra para descobrir a sua intimidade, enquanto ela faz o mesmo comigo, acariciando minhas costas e por entre as minhas coxas.

Estamos em puro deleite com a forma em que nossas mãos se movimentam, até que decidimos, um de cada vez, usar a boca no lugar das mãos para aquecermos um pouco mais as coisas entre nós. O clima vai ficando cada vez mais quente até que sentimos nossa pele queimar de tesão, e eu finalmente selo nossos corpos um dentro do outro, transando como se fôssemos o casal mais apaixonado do mundo.

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