God Killer - PRIMEIRA VERSÃO

By taemeetevil

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[CONCLUÍDO] O mundo é diferente. Os deuses agora vivem entre nós, expandindo seu poder e influência. São mu... More

Prólogo
Zeus
Hera
Hades
Apollo
Eclipse
Humano
Hermes
Ártemis
Moros
Iliada
Ares
Receptáculo
Destino
Memória
Maldição
Assassino
Eternidade
Arcádia
Baco
Alma
Pothos
Epifania
Dia B
Universo
Hyun
Deus Ex Machina
Deus
Eros
Poseidon
Epilogo
Human Among Gods

Tempo

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By taemeetevil


Moros estava puto. Não exatamente comigo, mas com o espírito.

As ranhuras nas paredes estavam desaparecendo devagar, porém houve tempo de observá-las melhor. Não arrisquei a tocá-las assim como Hansol fez, mas eram marcas fundas, como se feitas por garras, porém com um rastro de fogo que parecia muito com lava. Moros ainda não tinha me exigido nenhuma resposta sobre o espírito, mas eu não sabia muito o que dizer, além de contar sobre o sonho estranho que tive mais cedo. Na verdade, eu estava tentando pensar em tudo que aconteceu.

Espírito. God Killer. O pedestal que indicava que a espada estava antes - ou em algum momento - na sala de armas de Hansol. Minha crise de sonambulismo sendo que nunca tive isso antes. Tudo estava terrivelmente errado.

Quando as ranhuras finalmente desapareceram, Moros voltou sua atenção para mim, e sua expressão não era nada agradável.

— Casa? — ele disse e senti como se o chão estivesse se movendo, assim como as paredes como um cubo mágico que tem as peças mexidas até achar a posição correta, podia até ouvir algo, como engrenagens girando, até a porta da biblioteca parar bem diante de nós e o corredor que antes estávamos mudar por completo — Entre — disse.

Decididamente ele estava muito puto.

"Por que eu sempre tomava as piores decisões?" Eu devia ter ficado em meu quarto e ido dormir.

Entrei, levando o que sobrou da minha dignidade e arrastando God Killer junto, já que não tinha a mandado de volta para casa. Melhor seria tê-la por perto depois do visitante inesperado. Como de costume, me sentei no chão, esperando o sermão que viria e que soaria ainda pior com seu rosto natural.

Era como levar uma bronca de uma criança, ele parecia muito mais novo que eu. Está, não tanto assim, mas ainda era estranho.

— Hansol?

— O que? — ele sentou-se na poltrona.

— Como conseguiu pegar a espada?

A curiosidade sobre isso estava me consumindo tanto quanto saber se a arma era realmente dele. Mas eu não iria admitir tão fácil que estava fuçando em sua sala de armas. Ao menos perguntar sobre como ele a segurou - sendo que eu sou o portador - não me punha exposto.

— Os deuses não lhe disseram as "regras de uso" — colocou entre aspas. Sim, eles disseram, porém, era uma lembrança um tanto vaga agora — Hoseok, ou talvez tenha sido Jongin, não importa muito quem falou, disse a você que God Killer pode ser usada somente por deuses ou semideuses poderosos. Ela é movida por muito ódio ou extrema necessidade. Havia a porra de um espírito duplicado dentro da minha casa e acredite em mim, eu estou com muita raiva. Além de que ele ia te matar, então eu precisava pará-lo. Ódio e extrema necessidade — me encolhi um pouco pela forma como falava. Eu podia sentir sua raiva em cada palavra proferida — Mas você ainda é o portador, então eu não posso convocá-la, por isso pedi que a trouxesse. Está claro o suficiente, Jungkook?

— Sim... — murmurei, me sentindo estúpido porque tudo que ele dizia fazia sentido e com o tom que falava ainda era mais vergonhoso.

— Ótimo. Agora pode me explicar como um espírito entrou em minha casa.

— É... eu acho que foi um sonho — Ele fez um gesto com a mão me incentivando a continuar a falar — De manhã eu sonhei que abria a janela para o Taehyung. E quando abria, ele se transformava no espírito. No sonho ele me agradecia por deixá-lo entrar, e ele agradeceu de novo quando o vi no corredor. Pela manhã eu abri a janela realmente, mas fechei em seguida, não sabia que isso faria o espírito entrar.

A expressão irritada de Hansol suavizou.

— Um sonho? Você tem certeza? — assenti — Você já teve algum ato de sonambulismo antes?

— Não. Nunca — Até me lembrar de um detalhe — Quer dizer...

— Jungkook...

— Só quando criança. Mas foi depois que... meu irmão morreu. A psicóloga disse que poderia ter algo haver com o trauma, eu saia do meu quarto e ia para o quarto dele. Nada demais.

Ele parou um momento, ponderando sobre o que eu disse.

— Talvez eles estejam te influenciando. God Killer se originou de um espírito das primeiras eras, nunca pensei por esse ângulo, mas talvez, por ser o portador isso te torne vulnerável a influência deles. Mas você não o faria enquanto consciente, você o repeliria se estivesse acordado, então eles influenciaram seu sono. E foi um comando simples, fácil. Quando foi que God Killer te escolheu?

— Há um mês. Um pouco mais, não tenho certeza.

— Desde então, como se sente? Fisicamente falando?

"Exposto. Vulnerável. Quebrado. Tendo sonhos estranhos e sensações esquisitas"

— Acho que não estou exatamente bem — ele assentiu, permanecendo em silêncio — Isso significa alguma coisa?

— Eu nunca vi aquelas coisas tão fortes assim. Zeus sendo um filho da puta ou não, conseguia manter esses monstros quietos. Taehyung pode ser o novo líder, mas não tem poder o bastante para manter o universo em ordem. A solução mais simples é matar esses espíritos soltos.

— Com receptáculos? — ele me encarou.

— Exatamente — sabia bem o que isso poderia significar. Sun. Não, tinha que ter outra alternativa — Espíritos não morrem sem deixar um rastro de sangue para trás, Jungkook. A garota humana sabe disso, e entende. Você deveria fazer o mesmo.

— Ela não merece morrer.

— A maioria dos humanos que conhece não merecem morrer, certo? Mas eles morrem mesmo assim. O que separa Sun de todos os outros é que ela tem um propósito. Não existe mais Zeus, nem um deus tão forte quanto ele para assumir seu lugar, ela nunca terá a divindade, morrer é seu destino, não importa quão triste isso seja.

— Por que Namjoon negou... — murmurei.

— Reformule.

— Por que Zeus negou — corrigi.

— Zeus... Ele estava louco. Realmente louco. Talvez ele devesse ter procurado aquele que rege a loucura — ele não falava comigo, falava alto, distraído. Perdido nos próprios pensamentos. Preferi deixá-lo assim pois dessa forma ao menos me poupava de explicações sobre não estar em meu quarto. E se de alguma forma a própria casa me entregasse? Estava torcendo para que não fosse uma habilidade possível.

"Espera... reger a loucura? Havia um deus para os loucos? "

— Quem rege a loucura? — verbalizei a dúvida.

— Byun Baekhyun. Baco. Deus dos vinhos, das festas e da insanidade — ele parou para pensar sobre o que acabara de dizer, talvez nem mesmo ele tivesse considerado Baekhyun como uma fonte de respostas — Isso.... Talvez alguém o tenha procurado. Eu preciso ver algo nos livros do tempo, continuamos a conversar pela manhã. Ainda vou te mandar de volta, não se preocupe, mas talvez ainda existam memórias necessárias. Se meu pensamento estiver correto acho que estou começando a entender essa história.

Como eu queria que essa última frase fosse minha, eu continuava a não entender nada. Mas antes de ser mandado de volta para o quarto, já dando os devidos agradecimentos ao universo por não ter me encrencado muito, eu precisava esclarecer um último ponto.

— Quantas armas podem matar deuses? — apertei os dedos em volta do punho da espada, God Killer emitiu um brilho dourado fraco.

— Só duas. God Killer e "Vingança de Zeus". A espada dele era a substituta mundana para o seu raio-mestre. Só Zeus podia empunhá-la, mas agora sem ele, qualquer um pode.

— Mesmo um espírito?

— Não. Eu me refiro a deuses. Mas entenda, um deus menor, sem tanta importância, não poderia empunhar God Killer, ela é muito seletiva em seus espadachins, talvez por já ter sido um espírito a tornou temperamental — a espada esquentou sob meus dedos quando ele disse isso, achei até que tinha se movido um pouco na direção dele — Porém um deus menor poderia empunhar a "Vingança de Zeus". Não existe mais um portador. A critério de risco, a espada de Zeus me preocupa muito mais que God Killer.

— Ela está com Jackson — lembrei que o próprio Jackson tinha me dito isso.

— Quando voltar, peça a espada e entregue a um deus em que confie. Sei que é difícil achar pessoas confiáveis na atual circunstância, mas uma arma tão perigosa não deve ter acesso fácil. Se não tirar de Jackson ao menos o faça garantir que vai protegê-la bem.

— Não posso dar ordens a deuses.

— Está na hora de mudar isso, Jungkook. Você é o portador da Assassina dos Deuses, eles precisam ter respeito por você tanto quanto tem uns pelos outros — dizendo assim parecia simples, não era como se fosse uma tarefa fácil — Você precisa se impor. O tempo de ser uma criança assustada já se foi.

— Olha quem fala...

— Eu tenho 117 anos!

— Com cara de 17, não tem como te levar a sério!

— Quer o rosto de Namjoon de volta? — Parei um segundo. Não. Estava um pouco traumatizado com a imagem do deus. Neguei — Ótimo.

— Ótimo — concordei não sei porque.

— Vou te acompanhar até seu quarto — assenti, me pondo de pé e trazendo a espada comigo, em todo caso era melhor que ficasse com ela, a deixaria ao meu lado na cama, apenas por segurança. Caminhei primeiro em direção a porta até a voz dele me fazer parar — Você achou o que procurava, Jungkook?

Gelei.

— Sei que estava bisbilhotando. Não sei o que estava tentando encontrar, a casa não quis contar seu segredo, mas sugiro que não quebre minha confiança. Você teve muita sorte que o encontrei, aqui não é um bom lugar para se perder. — Não respondi nada, nem sabia se era uma boa ideia o fazer — De qualquer forma, precisa dormir. Já passou tempo demais longe de sua realidade.

+++

"Estava num templo.

Sabia disso porque se parecia com o templo de Zeus, mas esse era mais alto, as paredes tinham um brilho prateado e parecia que seu teto fora substituído pelo próprio céu, numa profusão de estrelas. Mesmo não me recordando de já estar ali antes, eu sabia que lugar era aquele. O templo de Ártemis.

— Jungkook, vamos! — senti minha mão ser puxada, olhei para a garota, Jeongyeon me guiava adiante, com Shownu a frente e ao lado dele o maior lobo que já vi. Não, loba. Era Yoonji, a loba de Jongin — Grandão, você tem certeza que aqui é seguro?

— Tem três caixas de segurança, eu mesmo construí — ele disse, o rapaz segurava um martelo grande e provavelmente pesado para meus padrões mortais — Estou quase feliz por Jongin ter me convencido a construir esse lugar, não existe templo mais seguro no mundo humano.

— Convencido — ela brincou, mas seu sorriso se desfez rápido — Nós vamos para última sala, ok? — me explicou — Uma vez trancada, ela só se abre quando está tudo seguro. É parte do poder do lugar saber esse momento. Ficaremos à salvo do traidor — assenti, enquanto caminhávamos mais rápido pelos corredores, com Ji tomando a dianteira, vários metros à frente. Porém o animal parou, e em seguida um uivo de dor muito alto cortou a quietude da noite. Dolorosamente Ji uivou de volta — Ah, não.... É o Holly. Ji! — chamou quando a loba fez o caminho de volta, na tentativa de salvar o pequeno - ou não tão pequeno assim naquele momento – amigo — Se Kyungsoo e Holly não conseguirem contê-lo, ele vai entrar. Temos que correr.

Foi o que fizemos. Corremos pelos compridos corredores, sentia o medo, pude ouvir o som de portas se quebrando, e o barulho assustador como de fogo se alastrando pelo ambiente. Ele estava lá dentro, seja quem fosse.

— Nosso tempo acabou — me puxou na frente, abrindo uma das salas — Essa aqui tem? — perguntou ao rapaz, ele assentiu, correndo para o fim da pequena sala e tocou a parede, no lugar da parede de mármore, surgiu uma porta para um compartimento menor — Grandão, Jungkook, vocês entram, eu atraso o desgraçado — Shownu negou.

— Vocês dois entram, eu atraso.

— Grandão não tem como ser herói agora, entra nessa porcaria logo — ele negou veementemente — Grandão, eu sei que essa cara engana, mas sou eu. Ares. Eu fui horrível com você por milênios. Eu estou em dívida contigo, então por favor... — ela lançou um olhar para fora como para lembrá-lo da situação em que estávamos.

— Você não é só Ares. É a Jeongy também. Eu te perdoei — os dois olharam para mim ao mesmo tempo antes de me empurrar para dentro do compartimento e a porta se fechar — Vai abrir quando estiver tudo bem — pude ouvi-la e vê-la mesmo dentro do local fechado, por dentro parecia uma caixa de vidro, mas não era nem um pouco sufocante — Se tudo der errado... Cuide do tio Tae por mim — colocou a mão sobre a porta — Adeus, tio Kook — ela sorriu e recuou.

A garota avançou alguns passos em direção a porta, estendendo a mão para Shownu.

— Se morrermos, morremos juntos.

— É uma promessa divina? — ele perguntou, aceitando sua mão.

— Promessa divina.

O ouvi de lobo se misturou com o som do fogo, e podia ver as chamas do lado de fora. Ambos saíram, com suas espadas e lanças que em nada ajudariam, para encarar o inimigo desconhecido. O traidor.

E eu sabia que não iriam voltar.

(...)

A porta do compartimento se abriu, empurrei-a devagar, ainda temeroso, mesmo que Jeongyeon tivesse dito que ela só se abriria se estivesse tudo em segurança. Eu precisava encontrá-la e ter certeza de que estava a salvo. Tinha de estar.

Apressei-me pela sala vazia do templo de volta para o corredor, seguindo o rastro de destruição entre estátuas quebradas e pinturas arruinadas. Os corredores eram iluminados pela própria lua, que parecia tão grande, quase como se estivesse mais próxima da terra. Eu não precisei caminhar muito para encontrar alguém. Eu sabia bem quem era mesmo de costas.

Taehyung.

Ele estava sentado no chão, abraçando o pequeno corpo sem vida. O chão começou a estremecer e me aproximei, sabendo o que significava. O corpo de Jeongyeon estava nos braços dele, uma única ferida era visível, junto ao peito, no local onde fora apunhalada. Seus olhos estavam fechados. Taehyung olhou para mim, com os olhos cheios de lágrimas, me ajoelhei no chão ao lado dele, pegando a mão muito pequena da garota. Estava fria.

— Q-Quando e-eu a encontrei — ele começou, não sei se falava para mim ou para si mesmo — Ela nem tinha um ano ainda. Tão pequeninha, eu tinha medo de quebrar, eu só cuidava de criaturas do mar antes... — segurou-a melhor, encarando seu rosto pálido — Não conseguia acreditar como seus pais puderam te abandonar. Cuidar de você me livrou da loucura — as lágrimas escorreram por seu rosto e o chão começou a tremer mais forte abaixo de nós — E-Eu não pude fazer nada. Eu sinto muito, criança. Eu sinto muito — ele a abraçava com força, chorando mais, e fazendo os tremores de terra vibrarem com mais força, fazendo as estátuas restantes quebrarem.

— Tae... — toquei seu ombro, mas ele empurrou para o lado, afastando meus dedos.

— Me deixe lamentar pelos meus, Jeon. P-Preciso ficar s-sozinho. P-Por favor — eu não lembrava de já tê-lo visto gaguejar, ou engasgar com os soluços como fazia agora. Ainda estávamos expostos, ainda em risco, mas eu podia lhe dar uns minutos, para seu próprio lamento, antes que tivéssemos de fugir. Deixei um último afago nos cabelos da garota. Eu nunca mais a veria. Ares estava morto, assim como Jeongyeon, a garota humana que lhe representava. Quando me afastei, segui em busca de Shownu, mas sabia que seu destino fora o mesmo. Minha busca não foi longa, achando não somente ele, como também Ji. A loba gania como um cachorro pequeno junto ao corpo dele, então reparei no pequeno montinho marrom em cima dela, era Holly que sangrava um pouco, com um ferimento aberto na pata.

Sentei-me ao lado dos três, segurando a mão de Shownu. Ele tinha um ferimento no peito, um pouco mais alto que o de Jeongyeon.

— Obrigado por tudo — apertei seus dedos. Tão frios... — Adeus, grandão — disse, vendo-o desaparecer, em poeira de diamante e subir alto até sumir completamente no céu estrelado acima de nós. Ji inclinou a cabeça mais perto de mim e tirei Holly de suas costas, colocando-o em meu colo, eu não sabia como cuidar de um cão infernal, mas podia ao menos não deixar o ferimento aberto. Puxei um rasgo de tecido da camisa e enrolei sua pata, ouvindo-o ganir e tentar lamber o ferimento.

— Ji? — sussurrei para a loba — E Kyungsoo? — Eu sabia o que houve, se ele não estava dentro do templo também o que lhe aconteceu era óbvio, mas ainda me permitia guardar alguma fé. A resposta de Ji foi um choramingar baixo, Holly ganiu junto, eles adoravam Soo. Quantos dos outros restaram agora? Quantos mais perderíamos até esse pesadelo acabar?

Afaguei a cabeça de Holly com uma mão e os pelos do pescoço de Ji com a outra, tentando usá-los para me acalmar, o chão ainda tremia abaixo de mim, eu sabia que o templo suprimia o estrago real que os terremotos que as lágrimas de Poseidon eram capazes de fazer. Pouco depois Taehyung apareceu, com as mãos sujas do sangue, assim como suas roupas, o rastro de lágrimas ainda era visível em seu rosto.

— Você não está seguro. Nós não estamos — calou um momento, ajoelhando-se ao meu lado — Ainda precisam de nós para acabar de vez com essa guerra, mas se não pudermos fazer nada — fungou, limpando os olhos com o dorso da mão — Vou te levar para ilha, lá é um lugar seguro, nada irá te machucar. Eu não vou perder mais ninguém. "

Acordei ainda com a lembrança do sonho, esse foi diferente de todos os outros. Nos anteriores havíamos somente Taehyung e eu. Havia a ilha também, o lugar que ele disse ser o mais seguro para nós. Agora havia um inimigo que não conhecia, mas foi capaz de matar Jeongyeon, Kyungsoo e Shownu. O alerta de Hansol sobre a espada de Zeus me pareceu mais real.

Me levantei, sentindo meu corpo exausto. Na borda da cama, havia roupas, dei uma olhada nelas, pareciam tiradas da minha cômoda em casa, porém mantinham o aspecto novo. O mesmo valia para o par de sapatos que ele deixara também, já a toalha e julguei ser a mesma que jogou na minha cara quando cheguei. God Killer ainda estava no mesmo lugar que a deixei antes. Por que no sonho eu não estava com ela? Por que não enfrentei a ameaça?

Então cogitei que talvez eu não fosse capaz. Eu não era um espadachim, e numa ameaça real, talvez eu fosse o primeiro a morrer.

Eu precisava tirar a dúvida sobre meus sonhos antes de ir.

(...)

A toalha úmida não fazia um serviço muito bom em secar meu cabelo, deixei o quarto, segurando a toalha numa mão e a espada na outra - não a deixaria longe de mim sob nenhuma circunstância agora - mas assim que passei para o corredor, Hansol já estava do lado de fora me esperando.

— Pronto para voltar? — perguntou, já seguindo adiante.

— Quanto tempo passou na minha realidade? Passei mais tempo aqui que dá última vez — ele deu de ombros, virando à direita, quando o acompanhei, vi surpreso as portas da biblioteca. Os corredores tinham mudado de lugar, realmente.

— Tem uma última coisa que gostaria de mostrar — abriu as portas, ao contrário das vezes anteriores, agora havia uma mesa, larga e comprida, com um único livro, muito grande, em cima — Não sei se os deuses já lhe falaram disso, mas Cronos, nunca encarnou. Graças aos céus, o mundo já é uma droga o bastante sem monstros como ele soltos. Mas um deus do tempo encarnou — deu a volta na mesa e abriu o livro — Não importa muito falar sobre ele, mas o que precisa saber é que ele guarda quase tudo que diz respeito ao tempo agora. Assim como Jimin que é o único deus do amor encarnado, eles acumularam funções. Normal. Dos livros dele que tiro o que você viu, mas tem um detalhe — apontou para uma página em específico, estava completamente manchada. Passou várias outras depois dessa, e todas estavam assim. Não todas. Algumas estavam simplesmente em branco — As páginas só voltam a narrativa logo depois do assassinato. Todas essas páginas manchadas e em branco continham as memórias sobre o crime.

— Você disse que convergências de poder causavam páginas em branco nos livros do tempo — lembrei de algo que me disse na primeira vez que o vi.

— Exatamente! Em branco, não manchadas. Você entende? — olhei para as páginas e sugeri o que me pareceu mais óbvio.

— Alguém apagou os livros do tempo?

— Isso — pareceu satisfeito de eu ter feito uma conclusão acertada — Não literalmente os livros, o mais certo é que deuses tiveram memórias apagadas ou alteradas. Não todos, é claro, é provável que o assassino ainda tenha as memórias intactas, porém é impossível ter certeza. Nem todas as páginas estão manchadas como você bem notou, algumas estão em branco, resultado das convergências, isso ao menos indica que haviam deuses juntos no local da morte.

— Quem poderia fazer isso? Apagar memórias, no caso.

— Existem formas até mesmo fáceis de se apagar lembranças. O rio Lete, as águas dele apagam memórias, uma gota é o bastante para apagar 3 horas de memórias. Criar novas vários deuses poderiam. Zeus, Baco, Hera, Eros..., mas você compreende, Jungkook?

— Acho que não — quantoq mais ele falava, menos eu entendia.

— E se... E se a morte de Zeus não importar? Se saber o assassino não valer tanto assim? E se não existem memórias desse momento justamente para que ele seja esquecido?

Calou-se em seguida. Por mais que investigar sobre a morte de Namjoon foi o que me colocou nessa insanidade, não conseguia ignorar o que Hansol disse. Era um sentimento conflitante. A morte de Zeus me trouxe ali. Sua ausência fez os espíritos ficarem mais fortes e atacarem. Talvez saber seu assassino não fosse, realmente, o mais importante.

A solução do assassinato poderia não ser o final da história, mas sim o meio dela.

Eu lembrava do que Taehyung disse, também. Que os espíritos tinham uma liberdade que não deveriam ter, que apenas um Deus poderia lhes dar. E agora havia esses sonhos, falando sobre guerra. Definitivamente, havia um inimigo, talvez não houvessem memórias justamente para que ele não fosse caçado.

— O que eu devo fazer? — perguntei, olhando as páginas manchadas do livro. Memórias apagadas, adulteradas... — Você disse que o rio Lete apaga memórias. Como é possível acessá-lo?

— Ele passa pelo submundo, mas existe um ponto do mundo real em que ele percorre, uma pequena fonte de difícil acesso. No Arcádia.

— O hotel? — ele assentiu, ainda perdido nos próprios pensamentos. A recorrência do hotel era um tanto suspeita, ainda mais que, quando estávamos reunidos no hospital, Taehyung disse que o local não era seguro, por ser uma área de convergência.

— Eu achava que essas era a razão. O que não estou vendo? — ele não estava falando para mim, falava consigo mesmo — É melhor que vá.

— M-Mas eu queria perguntar...

— Você ainda tem tempo, Jungkook. Lembre-se de aguardar o momento oportuno... Há tempo para tudo sob o firmamento.

— Eu tenho tido sonhos! — interrompi, antes que me dispensasse sem que pudesse falar — Sonhos que parecem reais. Como vislumbres do futuro. Talvez seja... algum tipo de aviso. Uma visão, talvez.

— Duvido que sejam, oráculos não existem mais — fechou o livro com um grande estrondo, os livros estremeceram nas prateleiras — Às vezes sonhos, são apenas sonhos, criança. Nos veremos em breve, Jungkook.

Como da vez anterior, antes que eu pudesse reagir ou contestar, sua mão cobriu meu rosto e senti ser arrastado pela escuridão.

+++

Abri os olhos, a luz incomodou e precisei piscar algumas vezes, tentando me acostumar. Demorei um pouco para me situar, até perceber que estava numa rua próxima a minha casa, acabei por reconhecer a loja de conveniências onde comprava lamen quase sempre. Pensei em entrar somente para perguntar-lhes que dia era, porém algo me chamou mais atenção. Meu próprio rosto.

Havia meu rosto num cartaz.

"Desaparecido"

Logo abaixo estava o número de meus pais e os de contato da polícia e um outro número que não fazia ideia de quem pertencia. Se chegaram ao nível de colocar cartazes, por quanto tempo eu havia sumido?

A porta da loja abriu e acabei por olhar, num gesto automático, o rapaz que saiu tinha a expressão exausta, com um rolo de fita adesiva numa mão e algumas folhas em outra. Ele olhou para mim. Olhou para as folhas. Para mim de novo, e então reconheci-o. Era o assistente de Jackson, Mark.

— Meu Deus, é você? — ele largou a fita e as folhas - que eram mais cartazes com a minha cara - e me segurou pelos ombros, me colocando do lado do cartaz, olhando de um para o outro — É você mesmo?

— Sim.

— Meus deuses... — E ele me abraçou, pelo seu estado comecei a considerar se iria chorar — Eu estou te procurando há mais de vinte dias! — é, isso explicava sua cara de zumbi. Espera, vinte dias?

— Eu sumi por vinte dias? — ele continuava agarrado a mim, sem muito o que fazer comecei a lhe dar batidinhas nas costas com a mão livre, tentando acalmá-lo.

— Não, tem quase um mês. Ou mais, não sei, não fiz as contas direito. Mas hoje é 2 de julho.

— O que? — Mark finalmente me largou. "Espera, aquele dia no restaurante foi dia... 19? Não. 14 de maio eu saí do hospital, 15 eu estava em Jeju. Sumi dois dias.... Sim, o restaurante foi dia 19 de maio. Fora bem mais que um mês" — Meu Deus...

— Onde estava esse tempo todo? — Se nem deuses acreditaram em mim, duvido que um humano acreditaria — E por que está com uma espada? — Finalmente percebeu God Killer em minha mão.

— Você não vai acreditar, confie em mim — me ocorreu perguntar — Ah, meus pais...?

— Estão te procurando também, todo mundo está — imaginava como eles deveriam estar se desapareci por tanto tempo, provavelmente pensando que morri — Melhor te levar para a delegacia. Depois de explicar tudo lá eu contato os dois.

— Eu mesmo posso fazer isso. Acho que você precisa do resto do dia de folga.

(...)

As pessoas olhavam para mim como se eu fosse um fantasma, levando em conta os desaparecimentos do país, um mês não era um número absurdo, mas alguém como eu que deveria estar investigando um assassinato que envolve deuses e de repente desaparece sem deixar vestígios, era bem óbvio que me julgavam morto.

Eu estava exausto, não sei quanto tempo equivaleu minhas últimas horas com Moros, mas senti o cansaço vir antes mesmo de chegar à delegacia. Jaebum-hyung me levou ao chefe, depois de me fazer um longo questionário sobre onde eu estava, se estive cativo e porque não mantive nenhuma comunicação em mais de um mês. Eu falei a verdade. Falei sobre Moros, sobre a casa que não ficava nessa dimensão e por isso o tempo que passei lá era diferente do tempo real. Ele nem riu ou me chamou de maluco, só ficou me olhando, como se eu fosse uma causa perdida.

— Vão te tirar da investigação, isso é bem óbvio — disse, antes que eu entrasse na sala — A imprensa vai te trucidar, então não fale para eles sobre casas interdimensionais e Destino. Mesmo com deuses por aí, isso é muito para aceitar — não soube o que responder — Pode me dar esse troço — tirou God Killer das minhas mãos, porém no momento que a pegou, a espada o puxou para baixo, o derrubando no chão — Mas que... — tentou levantá-la, firmando os pés no chão e segurando o punho da arma com as duas mãos — O que é essa coisa? — Os policiais em volta começaram a olhar, vendo seu esforço em tentar erguer a arma.

— Jaebum-hyung, desiste — ele a largou e me deu alguma satisfação o olhar chocado quando a peguei sem esforço algum e coloquei encostada na parede — Eu explico depois — ele olhou para mim, para a espada e depois para mim de novo.

— É melhor não. Ignorância às vezes é uma benção.

Ele abriu a porta para mim, entrei. Delegado Im, apesar de compartilhar o sobrenome com Jaebum-hyung, em nada se parecia com ele. Julgava que seu ódio em ser um policial era tanto quanto o meu, porém enquanto eu era apenas um investigador muito ruim, ele era uma pessoa terrível. Toda vez que o olhava me lembrava dos vilões de dorama, com seus olhos muito negros e a expressão velha e ranzinza.

— Sente-se, oficial Jeon — mandou, indicando a cadeira diante dele — Espero que tenha se divertido em suas férias.

— Senhor, eu...

— Eu não mandei você falar — me interrompeu — Você não foi sequestrado, segundo a ficha que está bem aqui — indicou a tela do computador, — Não foi morto, também, isso é bem óbvio. Nem ferido. Na verdade, parece que acabou de sair de um spa. Por 44 dias eu tive que encarar seus pais sem poder dar uma resposta convincente para o desaparecimento do filho deles, com a imprensa me pressionando de um lado, e deuses malucos do outro, com lobos e um cão de três cabeças te procurando pelo país. Como aquela criatura gigante vira um cachorrinho marrom minúsculo é algo além da minha capacidade. Então — suspirou alto depois de desabafar toda sua frustração comigo — Onde estava, Jeon Jungkook?

Eu ainda não tinha pensado em nenhuma desculpa além da própria verdade.

— Então... tem um deus. E ele é o Destino. E tem a casa dele e o tempo lá...

— Você estava em Jeju procurando a casa do Destino? — esfregou o rosto com as mãos — Eu conheci minha esposa procurando essa casa — suspirou — Jeon, eu vou te tirar do caso. Eu liguei pra Kim Seokjin, ele já deve estar a caminho, essa loucura, isso não é para nós. Se os deuses querem o assassino, eles podem procurar, é a questão deles, a guerra deles. Você foi envenenado daquela vez, tivemos de mentir por dias e mesmo naquela ocasião o departamento superior já tinha dito sobre encerrar essa investigação.

— Senhor... — eu não sabia nem como começar, porém, eu tinha esperanças de que tudo estava se encaminhando para uma resposta. Eu vi todas aquelas memórias e de alguma forma as coisas estavam se arrumando em minha mente. Devagar, é verdade, mas estavam — Eu só preciso de mais algum tempo.

Batidas na porta me impediram de continuar meu falho discurso, delegado Im murmurou um "entre", virei-me, vendo Kim Seokjin, e ele parecia diferente do que me lembrava, nunca tinha visto-o tão... irritado?

— Sente-se, senhor Kim — indicou a cadeira ao lado da minha. Ele dispensou com um aceno de mão — Bom, eu queria falar sobre a investigação.

— Eu também — Jin finalmente me olhou — Olá, Jeon. Que bom que está bem. Eu acho que já sei o que quer falar, delegado Im, arquive a investigação, foi um erro pedir que humanos investigassem o crime. Jungkook — voltou-se para mim — Você está livre da promessa — senti minha bochecha arder no mesmo lugar que o corte surgiu meses atrás — Agradeço pelo seu esforço, mas já correu riscos o bastante — deixou a sala, olhei para delegado Im, esperando que ele fosse ao menos dizer algo a Seokjin.

— Esqueça isso, Jeon — levantei rápido, antes que o deus fosse embora — Jeon!

— Com licença, senhor — pedi, saindo também. Encontrei do lado de fora uma competição entre os policiais para ver quem conseguia tirar God Killer do lugar, Chefe Oh apoiava um pé na parede tentando puxá-la, mas continuou imóvel, mesmo ele sendo o mais musculoso entre os policiais. Parecia a disputa pela espada do Rei Arthur — Saiam do caminho! — falei mais alto, afastando-os e pegando a espada. Minha autoestima fora devidamente elevada com seus olhares espantados, mas não tive tempo para impressionar a plateia, já que precisava alcançar Seokjin. Me apressei em direção a saída, esperando que ainda não tivesse ido embora.

— Jungkook!

Ouvi a voz feminina antes de ver o grupo de deuses. Sun e Hobi foram os primeiros a me alcançar, os dois me abraçaram juntos como se eu fosse um filho perdido. Quando me soltaram Jongin teve espaço para me dar vários tapinhas nas costas, parecendo constrangido de tentar me abraçar também. Ri um pouco. Jimin sorria enquanto falava sobre como teve certeza, desde sempre, que eu estava bem e em segurança, Yoongi só sorriu mesmo. Talvez por ver tanto sobre ele, Jimin e sua relação complicada, fiquei um pouco feliz de constatar que seguravam a mão um do outro.

— É... vocês viram Seokjin? — perguntei.

— Ele já foi, não quis esperar — Sun disse — Ele está meio estranho ultimamente — quis perguntar mais sobre isso, mas Hoseok me interrompeu.

— Onde estava? Nós te procuramos o país todo.

— Ah... — "eu devia ser sincero dessa vez?" — Com o destino? — houve alguns segundos de silêncio. Yoongi começou a rir, os outros o acompanharam, mas a risada dele era estranha, então julguei que eles riam disso e não do que falei. Só um deles não ria: Hoseok.

— Ele te disse alguma coisa? — sussurrou para mim, e olhei-o surpreso por acreditar. Assenti — Sobre você e Taehyung? — "Como assim sobre mim e Taehyung?" tentei perguntar, mas acenou que não — Ele deve querer te falar.

— É melhor levá-lo para casa, ele deve estar cansado — Sun parecia ter respondido a alguém, mas eu não tinha prestado atenção em nada.

— Sim, Taehyung deve estar ansioso para vê-lo — Yoongi disse, sorrindo cínico — Quando você sumiu ele ficou possesso de raiva.

Eu não sabia o que pensar sobre isso.

— Pare de assustar o garoto, hyung — Jongin falou — Vamos, a gente já levou suas coisas. Desculpe a invasão — seguimos todos para fora e me senti bem no meio deles, num sentimento estranho de pertencimento, porém antes de chegarmos aos carros o som de dois bipes conjuntos soou. Yoongi e Jimin tiraram os celulares dos bolsos, desligando os alarmes. — É... eu vou para casa — Jimin disse, soltando a mão de Yoongi á custo — Eu vou te buscar mais tarde, Sun. Até amanhã — sussurrou pra Yoongi.

— Até — ele mantinha os olhos no chão. Jimin deu a volta, tomando o caminho oposto ao nosso, enquanto Yoongi seguiu adiante, deixando-nos para trás.

— Hyung! — Jongin chamou quando Min Yoongi já estava quase no fim do quarteirão — Hyung, onde você vai?

— Pro inferno! Para a droga do inferno.

— Eu disse — Sun apontou pra Jongin e Hoseok, com a expressão vitoriosa — Eu disse que era recíproco sim. Vocês deuses não sabem de nada.

— Perdeu a chance de ter apostado, noona — Jongin disse e abriu a porta do Mercedes que custava minha vida e as próximas encarnações, se eu tivesse alguma — Mas como eles vão aguentar viver desse jeito, eu não sei. Hobi vai dirigir? — Sun sentou-se no banco do passageiro enquanto eu estava ao lado de Jongin.

— Vai dar tudo certo, eu não bati nenhuma vez essa semana.

— Você bateu o carro ontem! — a garota lembrou.

"O que?"

— Jongin, passa uma benção para cá — Sun estendeu a mão para ele que a pegou murmurando palavras em grego.

— Traidora — Hobi fez uma careta para a garota que apenas riu — E você, Jungkook? — ponderei uns segundos. "Bateu o carro ontem, né?", estendi a mão para Jongin que riu alto antes de aceitá-la também, senti meus dedos formigarem quando proferiu a benção para mim também. — Vocês todos traidores. Eu não vou bater nenhuma vez só para provar que sou um ótimo motorista — E nossa saída foi atrasada em cinco minutos, porque Hoseok bateu no carro da frente e teve de pagar ao proprietário pelo dano.

+++

Quando Hoseok seguiu o caminho oposto para a casa de Min Yoongi, comecei a considerar se me levariam para minha própria casa. Mas conforme seguia na direção do Rio Han, sabia para onde iria me levar. Isso significava que eu ficaria com Taehyung? O sentimento de "Isso não é uma boa ideia" não me deixou nem um segundo.

Ter sido afastado do caso ao menos tornava isso menos errado, mas eu ainda era um policial e devia algum respeito à minha posição. Também não seria nada bom se acabasse se tornando uma coisa pública e eu nem tinha pensado no pior: meus pais.

— Você vai ficar com meu quarto — Jongin disse, quando já nos aproximávamos do casarão — Eu não fico muito aqui, e é melhor do que preparar um quarto novo. Eu vou te ajudar a treinar, Jeongy também se ofereceu.

— Seria bom que ele treinasse com alguém do submundo — Hoseok disse — Soo está muito ocupado? Ele é bom com estratégia.

— Ele não — Jongin retrucou — Ele não é estrategista, é um trapaceiro — Hoseok riu.

— Você tem que aprender a perdoar, irmãozinho.

— Ele roubou meu quarto na casa do Yoongi-hyung. Meu estúdio e a Yoonji gosta mais dele que de mim.

— Quanto exagero... ela vive por você — Sun se virou para mim — Yoonji é a loba do Jongin.

— Eu sei — falei no automático, Hoseok deu uma brecada forte demais nos jogando para a frente, todos olharam para mim ao mesmo tempo.

— Como sabe? Nunca falamos dela para você — Sun questionou. Engoli em seco. "Fodeu". Como explicar agora?

— Taehyung comentou. Na ilha. Que você tinha uma loba — a mentira foi péssima, mas eles não pareciam dispostos a discutir sobre o assunto. Estava torcendo em silêncio para que nenhum deles perguntasse a Taehyung sobre. Os portões da casa se abriram e finalmente notei que já havíamos chegado.

Hoseok estacionou - a muito custo, deve-se ressaltar - e os três entraram na casa, eu nunca reparei no fato de não ter trancas, mas quem invadiria ou roubaria a casa de um deus?

— Taehyung! — Hoseok chamou.

— Eu vou para a biblioteca — Jongin disse já subindo as escadas, mas parou quando viu Taehyung no topo. Ele olhou para cada um até parar os olhos em mim. Minha vontade foi de fugir para o mais longe possível.

— Jungkook... — chamou meu nome — Vocês podem nos deixar a sós? — pediu, os outros três concordaram, subindo as escadas e passaram quase correndo para a biblioteca. Toquei a porta logo atrás de mim. Será se correr era uma possibilidade? — Está com medo de mim, Jungkook?

— Não...? — acompanhei com o olhar até que já tinha descido as escadas e indicou a entrada para a sala — É que... — desisti de falar e segui para a sala de uma vez, as portas foram fechadas e não tive coragem de olhá-lo e ter a mesma discussão que tivemos em Jeju.

"É hora de tomar coragem, Jungkook" disse a mim mesmo, respirei fundo e me virei para encará-lo. Taehyung tinha os braços cruzados, seu cabelo crescera no último mês, quase cobria seus olhos, vendo-o bem, ele não parecia com tanta raiva assim, pelo menos não como da vez anterior. A camisa de botões estava meio aberta e eu estava usando toda minha concentração e dignidade para não ficar olhando seu peito exposto.

— Você está bem? — assenti antes de responder.

— Sim, não tem nada de errado comigo. Talvez só um pouco cansado — ele assentiu, me medindo com o olhar — Sei que me procuraram por muito tempo, e vou entender se ficar com raiva, mas se quer começar a discutir como da última vez, pelo menos...

— Espera — pediu, me fazendo calar — Preciso de algo antes — eu quase deixei um sorriso óbvio demais surgir quando ele se aproximou, porém ele parou, sem me encostar. "Meu Deus, eu sou um colegial estúpido que se apaixonou pelo garoto popular". Não tinha como me sentir mais idiota — Eu não vou ficar com raiva, Jungkook — sua mão tocou meu rosto, e ele chegou mais perto, sua boca entreaberta a um centímetro da minha. Tentei aproximar o rosto, mas ele afastou na mesma medida — 44 dias — ouvi a rispidez na fala, afirmar que não estava com raiva, não queria dizer que o fato não o incomodava — O que aconteceu, Jungkook?

— Vai acreditar em mim desta vez? — senti seu polegar sobre meu lábio inferior, movendo de um lado para o outro. Quis beijá-lo ainda mais.

— Talvez — olhá-lo nos olhos tirava parte do meu raciocínio, mas fiz o melhor para não me deixar distrair.

— Eu estava com o Destino. Passei pouco mais de dois dias com Moros e aqui se foram mais de 40 dias, eu não pude fazer nada sobre isso — ele não disse nada, apenas continuou me encarando, seu polegar ainda pressionando meu lábio inferior.

— O que ele disse? — Estava um pouco chocado com sua resposta, suas mãos passaram para o meu rosto, como para me impedir de desviar o olhar — Ele disse algo sobre nós?

— Você acredita em mim?

— Acredito. Eu não devia ter mentido da primeira vez, sei que o Destino existe. Mas ele te disse algo? Disse alguma coisa sobre nós?

— Nós? N-Não ele não... disse nada — fui sincero — Mas o que ele diria sobre nós?

— Nada. Esqueça isso, ok? Eu nem deveria ter perguntado — afastou alguns passos para trás — Jongin já deve ter avisado que você ficará com o quarto dele. Mas posso lhe dar um novo se desejar — sentou-se no sofá e indicou uma poltrona para mim, recusei — Você vai precisar falar com seus pais e sobre seu emprego...

— Fui dispensado — cortei seu discurso — Seokjin me livrou da promessa divina e fui afastado do caso. Nenhum outro humano vai investigar. Pelo que chefe Im espera, eu deveria só voltar para casa e esquecer tudo isso.

— Poderia ir embora se fosse só um humano comum, algo que você não é. E de qualquer maneira, você não iria embora mesmo se fosse, iria? — seu sorriso cínico me fez querer dar-lhe um tapa. Não sabia se responder era uma boa opção — O quarto de Jongin é ao lado do quarto de Yoongi, terceira porta depois da biblioteca.

Isso era ele me dispensando? Ok, entendi o recado. Suspirei alto, e segui para a porta, mas não adiantou muito, pois quando girei a maçaneta, estava trancada. Continuei girando-a mesmo assim, tentando descontar minha frustração que não sabia de onde vinha.

— É só girar a tranca.

— Eu sei! — girei a tranca e depois a maçaneta, não abriu, na verdade, parecia que dessa vez que havia trancado, continuei tentando, mas não se movia — Ah! Que porcaria é essa? — Sua mão cobriu a minha, tirando-a da maçaneta e me girou pelos ombros, me pressionando contra a porta. Chegou mais perto e continuou olhando para mim, como antes — Se vai me beijar, faz logo ou me deixa sair — ele riu rouco, aproximando mais o rosto.

— Nem um mês longe te deixou mais fácil de entender.

— Para mim foram só dois dias — fechei meus olhos antes de sentir seus lábios, depois dos sonhos e tudo que vi e vivi na casa de Hansol, eu ao menos tinha de admitir que sentia falta de Taehyung. E havia algo mais que apenas confusão de sentimentos. Eu só não tinha como definir nada tão cedo, no momento eu apenas aceitaria seu beijo, com um sentimento estranho de saudade e nem mesmo o clique da tranca sendo destravada me fez afastar.

— Você já pode ir — abriu a porta — Precisa descansar.

— Não preciso, não — ele riu, mas sua expressão se tornou séria de repente. Ele segurou minhas mãos, me afastando dele — O que?

— Você era o único irmão de Junghyun? — perguntou, vê-lo falar de meu irmão fez meu coração apertar — É o único filho restante? Não havia outra criança, no barco, quando ele morreu? — estranhei a pergunta, seus dedos vieram à minha testa, afastando os cabelos — Por que não me disse nada sobre isso antes?

— Não. Era somente eu e Hyun — ele continuou a me encarar, parecendo um pouco em choque ou desnorteado, eu não consegui entender a expressão — Você se lembra? Lembra de Hyun? — assentiu.

— Eu vi seus pais. Sua mãe, mais especificamente. Eu lembrava dela, uma memória vaga, mas ainda existente. Jungkook, porque nunca me disse sobre isso? — insistiu, mas em seguida acenou, como se eu devesse ignorar a pergunta — Enfim... mas não é possível...

— O que não é possível?

— Eu abençoei a criança restante. Proferi uma bênção para você, Jungkook. Mas você não tem uma benção.

— O que? — Eu não estava conseguindo compreender. Ele não poderia ter se enganado, certo? Dado a benção a outra pessoa? Enganos podem acontecer até para deuses — Pode ter havido uma confusão.

— Eu não me confundi, eu te dei uma benção, tenho certeza. Bênçãos são visíveis para mim. Toda criatura, humana ou não, que abençoei eu reconheci imediatamente. Eu não reconheci uma em você, Jungkook, eu teria dito algo quando te conheci se fosse o caso. Você não tem minha benção.

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