Crumble to Ashes | Phoenix Lo...

By aprilkanewrites

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[LIVRO 2 DA TRILOGIA PHOENIX LOVE] Após terem embarcado em um romance que fez explodir as chamas que existiam... More

Notas da Autora e Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45

Capítulo 20

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By aprilkanewrites

CRYSTAL

Estou subindo as escadas da entrada da escola e, enquanto passo pelos corredores, ouço inúmeros burburinhos que parecem ser sobre mim, a minha festa e até mesmo David. Fico feliz que as pessoas ainda estejam comentando, era exatamente o que eu queria.

Vou em direção ao corredor onde fica o meu armário quando sinto uma mão segurar o meu ombro e a minha voz preferida dizer:

- Feliz aniversário, princesa. – e me viro a tempo de ver o seu sorriso gracioso para mim.

- Obrigada, lindo. – agradeço com um beijo rápido em seus lábios. – Ainda estou emocionada com a sua mensagem de aniversário, foram as palavras mais belas que já disseram para mim.

- Fico feliz que tenha gostado, passei horas elaborando aquele texto. – David dá uma risadinha sem graça.

- Mas preciso admitir que senti falta de um presente. – confesso. – Abri todos que ganhei na minha festa de aniversário, porém não tinha nenhum enviado por você lá. – arqueio a sobrancelha para intimidá-lo. Tenho certeza de que ele comprou um presente especial para mim, apenas estou me fazendo de cínica.

- A nossa noite juntos já não foi um presente? – ele indaga, parecendo ofendido.

- Foi, mas é que...

- É brincadeira. – ele me interrompe rindo antes que eu pudesse ficar desesperada tentando me desculpar. – Eu queria te entregar no dia do seu aniversário. Dê uma olhada no seu armário. – o loiro ergue o canto da boca em um leve sorriso.

- Como você sabe a senha do meu armário? – questiono, semicerrando os olhos para ele.

- Eu tenho meus truques. – ele responde convencido e prossigo até o meu armário.

Abro a porta e encontro uma caixa, não muito grande, preta de veludo, com um bilhete acompanhando-a por cima.

Um sorriso enorme cresce no meu rosto só de ler o bilhete. Abro a caixinha e vejo que dentro dela há uma linda pulseira dourada, cravejada com diversos cristais coloridos. Eu já deveria imaginar que ele seria esse nível de extra em uma data tão especial, mas não deixo de ficar emocionada.

- É lindo, Dave! – exclamo, estupefata. – Eu nem sei o que dizer.

- Sua reação já é suficiente. – ele responde com seu sorriso lindo, então eu me aproximo para beijá-lo e retribuir o carinho.

Enquanto estamos nos beijando, ouço um barulho de assovio na nossa direção e nos separamos a tempo de ver que Dakota Bloom estava passando por nós. Outra que não se põe no seu lugar junto com a Emma Walker.

Meu namorado parecido ficar constrangido e abaixa o olhar.

- Está sendo estranho ter as pessoas me olhando diferente, é desconfortável. – ele faz uma careta. – Até a Anne ficou me olhando esquisito esses dias, ela disse que ficou chocada com a minha strip-tease. – ele dá uma risadinha, me fazendo rir também.

- Não só ela, todo mundo ficou. – acrescento e vejo mais uma garota de olho comprido para cima do meu loiro. – Inclusive eu.

- Foi ideia do Liam. – David levanta as mãos em sinal de inocência. – Aliás, nem sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi aceitar.

- Liam, claro, eu já deveria suspeitar. – satirizo. – Ele sabia que eu ia detestar ter todas as garotas da escola babando pelo meu homem como está acontecendo agora. – reviro os olhos.

- De que adianta elas babarem se eu sou só seu? – meu namorado indaga, mexendo nos meus cabelos e depois apoiando suas mãos no meu maxilar.

- Quer saber? Você tem razão. – respondo, mordendo o lábio inferior e dou um beijo nele novamente, me deliciando em saber que esse corpinho lindo e, principalmente, essa alma linda são completamente meus.

Pego minhas coisas e damos as mãos, caminhando juntos pelos corredores, feliz por estar de volta no meu lugar mais seguro: os braços do meu amado.

***

A semana passou tão rápido que eu nem percebi, tanto que hoje já é sábado, o dia que vou encontrar meus parentes canadenses e o dia da gravação do comercial. Estou ansiosa e nervosa, não faço ideia de como vai ser nenhum dos dois. Só espero que tudo corra bem.

- Você já foi para Vancouver? – pergunto para David enquanto termino a minha maquiagem, e ele me observa sentado sobre uma perna na minha cama.

- Não, na verdade, não. – ele responde. – Fui só uma vez para Toronto e foi bem rápido. Conheço muito pouco do Canadá.

- Eu já fui uma vez, mas faz muito tempo, nem me lembro direito. Parece ser uma cidade bem interessante. – digo passando uma camada de rímel nos olhos.

- Por que a pergunta? – o loiro questiona.

- Nada, só curiosidade. O pessoal do job de hoje é da região de Vancouver. Achei muito empenho eles virem de tão longe só para gravar um comercial aqui em Chicago. – encosto meus lábios um no outro várias vezes para acertar o batom pink que acabei de passar.

David se levanta da cama, põe meu cabelo de lado e me abraça por trás.

- Com uma modelo como você, eu cruzaria oceanos só para te ter. – ele afirma contra a minha pele, e eu sinto o arrepio subindo pela minha espinha. Depois de todo esse tempo, ele ainda mexe comigo de uma forma impressionante.

- Você sempre tão romântico. – digo me virando para ele e dou um beijo em seus lábios. – Mas, por mais que eu realmente gostaria que fosse por esse motivo, na verdade, é pela minha mãe. O dono da empresa de perfumes que, na verdade, é primo do meu pai, fez absoluta questão que a minha mãe desenhasse os modelos para o comercial, e enviá-los pelo correio ou por avião seria um absurdo, fora o grande risco de estragarem pelo caminho. Por isso, eles decidiram vir pra cá e precisavam de mais uma modelo, então minha mãe mencionou sobre mim e eles aceitaram.

- Entendi. Mas então eles tiveram muita sorte em ter você como bônus, não é todo dia que se tem uma modelo tão valiosa nas mãos. – meu namorado comenta enquanto eu me levanto da cadeira, e meu coração se aquece de amor. – E por que toda essa maquiagem? Você não vai ter que tirar tudo depois? – ele pergunta acariciando ao redor do meu rosto.

- Eu tenho que parecer impecável ao encontrar com eles, principalmente depois de tanto tempo. Tenho que causar uma ótima impressão nesse reencontro. – respondo tentando me concentrar nas palavras e não no toque suave da sua mão macia.

- Sua aparência já é impecável desde o momento em que você acorda. Você é linda todas as vinte e quatro horas do dia, sete dias da semana. – ele declara olhando nos meus olhos, me deixando corada pela intensidade do seu olhar, e me beija em seguida, de forma doce, mas passional. Eu sou a garota mais sortuda do mundo por poder chamar esse cara incrível de "meu namorado" e tenho plena consciência disso.

- Você tirou o dia para me bajular hoje. – rio sem graça. – Desse jeito eu vou ficar ainda mais convencida do que eu já sou.

David sorri timidamente. – É que eu vi uma frase na internet que dizia "flerte com a sua garota, mesmo que ela já seja a sua garota", e decidi pôr em prática.

- Como se você já não fizesse isso diariamente. – respondo com obviedade. – E antes que você diga qualquer coisa, não, isso não foi reclamação. Agora vamos que já está na hora. – pego na sua mão e desço as escadas com ele. Saímos e vamos para o carro.

David se oferece para dirigir, e eu aproveito que estamos no meu carro para escolher o repertório das músicas, já que no dele eu demoro horrores para achar algo que eu goste. Por mais eclético que seja o seu gosto musical, as pastas de rock e música clássica sempre ficam na frente, enquanto no meu as minhas divas pop estão sempre à mão. Escolho o álbum "Breathe In. Breathe Out." da Hilary Duff que eu simplesmente adoro, mesmo que as pessoas não tenham dado muito valor a ele.

Canto as músicas super animada, ainda que esteja bem cedo, pois eu e David passamos uma noite incrível ontem. Não apenas pelo sexo, mas porque finalmente estamos num nível de estabilidade no nosso relacionamento que eu cheguei a pensar que nunca alcançaríamos. Claro, ainda brigamos com frequência pois somos tão distintos quanto fogo e gelo, porém não é sério como antes, em que quase terminávamos em todas as nossas brigas. Agora é mais porque eu sou teimosa e pirracenta e nunca dou o braço a torcer.

- Já te falei que você poderia ser cantora se não quisesse ser modelo? – David pergunta quando estou distraída.

- Não me lembro. – sorrio com o elogio. – Acha mesmo que a minha voz é boa? – eu sei que tenho uma boa voz, mas é ele quem realmente entende de música, então é um elogio e tanto se for verdade.

- Acho sim. – ele confirma. – É sempre um prazer enorme te ouvir cantar. – ele vira o rosto para olhar para mim e me lança um sorriso.

Abraço seu braço direito como um gesto de carinho e dou um beijo no seu ombro. Não tinha percebido como ele está cheiroso, e ele está bastante, o que eu amo.

Ele dirige por mais uns dois quilômetros até chegar ao estúdio da gravação do comercial. Saímos do carro e eu pego em sua mão para andarmos de mãos dadas. Sabe-se lá se a outra modelo não é solteira e, com um homem desses, quem não cairia matando em cima? Por isso tenho que estar sempre muito bem garantida do que é meu.

De longe avisto a minha mãe e vou até ela para cumprimenta-la já que não nos vimos em casa, e David também a cumprimenta e logo vemos um pessoal por perto que deve ser do comercial e meus parentes. Pelas aparências, deduzo que o senhor alto bonitão, que lembra um pouco o meu pai, é Jofrey Bancock, o dono da empresa de perfumes; o rapaz tatuado que tem o sarcasmo estampado no rosto com certeza é o Jake, e há também uma garota loira de jeitinho todo meigo irritante com ele. Provavelmente é ela que vai ser a modelo do comercial junto comigo. Ótimo. Uma loirinha padrãozinho sem graça. Eu já devia esperar por isso.

Eu e David cumprimentamos o tal senhor, que, como eu suspeitava, realmente é o primo Jofrey, dono da empresa. Ele ainda não tem lá a cara muito simpática, mas pelo menos se esforça para ser educado, e eu levo isso em consideração. Mais à frente está o casal e nós nos aproximamos deles para cumprimenta-los. A cada passo que dou, observo atentamente a garota que é minha provável colega de trabalho. Ela está tão casualmente vestida que parece que nem se deu ao trabalho de escolher uma roupa para causar uma boa impressão, além de que ela treme mais do que vara verde. Não é possível que essa criatura seja uma modelo de verdade.

- Não sei se você se lembra do meu filho, Jake Bancock. – Jofrey nos apresenta ao casal – Ele não tem nada a ver com o projeto, mas veio acompanhar porque insistiu.

- Na verdade, é porque eu precisava acompanhar a minha namorada. – Jake responde, e eu percebo que ele continua não indo muito com a minha cara. Não que eu me importe.

- Que seja. – o sr. Bancock parece não dar a mínima. – Esta é a modelo que vai trabalhar com você. Lucy Moonvaister. – diz para mim. – Estes são David Allen e Crystal Müller. – ele nos apresenta.

A garota abre um sorriso nervoso para nós, mas eu ainda estou assustada com ela. Não é possível que eles vão me botar para trabalhar junto com essa magrela esquisita que aparenta ter um total de zero experiência com esse tipo de coisa.

- Prazer, David. – meu namorado estende a mão para a garota com um sorriso gentil, percebendo que estou chocada demais para fazer qualquer movimento.

- Lucy. – ela responde.

David, como muito educado que é, estende a mão para Jake e, por mais que minha atenção esteja voltada para a garota, percebo uma tensão entre eles, vinda daquele tatuado de nariz empinado que dizem ser meu primo. Volto a encarar a garota pois ainda estou perplexa demais com a situação.

- M-Meu nome você já sabe. – Jake se esforça para responder e dá um sorriso amedrontador.

Percebo que os três já se cumprimentaram, então só ficou faltando eu. Serei obrigada a fazer contato para soar ao mínimo educada. Queria ter a mesma facilidade que David tem de não julgar as pessoas pela aparência.

- Crystal, como já disseram. – aperto a mão da tal Lucy, fazendo pouco caso. Nem me importo em parecer simpática. Não sou mesmo.

Acho que o clima tenso e estranho entre nós fica visualmente perceptível e o sr. Bancock resolve interferir.

- É... – ele se intromete meio sem jeito. – Acho que está na hora de irmos até o estúdio para que todos cheguem inteiros lá em cima.

Nós quatro vamos até o elevador acompanhados de um segurança, Jofrey e minha mãe, embalados por um silêncio mortal. Percebo que Jake não para de olhar para o meu namorado, na verdade, ele quase o mata com os olhos, e eu estou começando a ficar irritada com isso. Por acaso ele está achando que David vai me trocar por aquela sonsa? Pelo amor né, olha para mim e olha para ela. Jamais.

Jake vai para o fundo do elevador e se aproxima de David, e eu só fico observando para ver o que ele irá fazer.

- Queria só saber uma coisa. – escuto de longe. – Você vai trabalhar com elas no comercial?

Minha reação involuntária é querer rir, mas me seguro antes que possa escapar. Não quero constranger David, mas eu sei que ele é um poço de timidez, principalmente no quesito câmeras, ele não faria algo do tipo de jeito nenhum, apesar de saber que ele se daria muito bem se quisesse seguir carreira de modelo, lindo, charmoso e carismático do jeito que é.

- Eu? – David fica quase em pânico com a pergunta. – Não, de jeito nenhum. Essa coisa de modelagem não é para mim. Só vim acompanhar a minha namorada, Crystal.

- Já que é assim, não preciso me incomodar. – Jake responde. Não precisa mesmo.

- Jake! – vejo Lucy repreendê-lo e puxá-lo para perto dela. Eles sussurram alguma coisa que não consigo ouvir, mas espero que tenham decidido finalizar esse assunto.

Paramos quando o elevador chega no oitavo andar e descemos. Como boa desbocada que sou, vou tirar satisfações sobre a loira esquisitinha que vai trabalhar comigo. Alguma coisa de errado deve ter nisso. Tem que ter.

- Olha, Lucy, sem querer parecer ser mal-educada... – começo a dizer, e já vejo David olhando com repreensão para mim. – Mas você me parece muito nervosa para alguém que vai fazer um comercial. Você é modelo de verdade?

Ela hesita um pouco antes de responder.

- Na verdade... – ela engole em seco. – Estou aqui porque Jake quis que eu participasse disso. Além do mais, era para outra garota estar aqui. Mas infelizmente ele trocou de namorada antes disso.

Eu bufo e reviro os olhos.

Maravilha. A garota nem é realmente modelo, como eu suspeitava. Esse Jake, babaca como sempre, fez isso só para babar ovo da namoradinha dele, posso apostar. O pior é que isso implica todo o meu trabalho, já que ela não sabe absolutamente nada e vai acabar comprometendo todo o desempenho do comercial. Tinha que ser esse sem noção para montar essa presepada. Além do mais, como eles têm coragem de colocar eu, uma modelo de passarela, junto com uma garota que provavelmente nunca nem posou para uma foto profissional na vida? Simplesmente ridículo.

- Eu sou uma modelo de verdade e, sinceramente, eu não estou no meu humor para ensinar o bê-á-bá para uma iniciante. – menciono, irritada.

- Crystal, você está sendo rude. – David me repreende sério, mas não ligo.

- Sou obrigado a concordar com o garotão aqui. – Jake se intromete na conversa. É óbvio que ele vai defender a namoradinha dele, mas ninguém enxerga o caos que isso pode se tornar além de mim.

- Eu só estou sendo realista! Como tiveram coragem de colocar eu, que já desfilou na passarela de Paris, com uma garota que nunca pisou os pés num estúdio? Eu estou me sentindo rebaixada. – reclamo, e David suspira, provavelmente indignado com a minha grosseria.

- Assim como você, eu não queria que eu estivesse aqui. – Lucy responde e, na mesma hora, o namorado dela a encara um tanto surpreso. – Mas para tudo tem uma primeira vez, não é?

- Ótimo! – exclamo. – Eu faço o comercial todo sozinha, sem problema algum. Você pode ficar aí quietinha só sentada observando. Acho que é o melhor para todos.

Antes que a discussão se estenda, Jake pega a namorada pelo braço e se afasta de nós com ela. Obviamente, David não perde a oportunidade para me dar um sermão.

- Crystal, que grosseria toda foi essa com a pobre Lucy? – ele indaga bravo, me encarando com um olhar sério. – Achei que você estivesse mudando esse seu comportamento agressivo.

- Bem, como você pôde perceber, eu não mudei. – respondo nervosa, cruzando os braços. – Eu tenho meus motivos para estar com raiva, David. Eles colocaram uma garota completamente inexperiente para fazer um comercial importante desses comigo. Você tem noção da tragédia que isso pode virar? Vai ser ridículo de tão patético, e minha carreira de modelo que mal começou já vai ter uma mancha dessas para estragar o meu currículo.

- Crystal, não seja tão insensível. – ele diz com a voz calma agora. – Você não percebe que o Jake está tentando ser romântico? Ele quis colocar a namorada na propaganda do perfume do pai dele para homenagear ela. É um gesto muito bonito.

- E o que eu tenho com isso? – respondo com cara de tédio. – Isso interfere no meu trabalho e o resultado tende a ser péssimo.

- Vamos lá, Crys, ajuda a Lucy, por favor. – ele implora. – O que custa? Não vai arrancar pedaço seu. Por favor, por mim.

David e sua mania de ser bonzinho demais. Ele esquece que não sou como ele e nem tenho toda essa afetividade natural com as pessoas.

- Eu não vou mudar de ideia, não importa o que você diga, David. – afirmo, sinalizando com a mão para que ele não insista em responder, enquanto o outro casal se aproxima de nós.

- Eu tenho uma ideia! – minha mãe se intromete na discussão, dando a entender que ouviu tudo. – Vocês, meninas, vão fazer dois comerciais separados. Um para o dia, e um para a noite. O que acham?

- Parece uma boa para mim, mãe. É o mais sensato. – respondo cruzando os braços, apesar de não estar completamente satisfeita, mas ao menos assim ela não arruína a minha parte do comercial, o que já é um avanço.

- Eu acho uma ótima ideia. – Lucy responde entusiasmada, o que me incomoda. Parece até que ela estava louca para se livrar de mim. – Assim não causamos nenhum tipo de conflito para prejudicar o Jake. – ela puxa o saco do namorado e confirma a minha teoria de que está aqui única e exclusivamente por causa dele.

- Acho que já entendi por que você está aqui. – reviro os olhos de novo. – Mas já que você é a protegida do bonitão, pode escolher qual prefere. – tento ser razoável. Ela parece ter ficado incomodada, mas não é como se eu estivesse mentindo.

- Eu não sei... – Lucy parece transtornada, como se eu tivesse feito a pergunta mais difícil do mundo para ela, sendo que só tentei facilitar as coisas. – O que for melhor para você, eu não vejo razão para questionar... – vejo que ela engole em seco e Jake a olha meio preocupado.

- Por que não deixamos os rapazes escolherem? – dona Georgia, a pacificadora, sugere. – Assim vocês duas não entram em conflito. O que eles decidirem está certo e não se fala mais nisso.

Lucy concorda com a cabeça, e eu continuo calada, como forma de consentir.

- Conhecendo a Lucy como eu conheço... – Jake começa a falar, e já consigo perceber o brilho nos olhos dele. – Acho que o Dia combina mais com ela. Pelo que o meu pai me disse, o "Moon Day" seria a representação da Lua em questão de leveza, serenidade e calmaria, tudo para você sentir no dia. – admito que é até bonitinho ver ele falar isso sobre a namoradinha. – E pelos minutos que passei novamente ao lado daquela ali, ela não me remete a nenhuma dessas palavras.

Dou uma risada de deboche simplesmente pela audácia dele de falar isso de mim, mas admito que realmente nada daquilo tem nada a ver comigo.

- Maravilha! – David sorri. – Eu ia mesmo sugerir a Noite para Crystal. Também acho que combine mais com ela. Misteriosa, ousada, sensual e um tanto obscura. Tem tudo a ver.

Não consigo deixar de sorrir ao ouvir as palavras do meu namorado sobre mim. Ele realmente me conhece bem e falou tudo aquilo que eu já sei que sou, mas ainda conseguiu fazer com que soasse de uma forma romântica. Que poder é esse que ele tem de fazer tudo soar doce sob os seus lábios?

- Então... – Jofrey aparece entre eu e Lucy forçando uma tosse. – Já perdemos meia hora de produção com esses seus problemas de convivência, parece que nada mudou. – ele diz tentando parecer simpático, mas vejo que isso requer um certo esforço.

- Se você trabalhasse melhor e saísse mais desse seu celular barulhento, isso daqui nem teria virado uma discussão. – Jake responde sem hesitar, alfinetando o pai como se não fosse nada demais.

O Sr. Bancock guia nós duas até o vestiário e dá trinta minutos para nos prepararmos. A maquiadora e a figurinista já estão a postos e começam a arrumar Lucy imediatamente, por isso deduzo que ela vai ser a primeira a gravar, até porque ela vai fazer o comercial da versão diurna do perfume, então faz sentido ir primeiro, mas pergunto para confirmar.

- A Lucy vai gravar primeiro?

- Vai. – minha mãe, que também está aqui, responde. – Os dois comerciais vão ser gravados aqui então como a Lucy ficou com "Moon Day", ela vai primeiro. – como eu suspeitava.

Vejo a loira se mexer freneticamente como se estivesse com a ansiedade atacada e os nervos à flor da pele, que realmente devem estar. Ouço David assobiar e fazer um gesto para me chamar até ele. Não preciso me preocupar em me arrumar agora, já que a Lucy vai gravar primeiro, então ainda tenho um tempinho, portanto não me importo de ir ver o que ele quer.

- O que foi? – pergunto, já esperando por mais uma bronca quando o encontro.

- Calma, eu não quero brigar. – ele menciona com as mãos para cima para sinalizar indefesa e em seguida me dá um beijo suave, que me faz sorrir. – Eu só quero te pedir um favor.

- Já posso imaginar do que se trata. – respondo. Tenho certeza que tem a ver com a Lucy.

- Se você pensou em ajudar a Lucy, está certíssima. – ele confirma o que eu suspeitava, e eu suspiro. – Por favor, meu anjo, não custa nada ajudar ela. Dar uns conselhos, umas dicas, um apoio moral. A pobrezinha está quase desmaiando de tanto nervoso. Eu posso imaginar, porque no lugar dela eu estaria do mesmo jeito, ainda mais sem ninguém para me ajudar a me sentir melhor.

- Ai, David... – balanço a cabeça. – Você sabe que eu não sou como você, não sou boa em ajudar as pessoas, ainda mais uma desconhecida.

- Pelo menos tenta, por favor. – ele insiste, implorando com o olhar. – Faz isso por mim. – ele mexe nos meus cabelos. – Prometo te recompensar se você ajudar a Lucy. – ele dá um beijo nos meus lábios e puxa o inferior de leve, me fazendo rir, o que o faz rir também.

- Eu só posso prometer que vou tentar. – respondo, cedendo à vontade dele. Não pode ser tão ruim assim.

- É o suficiente. – ele me dá um selinho, e eu volto para o camarim.

Chegando lá, me sento na cadeira ao lado dela e tento pensar em uma forma útil de ajuda-la.

- Então, Lucy... – começo a dizer cutucando as unhas como sempre quando estou desconfortável. – Você está claramente nervosa e eu não quero que esse comercial seja um fiasco, até porque meu nome também está envolvido nisso tudo, então eu vou tentar te ajudar.

Ok, eu posso ter soado um pouquinho arrogante, mas eu estou me esforçando, vai.

- Eu acho que fico feliz com sua ajuda. – ela responde, não parecendo muito certa do que diz.

- Você deveria se sentir honrada de ter uma ajuda como a minha, mas enfim, eu não quero discutir. Tem algo que você queira saber? – pergunto. É mais fácil eu saber qual é a sua dúvida maior para que eu possa tentar ajudar.

- Na realidade... – ela se olha rapidamente no espelho e ajeita sua postura. – Eu fiz um curso de etiqueta quando era criança, e eles me ensinaram a andar. – ela ainda me parece meio insegura. – Mas eu realmente não sei como me soltar em frente às câmeras...

- Foi ótimo você ter ajeitado a postura, isso é uma das coisas mais importantes. Manter os ombros erguidos, o peito pra frente e o queixo levantado são essenciais. Você precisa demonstrar confiança, mesmo que não se sinta, e esse é o primeiro passo. – aconselho. – Eu dei uma olhada no seu vestido, e ele é bem comprido, você não precisa usar saltos se preferir, eu posso pedir pra minha mãe mandar as funcionárias dela trocarem os sapatos. Talvez te faça se sentir mais confortável. – sugiro, tentando ser gentil.

Lucy parece pensar na ideia e, ao mesmo tempo, fica surpresa com a minha gentileza. Eu realmente devo ser mais chata do que imagino.

- Acho que é melhor, eu não sei andar muito bem nesses negócios. – ela se senta na cadeira e já vai logo tirando os sapatos.

- Eu tomarei conta disso. E não precisa ficar me olhando com essa cara desconfiada, eu sei ser gentil quando quero. Aprendi a ser, na verdade. – sorrio, lembrando do causador da minha mudança.

- Aposto que isso é coisa do seu namorado... – ela solta, mas logo vejo que se arrepende do que disse. Deve ter ficado com medo de que eu fique brava com ela, ou algo do tipo. Pelo contrário, eu me orgulho em dizer que David tem me ajudado a me tornar uma pessoa melhor.

Eu rio. – É tão óbvio assim? Mas você tem razão, ele é o culpado por isso. – por isso e por todas as transformações para o melhor que ocorreram em mim desde que a vida dele cruzou com a minha um tempo atrás.

- Parece que algumas pessoas entram na nossa vida pra dar um jeito de ajustar todos os nossos defeitos. É bonito ver de fora. – Lucy declara, pensativa. Com certeza deve estar lembrando do seu namorado sarcástico, já que os dois também aparentam ser bem diferentes em tudo.

- Você soube colocar as palavras perfeitamente, é exatamente isso. – concordo, e não consigo evitar de pensar em David, pois ele realmente ajustou todos os meus defeitos e me faz querer ser uma pessoa melhor a cada dia. – Mas, de volta aos negócios, quanto às câmeras, finjam que elas são o Jake. Olhe e sorria para elas como olha e sorri para ele. Tente desligar os seus pensamentos das coisas externas e pense que isso é uma brincadeira entre você e ele. Além do mais, tenho certeza de que ele vai ter o prazer de assistir tudo. – tento encorajá-la, mas não tenho certeza se dá certo.

- Acho que vai ser bom. – ela diz com firmeza, bem diferente de uns minutos atrás. – Até porque ele me fez ter um grande progresso em relação à minha timidez. Isso não é papo pra essa hora, desculpe.

- Isso é ótimo. – continuo tentando fazê-la se sentir confiante. – Admito que timidez nunca foi uma característica minha, então não sei se realmente posso ajudar com isso, mas, por outro lado, tenho um namorado que é tão tímido quanto você e ainda estou no processo de fazê-lo melhorar. – confesso.

- Você deveria conversar com o Jake sobre isso, por mais que ele pareça carrancudo, juro que é um cara bacana e realmente conseguiu me livrar um pouco dessa coisa que me persegue há muito tempo. – afirma orgulhosa. – Tenho certeza que você não terá erros em ajudar o David.

- Jake? – arqueio as sobrancelhas. – Ele deve estar querendo esfolar a minha cara no asfalto até ficar em carne viva, provavelmente. Passo.

Espero não ter soado grosseira, mas, pela forma como tratei a namorada dele mais cedo, ele realmente deve estar querendo comer o meu fígado no jantar.

- Ler o Jake é uma das coisas mais difíceis, então, você provavelmente está certa. – concorda.

- Eu sou praticamente uma expert em ler pessoas difíceis. – sorrio com o canto da boca, pois me faz lembrar de eu e David no começo, quando ele se fazia de difícil e eu tinha que tentar tirar algum sentimento dele. – Vou buscar seus novos sapatos. Volto logo.

Levanto e saio do camarim novamente na busca de sapatos novos para a Lucy. Realmente espero que eles tenham trazido pares extras, mas, conhecendo a minha mãe bem como conheço, sei que ela é precavida e deve ter mandado trazer uma dúzia de sapatos, então tem que ter algo que sirva para a minha colega ali.

- E então, como foi? – David pergunta enquanto eu remexo na bagunça de sapatos.

- Tentei o melhor que pude. – respondo colocando uma sapatilha branca horrenda de lado. – Acho que consegui ajuda-la, pelo menos um pouco. Ela parece um pouco mais tranquila agora. – concluo pegando um par de peep toes nude bem claro de saltos baixos. Esse aqui deve servir.

- Bem, eu estou feliz e orgulhoso de você. – ele declara com um sorriso estupendamente lindo e segura meu queixo para me beijar, e eu retribuo de bom grado. Adoro quando David se sente orgulhoso de mim, me motiva a querer ser uma pessoa melhor só para poder ver esse sorriso encantador todas as vezes.

- Eu tenho que voltar. – aviso, me desprendendo do beijo. – Lucy está me esperando e daqui a pouco é a minha vez. Você vai me assistir, não vai?

- Claro que vou. Estou aqui justamente para isso. – ele curva os lábios num sorriso para mim mais uma vez, e eu retribuo. Sigo de volta para o camarim e, quando chego na porta, dou de cara com Lucy e o namorado carrancudo dela num momento íntimo.

- Hã... eu cheguei em uma hora errada? – pergunto, apesar da resposta óbvia. – Na verdade, não cheguei não. Você que tem que sair daqui e deixar a Lucy terminar de se arrumar. – aproximo-me deles. — Você está atrapalhando a nossa conversa de garotas.

- Tá vendo por que eu e essa maluca sempre vivemos em pé de guerra? – Jake sussurra para Lucy, mas consigo ouvir. É óbvio que ele não ia perder a oportunidade de me dar uma alfinetada. A loira ri, e Jake sinaliza passagem para mim com os braços enquanto sai, só para não deixar de ser ainda mais sarcástico.

- Você também não é um poço de simpatia. – rebato, mostrando que ouvi o comentário irônico, e nós dois trocamos faíscas no olhar. Ele sai do ambiente, porém não sem antes lançar um beijinho para a namorada. Acho até engraçado ele tentando ser fofo, pois não tem nada a ver com o Jake que eu conheço.

- Conseguiu os sapatos? – Lucy pergunta.

- Consegui esses peep toes de salto baixo. Veja se se sente melhor. – respondo, entregando-lhe os sapatos. Ela os experimenta, tentando encaixá-los da forma mais confortável possível em seus pés, mas percebo que ela parece mais à vontade.

- Gostei, acho que fico mais confiante assim. – ela afirma, e fico contente por ter ajudado de alguma forma.

- Lucy, está pronta? Já vamos começar. – minha mãe aparece na porta para chama-la. – Uau, esse modelo realmente caiu bem em você. – ela se aproxima de nós, para olhar mais de perto. – Fiquei na dúvida se serviria, eu não tinha as suas medidas exatas.

- Obrigada... – Lucy agradece com um enorme sorriso estampado no rosto. – Estou pronta sim. – ela respira fundo. – Não tem como ser uma tragédia, não é?

- Com um sorriso desses, impossível! – minha mãe responde com toda gentileza. – Me acompanhe. – ela pede, e Lucy a segue.

Aproveito o momento para espiar o cenário da parte dela do comercial, já que fiquei aqui dentro o tempo todo e não vi a montagem. Caramba, está lindo! O cenário tem toda uma vibe meio vintage e de contos de fadas, com um jardim enorme, um salão parecendo de um castelo, lustres grandes e bem elaborados, tudo muito mágico. Tinha até um par romântico. Realmente é muito bonito, mas não tem nada a ver comigo, é bem mais a cara dela, por isso até agradeço Jake mentalmente pela escolha. Assisto um pouco às filmagens – de longe, para que ela não se sinta intimidada – e Lucy está se saindo muito bem. Ela realmente incorporou o papel de uma garota deslumbrada e encantada, transmitindo tudo com muita leveza e delicadeza. Fico contente por ela. Espero que assim perceba que não precisa ficar tão insegura quanto estava antes.

Minha mãe me chama para entrar de volta no camarim e me arrumar dessa vez. Confesso que eu adoro essa parte. Ter pessoas para me arrumarem e me deixarem ainda mais maravilhosa faz com que eu me sinta paparicada, e todo mundo sabe o quanto eu adoro que me bajulem. Eu sou uma garota mimada, afinal de contas. Dou mais uma lida no roteiro enquanto a maquiadora finaliza minha maquiagem e logo coloco a minha primeira roupa: um top e uma minissaia brancos de látex, bem sexy. Sim, primeira, pois eu vou ter algumas trocas de roupas durante o comercial, então terei que ser bem rápida para não atrapalhar o andamento.

Assim que fico pronta, me levanto e pego a peruca platinada que vou usar no começo e logo escuto me chamarem. David já estava na porta esperando por mim, me fazendo abrir um sorriso por isso. Ele segura meu rosto e me dá um beijo gracioso, que me deixa ainda mais contente e confiante.

- Eu te desejaria boa sorte, mas não acho necessário para a "Sra. Eu Sou Perfeita em Tudo Que Faço". – ele ri, satisfazendo meus ouvidos com esse som angelical.

- Desta vez pode me desejar.

- Boa sorte. – ele declara acariciando meu rosto. – Vai lá e arrasa, meu amor.

- Pode deixar que eu arraso sempre. – dou uma piscadinha e sigo para o set.

O estúdio está todo escuro – para parecer noite, obviamente – e o cenário está todo montado com vários prédios e um clube ao fundo, cheio de figurantes dentro. Assim que o diretor grita "ação", eu começo a andar por cima dos prédios, como se estivesse à procura de alguém. Então eu desço e começo a caminhar por entre os figurantes como se estivesse atraindo alguém na minha direção. Subo no palco ao fundo, fico de costas para tirar o enorme sobretudo preto que estava usando e, em seguida, tiro também a peruca platinada e balanço meus cabelos de forma sensual enquanto me viro para o público, e depois começo a dançar. Em pouco tempo, o diretor anuncia o fim do primeiro take.

Corro de volta para o camarim e troco de roupa rapidamente, voltando rapidamente para o set logo em seguida. Gravo mais algumas cenas em que o diretor pede que eu aja naturalmente, portanto sorrio e interajo com os elementos do cenário. Faço mais algumas trocas de roupa até chegar na cena final em que eu me arrumo me olhando de frente para um espelho, como se estivesse tentando encontrar o meu próprio reflexo dentro dele.

Quando o diretor dá as gravações por encerradas, toda a equipe de produção me parabeniza pela minha performance. Aparentemente eu fui melhor do que eles estavam esperando e me sinto com a sensação de dever cumprido por ter mostrado a eles do que sou capaz. O cinegrafista me pergunta se eu gostaria de dar uma olhada nas filmagens, e eu respondo fervorosamente que sim. Assisto pela câmera e vejo ligeiramente David e Lucy conversando ao fundo, mas não me importo com isso. Confio no meu namorado, e Lucy me parece certinha demais para ser o tipo de pessoa que trairia alguém.

Até eu fico impressionada com as gravações, realmente ficaram incríveis. Cada dia eu tenho mais certeza que é isso que eu quero fazer para a minha vida e o que eu certamente mais amo fazer. Quando termino de assistir, vou em direção ao trio parada dura que conversa como se se conhecessem há anos.

- Ai meu Deus, estou tão feliz! – comento animada indo até eles e bato palmas. – Eu fui tão elogiada pela equipe, inclusive pelo seu pai, Sr. Carrancudo – olho para Jake – e eu me sinto tão bem quando alguém reconhece o meu trabalho! – sorrio, plena. – Isso pede uma comemoração, até porque você também foi ótima, Lucy. – digo com sinceridade, e ela me parece um tanto surpresa. Será que está escrito na minha testa que eu sou incapaz de fazer um elogio?

- Olha só! – Jake exclama. – Ela te elogiou! Eu acho que isso sim merece uma comemoração. – ele tira sarro com a minha cara.

- Por mais chocante que isso possa parecer para você, Jake, eu não sou apenas grosseria. – rebato pondo a mão na cintura e abrindo um sorriso sarcástico.

Todos eles riem e parecem concordar com a ideia. Jake vai avisar ao coroa que ele e Lucy vão sair conosco à noite, e ele parece não se importar com isso. Ótimo, ninguém para atrapalhar os meus planos.

- Sabe, Lucy, eu não te disse antes, mas você é bem bonita. – admito. – Mas se vamos sair na noite de Chicago, você precisar estar linda! Posso te arrumar para sair? – sugiro, numa tentativa de continuar sendo gentil, mas ela me olha apavorada como se eu fosse arrumá-la para concorrer na próxima temporada de Ru Paul's Drag Race. Até parece. Olha para mim, meu gosto é refinadíssimo e apurado, impecável, como o da minha mãe.

- Por mim, tudo bem. Impossível que eu saia pior do que de cara lavada. – ela responde com um sorrisinho nervoso.

- Não precisa me olhar com essa cara assustada. Apenas confie no meu bom gosto. – dou uma piscadinha, e ela sorri aliviada.

- Então eu deveria ir para sua casa? – pergunta, confusa.

- Seria o melhor. Isto é, se você se sentir à vontade para isso. – respondo, e ela concorda com a cabeça.

Lucy vai até Jake para avisá-lo que ela vai se arrumar comigo na minha casa, e ele parece não gostar muito da ideia, mas nada que eu já não tivesse esperando. O único problema é que ainda não temos nenhum lugar para ir. Chicago é uma cidade enorme, cheia de lugares incríveis e fica difícil escolher só um para mostrar a eles nessa visita única e rápida.

Assim que penso isso, um rapaz aparece desesperado na porta do prédio para vender convites para uma tal festa que vai ter hoje à noite, e ele vai ter alguma recompensa se conseguir vender um número X de convites. Como são apenas dez dólares cada e uma boa festa para dançar e encher a cara me parece uma boa, decidimos aceitar e compramos quatro convites.

A minha mais nova amiga internacional se despede do seu namorado e entra no carro comigo e David para irmos em direção à minha casa, permanecendo em silêncio durante todo o caminho. Não que ela não pudesse ter entrado na minha cantoria, eu até gostaria. Deve ter ficado um pouco tímida por estar conosco sem o namorado.

Descemos do carro quando chegamos em casa e percebo que Lucy parece um pouco impressionada ao olhar para a casa. Espero que ela não se sinta intimidada, pois somos todos simpáticos por aqui, quer dizer, sem contar a criatura das trevas.

- Vocês dois moram aqui? – ela pergunta antes de entrarmos, e eu e David rimos.

- Não, não, essa é a casa da minha família. – respondo. – David mora com a irmã e o pai em outro lugar, infelizmente.

- Quem sabe um dia nós possamos morar juntos na nossa casa. – ele responde, e faz meu coração derreter.

- Se você for para Nova York comigo... – lanço um olhar provocante.

- Crys, não vamos começar a discutir sobre isso de novo, principalmente não na frente da visita. – ele pede e meneia a cabeça em direção à Lucy.

- Tudo bem. – suspiro. – Você vai para a sua casa agora?

- Vou. Vou me arrumar em casa e depois passo aqui para pegar vocês, tudo bem?

- Tudo bem, eu aviso quando estivermos prontas. Até depois. – aproximo-me e dou um beijo rápido nele. David vai em direção à garagem para ir embora com o seu carro, já que tínhamos saído com o meu, e eu e Lucy entramos em casa.

- Se você sentir um terremoto sobre a sua cabeça, não se preocupe, é só a minha irmã bizarra sendo irritante com aquele instrumento chamado guitarra fazendo o barulho que eu odeio. Estamos seguras. – já deixo avisado, e ela dá risada. – Apesar de que o David também toca essa barulheira, mas ainda bem que sempre longe de mim. – acrescento enquanto subimos as escadas.

- David toca guitarra? – Lucy pergunta impressionada. – Ele não parece ser o tipo de cara que curte esse estilo mais pesado.

- Se ele tivesse ouvido você falar isso, ele diria que estaria rico se ganhasse um dólar a cada vez que ouve isso. – rio. – Mas, sim, ele é fissurado por rock, metal e derivados, apesar de ser um amante da música no geral. – abro a porta do meu quarto para entrarmos, e ela se impressiona mais uma vez. – Ele toca vários instrumentos, na verdade, e é magnífico em todos eles. Só para constar, eu não digo isso só porque ele é meu namorado, ele é realmente ótimo. – digo com um sorriso orgulhoso enquanto tiro minhas botas e faço um gesto para que ela se sente na cama, e ela o faz.

- Jake também toca guitarra. – Lucy comenta. – Ele começou a tocar motivado por The Neighbourhood, que nós dois amamos. – ela sorri.

- Pelo visto só eu não gosto daquela bugiganga barulhenta. – dou risada. – Acho que já devo ter ouvido David falar sobre eles, ele sabe horrores sobre música. É uma banda indie, não é? – pergunto prendendo meus cabelos.

- É sim. Você deveria escutar qualquer outra hora, talvez acabe gostando. – ela sugere de modo simpático.

- Você foi tão gentil que eu vou ouvir sim. – respondo com um sorriso. – Agora vamos para o meu closet escolhermos uma roupa para a festa de hoje à noite.

- Você tem um closet? – ela pergunta com os olhos arregalados. – É claro que ela tem. – ouço-a dizer para si mesma.

- Com uma mãe estilista, era de se esperar que sim. – brinco, e entramos no cômodo. Vou direito para a sessão de vestidos de festa, mas Lucy parece hesitar.

- Crystal, eu sei que você tem um ótimo gosto, mas eu realmente me sentiria mais confortável se eu fosse apenas de jeans e All-Star. – ela admite, e eu fico chocada com a audácia dela de dizer isso na minha frente.

- Mas de jeito nenhum! – repreendo-a na mesma hora. – Eu te disse que iria te arrumar e eu vou te arrumar. – afirmo segurando seu braço e a guiando até a sessão dos vestidos. – Quero te fazer se sentir diferente, talvez até mais bonita e confiante. Pensa que pode ser uma experiência divertida, ser uma outra pessoa que não você. – encorajo.

- Tudo bem. – ela cede com os ombros. – O que você sugere?

- Não vou abusar muito da sua boa vontade, então acho que preto seria uma boa. Não dá para errar com preto, além de ser uma cor sexy. – dou um sorrisinho.

- Preto parece bom para mim. – ela concorda.

- Bom, eu vou escolher alguns e você decide qual gosta mais. Não vou ser tão chata assim. – digo, tirando alguns cabides do armário. Pego um curto inteiro de paetês que eu adoro, um longo básico, um curto com cauda e mangas de transparência, um médio de mangas longas e um tubinho simples. – Qual prefere?

Lucy pensa por um tempo, analisa os vestidos, vê de perto, sente os tecidos e, depois de muita indecisão, acaba optando pelo médio de mangas longas. Concordo com a escolha, acho que vai ficar ótimo nela e o que acaba se enquadrando mais dentro do seu estilo. Eu então a conduzo até o banheiro das visitas e peço para que ela fique à vontade e demore o tempo que precisar. Volto para o meu closet para escolher o meu vestido desta vez e, como o tempo está um pouco frio, acabo escolhendo um vestido vinho de camurça que vai até o meio das coxas, mangas ¾ e um decote um pouco avantajado, mas não muito revelador. Simples, mas chique. É o suficiente.

Vou para o banho e tento não demorar muito tempo, já que Lucy pode voltar a qualquer momento e se sentir desconfortável por estar sozinha. Apenas lavo meus cabelos normalmente e tomo um banho rápido. Coloco minhas roupas íntimas e um robe e volto para o meu quarto, Lucy aparece de volta assim que entro. Ela veste suas roupas e decide iniciar uma conversa novamente para quebrar o clima meio tenso que se instalou entre nós.

- Então, Crystal, eu não pude deixar de notar... – ela começa. – Você e o David são tão diferentes, como vocês se apaixonaram?

- É uma história bem longa e louca, para falar a verdade. – dou risada enquanto passo hidratante nas minhas pernas. – Nós nos conhecemos numa festa aqui na minha casa e sentimos uma conexão instantânea assim que nos vimos, e foi isso que nos atraiu um para o outro. David é um cara lindo, e é óbvio que eu quis colocar o nome dele na minha lista de conquistas. Mas eu sempre carreguei uma fama pesada nas minhas costas, e ele ficou sabendo obviamente e não quis se aproximar de mim, por ser a pessoa sensível que é. – me levanto e começo a colocar o meu vestido. – No entanto, eu, como boa teimosa que sou, continuei insistindo nele e depois de muitos altos e baixos, nós acabamos nos aproximando e, a esse ponto, já não era mais uma questão de me sentir apenas fisicamente atraída por ele. Eu tinha me encantado por ele, pela pessoa fascinante que ele é. – sorrio ao pensar nisso, e Lucy sorri também. – E, de alguma forma, mesmo sendo toda torta e bagunçada, ele se apaixonou por mim. Teve muita treta, confusão e gritaria depois disso, mas, pelo visto, nosso amor é muito maior do que nós dois pensávamos e conseguimos superar todos os problemas juntos e espero continuarmos assim. – declaro, percebendo que soei muito mais romântica do que eu imaginava.

- Uau, isso é... Isso é muito bonito, Crystal. – ela abre um sorriso genuíno. – Espero que vocês ainda sejam muito felizes, mais felizes do que já são.

- Obrigada. – sorrio de volta. – Mas não somos só eu e o David que somos bem diferentes. Você e o Jake também são. – faço-a se sentar na penteadeira para que eu realize a sua maquiagem.

- Você tem razão. Nós também somos muito diferentes, mas acho que nos completamos nas nossas diferenças, sabe? O que eu tenho é o que falta nele, e vice-versa, então é como se fôssemos duas peças de um quebra-cabeça que juntas se tornam completas. – ela declara com os olhos brilhando com a veracidade, e é notável o amor que sente por ele. – Eu não consigo mais imaginar como seria a minha vida sem o Jake, ele me faz descobrir e experimentar coisas novas, e me ajuda a perceber que nem sempre mudanças são ruins. Ele foi a mudança mais louca e bárbara que aconteceu na minha vida e, ainda assim, a melhor. Além de me ajudar a lidar com os meus demônios, que são muitos, e eu acredito que faço o mesmo com ele. É uma troca constante e eu gosto dessa cumplicidade entre nós dois.

Admito que fico até emocionada com a forma que Lucy fala sobre Jake e seu relacionamento com ele, me remete muito ao meu relacionamento com David também. Acho que, no final das contas, nós quatro somos muito mais parecidos do que sequer poderíamos imaginar e somos a definição perfeita de que sim, os opostos se atraem.

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