God Killer - PRIMEIRA VERSÃO

Von taemeetevil

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[CONCLUÍDO] O mundo é diferente. Os deuses agora vivem entre nós, expandindo seu poder e influência. São mu... Mehr

Prólogo
Zeus
Hera
Hades
Apollo
Eclipse
Humano
Hermes
Ártemis
Moros
Iliada
Receptáculo
Destino
Memória
Tempo
Maldição
Assassino
Eternidade
Arcádia
Baco
Alma
Pothos
Epifania
Dia B
Universo
Hyun
Deus Ex Machina
Deus
Eros
Poseidon
Epilogo
Human Among Gods

Ares

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Von taemeetevil


Voltei para casa sozinho, Taehyung nem mesmo entrou no barco comigo, apenas sumiu tão rápido quanto os nórdicos fizeram, me acompanhando somente até o porto de Jeju. No barco ouvi as pessoas falando sobre os jogos, que tiveram de ser encerrados, não pelo tufão bizarro, mas sim pelo desaparecimento de alguém na ilha. A competição fora remarcada para a semana seguinte, mas nenhum deles sabia sobre a pessoa desaparecida. No caso eu. Provavelmente Yifan faria um comunicado em breve dizendo que fui encontrado, somente para aquietar os nativos e tudo seguiria na normalidade. Talvez dessa vez eu visse pela TV.

Me encolhi no canto da embarcação, tentando olhar para qualquer ponto que não fosse o mar, mas foi uma tarefa quase impossível levando em conta que estaria cercado por água pelas próximas 3 horas. Quando já estávamos perto do continente comecei a reparar nas pessoas apontando para a água. "É um tubarão! ", "Olha, está pertinho do barco". Me inclinei na borda vendo a barbatana emergir e submergir vez ou outra, qualquer pessoa normal se assustaria, mas não pude conter um sorriso. Mesmo com a distância e minha visão horrível, consegui ver que tinha uma marca azulada em forma de seta na cabeça do tubarão, que me pareceu estranhamente familiar. Ele não parecia assustador, assim como o tubarão da lembrança de Namjoon também não parecia. Seria possível que...

— Você é o Tipsy? — sussurrei para o animal, que continuou seguindo o barco de perto, chamando atenção de mais turistas. "Não, nenhum animal viveria tanto tempo" — Mas se for, diga a Taehyung que eu o odeio.

"Aquele... baiacu idiota! " Que culpa eu tinha do Destino me sequestrar? Eu não saí intencionalmente, só fechei a porcaria da porta e sumi por dois dias! Dois dias! Ele devia estar feliz por eu ter voltado, não com raiva por algo que nem escolhi acontecer. Eu estava exausto porque meu corpo sentia a falta de sono durante esse tempo, o cansaço de dois dias sem dormir vindo de uma única vez. Por que era tão difícil acreditar? Para onde mais eu iria? "Peixe-palhaço burro! Cabeça de sardinha! Eu não preciso dele. Não estou interessado, então foda-se tudo isso. "

Quando enfim peguei o trem de volta a Seul, dormi toda a viagem, me sentindo ainda mais quebrado quando acordei. Minha vontade era apenas deitar e dormir pelo resto do dia inteiro, então arrastei meu corpo morto até um táxi que me levou de volta ao meu prédio sujo e sem vida. Ele parecia ainda mais deprimente e pobre depois de ver a casa do Destino e a de Taehyung. "Eu sou muito fodido mesmo. "

Logo na entrada vi o porteiro dormindo, o aviso do elevador interditado e um cara largado nos degraus da escada - apesar de ser muito bonito e bem vestido para ser só um dos meus vizinhos bêbados - com uma caixa nas mãos. Parei um momento para admirar o auge de minha decadência.

— O quão fundo você caiu, Jeon Jungkook — resmunguei comigo mesmo, ficando muito feliz por morar no terceiro andar e não ser uma subida tão sofrida. Consegui subir dois degraus antes de sentir algo agarrar minha perna e gritei alto no susto, fazendo o porteiro finalmente acordar. Olhei para baixo, vendo o desconhecido ainda segurar minha perna.

— Você é Jeon Jungkook?

— Sim, sou eu — o rapaz esfregou os olhos e me soltou.

— Já é a quinta vez que venho aqui. Você é um homem difícil — estalou as costas e se apoiou no corrimão para levantar. — Olá, eu sou Mark. Meu senhor Jackson, me pediu para entregar isso — colocou a caixa em minhas mãos e deu um tapinha em cima da tampa. — Desculpe o atraso, ele tem um milhão dessas e eu sou o único escravo, digo, assistente dele.

Meu cérebro sonolento demorou a associar do que ele falava, até que me ocorreu que Mark era o nome da pessoa que Jackson falou ao telefone quando fui vê-lo. Eu nem me lembrava mais das cartas.

— Ah! Obrigado.

— Boa sorte com a investigação — assenti uma porção de vezes ainda meio aéreo. Continuei parado no mesmo lugar vendo-o ir embora e o porteiro fazer uma reverência a mim e a ao rapaz antes que saísse.

— Bom dia, senhor Jeon.

— Bom dia, senhor Lee — resmunguei, voltando a subir as escadas. Eu não iria ler nada até dormir por pelo menos vinte horas seguidas.

Voltar para o meu pequeno cubículo depois de tanta confusão me deu uma sensação boa de lar que nunca tive antes, como se nada de ruim fosse me alcançar ali, mas bem sabia que isso não era verdade. O espírito disfarçado como meu pai era prova o suficiente. Segui para meu quarto, depois de chutar meus sapatos para a longe, sentei na borda da cama e coloquei a caixa no chão aos meus pés.

— Vamos lá — comecei a girar o pulso. — God Killer? God Killer.... Vamos lá amigo, aparece. — Eu me sentia meio idiota falando assim, mas não tinha ideia melhor, de qualquer forma, nem estava funcionando. — Pensa, Jungkook. God Killer. Espada. Feminino. — Resolvi mudar a forma de tratamento. — Vamos lá, garota? Somos parceiros, não somos? — A sensação incômoda percorreu meu braço antes dos meus dedos se fecharam em volta do punho da espada. Sorri. — Uma garota, certo? — A lâmina emitiu um brilho dourado que me deixou meio desconfortável, como se o objeto pudesse me entender, porém depois de tanta loucura, a espada interagir comigo era o mínimo. A coloquei sobre a tampa da caixa, era a única proteção que poderia dar ao conteúdo caso um espírito tentasse alcançá-lo — Somos amigos agora?

Obviamente a espada não respondeu e dei graças aos céus por isso.

— Boa menina — resmunguei baixo antes de me largar no colchão, do jeito que estava mesmo porque não tinha condições físicas nem de trocar de roupa, demorando apenas alguns segundos para adormecer.

"— É o lugar mais seguro que conheço, podemos ficar bem aqui.

Meus olhos demoraram a se adaptar a luz excessiva, o sopro marítimo jogava o cabelo em meu rosto e a água molhava meus pés. Apertei os dedos na areia úmida, a sensação era boa. Eu ainda não tinha me virado para ver quem falava, mas não precisei, ele parou ao meu lado, segurando minha mão. Ergui os olhos para Taehyung, eu nunca tinha visto sua expressão tão gentil, nem mesmo nas lembranças de Namjoon.

— Eu sinto falta deles. Não foi justo — falei, mas eu não sabia do que conversávamos.

— Não pense nisso, não havia nada que pudéssemos fazer. Pense que o universo conseguiu se ajustar, ele sempre consegue, e o resto de nós ficará a salvo — assenti.

— Tantos morreram, se eu...

— Kookie-ah. Não. Não quero voltar nisso, por favor. Não existe motivo para continuar revirando a mesma dor todas às vezes, nada vai mudar. — Se colocou na minha frente, segurando meu rosto entre as mãos — Olhe para mim, nós vamos ficar bem — fechou os olhos tocando sua testa na minha e afastou em seguida. — Vamos ficar velhos juntos.

— Só eu envelhecerei — disse e soltei uma risada amarga.

— Posso parecer mais velho se quiser. Se te deixar feliz — estendi a mão até seu rosto perfeito. Aquilo estava me angustiando, numa tristeza estranha que eu não sabia de onde estava vindo. Não poderia ser real. Taehyung nunca agiria daquela forma comigo sob nenhuma circunstância, mas assim como foi no penhasco ele me deixou sem ação ao pressionar nossos lábios levemente. — Eu te amo, Jungkook. "

Acordar do sonho foi ainda pior dessa vez, levantei tentando afastar a sensação horrível de ter o peito comprimido. Estava doendo, me sufocando. Literalmente. Apertei os lábios tentando massagear o peito, mas continuava a doer. Busquei por God Killer, mas ela continuou exatamente onde eu a tinha deixado. Voltei a deitar, procurando o telefone nos bolsos, mas antes que eu sequer o alcançasse, a dor se foi, por completo. Respirei devagar, recobrando a calma, tendo certeza que a agonia tinha se dissipado. "Tudo bem, está tudo bem..." Acabei voltando a dormir, por ainda estar exausto demais, sem sonhar com mais nada.

+++

No dia seguinte fiz a coisa mais estúpida que alguém que sentiu uma dor forte no peito e achou que iria morrer poderia fazer: Fui treinar. Eu não tinha um próximo passo a seguir, precisava ir ao distrito ou chefe Im iria me demitir por não entregar os relatórios e já que eu estava ali, sem nada oficialmente para fazer, pelo menos eu podia descontar minha frustração e minhas crises existenciais num saco de areia.

"Ao menos eu posso fingir que é sua cara, Taehyung" pensei comigo mesmo enquanto encarava o saco de areia e acertei o primeiro soco.

— Baiacu. Peixe-palhaço. Cabeça de sardinha — pontuava cada insulto com um soco, que já estavam fazendo minhas juntas doerem devido a força — Odeio você. Odeio você. Odeio você. Odeio... — desisti, liberando um suspiro alto e me sentando no chão frio para em seguida deitar, olhando o brilho fraco das lâmpadas no teto.

Em breve estaria preso em mais uma crise existencial sem fundamento.

Olhei para o lado vendo Jaebum-hyung entrar na sala de treinos assim como fazia todos os dias, ele era muito mais disciplinado que eu para os exercícios e eu só tentava acompanhar sua rotina na tentativa de ser um pouco mais parecido com ele, porém na confusão que minha vida estava ultimamente, eu mal o encontrava. Ele parou, observando-me em toda minha desgraça.

— Quem morreu?

— Kim Namjoon — suspirei, voltando a olhar para as lâmpadas — Jaebum-hyung?

— Sim — respirei fundo. Eu queria muito ter um melhor amigo para quem eu pudesse fazer perguntas sem parecer ridículo, mas já que isso era uma mercadoria em falta, resolvi apelar para o mais próximo. Literalmente o primeiro que me apareceu.

— Você namora um homem, certo? — Ele me lançou um olhar desconfiado.

— Sim...

— É... existe alguma forma de um cara se envolver com outro e não ser gay?

Ele olhou para mim como se fosse rir. Na verdade, eu quase podia ouvi-lo rindo por dentro.

— Tem. O nome é bissexual.

— Não, não, não. Eu falo de se envolver com um cara e continuar hétero.

Continuamos nos encarando e senti meu rosto arder em vergonha e humilhação. Eu sou ridículo. Que merda que estou dizendo?

— Jungkook, eu sei que isso não é problema meu, mas qual o problema de ser gay? Ou bi, isso não é mais um tabu há sei lá... 70 anos. Ninguém vai te julgar.

— Meu pai vai. Minha mãe... eu não quero que eles me odeiem. — Eu estava naquele momento em que se tentar segurar o choro e o rosto começa a doer um pouquinho. Não queria começar a chorar na frente dele, eu já me sentia idiota chorando sozinho, seria muito pior com alguém vendo. — Eles não são como a maioria. Lembro quando era criança e meu pai dizia que os filhos nunca dariam esse desgosto a ele, mas como o esperado, eu tinha que ser a exceção. — Se Hyun não tivesse morrido, talvez fosse uma cobrança a menos. Talvez minha vida fosse diferente — Eu não quero que ele me odeie.

— Ele não vai te odiar, ele é seu pai.

— Ele vai sim, se o conhecesse saberia. Ele fica falando sobre eu me casar com uma boa garota, ter filhos e voltar a Busan para criá-los.

Desabafei minha frustração, espalmei as mãos no chão para empurrar o corpo para cima e me sentar. Me sentia como uma criança e apesar de amar meus pais, gostaria de ter nascido numa família diferente. Uma que estivesse disposta a aceitar. Pior que eu nem sabia o que diabos eu era. Nunca gostei tanto das mulheres com quem me envolvi, mas pode ser o fato de não estar apaixonado por nenhuma delas. Também nunca senti nada por homens apesar de já ter tido alguns momentos passageiros de atração física. Talvez fosse só o efeito de Taehyung sobre mim.

Talvez eu não gostasse de homens no geral. Talvez eu goste apenas de Kim Taehyung.

"Eu não gosto do baiacu! " Meu cérebro lembrou de me repreender.

— Não entra numa crise agora, garoto. — Jaebum abaixou-se e sentou no chão ao meu lado, despertando minha mente da confusão que se encontrava. — Você pode resolver sua vida amorosa depois que achar o assassino — assenti, com os olhos no chão, dando um longo suspiro.

— Hyung?

— Sim.

— Ser ativo é menos pior? — ele calou um momento antes de começar a gargalhar e eu quis ser literalmente tragado pelo chão. — Não ria do meu sofrimento! Como que eu... quer dizer, ser passivo... ah, para de rir!

— Eu estou rindo com consciência da sua dor. Com certeza vai doer bastante — continuou rindo e quis jogar alguma coisa nele. "Espera..."

— Como assim doer bastante? — ele riu ainda mais, apertando meu ombro.

— Garoto, eu não vou ter essa conversa com você. Desculpe. — Disse por fim, respirando fundo para recuperar o fôlego.

Eu precisava muito de um melhor amigo.

— Jungkook? — o olhei, depois que parou de rir, ainda mantendo minha expressão de falsa mágoa. — A pessoa por quem está interessado não é Kim Taehyung, é? — prendi a respiração no susto. Isso era tão óbvio? Como ele podia saber? — Você tinha a maior cara de apaixonado na coletiva de imprensa, eu vi pela TV. — "O que? " Eu não conseguia sequer pensar em algo digno para responder, além da dúvida que mais me aterrorizava no momento.

— Vai contar ao chefe? — Eu seria dispensado sem nenhuma piedade. — E-Ele disse algo?

— Você não fez nada ou fez?

— Não, não, não — me apressei em dizer. "Foram só beijos e Taehyung disse que não significava nada, então não significa nada". Teoricamente eu não tinha feito nada de errado.

— Então tudo bem. Mas se está pensando em ir adiante.... Não vá. Vai se odiar se transar com Taehyung e ele for o assassino. — Senti meu rosto queimar, eu estava tentando ignorar a parte sexual do assunto porque minha mente ainda se recusava a aceitar que eu estava mesmo desejando um homem. Um deus. "Que merda que estou fazendo da minha vida? "

— Jeon! — ouvi alguém e chamar, Jaebum e eu nos viramos de imediato quando o oficial Oh entrou, eu quase nunca o via sair da recepção, o homem trazia uma caixa pequena e quadrada de papelão, parecida com a que Mark trouxe para mim. — Chegou para você — colocou a caixa no suporte dos pesos. — Falaram que era sobre a investigação — disse antes de ir embora, Jaebum levantou primeiro e me estendeu a mão para me ajudar a levantar, nos aproximamos da caixa juntos. Seriam mais cartas?

— Está ouvindo isso? — Jaebum perguntou, apontando para caixa. Nos inclinamos para perto, ouvindo baixinho o "tic-tac, tic-tac", trocamos um olhar assustado e recuamos vários passos para trás.

— É uma bomba?

— Quem mandou isso? — Não, não podia ser uma bomba. Quem mandaria algo assim? Como isso entraria aqui tão facilmente? Me aproximei devagar, será que não ser totalmente humano me protegeria se fosse uma bomba de verdade? Dei um passo de cada vez até parar diante da caixa e puxar a tampa de uma vez, apertando os olhos esperando pelo pior. Baixei o olhar para o conteúdo, encontrando um celular destravado com duas faixas numa playlist, a primeira era que fazia o barulho de "tic-tac". Suspirei aliviado, pegando o aparelho e toquei o próximo áudio.

"Foi engraçado, não foi? Não fique com raiva, Yixing deu a ideia" era uma voz feminina, Jaebum se aproximou parando ao meu lado "Olá, oficial Jeon Jungkook. Eu sou Jeongyeon. A encarnação de Ares, caso não se recorde. Ainda não tive a honra de conhecê-lo, mas gostaria, acho que posso ser útil à sua investigação. No celular tem o endereço de um restaurante, me encontre lá amanhã. " O endereço surgiu na tela e Jaebum rapidamente pegou o próprio telefone, tirando uma foto "Espero que tenha memorizado" disse um minuto depois "É melhor jogar o celular longe! " Não precisou de segunda ordem, joguei o aparelho para o canto mais distante da sala vendo-o incendiar e em seguida sumir deixando apenas uma marca chamuscada no chão.

— Isso foi legal — Jaebum disse, começamos a rir nervosamente por nenhum motivo.

— Me manda aquela foto, por favor.

— Pode deixar.

Jeongyeon era a primeira, entre todos os deuses, que fez contato voluntariamente. Nenhum deles, a não ser Taehyung veio me procurar e apesar dos métodos da deusa serem não usuais, já foi melhor que qualquer outro em que eu literalmente tive de pedir para que falassem comigo. "A disposição dela em falar era algo bom, certo? " Nenhum outro tentou se dispor a ajudar e isso podia ser motivo de suspeita, mas também poderia querer significar algo. Talvez ela soubesse sobre alguém e pudesse me dar um suspeito convincente. Me restava esperar para ver.

+++

Me obriguei a colocar um terno logo que soube ser um restaurante caro do distrito empresarial, eu não queria parecer mal vestido e o uniforme da polícia podia chamar muita atenção indesejada. Olhei o relógio no pulso, eu estava cinco minutos atrasado do que ela me pediu para chegar em sua mensagem explosiva. Esperava que isso não a deixasse irritada comigo, acho que provocar a deusa da guerra era ainda pior do que provocar Taehyung. O local era amplo, com quadros enormes de batalhas e armas antigas nas paredes, desde lanças medievais europeias até espadas da era do Joseon. O cenário foi muito bem escolhido.

— Bom dia, senhor. Tem reserva para hoje? — O homem na recepção me perguntou com um sorriso cortês. Meu terno parecia terrivelmente pobre comparado ao que ele usava, imagino o que as pessoas que frequentavam o lugar usavam. Talvez o uniforme tivesse sido menos pior.

— Eu procuro por Kim Jeongyeon. Eu sou Jeon Jungkook e... — O sorriso dele se foi ao ouvir meu nome, me fazendo calar.

— Estávamos aguardando sua chegada, senhor. Me acompanhe — me indicou uma entrada diferente do que as pessoas seguiam. Me senti imediatamente acuado. Abriu uma porta lateral que seguia por um corredor curto que virava para a esquerda. — A sala tem isolamento divino, nenhum tipo de tecnologia humana funciona lá dentro, então não terá sinal telefônico ou de internet — começou a explicar enquanto seguíamos a passos lentos, ele recitava a fala como se tivesse repetido aquele discurso milhares de vezes ou no mínimo ensaiado por várias horas. — Você, Jeon Jungkook, portador da "Assassina dos Deuses", está proibido de convocar a arma dentro do ambiente e ameaçar a vida da senhora da guerra.

— É.... Tudo bem? — Eu não sabia bem o que dizer, era algum tipo de juramento solene? Ele abriu a única porta no fim do corredor e deu espaço para que eu entrasse. Lhe fiz uma breve reverência antes de entrar e ele fechou a porta atrás de mim. Engoli em seco quando dois pares de olhos se voltaram em minha direção.

"Taehyung? "

— O que ele está fazendo aqui? — Taehyung olhou de mim para a garota e em seguida para o assento vazio ao seu lado. — Não acredito que fui tão burro.

— Porque isso, TaeTae? Achei que estivessem juntos — ela definitivamente parecia muito amável para soar tão cínica. Talvez fosse seu lado de deusa da guerra falando, mas ainda era muito mais calmo do que poderia esperar. "TaeTae? Eles são tão próximos assim? " Não conseguia imaginar Taehyung com um apelido tão fofo.

— Não estamos — falei antes dele — Se sou um incomodo é melhor ir embora.

— O policial aqui é você e é meu convidado, se Taehyung está tão incomodado, que ele vá embora então — estreitaram os olhos um para o outro.

— Criança ingrata, eu te criei tão bem... — Taehyung suspirou alto, puxando a cadeira ao seu lado — Sente-se, Jeon — disse.

Antes que eu sequer pensasse em me mover, dei uma boa olhada no ambiente. Especialmente a parede posterior, onde e54rr=2ra possível ver todo o restaurante, as mesas dispostas pelo ambiente e as pessoas comendo, reparei também que haviam sombras no formato dos quadros e armas que estavam pendurados na parede do outro lado, mas isso não atrapalhava a visão.

A sala provavelmente foi planejada para que víssemos tudo e não fossemos vistos ali. As paredes restantes pareciam feitas de metal, um ouro muito velho ou cobre, não havia lâmpadas no teto, o brilho do metal iluminava o suficiente. Percebi as marcas no ferro, com símbolos gregos formando frases. Eu gostaria de saber o que significavam, mas provavelmente era algum encantamento divino.

Sentei ao lado de Taehyung, de frente para a garota, sentindo o ombro dele tocar o meu, muito levemente.

— Não sou o que esperava, certo? — perguntou quando permaneci em silêncio, encarando até demais — Não sou um brutamontes burro que quer brigar o tempo todo — não sabia bem o que responder a isso, nem sei se deveria — Recebeu o celular? — ela perguntou sorrindo largo, assenti — Foi engraçado, não foi?

— Na verdade, não — o sorriso murchou.

— Por que ninguém ri das minhas piadas?

— Porque você não tem graça, criança. Só acha que tem. Ela explodiu alguma coisa? — a pergunta de Taehyung foi para mim.

— O celular explodiu.

— Quando era criança ela explodiu o aquário do meu quarto.

— Foi sem querer, eu nem sabia que podia fazer essas coisas na época — apressou-se em se defender, apoiou o cotovelo na mesa e o rosto na mão, com uma expressão emburrada.

— Ainda não disse o que queria comigo — Taehyung começou — Conosco, na verdade, já que chamou nós dois. Agora que ele está aqui, pode começar.

Ela seguiu olhando para nós, meio que ponderando suas palavras seguintes, depois puxou o celular e olhou as horas, da posição podia ver que marcavam 12:35.

— Eu comprei esse lugar há um mês, ninguém sabia disso. Achei a decoração legal e fiz uma oferta, Namjoon sempre falou bem daqui, achei que seria uma boa ideia — começou — Essas coisas são bem burocráticas e chatas, mas eu recebi algo interessante. A ata de reservas — inclinou-se para o lado e pude vê-la mexer numa mochila, retirando a comprida caderneta com post-its dourados saindo da borda — Quando deuses vêm aqui, eles marcam com uma fita brilhante. E tem alguns nomes interessantes dos últimos meses — abriu uma das páginas marcadas e virou o caderno para nós, apontando para um nome.

O nome era Kim Namjoon. Outra página marcada. Kim Namjoon.

Kim Namjoon.

Nix.

Calisto.

Kim Namjoon.

Ao lado do nome dele, todas as vezes, havia um asterisco.

— O que os asteriscos significam?

— Que ele estava acompanhado. Gerente Choi pode testemunhar, eram sempre mulheres e sempre essas duas. Nix e Calisto. E não acabou, essas são as reservas de hoje, pedi para Choi fazer uma cópia — pulou para as últimas folhas e lá estava o nome de Calisto mais uma vez, a reserva para as 13:40. — Pode não significar muita coisa, mas eu achei bem suspeito. Depois da morte de Namjoon ela não veio nenhuma vez, é a primeira reserva em quase dois meses. Em minhas eras como guerreira aprendi que nos pequenos detalhes que estão os grandes segredos e esse aqui — apontou para o nome de Calisto —, parece um segredo bem grande. Na reserva dizia mesa para três, então vamos aguardar a chegada dela e de seus convidados.

— Por isso estamos aqui, numa sala de isolamento... — Taehyung começou.

— Ela não conseguirá sentir nossa presença — finalizou a frase. — Exato. Foi difícil fazer Shownu construí-la para mim sem contar do que se tratava e tão às pressas, mas o grandão tem o coração mole — Taehyung riu.

— Como vocês acabaram amigos depois de tudo é um dos mistérios do universo. — A garota riu também, eu meio que sabia ao que se referiam. Nos mitos falava sobre como Ares e Afrodite eram amantes, enganando Hefesto. Era bom pensar que deuses que se odiaram por tanto tempo, agora viviam bem. Imaginava que a existência humana nessa encarnação teria sido perfeita se não fosse pelo assassinato de Namjoon.

— Acho que o fato de eu ser uma garota facilitou, essa cara fofa serviu de alguma coisa — apontou para o próprio rosto. — E Afrodite não ter encarnado também.

— Você é muito mais amável nessa encarnação. Acho que foi sua parte humana e minha educação impecável.

— Sim, nadar com tubarões é tudo que uma criança precisa para ser bem disciplinada — olhei um momento para Taehyung, seu rosto parecia muito jovem para lhe caber uma figura paterna, mas não pude deixar de imaginá-lo com Jeongyeon ainda criança assim como foi com Yoongi e Jongin. Eu tinha um sentimento estranho quanto a isso, quase saudosista. Como quando eu gostava muito de um grupo e sentia falta de coisas que aconteceram antes que eu os conhecesse. Talvez fosse o efeito das memórias de Namjoon sobre mim.

A porta da sala abriu e o rapaz que me levou até ali entrou, empurrando um carrinho com bandejas. Ele nos fez uma reverência antes de colocar os pratos, ainda cobertos, diante de mim e Taehyung. Jeongyeon recusou o seu.

— Que tal uma sopa de barbatanas, Tae? — ele riu, mas parou quando o maitre tirou a cobertura e era realmente uma sopa. — Não é de barbatanas, são só legumes — ri um pouco de seu suspiro aliviado. — Eu não sabia do que você gostava e pedi carne — falava comigo dessa vez. — A maioria dos humanos gosta, certo? — assenti, acenei em agradecimento para o rapaz quando me serviu. O prato era bonito, os pedaços de carne reluziam em molho como nos comerciais, e tinha muito mais comida do que imaginei para um restaurante tão chique.

— Você não vai comer?

— Ela não precisa — ele explicou. — Nenhum de nós precisa fazer mais que uma refeição por semana.

— E você está sem comer a duas, tio Tae. Mesmo para um deus, isso não é bom.

— Não finja preocupação, criança. E também, foram dias agitados.

Isso era bem verdade. Eu parei no hospital, houve coletiva de imprensa, Jeju, a merda do tufão e o Destino, mesmo que essa parte ele não acreditasse. Estava sendo difícil até para mim fazer as alimentações corretamente, era quase um milagre eu não ter perdido tanto peso.

— Se eu fosse a líder não se preocuparia tanto, tio Tae — eles sorriram um para o outro.

— Você já não tem muito trabalho como ministra? — a garota deu de ombros e depois calou, apenas nos observando comer, a carne estava realmente boa ou talvez fosse somente a fome falando mais alto, porém acabei me distraindo da comida, olhando para os dois.

Reparei que como Jeongyeon colocou a mão livre de Taehyung sobre a mesa e espetava uma faca entre os espaços entre os dedos, como eu já tinha visto diversas vezes em filmes. Mesmo com Taehyung movendo a mão rápido ela não o feriu nenhuma vez, numa precisão absurda. Ele ria um pouquinho, exibindo aquele sorriso quadrado que só vi nas fotos do escritório de Jackson e nas lembranças de Namjoon. Eu não queria admitir, mas estava com ciúmes. Taehyung pegou a mão da garota, fazendo-a largar a faca, virando a palma para si.

— Eu tenho um pequeno dente — empurrou o dedo mindinho dela. — Que o tubarão me deu. — O seguinte. — Quando o mar me levou. — O dedo médio. — Para a ilha do sul. — O indicador. — Com uma casa azul. — O polegar. — Onde o destino está — fechou sua mão.

Ilha do Sul? Casa azul? Destino? Larguei os jotgarak. Ele tinha uma pseudo rima sobre tudo que disse a ele e o desgraçado ainda teve coragem de duvidar de mim? Me virei para Taehyung, em completo choque e indignação. "Como que... esse peixe-palhaço idiota me chamou de mentiroso e..." Eu nem conseguia raciocinar direito.

— Eu tinha uns seis anos da última vez que fez isso, tio Tae.

— Não fale assim, eu me sinto velho — ele finalmente olhou para mim e minha expressão de ódio — Está com alguma dor, Jeon?

— Sua musiquinha.

— Primeiro não é uma música, é o início de um conto marítimo para crianças. Segundo, o que tem?

— Casa azul? Destino? — ele me olhou como seu eu fosse um idiota.

— É uma poesia infantil, não um aval para sua sanidade. Se quer insistir nos seus delírios estúpidos...

— Eu não delirei, estou falando a verdade! Porque é tão difícil acreditar? — estava gritando, não queria, porém, era quase involuntário. Por que ele tinha de ser tão... Cabeça de sardinha? Não era difícil acreditar em mim, eu não tenho poderes, como diabos iria sumir?

— Não tenho que acreditar nas suas bobagens. — Eu estava literalmente com as mãos tremendo de raiva.

— Seu... Baiacu idiota! De que outra maneira eu...

— Espera! Do que me chamou?

E aí me dei conta que apesar de pensar isso o tempo todo, eu nunca o tinha chamado por um dos apelidos em voz alta. Prendi a respiração por instinto, se ele nunca pensou em me matar até aquele momento, a minha hora chegou.

— Você me chamou de baiacu? — Puto era pouco para o que Taehyung estava.

"Burro, burro, burro! "

— Não!

— Por que todo mundo briga quando estou por perto? — Jeongyeon resmungou, mas foi ignorada por nós.

— Eu não sou surdo, Jungkook! Você me chamou de...

— Calados! — Jeongyeon gritou batendo as mãos na mesa, fazendo nós dois a encararmos. — Eu não sei se vocês só se odeiam ou se é uma foda mal resolvida, eu não ligo, mas agora tem algo para nos preocuparmos bem ali — apontou para o restaurante e para a mulher loira que tinha acabado de entrar. Calisto. A mulher sentou-se numa mesa mais ao canto, longe de olhares curiosos e dispensou o garçom com um aceno breve de mão.

— Ok — Taehyung disse por fim, mas não antes de me lançar um de seus olhares mortais. — Vamos esperar pelos acompanhantes agora.

Ficamos longos minutos em silêncio, apenas observando a deusa as vezes mexer no guardanapo ou nas flores do arranjo de mesa. Como era uma não-nascida, Calisto não tinha aparência asiática, a beleza era ocidental, mas deveria ser uma das mulheres mais bonitas do planeta, era quase impressionante como tudo nela parecia perfeito. Logo em seguida mais uma mulher chegou, tão linda quanto e a pele tão pálida quanto a de Min Yoongi ou Minhyuk. Taehyung olhou para mim.

— Essa é Nix — assenti, ela sentou-se de costas para nós, a conversa ambiente impossibilitava de ouvir se elas começassem a conversar, mas julgando por Calisto, e como sua boca sequer se movia, era bem óbvio que elas não estavam conversando. Por enquanto isso não seria um problema.

— Não... — Taehyung sussurrou vendo a terceira pessoa se aproximar das duas. Nem mesmo eu estava acreditando. — O que ele está fazendo aqui? Com elas?

— Seokjin? — verbalizei completamente em choque.

— Mas o que ele está fazendo aqui? — Mesmo Jeongyeon estava em choque, nós três nos entreolhamos. Apesar de Seokjin ainda estar na minha lista de suspeitos eu não queria acreditar que ele faria alguma coisa, ainda mais depois de ter visto as lembranças de Namjoon e o modo como se apaixonaram. Aquilo era amor, não era? Pareceu tão real. Não! Não podia ter me enganado tanto assim.

— Ele veio falar com as amantes de Zeus?

— Nix não era amante — Jeongyeon lembrou. — Isso é tão estranho eu não... tio Tae?

— Eu não sei o que dizer, criança. — Ambos estavam tão chocados quanto eu. Isso significava algo a respeito do assassinato? Crime passional, talvez? Ele poderia ter se unido a elas para planejar o crime? Minha mente estava uma confusão de possibilidades e teorias.

Os três começaram a conversar, mas não conseguimos ouvir, mal abriam a boca, o que impedia até mesmo uma leitura labial. Jin se inclinava para falar, eu podia sentir o temor em sua postura. Nix e Calisto se levantaram, pela expressão de Seokjin ele não parecia exatamente bem, na verdade, ele parecia em pânico, olhando em volta como se fosse correr dali se uma delas se distraísse um momento, ou como se fosse começar a chorar a qualquer instante. Nix acenou para a saída e eles seguiram para fora do restaurante.

— Devemos segui-los? — perguntei, já empurrando a cadeira para levantar.

— Eles vão saber. E não prova nada, só foi muito... suspeito — Jeongyeon pontuou.

— Terei de interrogá-lo de novo — falei, Taehyung tinha o olhar perdido, assentindo várias vezes. Eu ainda tinha os olhos na porta do restaurante, por onde eles tinham acabado de sair.

— Eu vou atrás deles — Taehyung levantou no ímpeto, já se adiantando em direção a porta, Jeongyeon e eu levantamos também, seguindo-o para fora.

— Tae, não. O que isso prova? Nenhuma das duas poderia ter matado Namjoon. E o Jin nunca faria, você sabe que não. — Antes que a garota terminasse de falar ele já tinha saído do corredor de volta ao saguão de entrada. — Na guerra é importante agir com...

Taehyung não tinha saído. Jeongyeon parou. Olhei em volta vendo cada pessoa do restaurante, desde funcionários a clientes, dormindo. Os que estavam de pé antes, estavam desmaiados no chão. As pessoas sentadas apagaram com a cara na mesa ou o rosto enfiado nos pratos.

— Mas o que...? — As portas do saguão de entrada se fecharam com a força do vento, porém o som do trinco se fechando eu tinha certeza que não foi produzido por um fenômeno natural.

— Tem espíritos aqui — Taehyung caminhou para a área das mesas, Jeongyeon foi até a parede, puxando uma das espadas antigas, de um material parecendo ferro, porém quando a girou em sua mão, ela tornou-se dourada.

— Jongin não matou aquele último? — questionei. — Achei que nos deixariam em paz.

— Não, ele só o repeliu para salvá-lo. Matar espíritos não é tão fácil — começou a andar por entre as mesas, olhando entre as pessoas desacordadas, seus dedos tocaram em algo preso entre elas e só quando elevou contra a luz pude ver o que eram. Fios de prata.

Isso não era nada bom. Nada bom mesmo.

— Taehyung... — a voz era idêntica à do deus, porque o que se aproximava era uma cópia idêntica a Taehyung, com exceção dos cabelos muito vermelhos e do olhar psicótico. — A quantas eras eu não vejo você? — ouvi uma risada esganiçada e família e me virei para o lado oposto, vendo o mesmo espírito que tentou me matar quando conheci Jackson, agora ele parecia muito mais real e ainda mais idêntico a Yoongi. Ele ainda tinha a flecha de Jongin cravada no peito.

— Quem mandou vocês? — Jeongyeon perguntou, virando-se para o espírito duplicado de Yoongi.

— Ninguém nos mandou — disse, como da última vez.

— Vocês não deviam usar a imagem de um deus.

— Os humanos conhecem seus rostos, não vocês — a duplicata de Taehyung disse. — Quando estiverem mortos e assumirmos seu lugar, eles sequer perceberão. — O tom de voz do espírito era mais grave que o de Taehyung, fazendo-o parecer ainda mais ameaçador. — Agora se nos permitem, viemos levar o Assassino dos deuses.

E de repente todos os olhares estavam sobre mim.

Foi muito rápido. Em um segundo eu estava de pé, próximo a Jeongyeon, no outro senti ser arremessado contra a parede, minhas costas se chocando contra um dos quadros, para em seguida desabar no chão. O impacto fez minha cabeça zumbir e a visão sair de foco. Tinha certeza que havia quebrado algum osso, talvez uma costela, a dor embaixo do meu braço esquerdo não me pareceu um bom sinal.

Pela visão periférica eu via apenas a deusa e o espírito duplicado, Taehyung estava fora da minha linha de visão, no canto mais afastado do ambiente.

— Jungkook! — ouvi-o chamar, mas bem podia ser sua duplicata. Quis me levantar, mas meus braços tremiam quando os apoiei no chão. Tentei forçar meus joelhos, eu me sentia completamente quebrado.

— God Killer... — sussurrei, sentindo a sensação incômoda percorrer meu braço antes da espada se materializar embaixo da minha mão. Eu não estava nas melhores condições de usá-la, mas tê-la por perto me pareceu uma boa ideia — Você vai ter que me ajudar — o grito de Jeongyeon me fez olhar para frente no momento que o espírito a derrubou, arrancando a flecha do próprio peito e cravando nela. A deusa tentou atravessá-lo com a espada, mas não surtiu efeito nenhum. Meu corpo tomou impulso para frente, numa força que não era minha, God Killer atravessou o espírito, cortando-o em dois e fazendo-o desaparecer. Desabei de volta no chão, ao lado de uma senhora da guerra furiosa.

— Ele cravou uma flecha em mim! O filho da puta cravou uma flecha em mim! — tentei erguer o corpo, somente para ver Taehyung, o outro espírito duplicado também se fora e o tridente agora estava fincado na parede, provavelmente quando tentou acertar o oponente — Eu vou matar aquela coisa, ele é meu entenderam? Ninguém vai me tirar o gosto de matar aquele espírito desgraçado, me ouviram? — apontou para mim e depois para Taehyung, a flecha estava cravada fundo bem perto de sua clavícula — Eu vou achar o receptáculo dele e vou matá-lo. — Ela não parecia uma criatura raivosa mesmo sendo quem era, mas seu rosto estava vermelho e ela reluzia um pouco, como aconteceu com Jin quando o deixei irritado.

— É... Calma — tentei dizer. — Não é melhor tirar isso? — apontei para a flecha.

— Puxa logo — segurei pela base com cuidado, deixando a espada ao meu lado. — Rápido, não vai doer — puxei de uma vez e eu que resmunguei de dor pela minha costela, talvez não tivesse quebrado, a dor teria sido pior, mas com certeza tinha fraturado. Taehyung caminhou até nós, parando de pé ao meu lado.

— Eu não o matei? — ela acenou que não.

— Não é assim que se mata espíritos muito fortes. Porque eles apareceram? Duvido que virem aqui só para provocar o caos, não durou sequer cinco minutos!

Eu não acreditava que eles vieram apenas para assustar. Foi um timing muito bom eles surgirem no momento seguinte à saída de Seokjin com as duas deusas.

— Ou para dar tempo de os três irem embora, foi muita coincidência — Taehyung verbalizou minha suspeita, emiti mais um muxoxo de dor, sentindo uma fisgada nas costas. — Ele machucou você? — se ajoelhou ao meu lado. — Jungkook, ele tocou em você? — virou meu rosto, olhando com afinco tentando achar algum traço de veneno. Sua outra mão afastou meu cabelo, para em seguida segurar o outro lado do meu rosto.

— Ele não me tocou, juro — envolvi uma de suas mãos para afastá-la, mas acabei por deixá-la, segurando seus dedos. Não conseguia deixar de encarar seus olhos preocupados.

— Se beijem logo. — A voz de Jeongyeon nos despertou para a realidade e nos afastamos no susto. — Que dificuldade tinha, era só um beijo, eu nem ia olhar — suspirou, apoiando em mim para levantar-se. — As pessoas já devem acordar, é melhor.... Ah! — ela gritou encolhendo o corpo, pressionando onde a flecha a tinha atingido, mesmo o ferimento já tendo se fechado. — Está doendo... meu coração está doendo... — ela gritou dessa vez e em seguida apagou, caindo desmaiada ao meu lado. Taehyung agarrou seu pulso, vendo suas veias se tornarem pretas.

— Veneno.

— Mas ela é uma deusa.

— Existem tipos diferentes e sabe se lá quanto veneno tinha na flecha. Você sabe dirigir? — acenei que sim. — Ótimo, nós temos de levá-la ao Hobi. — Ele a pegou no colo, levantando rápido e já seguindo para a saída, peguei a espada, que quase tinha esquecido completamente.

— Volte para onde te deixei — pedi me sentindo ainda mais idiota por falar com a espada agora com Taehyung parado me olhando, mas God Killer desapareceu em seguida então julguei ser um bom sinal. Apertei a mão ao lado de minha costela esquerda, tentando ignorar a dor e me apressei atrás deles em direção ao carro. Em outras circunstâncias eu poderia parar para olhar o Maserati Sport com o tridente na frente, mas ficaria para outra ocasião. Abri a porta do passageiro para Taehyung entrar com Jeongyeon ainda em seus braços e assumi o lado do motorista, apertando o volante entre os dedos como se o carro fosse ligar por alguma magia.

— No bolso. — "O quê? " — A chave do carro. No meu bolso — acenou com a cabeça para o bolso da camisa, assenti ao puxar a chave, tentando me concentrar em dar partida no carro e sair da vaga sem fazer nada estúpido. A parte de saber dirigir era verdade, mas eu não pegava numa direção desde que tirei a carteira. Consegui seguir por algumas ruas sem nenhuma orientação dele até acenar para o sentido da ponte para Gwangjin, onde o hospital ficava.

— Ela está muito mal? — Não pude deixar de perguntar, pela visão periférica podia ver as veias de seu braço ainda mais escuras e provavelmente estava assim em todo o seu corpo.

— Um pouco, venenos tão fortes assim não são comuns. Como aquelas coisas tiveram acesso a eles eu ainda não sei. — Aproveitei a falta de trânsito para acelerar mais.

— As pessoas no restaurante...

— Vão acordar sem lembrar de nada. Seu pai não lembrava de ter encontrado o espírito, certo? — assenti. — O retorno — apontou para onde eu deveria ir. — Mais rápido, não me parece bom ela estar tão quieta — pisei fundo no acelerador vendo o contador passar para 200 por hora em segundos, nunca tinha dirigido tão rápido e esperava que ter dois deuses dentro do carro dessem algum tipo de segurança. Um pouco mais adiante já podia ver a fachada imitando arquitetura grega do hospital.

Quando alcancei a entrada da emergência, Hoseok já estava esperando por nós, um enfermeiro do hospital abriu a porta para Taehyung e tirou Jeongyeon de seus braços.

— Senti que tinha algo errado — ele disse, diante de minha confusão em vê-lo. — O que houve?

— O espírito cravou uma flecha envenenada nela — colocaram-na numa maca e apressaram-se para dentro, Hoseok segurou Taehyung quando ele fez menção de segui-los.

— Preciso que traga Latona aqui, ela é boa com venenos, eu quero saber com que merda estamos lidando — Taehyung assentiu.

— Vimos algo sobre Seokjin — indicou a mim, os dois trocaram um segundo olhar que não consegui compreender.

— Podemos conversar depois, ache minha mãe — Hoseok colocou a mão em meu ombro, e me senti melhor imediatamente, minhas costas não estavam doendo nem minhas costelas. Estava novo em folha. — Foi só uma luxação, vai ficar bem — me deu um pequeno sorriso antes de entrar. Não havia mais nada que eu pudesse fazer agora, o mais seguro seria ir para casa e esperar por notícias.

— Eu acho melhor ir emb-

— Você vai ficar comigo — Taehyung me interrompeu. — Com espíritos soltos por aí, não vou correr o risco de perder você. — Mesmo sendo a mais idiota das reações, senti meu coração vacilar. — Você é uma peça importante agora — completou, mas não foi o suficiente para meu coração idiota ignorar a frase anterior. Puxou a chave da minha mão enquanto eu estava completamente estático diante de sua fala. "Eu não posso ficar tão afetado como um garotinho no colegial, não é como se nunca tivesse me interessado por alguém na vida. Isso é estúpido! " — Vamos, eu dirijo.

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