God Killer - PRIMEIRA VERSÃO

By taemeetevil

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[CONCLUÍDO] O mundo é diferente. Os deuses agora vivem entre nós, expandindo seu poder e influência. São mu... More

Prólogo
Zeus
Hera
Hades
Apollo
Eclipse
Humano
Hermes
Ártemis
Moros
Iliada
Ares
Receptáculo
Destino
Tempo
Maldição
Assassino
Eternidade
Arcádia
Baco
Alma
Pothos
Epifania
Dia B
Universo
Hyun
Deus Ex Machina
Deus
Eros
Poseidon
Epilogo
Human Among Gods

Memória

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By taemeetevil


"— Jungkook! Não tem graça nenhuma, me deixa entrar — O lugar foi ganhando foco, vendo a sala pequena com o papel de parede azul já desbotado, olhei para janela, e para o deus do mar irritado do lado de fora. Podia ver o mar agitado mais adiante e o dia cinzento, como se estivesse próximo de nevar.

— Vai embora, baiacu! — ao contrário da minha última lembrança de quando o chamei assim, ele riu.

— Está frio, você já viu um peixe gripado? Não é legal — ri junto, destravei a janela e abri com um pouco da ajuda do vento — Obrigado — olhou fundo em meus olhos, e recuei um passo quando vi seu cabelo tornar-se muito vermelho, e seu olhar parecer quase homicida. — Obrigado. Assassino dos Deuses. "

Meus olhos se abriram no susto. Eu estava de pé, segurando as bordas da janela do quarto, que estava aberta. Eu nunca tive nenhum ato de sonambulismo antes, mas isso, combinado ao sonho me fez fechar a janela com mais violência do que necessário e cambaleei para trás.

— Acorda pra cuspir, garoto — ouvi batidas na porta antes que Moros entrasse — Aconteceu alguma coisa? Você está pálido — apenas neguei, com um aceno.

— Eu só me lembrei do sonho de ontem. Não é nada.

— Ok. Vamos, você precisa comer. Vão ser bem mais exaustivas as memórias dessa vez, deuses muito fortes... enfim — assenti, o seguindo para fora. Caminhamos em silêncio por alguns corredores, eu facilmente me perderia naquele lugar. Moros suspirou alto uma vez. Duas. Três — Vamos correr.

— O que?

— Vamos apostar. Se chegar na sala de refeições primeiro eu te dou um livro especial. Se eu ganhar você passa mais um dia aqui.

— Mas não sei o caminho.

— Vai saber. A casa vai te indicar — olhei-o desconfiado de sua proposta.

— Eu aceito. Mas... se eu ganhar, eu quero ver sua forma original — ele ponderou um pouco e me estendeu a mão.

— Feito — paramos um ao lado do outro — Em suas marcas... Agora!

Moros não mentiu que a casa indicaria, antes de alcançar o fim do corredor uma luz azul brilhou para a direita, depois para a esquerda, a direita de novo, Moros era veloz, mas eu corria bem mais rápido. E eu era competitivo demais para aceitar perder ainda mais com a possibilidade ver seu rosto original. Com mais dois corredores eu deixei-o para trás até ver a última luz azul diante de um par de portas duplas e correr para elas como se minha vida dependesse disso.

— Ganhei! — ri alto em comemoração e talvez fosse o estômago vazio em conjunto com o esforço, mas minha visão escureceu por um momento antes de voltar ao normal. — Eu ganhei! Eu ganhei! — comecei a cantarolar, de modo infantil.

— Garoto... — Ele ainda estava no fim do corredor — Por Gaia, você corre muito, muito. Muito. Muito mesmo — ri um pouco mais — Rápido — concluiu — E como acordos têm de ser cumpridos...

Quando deu seu passo seguinte em minha direção ele já não era mais como Namjoon. Parecia mais novo que eu, lhe daria 20 anos no máximo, rosto fino, magro, olhos pequenos, cabelos cinza, quase brancos e uma palidez fora do comum, até mesmo para os deuses naturalmente pálidos que conheci. O modo velho como falava não se encaixava nem um pouco naquela imagem.

— Não sou o que esperava? — acenei que não — O processo de transformação divina nos envelhece alguns anos, mas eu tinha 14 quando aconteceu a minha. Fiquei jovem demais — deu de ombros, chegando mais perto.

— Que bizarro.

— O que?

— Você é bonito. Você devia ser feio — ele parou um momento antes de começar a rir, muito alto dessa vez. "Eu disse isso alto? "

— Então, vendo meu rosto, consegue me dar um nome? — tentei pensar em bons nomes, algum que não iria ouvir com frequência - e por consequência iria me confundir - ou que me trouxesse alguma lembrança.

— Hansol — disse. Eu não conhecia nenhum Hansol além de idols. Meu irmão adorava esse nome, dizia o tempo todo que se pudesse ter escolhido o próprio nome seria esse. Eu não entendia o porquê, apesar de que também não gostava muito de meu próprio nome quando era mais novo, até aprender a apreciá-lo. De uma forma estranha, Moros lembrava meu irmão. Eu não poderia chamá-lo de Hyun, mas poderia chamá-lo de Hansol.

— Isso. Seu nome será Hansol.

— É um bom nome — abriu as portas, a mesa do café da manhã era comprida, com comida o bastante para alimentar um batalhão, havia muitas cadeiras, e pratos postos, como se fossem aparecer mais pessoas. Quando nos sentamos, os lugares vagos se foram — É estranho, eu sei — comentou sobre o assunto — A casa sempre espera que eu receba mais visitas.

— Você sempre viveu sozinho? — assentiu.

— Recebo visitas de vez em quando. Ou eu mesmo saio, mas no fim eu sempre acabo aqui. Só com os meus livros. No começo isso me enlouqueceu, agora já me acostumei — me assustei comigo mesmo quando esbarrei a mão numa bandeja de frutas e uma maçã rolou da mesa até o chão. Antes que eu pudesse pegá-la, desapareceu.

— Como...

— A casa. Todo objeto que cai no chão ela faz desaparecer. Menos livros e meus objetos mais importantes. Não somem para sempre, ficam todos num cômodo específico, mas de qualquer forma, cuidado — peguei outra maçã e comecei a comer em silêncio, Moros não comia nada, porém lembrei que Taehyung disse sobre como deuses não precisavam comer todos os dias.

Vê-lo em sua nova forma - ou no caso, na forma original - me era estranho, talvez por já ter me acostumado a vê-lo com o rosto de Namjoon. Ao menos eu sabia que não era mais um truque. Não poderia dizer como, mas assim como sabia que todas as imagens que assumiu não eram seu rosto de verdade, também sabia que a imagem que usava era realmente a sua.

— Você parece muito mais novo.

— Está incomodado, não é? — sorriu — Você é o mais novo quase sempre. Mas pense que você continua sendo, eu tenho mais de 100 anos.

— Você devia ser um velho esquisito. Mas já é esquisito, então tudo bem — ele riu e terminei minha maçã em silêncio, eu não estava realmente com fome. Estava ansioso demais para as memórias seguintes.

— Coma um pouco mais, o processo será muito longo dessa vez — havia muito o que escolher, mas eu estava me sentindo um pouco mal desde que acordei, como um resquício ruim dos sonhos, então me obriguei a pegar outra maçã, comendo sem vontade alguma — Como você sobrevive comendo tão pouco?

— Eu também não sei — ri um pouco, minha alimentação realmente era terrível — E meu segundo prêmio?

— O que?

— Você disse que me daria um livro especial se eu ganhasse. E eu ganhei — disse um tanto convencido — Eu ganhei e quero meu prêmio — ele suspirou.

— Me lembre de nunca mais apostar nada com você, você é um vencedor péssimo.

— Mas eu nem fiz nada.

— Garoto eu quase posso ouvir a musiquinha da vitória na sua cabeça — ri, engasgando um pouco com a maçã antes de engolir — Depois das lembranças eu lhe dou seu livro — tocou meu ombro — Já é hora de começar.

+++

KIM SEOKJIN

HERA

2 meses antes do assassinato

Eu lembrava de mim mesmo dizendo que não voltaria a sentir ciúmes. Quase conseguia ouvir minha voz, oitenta anos atrás, dizendo "Eu serei diferente, não vou mais sentir ciúmes de você, está tudo bem". Bom, talvez eu não tenha usado essas palavras, mas tenho certeza que foi algo bem próximo. E eu estava indo muito bem durante esses anos, afinal, Namjoon nunca me deu motivo algum.

Eu tinha uma afeição maior por essa encarnação de Zeus. Quando conheci Namjoon, ainda um humano perdido, ele ainda seria o tipo de pessoa por quem me apaixonaria. Ele era bom como poucos humanos eram, se importava em ser um herói de verdade, em ser um bom soldado quando serviu na guerra. Por muitos anos eu vi os dois, humano e deus, coexistirem em harmonia, assim como fora comigo. Nunca tive nenhum problema, Hera e eu éramos uma força única, então julguei que Namjoon tinha o mesmo.

É claro que estava errado, mas não esperava que fosse acontecer depois de tantos anos de calmaria.

Naquele momento eram 3:45 da manhã e esse horário já estava começando a me irritar porque era somente nesse horário, nesse maldito horário, que Namjoon parecia lembrar do caminho de volta para casa e aparecia, fingindo que tudo estava bem. Eu tentava ser compreensivo, eu vi como a loucura quebrou os outros. Taehyung só não se perdeu no vazio da própria mente graças a Jeongyeon, ele decidiu criá-la sozinho e de alguma forma isso o impediu de surtar completamente. Acreditava que Jongin fez o mesmo por Yoongi. Hoseok foi sua busca incansável por sua garota humana.

Às vezes pensava se não teria sido melhor se seu surto tivesse ocorrido com os outros, enquanto ainda não seria um problema, sem um holofote sobre nossas cabeças e tudo que fizéssemos não fosse parar imediatamente no jornal. Ao menos a loucura de Namjoon estava limitada ao nosso convívio. A porta de casa abriu e me levantei dos degraus da escada, esperando que ele ao menos me dissesse algo. Uma mínima explicação, talvez.

— Boa noite, Seokjin — foi o que disse, passando por mim nas escadas.

— Onde estava? — Sem resposta — Namjoon, onde estava?

— Não importa! — esbravejou, e para pontuar suas palavras, um trovão estremeceu os céus — Me deixe em paz — voltou ao seu tom natural.

— Namjoon, você ao menos me dirá...

— Eu não direi nada. Os meus assuntos não lhe dizem respeito e se isso lhe incomoda de alguma forma e não está satisfeito, talvez deva ir embora. Ninguém vai te impedir — seguiu para dentro do nosso quarto, fechando a porta com força.

Continuei parado, completamente sem ação. Ele nunca tinha falado daquela forma comigo, pelo menos nenhuma vez naquela encarnação. Nas anteriores e mesmo enquanto apenas figura divina, Zeus nunca teve um bom temperamento e eu sabia que nos estágios da loucura o lado divino acabava por assumir o controle quase total. Mas ainda assim, ele não devia estar desse jeito. Era possível que não fosse só a loucura. Talvez fosse o que era agora. Talvez o poder tenha o corrompido completamente, homem e deus.

Eu precisaria de alguma ajuda se queria realmente salvar Namjoon de si mesmo.

(...)

20 dias antes do assassinato

Passar os dias com Taehyung estava sendo bom para nós, em partes. Namjoon parecia mais calmo, porém terrivelmente quieto. Ele se isolava em seu templo, falava pouco e a última grande decisão que teve foi a expulsão das não nascidas. Apesar de ficar satisfeito com a saída de Calisto, me senti um pouco mal por Latona que nada fazia para me incomodar. A respeito de Nix eu não tinha muito o que dizer.

Infelizmente meu casamento tinha se quebrado a um nível difícil de consertar. Eu sentia que Namjoon já não me amava da mesma forma, a paranoia de que ele me traia nunca passava, realmente. Ele não gostava de ficar perto, nenhum outro deus sequer conseguia permanecer em sua presença além de alguns poucos que ele conseguia convencer de que suas atitudes estranhas eram para o bem de todos. Namjoon agora falava de assumir cargos de poder entre humanos, os jornais sugeriam o tempo todo sobre sua possível elevação a primeiro ministro. Jeongyeon se pronunciou contra na TV, e Namjoon em sua raiva, provocou uma tempestade gigantesca que assolou o país por três dias.

Agora ele falava da ONU e sobre lideranças mundiais, que deuses não podiam ficar presos em limitações humanas. Não sabia do quanto daquilo era Zeus e o que era Namjoon, mas seja homem ou deus, esse era o tipo de discurso que representava um risco. Humanos não teriam capacidade de pará-lo se ele realmente quisesse o poder, somente outros deuses poderiam e isso me enchia de medo.

Suspirei alto, tentando aquietar meus pensamentos enquanto aguardava mais uma vez que Namjoon lembrasse de voltar para casa, Taehyung havia saído com Jackson e ambos disseram que tirariam Namjoon do templo e o trariam para casa. Eu sinceramente estava exausto e esse era um sentimento compartilhado pelos dois lados de mim, nem mesmo minha parte divina suportava mais.

A porta do quarto abriu, e virei-me para o som, vendo Namjoon entrar no cômodo como se eu nem estivesse ali.

— Onde estava Namjoon? — nenhuma resposta como sempre — Namjoon, o que estava fazendo no templo até tarde?

— Fodendo, Seokjin. Eu estava fodendo — a resposta me desorientou por um momento — Não queria uma resposta? Agora você tem. Estava fodendo uma puta melhor do que você — começou a trocar suas roupas como se não tivesse dito nada demais, eu ainda não conseguia reagir. Estava em choque. Como ele ousava dizer isso para mim? Falar daquela forma? Assumir uma traição como se não fosse nada?

— Era Calisto?

— Saber quem foi importa tanto assim? — levantei no ímpeto e acertei seu rosto, me deu alguma satisfação vê-lo cambalear e em seguida cair no chão — Finalmente alguma reação de verdade, Seokjin. Meus parabéns! Você esteve tão confortável em sua aura divina intocável que sequer notou quando parei de desejar você.

Vê-lo falando daquela forma odiosa comigo fez meu coração doer. Mesmo com brigas, mesmo não tendo a melhor relação nos últimos meses, eu não imaginava que chegaria a esse ponto.

— Você me fez uma promessa, seu desgraçado. Você olhou para mim e jurou não me trair. Namjoon eu confiei em você! — levantou-se, e aproximou-se de mim.

— Então o erro foi todo seu — tentei acertá-lo de novo, mas ele me segurou pelos pulsos — Se quer descontar suas frustrações o faça chorando seu ouro num travesseiro, não em mim.

— Como posso ter errado tanto? Namjoon eu te amava... — ele riu e me girou de uma vez, encurralando-me contra a parede.

— Já fala no passado, querido? — Seu rosto estava perto, mas ele me assustava. Lágrimas se acumularam em meu rosto, o ouro escorria muito quente dessa vez, provavelmente pela raiva e a dor que sentia.

— Eu quero Namjoon de volta, não Zeus — me soltou, recuando como se eu tivesse lhe dado um tapa muito forte.

— Não existe mais distinção — disse, seus olhos pareciam desprovidos de vida — Namjoon e Zeus... somos o mesmo.

— Então que seja só você mesmo sozinho. Eu não estarei ao seu lado enquanto destrói tudo que construímos graças a sua cegueira por poder.

Tentei passar por ele, mas senti sua mão me puxar de volta, prendendo meu pulso com força, forcei o braço tentando soltá-lo, mas o aperto se intensificou, a dor se propagou pelo braço inteiro.

— Está me machucando — grunhi, seu aperto não aliviou — Namjoon, você está me machucando!

— Você não vai me deixar! Não pode me deixar!

— Me solta, Namjoon! — A porta do quarto foi aberta, Taehyung e Jackson estavam parados do lado de fora, olhando para nós, aguardando uma explicação. O aperto afrouxou.

— Tem algo errado aqui? — Taehyung perguntou — Vocês estavam gritando meio alto.

— Não tem problema algum — me soltei e fui em direção a Taehyung — Namjoon precisa ficar sozinho. Eu vou para casa.

— Seokjin! — ele me chamou, mas ignorei, quando fez menção de vir até mim, Jackson se colocou no caminho, como uma barreira entre nós dois.

— Namjoon, chega. Deixa ele — Jackson falou, segurando seus ombros — Qual é, Joon. Você precisa sair dessa loucura. Podemos te ajudar se estiver disposto.

— Eu não estou louco! Vão embora, todos vocês. É melhor que eu fiquei sozinho mesmo.

Saímos os três, fechando a porta em seguida. Sentia o olhar dos outros dois sobre mim, se estavam ali há algum tempo é bem óbvio que nos escutaram. Eu não queria acreditar nas palavras de Namjoon. Ele não me trairia assim, nós estávamos bem antes, antes que ele começasse a se perder. Aquilo era Zeus. E Zeus nunca soube o que é fidelidade.

— Você está bem? — Jackson perguntou primeiro.

— Acredite em mim, tudo que não estou, é bem.

+++

MIN YOONGI

[HADES]

10 dias antes do assassino

Faltavam pouco menos de uma hora para ultrapassar o limite, Jimin teria de voltar a Busan antes do meio-dia, mas ele não parecia nem um pouco disposto a ir, agarrado a mim como um coala. Às vezes eu pensava se Namjoon estava certo, porque definitivamente ele merecia alguém melhor do que eu. Sequer tinha muitas certezas sobre meus sentimentos. Na verdade, a não ser de meu próprio trabalho, eu quase nunca tinha certeza de porra nenhuma. A única certeza que tinha era de que não queria perdê-lo. E não iria. Foda-se a loucura de Namjoon - agora muito mais acentuada que meses atrás - eu ficaria ao lado de Jimin enquanto ele me quisesse.

Sendo bem sincero, eu não queria travar uma guerra, então estava ponderando para falar com Namjoon - na esperança de que ele voltasse a razão - porém depois do que ele fizera a Hoseok, minha fé numa melhora desapareceu no fundo do Tártaro. Eu nunca fui muito fã de tornar Namjoon líder, porque estava de saco cheio de Zeus há uns bons éons.

Nossa relação tornou-se menos prejudicial nessa encarnação, ele parou de me acusar por cada unha sua quebrada e cada arranjo cósmico que não dava certo, o que para mim já estava de bom tamanho. Claro que não era tudo maravilhoso e ele continuava a me atribuir culpa vez ou outra. No último ano isso acentuou um pouco mais e nunca foi um grande problema até ele me negar o patronato de Daegu. E agora tentar tirar o Jimin. Isso ele já tinha passado de todos os limites.

O alarme do celular apitou, avisando que nosso tempo já estava no fim. Antes eu achava 6 horas um tempo completamente aceitável, brigávamos o tempo todo, conviver no mesmo ambiente era um sacrifício. Agora as seis horas para mim passavam tão rápido quanto seis minutos.

— Jiminnie — chamei, porém ele se agarrou mais a mim, maneando que não com a cabeça pressionada em meu peito.

— Falta 20 minutos ainda. Só mais um pouquinho — resmungou como uma criança. Ri um pouco.

— Vamos, nada de explosões dessa vez. Ah! — exclamei quando virou o rosto contra meu peito e cravou seus dentes na minha pele — Porra, Jimin! Doeu!

— Era para doer mesmo! Você disse que não ia mais falar disso — se levantou da cama, e começou a se vestir, andando pelo quarto pisando firme. Tentei não rir porque o deixaria com mais raiva, mas ele era muito fofo para levar sua irritação a sério.

— Desculpe. Eu não queria ter lembrado — falei, me levantando já que o tempo já estava muito menor agora e precisava ir também. O envolvi num abraço que tentou recusar — Por favor, Jiminnie — pressionei um beijo em seu pescoço e ri um pouco ao senti-lo estremecer — Me desculpe. Eu te encontro amanhã, com tudo a respeito de Namjoon resolvido e talvez consiga recuperar sua flecha.

— Não preciso. Destrua, é melhor — assenti, segurando seu rosto entre minhas mãos e pressionei um beijo em seus lábios — Até amanhã.

— Até — murmurei, dando-lhe beijos curtos, com a vontade de deixá-lo rapidamente indo embora — Quanto tempo ainda temos?

— Uns dez minutos? — disse em dúvida, passando os braços em volta do meu pescoço.

— Droga. Eu não quero que você vá — seus lábios tocaram meu rosto e os dentes marcaram levemente meu queixo — Você está gostando muito de me morder — riu um pouco.

— Você é macio.

O alarme tocou novamente. Cinco minutos. O tempo passava rápido demais para mim.

— Temos que nos afastar...

— Eu sei — tocou a ponta do nariz com o meu — Eu te amo.

Travei.

Não era a primeira vez que ele dizia isso, no começo eu não levava muito a sério, porém conforme o tempo foi passando, o desejo de dizer o mesmo começou a crescer. Mas eu não conseguia! As palavras entalavam em minha garganta.

— Não precisa dizer também. Estarmos juntos já é o bastante, já disse isso — sim, ele já tinha dito. Isso me doía um pouco mais, porque minha incapacidade de verbalizar o que sentia fazia parecer que não era retribuído. Ele me deu um abraço, e assim como todas as vezes em que fazia isso, logo após minha tentativa falha de falar sobre meus sentimentos, eu imaginava que ele enfim havia se cansado e iria me deixar.

"Diga, Min Yoongi, apenas diga!"

— Me fale o que Namjoon disser quando eu voltar. Vai dar tudo certo.

(...)

— Você deu sorte — Jackson me alertou logo que saiu da sala de Namjoon, fazendo sua função número dois, o de entregar cartas. Era surpreendente ele mesmo vir e não mandar o escravo particular — Namjoon está mais normal hoje. Acho que a loucura está dando sinais de alívio.

— Talvez eu deva esperar para conversar com ele? — baixei o tom de voz — Eu não quero piorar a situação.

— Se veio falar sobre ficar com Jimin sua resposta seria um não mesmo que ele fosse a criatura mais sã da galáxia — Jackson colocou uma mão sobre meu ombro — E vai mesmo pedir isso? Sempre achei que não gostasse de ninguém além do Holly. Ai! — exclamou quando fiz minha pele esquentar abaixo de seus dedos.

— Não fique me tocando.

— Ah, vai se foder. Todo mundo pensa isso, não sou só eu — sabia que sim. E se todos estivessem certos? E se eu não conseguisse retribuir? Jimin me deixaria... Ele com certeza seria muito mais feliz sem mim. Contudo, somente a ideia de vê-lo com outra pessoa me provocava um sentimento estranho, que não conseguia explicar, mas que comprimia meu peito — Yoongi? Eu não falei para você entrar numa crise existencial, cara. Vai lá, boa sorte.

Assim que entrei na sala, meus olhos focaram imediatamente no objeto na estante logo atrás de Namjoon, a flecha de Jimin. Namjoon parecia realmente melhor do que vi no templo quando Hoseok tentou a elevação divina para Sun. Talvez fosse um bom presságio, me sentei diante dele.

— Faz um tempo desde que veio me ver, irmão — ele começou.

— É... o hades me ocupa muito.

— Mas ouvi dizer que não passou o último mês lá. Que estava no Arcádia, Baekhyun até lhe deu um quarto próprio, algo que só Taehyung e Jimin tinham.

— Foi muito bem informado, não é? — eu sempre fui meio cínico, mas odiava cinismo em outras pessoas. E Namjoon estava me irritando.

— Diga logo o que quer, Yoongi?

— Reabrir a assembleia divina — ele riu, em escárnio.

— Para revogar a decisão quanto a você e Jimin?

— Não — isso o desarmou — Para escolher um líder. Você não foi escolhido por uma assembleia, sua eleição não é válida — vê-lo em choque me deu alguma satisfação. Ele não esperava por algo do tipo.

— Tudo isso é porque me opus a você e Jimin? — apoiou as mãos na mesa, ouvia os trovões do lado de fora, a manhã rapidamente se tornando cinza do lado de fora.

— Você não vai usar aquela merda de flecha de amor em mim. Eu não vou deixá-lo, Namjoon — bastou um gesto meu para fazer a flecha atrás dele entrar em combustão, destruindo como se fosse de papel, até sobrar apenas pó dourado.

— Eu tenho outra. Muito bem guardada — ressaltou — Mas não se preocupe, não usarei com você. Usarei nele. Quero olhar bem para você quando Park Jimin estiver completamente apaixonado por mim.

"O que? "

— M-Mas... S-Seokjin? E... J-Jimin não aceitaria ser sua segunda opção.

— Amantes nunca foram uma novidade para mim e Seokjin sabe disso. E Jimin estaria tão louco de amor que aceitaria qualquer coisa.

— Não.... Não, não! — me pus de pé, querendo muito quebrar todos os seus dentes. — Está fazendo isso só para me tirar tudo, não é? Tudo que me era importante você tirou de mim enquanto me joga no inferno, longe de todos os outros!

— Sim — admitiu, e sua calma ao falar me fez odiá-lo um pouco mais — Você é o deus da morte, é certo que viva só. E você não o ama, Yoongi. Tenha um pingo de decência, só tem medo de passar a eternidade sozinho. Foi por isso que sequestrou Perséfone milênios antes, por isso faz Jimin de idiota por anos! Porque você é um covarde!

— Você não vai tirá-lo de mim! — em meu ódio os papéis em sua mesa incendiaram, e me encolhi um pouco quando os vidros da janela estouraram, voando cacos por todos os lados. Geralmente odiava como meus acessos de raiva provocavam um rastro de destruição totalmente fora de meu controle, mas daquela vez, deu-me alguma satisfação.

— Você vai perdê-lo de qualquer forma. Quando ele enfim notar que você é incapaz de amar, ele vai deixá-lo. Eu não preciso arruinar sua vida, Yoongi, você já faz isso muito bem.

Limpou os cacos de vidro da roupa e seguiu em direção a porta.

— Agora você já pode ir embora da minha casa, não temos mais nada para conversar. Irmão.

+++

KIM TAEHYUNG

[POSEIDON]

10 dias antes do assassinato

— Tio Tae! — Jeongyeon gritou quando sua lança voou numa parábola direto para o rio Han. Jongin ao seu lado ria da mira errada da garota enquanto Shownu anotava o placar dos dois. Com o erro dela eles tinham acabado de desempatar. Acenei com a mão, fazendo o rio jogar a lança de volta, que voou alto até cravar no chão ao seu lado — Valeu!

O dia estava incomumente bom. O sol brilhava, o que indicava que Hobi estava tendo um dia melhor do que os anteriores, o jardim estava mais florido e os primeiros sinais da primavera estavam finalmente despontando. Deitados ao meu lado na grama estavam Holly e Yoonji, a loba de Jongin. Todas as vezes que ele a trazia da reserva eu ria um pouco comigo mesmo e com minhas lembranças antigas.

Lembrava bem do dia que Namjoon chegou com a filhote de lobo cinzento para Jongin na tentativa de conquistar a criança, ele ficou maravilhado e provavelmente foi o único bom momento deles juntos, até a ocasião de dar um nome. Namjoon queria algo que relacionasse a relação divina de ambos. Sugeriu Flecha, Arcana, Luna. E Jongin com seu ótimo temperamento em seus cinco anos de idade deu o melhor nome que poderia pensar.

"Ela vai chamar Yoonji. " disse, agarrado ao filhote que lambia seu rosto.

Claro que Min Yoongi e Namjoon tentaram argumentar, que não era um nome aceitável para um lobo, que havia nomes melhores e mais originais, mas as bochechas gordinhas e a cara de choro de Jongin o fizeram aceitar o nome. Agora nós tínhamos Yoonji e Min Yoongi, ambos difíceis de lidar e ambos mais amáveis do que demonstravam. Eu sempre achei a escolha do nome, perfeita.

E ambos adoravam o Holly, que era um fator de comparação ainda maior.

Holly como um bom cachorro infernal, dormia. Seu novo local era em cima da loba que o carregava nas costas para todo o lugar. Eu gostava de ficar perto deles. Geralmente animais não me davam tanta dor de cabeça quanto humanos, e eles me faziam lembrar Tipsy, que já não via há uns bons meses. Fazia um tempo que eu não ia ao mar, também. Talvez eu devesse voltar e passar um período, havia prometido a Yixing que iria vê-lo antes das competições para ajudar em seu treinamento nas provas aquáticas.

E não havia nada na terra para mim.

Minha convivência com Namjoon estava difícil, depois da forma como agiu com Hoseok, Sun e Jongin eu simplesmente me recusava a passar muito tempo ao seu lado. Já foi terrível o modo como agiu com Seokjin não muitos dias atrás. Se ele estava disposto a voltar aos velhos tempos e ser uma criatura desprezível, que o fosse sozinho. Eu não era obrigado a aceitar seus desmandos. Talvez fosse seu lado humano que me fez permanecer próximo a ele tanto tempo. Nunca tive uma boa relação com meus irmãos. Com Hades houve uma melhora considerável desde a curta encarnação em Constantinopla. Nessa encarnação atual eu consegui me aproximar mais dele, nos tornamos verdadeiramente amigos. E me tornei próximo dos outros deuses também, porém Zeus... ainda era uma barreira difícil de ultrapassar.

Eu não iria julgá-lo, entretanto. Sua loucura não deveria ser condenada, já que todos passamos por ela. Eu estive quebrado por um longo tempo até me estabelecer como um deus e humano melhor. Não no nível de insanidade de Namjoon, mas Zeus sempre fora um tanto megalomaníaco, não seria incomum o ser até em sua loucura.

— Jongin, a seta tem de ir em 60 graus para cima — Shownu escreveu em sua planilha, me apoiei em meus braços para ver o lançamento — Essa flecha é normal então vai ter que considerar o vento como uma constante também.

— Em lançamento tem de considerar a normal versus peso se...

— Puta merda, parem de ser tão nerds! — Jeongyeon resmungou assim como achei que faria. Minha pequena praga não era muito paciente — Atira logo, Jongin. De preferência erra porque eu quero empatar de novo — ele riu, moveu o arco para cima, com a flecha posicionada, Yoonji e Holly abriram os olhos para ver o lançamento e acabei rindo também. Jongin soltou a flecha que voou alto até perder de vista e depois retornar cravando o alvo, não no centro, mas bem perto.

— Arg! Que diabo! Agora como eu... — ela se calou quando tudo em volta mudou drasticamente, a grama ficou marrom e seca, as flores despetalaram-se todas, secando tanta ao ponto de virarem pó, as folhas das árvores avermelharam como se o outono tivesse retornado em segundos e todo meu jardim morreu.

— Taehyung! — ouvi de longe o clamor da explicação.

— Eu voto que é o Yoongi. E ele está muito puto — Shownu disse, constatando o óbvio.

— Eu aposto que o Jimin largou ele de vez — Jeongyeon largou a lança que segurava e estendeu a mão para Jongin.

— Namjoon foi um idiota com o hyung porque só faltava o Yoongi ficar puto de vez com Zeus — apertou a mão dela, aceitando a aposta.

— Eu apoio o Jongin — Shownu disse e recebeu da garota um olhar indignado.

— Você não pode ficar do lado dele, grandão!

— Taehyung! — Yoongi gritou de novo, suspirei exausto, me levantando. Seria melhor ver de uma vez o que houve de tão errado que o fez trazer toda sua fúria mortal contra meu pobre jardim.

— Ji, Holly, vamos. Ao menos vocês podem distrair a raiva dele.

Eu nem precisei caminhar muito já que Yoongi veio até mim, era muito claro quando estava transtornado, ele parecia outra pessoa. Min sempre fora muito calmo, quase inabalável, em geral suprimia sua raiva até o momento de explodir em ódio e aquele era um desses momentos, eu nunca vira algo sequer parecido com aquilo que houve do lado de fora.

— O que houve, irmão? — perguntei, cruzando os braços, mas desfazendo em seguida, quando vi seus olhos úmidos. Min Yoongi à beira das lágrimas era algo que vi poucas vezes em toda minha existência — Yoongi, o que houve?

— Ele quer tirá-lo de mim, isso que houve! — parei um momento, então o guiei para a sala, fechando as portas logo que Holly e Ji entraram também, Min Yoongi sentou-se no sofá, com seu pequeno cachorro infernal ao seu lado e Ji por ser grande demais se contentou em deitar a cabeça em suas pernas. Ao menos isso fez Yoongi acalmar-se um pouco, ele limpou rapidamente as lágrimas antes que pudessem fazer algum estrago — Eu aceitei tudo, Taehyung. Eu nunca reclamei, eu queria fazer algo diferente dessa vez, não ser sempre o vilão da história. Ele disse que vai usar uma das flechas no Jimin. Eu não posso perdê-lo, Taehyung.

Eu tinha de admitir estar surpreso. Eu nunca acreditei na reciprocidade dos sentimentos entre Jimin e Yoongi. Acho que todos nós sempre achamos que o amor só partia de Jimin para Yoongi, não o caminho de volta. Mas isso ao menos era bom, talvez não fosse amor, mas se ele se importava o suficiente para sofrer por isso já era melhor do que podia esperar.

Num instante ele se pôs de pé, incapaz de expressar da maneira que estava, toda sua frustração.

— Eu vi no modo como ele falava, Taehyung. Como disse que usaria a flecha, ele vai fazer o meu Jimin se apaixonar por ele! Ele admitiu! Como se não bastasse trazer uma das amantes para essa encarnação, agora ele quer fazer o meu Jiminnie de amante também! Mas eu devia ter visto, devia ter notado, ele sempre esteve lá... rondando. Fazendo o Jiminnie acreditar em suas mentiras para que pudesse usar a flecha nele sem empecilhos — Yoongi falava muito alto, tomado de raiva, era óbvio que os outros três estavam ouvindo cada palavra. Um pouco mais alto e humanos do outro lado do rio o escutariam — Eu não vou deixar, Taehyung!

— Yoongi, calma, em nome de Gaia, ao menos respire enquanto fala! Tem mais gente aqui, não precisa gritar para a cidade toda escutar!

Ele parou, respirando alto e depois sentou-se novamente.

— Pode me explicar tudo do começo? — pedi, ele travou a mandíbula, assentindo algumas vezes. Holly deitou-se no colo dele, aconchegando-se como um gato e dormiu logo em seguida, assim como Ji fez o mesmo, com a cabeça ao lado do corpo pequeno de Holly. Jongin teria muito trabalho com a loba quando tivesse de levá-la de volta para a floresta.

— Ele acha que eu e Jimin somos um problema. Ele conseguiu uma das flechas de cupido e vai usá-la em Jimin, para que ele deixe de me amar. O que mais ele quer, Taehyung? Eu me releguei as sombras em função de Zeus, você é o patrono de Daegu porque ele não me permitiu ser, porque as pessoas teriam medo de mim, você sabe o quanto amo aquele lugar e o quão foi difícil abrir mão. Zeus nunca confiou e eu estou cansado disso — o ar da sala pesou muito, conforme seu ódio crescia — Você tem de fazer alguma coisa.

— Eu?

— Sim. Não existe mais motivos para aceitar os comandos de Zeus. Nunca houve uma assembleia para aceitar sua liderança, nós decidimos entre nós, nem estávamos todos juntos, a maioria ainda era criança!

— Só eu e você contra ele não seria o suficiente — ele riu um pouco alto.

— Só nós? Me diga alguém que está feliz com a liderança de Namjoon? Nem mesmo Seokjin ficará ao lado dele, eu poderia apostar nisso — afastou os cabelos da testa e respirou fundo, estava realmente nervoso — Nós temos de agir agora, Taehyung. Antes que a insanidade dele nos leve a ruína. Você consegue argumentar muito melhor que eu, você pode pará-lo.

— Talvez argumentar não seja o bastante — murmurei, mais para mim mesmo que para Yoongi.

Eu sabia que não era. Namjoon não abriria mão do poder tão fácil, há muito tempo que ele se tornou obcecado pela liderança e nos últimos meses, com sua loucura, tudo fora elevado a um grau ainda pior. Um líder não pode se dar ao luxo de ser um louco.

— Se ele exceder os limites eu vou intervir. Não sei como, nem em que proporção, mas o farei — estendi a mão para Yoongi que a aceitou — Você tem minha palavra, irmão. Zeus não vai nos destruir.

+++

JEON JUNGKOOK

[QUEM SABE?]

Foi muito pior dessa vez, senti como se toda força de meu corpo houvesse sido drenada. Em algum momento durante o tempo que apaguei, Moros - ou agora Hansol, eu teria de me habituar ao novo nome - me levou para a biblioteca e me colocou em sua poltrona. Despertei das lembranças meio sentado, com meu corpo descrevendo um arco desengonçado, e quando pude me aprumar, senti as costas doerem.

— Tudo bem? — assenti, encostando a cabeça no estofado, Moros estava sentado no chão, perto das prateleiras, com mais um de seus livros, em seu colo — Todas as lembranças foram de deuses primordiais, a sensação de exaustão é muito maior, mas já vai passar.

— Ok — murmurei — É... Hansol? — chamei, e fiquei um pouco satisfeito por ele responder ao nome — Por que falam tanto de loucura? Eles mencionavam o tempo todo sobre a loucura de Namjoon.

— Porque é terrivelmente comum. A mente humana não foi preparada para suportar um deus em seu sistema. Você viu o que houve com Taehyung somente no processo de recuperar lembranças, aquilo podia ter rompido sua mente por completo. O mesmo aconteceu com todos os outros. Mas em Namjoon não era somente a loucura, eu acredito que ele e Zeus realmente se tornaram um só, mas que a parte divina assumiu muito mais. Como um transtorno de personalidade. Ele não ia melhorar.

Ele se tornou um monstro e deu motivo para todos.

Muito me surpreendia eles tentarem achar um culpado, mas também, logo no começo da investigação, sempre achei que ninguém queria realmente achar o assassino, que tudo era muito mais uma questão de orgulho divino do que real importância sobre quem matou Zeus.

Agora eu entendia porque quase nenhum deles estava disposto em me ajudar.

— Eu não sei o que fazer — confessei — Existem mais lembranças? Nenhum deles fez uma ameaça direta e todos queriam se livrar de Namjoon. O que eu posso fazer?

— Não sei. Não sei sobre as lembranças, nem sobre o que você pode fazer, garoto. Preciso de algum tempo.

Assenti, em compreensão. Guardando-me um pouco mais de silêncio.

— Moros?

— Sim.

— Eu precisava mesmo ver aquela parte do Yoongi com o Jimin? — A questão ao menos nos fez rir um pouco.

— Eu consegui te poupar do sexo, então fique satisfeito. Você não está podendo escolher demais. Ah! Seu livro — balançou o livro pequeno em minha direção, me obriguei a levantar, quando percebi que ele não o traria até mim, e sentei no chão ao seu lado. Era um livro fino, pequeno, com a capa dourada como todos os outros — É um catalisador de memórias. Ele te ajuda a lembrar do seu próprio passado, mas não se anime muito, ele só mostra um número limitado de conteúdo. Abra em qualquer página, coloque a mão sobre a folha e... só isso — colocou o livro em meu colo — Veja quando quiser, sei que já viu memórias o suficiente por hoje, então não precisa ter pressa. Mas não pode tirá-lo daqui, não funciona em outros lugares — levantou-se, para em seguida me deixar sozinho do cômodo.

Olhei para o livro, incerto sobre ver ainda mais lembranças, mesmo que fossem minhas. Eu poderia muito bem ver depois, porém a curiosidade estava falando mais alto dessa vez, muito mais que as memórias que tinha acabado de ver. Eu não queria pensar nelas por enquanto, especialmente depois de ver um pouco da mente de Taehyung.

Respirei fundo e abri o livro na primeira página. Não havia mal algum tentar.

Coloquei a mão sobre a folha.

"Havia muita água.

Eu era jogado de um lado para o outro enquanto o oceano parecia me puxar para baixo. Muito longe eu ouvia a voz do meu irmão, gritando por mim. Eu não podia ver o barco, mas estava perto, sabia que estava. Podia ouvir meu avô gritando por mim também.

Mesmo em minha mente infantil eu sabia que iria morrer. Não havia como escapar.

— Hyun! — ainda gritei, clamando por alguma ajuda, um pouco mais adiante eu consegui vê-lo, uma mão segurando a corda do barco e outra esticada, tentando me alcançar.

A correnteza nos afastava e se ele soltasse a corda talvez fosse arrastado também.

— Jungkook! — ouvi a voz de meu avô acima da tempestade, podia sentir seu desespero.

— Ajusshi! — Minhas lágrimas se misturavam com a água do mar, meu corpo continuava sendo arrastado, porém eu mesmo não me movia, os braços e pernas se recusavam a me obedecer. Enquanto a água tentava me cegar, entrando em meus olhos, pude ver meu avô, agarrado à borda do barco e mantendo a corda firme para Hyun me alcançar. Não havia como. A correnteza continuava a me puxar para longe deles.

— Te peguei — Hyun exclamou, ele havia se soltado da corda para me alcançar, me agarrei firme a ele enquanto nadávamos de volta para a corda, ele segurou-a primeiro e me fez segurá-la também, escorregava muito então tentei abraçá-la, consegui a custo. Por um instante eu achei estar a salvo.

— Eu vou puxar vocês! — meu avô gritou, ao mesmo tempo que Hyun tentava nos mover para mais perto do barco — Segurem! — meu avô gritou um segundo antes da onda nos cobrir, minhas mãos escaparam de Hyun e da corda, a água me arrastando para muito mais longe dessa vez, me debati em busca da superfície, mas não conseguia alcançá-la. O mar não tinha fim. Abri os olhos, sentindo-os arder, mas eu buscava ao menos uma luz da superfície. Não havia luz. O mar era um pesadelo escuro e sufocante. Continuei me debatendo até alcançar a superfície, porém ela me pareceu ainda mais cinza que a água que antes me rodeava.

— Hyung! Vovô!

— Jungkook! — era a voz de meu avô, muito distante, o barco parecia menor daquele ponto — Hyun! Hyun! — ouvi-lo chamar por Hyun mais de uma vez encheu meu coração de medo. Ele não tinha emergido — Jungkook!

Mais uma onda veio, me arrastando para o fundo. Eu iria morrer. Então apertei os olhos com força, deixando o medo dominar todo o meu corpo. Eu nunca tinha feito orações, mas se houvesse algum deus me ouvindo, desses que eu via apenas na TV e que agora regiam nosso mundo, se um deles pudesse me ouvir, em meus pensamentos, que eles salvassem Hyun.

Tudo estava escuro e silencioso. E mesmo que nunca tivesse passado por nada sequer parecido, eu sabia que aquilo era o silêncio que antecede a morte.

(...)

— É uma criança! — senti braços em minha volta, engasguei com a água, tossindo-a, o vento frio fez meu corpo tremer, apertei os olhos tendo o vislumbre do grande navio em azul e vermelho, com um grande tridente desenhado nele. "Netuno III" era o nome inscrito nele — Você está bem, garoto? — O homem perguntou, mas eu não conseguia falar. O marinheiro subiu em algo parecido com um elevador na lateral do navio, haviam mais pessoas lá, e de repente todas me rodearam, olhando um tanto incrédulas. Um deles me enrolou num cobertor cinza e grosso que jogaram para ele do topo da embarcação.

— Você foi pego pela tempestade? — assenti, choramingando. Eu queria meu hyung. Vovô devia estar preocupado comigo. O céu não estava mais escuro então eles deviam estar me esperando no lugar grande de barcos que eu não lembrava o nome. Cais. Os rostos a minha volta pareciam todos iguais, e sentia as lágrimas escorrendo. Eu não conhecia aquelas pessoas, eu só queria ir para casa.

— Como ele sobreviveu tanto tempo no oceano? — um deles questionou — Ele nem mesmo engoliu tanta água.

— É cedo para dizer, nós temos de levá-lo à um hospital. Você sabe o nome e telefone dos seus pais? — assenti mais uma vez, eu queria falar, mas não conseguia. As palavras engasgavam em minha garganta.

— Poseidon deve gostar muito de você, garoto. "

Soltei o livro, respirando com dificuldade. Foi como se eu visse minha própria história e narrasse ao mesmo tempo, fora estranho. Como um dos muitos sonhos vividos que agora eram meu tormento. Fiquei inseguro sobre continuar ou não a "leitura". Não estava me fazendo sentir bem, contudo, ao menos podia me lembrar de coisas que se perderam na minha memória. Algo que talvez explicasse o que eu era.

Quando fui a Busan, meu pai disse acreditar que Taehyung havia me poupado. Que meu salvamento fora milagroso. Realmente foi. Eu deveria ter morrido naquele dia. Segui olhando para as páginas em branco, Moros disse que não era um relato completo e apesar de que remoer aquela dor não era algo que eu estava disposto a fazer de bom grado, eu ainda sentia o impulso de continuar.

Toquei o livro, seguindo adiante.

"O hyung vai voltar.

Ele tinha de voltar. Eu vi minha mãe chorando e meu avô também, ele me abraçou dizendo não ser minha culpa, mas eu sabia que era. Eu que pedi para que fossemos pescar. Eu que insisti para Hyun ir no passeio um dia antes de sua mudança para Seul. A namorada dele esteve lá e veio me ver. Ela chorava muito e gritou que eu era o culpado, que eu destruí a vida que ela teria com meu irmão. Eu não disse nada, apenas assisti em silêncio meu pai tentar acalmá-la e mamãe me abraçar dizendo que eu não devia dar ouvidos a ela, que a garota só dizia isso porque estava muito triste e dizemos coisas terríveis quando estamos tão tristes assim.

Eu ainda esperava que meu hyung estivesse vivo. Ele sempre nadou bem, ganhou todas as competições do colégio segundo o que nosso pai dizia. E não passou tanto tempo assim. Talvez outro barco o tenha encontrado.

— Ele não fala uma palavra desde que saiu do hospital — ouvi minha mãe falando com alguém, seu tom de voz era baixo, mas no silêncio da casa era possível ouvi-la bem — Ele nem mesmo come. Eu não quero perder outro filho. Não, a guarda costeira ainda não encontrou o Hyun.

Ouvi-a chorar baixinho e em seguida o som da campainha da porta.

— Alguém chegou, ahjumma. Eu ligo mais tarde.

"Talvez fosse o hyung" pensei, então pulei da cama e abri a porta, com todo o cuidado, para que pudesse olhar em segredo e não preocupar minha mãe. Me apressei pelo corredor e me encolhi junto à porta do quarto de Hyun, para que não fosse visto por quem estivesse na sala também.

Havia muita luz do lado de fora, o que ocultava a face do estranho que falava com minha mãe. Ele era mais alto que meu irmão, pendurado em sua mão havia um daqueles pingentes com o tridente, que oficiais da marinha usavam, para indicar seu serviço ao deus dos mares.

— Eu sou Poseidon — ele disse, e recuei um passo por instinto — Sinto muito pelo que houve com seu filho. Eu... — ele parou um momento — Eu trouxe o... corpo de volta, lamento não ter podido salvar sua vida — mamãe começou a chorar, minha visão embaçou enquanto as lágrimas se acumulavam. Até aquele momento eu ainda tinha esperanças, Hyun sempre disse que deuses eram bons, que ajudavam as pessoas, porque eles não eram bons agora? Por que não tinham feito nada para salvá-lo?

Mesmo com a luz do sol ocultando o rosto do deus quase completamente, quando olhei em sua direção mais uma vez, eu sentia seus olhos sobre mim.

Corri de volta para o quarto, ainda podia ouvir mamãe chorando e conversando com o deus então coloquei o travesseiro sobre a cabeça, tentando abafar o som. Não consegui ficar com o travesseiro por muito tempo, a sensação de falta de ar me fez lembrar do mar e acabei por atirar o objeto longe, respirando com dificuldade. A almofada acabou por acertar a estante de livros do quarto, apenas um livro caiu.

A ilíada.

Hyun dizia que eu seria um herói com Aquiles. Eu não era um herói. Ele morreu por minha causa. Eu era um monstro.

Eu matei meu irmão.

Fui até o livro, abrindo suas páginas cheias de ilustrações que não estavam ali originalmente, Hyun tinha feito a maioria delas para me fazer ler o livro mesmo sendo tão difícil de compreender algumas palavras, em seus desenhos Aquiles parecia comigo. "Você não vai ter pontos fracos, irmãozinho. Nada de calcanhar de Aquiles. Você é invencível. O grande herói, Jungkook". Ele estava errado. Eu odiava deuses. Odiava aquele livro estúpido. Deuses não me importavam mais.

Melhor seria se nenhum deles existisse"

Larguei o livro mais uma vez, reviver aquelas memórias em específico não estava sendo uma experiência agradável. Eu poderia continuar depois. Sim. Eu só precisava de um momento para me habituar.

Eu não lembrava de ter visto Poseidon naquela manhã. Na verdade, pouco daqueles dias sobreviveram nas minhas lembranças. Mas eu lembrava dos dias que sucederam. Do enterro de meu irmão. De meu pai retirando tudo que tivesse haver com deuses de nossas vidas. Ele jogou a Ilíada fora, mesmo que eu quisesse preservar como uma memória de Hyun. Lembrava também dos dias que me mantive em silêncio. Passei quase um ano sem dizer uma única palavra, mesmo fazendo terapia. Quando necessário, eu escrevia. Ou rabiscava um desenho quando precisava ser específico.

O mar seria meu fantasma para sempre. Não importava os anos de terapia ou as bênçãos que Taehyung tivesse me dado, foi o mar que arruinou minha vida.

— Já é tarde, Jungkook — ouvi a voz de Moros. Hansol. Precisava mesmo me habituar ao novo nome — Você já está aqui a muito tempo, pretendo devolvê-lo ao amanhecer. Os outros deuses devem querer você de volta — ri um pouco do modo que disse, como se eu fosse uma criança em guarda compartilhada. Fechei o livro e coloquei na prateleira atrás de mim, vendo-o desaparecer entre vários outros que surgiram.

— Eu nunca mais vou encontrar? — indiquei a estante.

— Irá, ele é seu afinal de contas. Se precisar dele de novo a biblioteca o trará de volta — assenti, ele se aproximou, parando ao meu lado e começou a procurar algo nas prateleiras. — Aqui — puxou um livro que fez meu coração gelar por um segundo, a capa marrom com o herói em relevo dourado, já desbotado, era o mesmo que eu vi nas lembranças.

Moros me entregou e busquei a primeira página.

"Para o meu pequeno herói, seja forte como Aquiles e invencível como ele nunca foi". Até mesmo o coelho segurando uma espada estava ali, assim como ele havia desenhado muitos anos antes.

— É o mesmo... — murmurei, Moros assentiu.

— O submundo as vezes guarda pertences nunca encontrados. Foi bem fácil achar esse.

Folheei as páginas, as ilustrações feitas a lápis estavam mais desbotadas, mas ainda possíveis de ver. Algumas ainda estavam coloridas, de giz de cera e canetinhas, de modo pouco artístico já que eu o fazia no auge de meus 5 anos. Ri um pouco, lembrando-me de como Hyun observava eu estragar seus desenhos com aquelas pinturas horríveis. Eu achava que não tinha lembrança alguma daquele tempo, mas ao ver os desenhos comecei a lembrar de cada dia que foi feito. Me lembrei da espada de brinquedo que ganhei com 4 anos. Hyun sempre disse que eu era especial.

Abracei o objeto, pressionando contra o peito e me permiti chorar um pouco por meu irmão, algo que não fazia a muitos anos. Sempre tentei ser forte, para que meus pais o fossem também. Mas dessa vez eu não precisava, nenhum deles estava ali para ver minha dor, então eu podia me permitir ser fraco, ao menos um momento.

Então chorei tudo que pude. Até bem mais que na noite anterior depois de despertar do sonho. Apertando ainda mais o livro, como se fosse o próprio Hyun. Eu não costumava ter muito dele comigo desde que deixei Busan. Agora tinha.

— Obrigado — sussurrei para o deus, e quando o olhei seu sorriso pareceu mais natural em seu rosto verdadeiro. Hansol talvez fosse melhor que Moros, assim como Namjoon costumava ser melhor que Zeus.

— Você pode levá-lo quando voltar — estendeu a mão para mim - quando já estava calmo o bastante - me ajudando a levantar — Considere como um presente-bônus.

Assenti uma porção de vezes, agarrado ao velho livro e limpando qualquer resquício de lágrimas. Moros saiu na frente, mas antes que fosse notei a porta aberta para o outro cômodo, dali era possível ver as portas para a sala de armas. Estavam entreabertas e uma fraca luz dourada escapava pela fresta. A curiosidade lentamente me consumiu. Eu precisava ver o que tinha lá dentro.

— Vamos, Jungkook. — insistiu, e me obriguei a segui-lo.

E eu iria ver o que tinha lá.

+++

Esperei muito tempo, sentado no chão e ignorando o sono que já me dominava. Quando pareceu que estava seguro o bastante abri uma das gavetas, retirando de lá um dos rolos de linha vermelha. Eram bem grandes e serviriam para o propósito, porém por segurança peguei mais um, equilibrando de maneira ruim embaixo do braço. Puxei a ponta do primeiro, abrindo a porta devagar e amarrei o fio na maçaneta. Eu usaria os fios para me guiarem pelo labirinto de corredores até a biblioteca.

Eu tinha uma noção bem ruim de direção, mas se tudo desse errado eu seguiria o fio de volta e tentaria numa próxima vez.

Comecei a desenrolar o rolo de linha, tomando o cuidado de não o deixar tocar no chão e comecei a avançar pelos corredores, devagar, sentindo-me exausto a cada passo. Todos os corredores pareciam iguais, compridos, com o mesmo número de portas de ambos os lados, mas eu sabia que o caminho era o oposto ao que seguimos para a sala de jantar, então já me dava alguma orientação. O rolo de linha já estava bem menor quando vi as familiares portas duplas que indicavam a biblioteca. No silêncio da casa, o "clique" da porta sendo aberta soou muito alto, abri a porta e deixei-a assim, desenrolei um pouco mais do rolo e segui para as portas seguintes, o barulho dela abrindo foi menor que da anterior. Assim como vi mais cedo, as portas da sala de armas permaneceram entreabertas, comecei a dar a volta, passando largo pelo vão no meio da sala. Eu conseguia ouvir algo zumbir lá de baixo, como se fosse o vento passando por árvores, ignorei a curiosidade e segui até parar diante das últimas portas.

Eu estava com muito sono e senti ficar ainda mais sonolento ali. Comecei a considerar se não era a casa tentando me distrair. Ainda assim, entrei.

Não era o que eu esperava.

Na verdade, Moros era um belo filho da puta. Haviam mais umas vinte portas lá dentro, todas lacradas com barras de ferro, um grande espaço vazio e um pedestal no meio, com um suporte desocupado. Ainda assim me aproximei, pois reparei numa pequena placa de ouro. Provavelmente indicava a arma que estava ali antes.

Olhei para a inscrição na placa, relendo várias vezes, como se as palavras fossem mudar, mas não mudaram.

"God Killer"

O choque me fez afrouxar os dedos e o rolo de linha caiu de minha mão, demorei um segundo para me dar conta do erro quando olhei para o chão e a linha tinha desaparecido. "Não, não, não..." recuei um passo após o outro para fora, sem muita certeza do que fazer, estava até meio tonto, entorpecido pela confusão e sono. O outro rolo de linha acabou caindo também, mas eu não me importei. Minha mente tentava entrar em ordem. Os deuses disseram que God Killer ficava guardada no submundo. Esse era o submundo? Ou eles mentiram? Aquilo queria dizer que a espada pertencia a Moros anteriormente? O que isso significava?

— Tem alguém aí? — ouvi alguém chamar, a voz vinha do corredor, se Moros me visse ali bisbilhotando eu estaria muito fodido, corri de volta para a biblioteca obrigando-me a pensar numa desculpa — Jungkook? — meu coração falhou uma batida quando reconheci a voz de Taehyung, reagi sem pensar, seguindo para fora e reconheci sua silhueta no fim do corredor. "Mas como... Moros o teria trazido? Por quê? "

Então ele se virou, chegou mais perto, e pude ver seu cabelo vermelho e seus olhos homicidas.

— Obrigado por me deixar entrar, Assassino dos deuses.

"Ah, não."

Um grito ficou entalado em minha garganta quando uma parede surgiu de lugar nenhum, separando-nos. No segundo seguinte um corredor surgiu bem ao meu lado, com a mesma luz azul daquela manhã. A compreensão veio num segundo.

A casa estava me ajudando a fugir.

Corri, seguindo por corredores que se abriam e fechavam logo em seguida, com paredes mudando de lugar, criando um labirinto insano. Eu sentia o espírito atrás de mim, podia ouvi-lo me chamando.

"Você é meu, Assassino dos deuses. Você é meu. Meu, Jeon Jungkook!" sua voz parecia cada vez mais perto, e eu olhava constantemente para trás, temendo que fosse meu último vislumbre de vida. Aquela coisa me mataria.

"Você é meu, Jungkook."

Os corredores escuros e idênticos me sufocavam junto com o medo, eu sentia a presença daquela coisa, como um peso em meus ombros, então corria mais, minhas pernas doendo como um inferno, mas não podia parar. Eu tinha de achar Moros.

"Não fuja, Jungkook. Você é meu. Você é meu." Eu ouvia sua voz na minha cabeça, me fazendo correr ainda mais rápido. Eu não tinha para onde ir. Ele ia me alcançar. Só parei no momento que me choquei com algo, não sabendo exatamente o que, me fazendo rolar no chão até bater contra uma parede.

"Eu vou morrer. Acabou."

— O que houve? — ergui o olhar, vendo em que eu tinha me esbarrado — Tem um espírito na casa, como essa coisa entrou aqui? — gritou.

— Eu não sei! Ele está vindo, ele vai me matar! — gritei de volta, Moros enfim compreendendo a ameaça — Ele parece com Taehyung, ele... eu... eu não sei, mas está vindo! — Sequer entendia minhas palavras.

— Convoque a espada. Ele está chegando, Jungkook, convoque droga da espada!

— God Killer... — chamei, a espada se materializou abaixo de meus dedos, tentei segurá-la, porém Moros fora mais rápido, empunhando a arma em meu lugar. Vê-lo com a espada o fez parecer divino, muito mais que todos os outros. O espírito duplicado de Taehyung se aproximava, deixando um rastro estranho nas paredes, como ranhuras de fogo.

— Não volte na minha casa, filho da puta — cravou a espada no meio do espírito, mas ao contrário do que fora na vez anterior, quando ataquei o espírito no restaurante, ele não se desfez de imediato, demorou alguns segundos, a tempo de me lançar um último olhar e havia chama em seus olhos, mas por fim desapareceu, numa fumaça densa e negra. Moros largou a espada, e lentamente se virou para mim.

— Um espírito não pode entrar aqui sem que alguém o deixe fazer isso. Só havíamos nós e tenho certeza que não permiti espírito algum entrar em minha casa, então Jungkook, acho que você tem algo para me explicar.

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