— Vou buscar o seu almoço — Kristen, a enfermeira que passou a manhã inteira a cuidar de mim, anunciou, depois de (voluntariamente) terminar de pentear o meu cabelo. Ela cuidou de mim como se cada parte do meu corpo fosse feito de porcelana. Para além de ser simpática, é uma boa compainha.
Haden também gostou dela e pôde ir para casa ver como seu irmão está sem se preocupar comigo. Eu não queria que o mesmo fosse embora, mas ele mencionou que estava com saudades do irmão em alguma parte da nossa conversa então, o mandei ir embora, mesmo que não quisesse ficar sozinha, mas ele prometeu que voltaria em breve então, só me resta esperar.
— Não — neguei, a lembrança do jantar de ontem me fez torcer a boca em desgosto.
— Você precisa comer, querida.
— Não estou com fome — menti e ela percebeu porque ergueu as sobrancelhas. — Eu juro — insisti na minha mentira.
— Não acredito — respondeu, irredutível. — Sei que a comida daqui não é a melhor do mundo, mas é para o teu bem se quiser ir embora daqui o mais rápido possível.
— Tudo bem — deixei cair os ombros, derrotada. — Mas por favor, não traga sopa.
Ela riu.
— Falyn, é justamente isso que você precisa comer.
Simulei um choro e limpei as lágrimas falsas no meu rosto, como se fosse o fim do mundo.
— Não seja dramática.
— É que dói no coração, comer algo contra a sua vontade — voltei a tentar persuadi-lá.
— Após você comer, essa dor vai passar.
— Você não vai para o céu — a provoquei, ela rolou os olhos com humor e foi embora com a promessa de voltar em breve.
Fiquei a contar ovelhas mentalmente — sendo que não tenho nada para fazer — até Kristen voltar com a sopa dos infernos e fazer questão de ficar ao meu lado até acabar. No fim, ela bateu de forma suave na minha cabeça e disse que sou uma boa menina.
Em alguma parte da tarde, ela precisou ir embora porque têm de cuidar de outros pacientes e deixou-me sozinha.
Tentei fechar os olhos e dormir, mas não estou com sono. Talvez devesse voltar a contar ovelhas até ficar com sono, mas sei que não adiantaria nada. E um dos motivos que está a contribuir para a minha insónia é o medo de uma aparição repentina do Sr. Robert. Ainda não me sinto segura. Muito pelo contrário, o meu ritmo cardíaco aumenta só de pensar nisso. E o facto de que não consigo nem ficar de pé durante trinta segundos piora tudo porque não irei conseguir me defender.
Jesus, como odeio aquele homem. Sinto tanta vontade de chutar a bunda dele e o expulsar do planeta terra para sempre.
Não aguento mais pensar nele. De ser atormentada até nos meus pensamentos e iniciar uma crise de ansiedade incapaz de ser controlada.
O meu coração quase parou de bater quando a porta foi aberta e uma figura masculina apareceu. A minha respiração baixou gradualmente assim que reconheci Theron. Por um momento pensei que fosse seu pai.
— Você me assustou — foi a primeira coisa que falei, no instante em que ele fechou a porta atrás de si. — Pensei que fosse outra pessoa — completei, o observando se sentar numa poltrona, perto de mim, mas isso não me incomodou. A presença dele já não me causa tanta antipatia quanto antes.
— O meu pai?
— Sim — respondi.
— Não se preocupe com isso — me encarou. — Ele pensa que você está num estado grave — fiz uma expressão de quem não entendeu nada e ele explicou melhor. — Eu disse-lhe que os médicos disseram que já não podem fazer nada por você e que só nos resta esperar algum milagre. E ele acreditou.
Uma parte de mim, ficou aliviada. Por enquanto, ele tem a ilusão de que já não precisa se preocupar mais comigo.
— Ele deve ter amado escutar você dizer isso — murmurei, amarga.
— Como se sente? — tentou mudar de assunto.
— Bem.
— Não está doendo nada? — a preocupação na sua voz apenas me fez balançar a cabeça em negação. — Nada mesmo? — insistiu, como se eu estivesse mentindo.
— Sim, só estou fraca e penso que nem consigo carregar um livro, mas estou bem. Não precisa ficar preocupado. O pior aparentemente já passou…
Parei de falar quando percebi que o mesmo está com a atenção vidrada em mim, como se não estivesse ouvindo nada do que está a sair da minha boca. Ele está com o semblante de quem está angustiado.
— A culpa é minha — disse, como se essa fosse uma verdade de conhecimento de todos.
— Não… — tentei o impedir de ir por esse caminho. A última coisa que ele tem nisso, é culpa.
— Como não? — questionou. — Prometi a você que não deixaria nada de ruim acontecer com você e olha onde estamos? Pela segunda vez na vida, não consegui proteger alguém que gosto e fui inútil.
Um tempo atrás, essas palavras não causariam nada em mim, mas agora não consigo sustentar a postura de indiferente. Magoa-me ouvir isso sair da boca dele.
— Não consegui fazer nada bom desde o início dessa história toda. Desde o princípio, estou errando.
— Mas não é o culpado.
— Claro que sou. Por culpa minha você está aqui agora. Eu a trouxe àquela casa praticamente a força. A condenei a viver com desconhecidos e agora quase morreu. Como a culpa pode não ser minha, Falyn? Eu estraguei a sua vida.
— Você errou a tentar acertar.
— Não é assim que vejo as coisas. A única coisa que sei é que não sirvo para nada. Nem ajudar aquelas garotas consegui ainda — o seu semblante mudou. Agora ele está triste. Terrivelmente destruído.— Em algum momento, mandei esses pensamentos para longe porque não queria acreditar que estava a ser inútil, mas agora. Olhando para toda situação, vejo que nada do que planejei ou pensei que iria acontecer realizou-se. E a verdade, é que já não sei mais oque fazer. Simplesmente já não sei.
Ele soltou um longo suspiro, como se estivesse a tentar recuperar o fôlego. Ou a controlar a respiração para não chorar.
— Você sabe o que fazer — o tentei confortar — É não desistir.
— Mesmo quando o universo está conspirando contra mim?
— Sim — afirmei. — Um dia, tudo vai ficar bem. E talvez, seremos felizes — tentei sorrir, para o animar nem que seja um pouco, mas o resultado foi o contrário.
— Nunca serei feliz.
— Theron…
— Mesmo que tudo isso passe, não sei se irei conseguir ser feliz. Não sei se algum dia irei conseguir me perdoar por tudo isso.
— Mas a culpa não é sua. É unicamente e exclusivamente do seu pai. Ele é o monstro que não merece e nunca irá ser feliz. Por favor, para de se colocar como o vilão da história. Se você está passando por tudo isso e tomou as decisões que tomou foi por causa dele. Então, trate de manter a sua consciência limpa porque se formos por esse caminho sou tão culpada quanto você. Eu também sabia de tudo e por puro egoísmo não falei nada e ainda tratei você como o vilão do século e fui insensível com você em várias ocasiões como se fosse a dona da razão. A verdade é que você não é perfeito e errou sim, mas se sente remorso e arrependimento, e quer mudar, isso é bom. O torna um ser humano melhor. E um ser humano melhor, em vez de ficar preso no passado segue em frente e muda o seu futuro — quando terminei, percebi que quase já não tinha mais fôlego.
— Você acha isso? — os seus olhos estão brilhando, por conta das lágrimas.
— Acredito nisso — o corrigi. — Primeiro temos que nos aceitar e acreditar em nós, para os outros também o fazerem, não é?
— Então, não está mais com raiva de mim?
— Não irei mentir, ainda estou ressentida, mas é um sentimento que irei lidar com calma ao longo do tempo porque não irá me levar para lugar nenhum e coisas que não me levam para lugar nenhum, não servem para nada — pela primeira vez, sorri de verdade na sua direção. — E juro por Deus, que você irá ser feliz. Porque merece, nunca pense o contrário.
— Você merece mais — respondeu, no segundo a seguir.
— Nem que demorem mil anos.
— Nem que demorem mil anos.
— repetiu, fazendo-me ficar feliz por ajudar um pouco em fazê-lo sentir-se melhor. — A Jade também precisa ouvir esse discurso.
— Ela se sente culpada?
— Muito.
— Mas eu não a culpo — franzi o cenho. — Sei que ela foi obrigada a fazer isso.
— O Haden a culpa. Ele sente mais raiva dela do que todos nós juntos.
— Ele vai ter que superar esse ódio — revirei os olhos para ninguém em especial e Theron riu.
— Irá levar décadas se for esse o caso.
Balancei a cabeça positivamente, concordando e ficamos alguns momentos em silêncio até eu perguntar:
— Você está bem?
Ele pareceu um pouco confuso com a minha pergunta, mas depois que entendeu anuiu.
— Sim. Eu estou — a sua voz transmitia verdade, por isso fiz um coração com as mãos.
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oii, vocês sabiam que sou esposa do Eren Yeager, amante do Shoto Todoroki e submissa de Ohma Tokita e amiga colorida de Levi Ackerman?? Kkkkjds