Crumble to Ashes | Phoenix Lo...

By aprilkanewrites

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[LIVRO 2 DA TRILOGIA PHOENIX LOVE] Após terem embarcado em um romance que fez explodir as chamas que existiam... More

Notas da Autora e Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45

Capítulo 07

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By aprilkanewrites

NOTA: Este capítulo volta um dia no tempo em relação ao capítulo anterior, ou seja, ele começa no domingo.


JARED

Já faz quase uma semana que recebemos a notícia de que David sofreu um acidente grave e está internado no hospital em coma desde então. Minha mente ainda não conseguiu processar essa informação com clareza ou simplesmente se recusa a aceitar os fatos. Imaginar que uma das pessoas mais importantes da minha vida se encontra neste estado, me deixa completamente aflito e eu tenho vontade de sair arrebentando a casa inteira para descontar toda a minha raiva e frustração, mas sei que não iria adiantar de nada. Nada pode trazer o David de volta, nada pode ajuda-lo ou fazer com que ele melhore ou acorde. Nada a não ser a sua própria força de vontade e, depois de tudo que ele já passou nessa vida, sinceramente, não acredito que ele queira.

Hoje é domingo, o dia que nós vamos viajar para Chicago. Minha prima Samantha está sentada em cima da mala de Courtney enquanto a minha namorada tenta fechá-la com algum sacrifício. As duas apertam a mala para conseguir passar o zíper, porém já apanharam de 10x0 para o objeto.

- Vocês estão cientes de que a gente não está indo para uma colônia de férias, né? – resmungo, observando a cena. – A gente está indo para Chicago ver o David que está em cima de uma cama em coma e vocês parecem que estão se preparando para ir para a Disney.

- Jay, nós não sabemos quanto tempo vamos ficar lá, temos que estar preparadas. – Courtney tenta se justificar.

- Eu só não estou entendendo como vocês podem estar agindo como se nós estivéssemos indo para um passeio. – murmuro irritado. Vê-las tão animadas para ir viajar, por um péssimo motivo, me deixa nervoso. Parece que elas não estão dando a devida importância para a situação ou não entenderam a gravidade do problema.

- Jared, – Sam começa a dizer se levantando da cama e vindo na minha direção. – nós sabemos que você é o mais próximo do David do grupo e por isso você está tão abalado. – ela põe a mão no meu ombro. – Mas nós também o amamos muito e é por isso que estamos descontraindo o clima, porque, se deixarmos essa realidade tão dura cair sobre as nossas cabeças, vamos desmoronar também.

Suspiro porque entendo completamente o que ela quer dizer. Eu também costumo escapar do meu sofrimento para não ter que lidar com ele, fumo, bebo e sou quase um ninfomaníaco justamente por conta disso. Mas, desta vez, não consigo escapar. É algo muito grave e muito sério, eu sinto como se estivesse sendo negligente se não me permitisse sentir a dor deste momento. David é mais do que o meu melhor amigo, é como se fosse um irmão para mim.

- De qualquer forma, cadê o Carter? Já era pra ele estar aqui, vamos embora daqui a pouco. – desvio o assunto, pois não gosto de conversar sobre e nem de expor meus sentimentos.

- A Amanda também está atrasada. – Sam acrescenta, me fazendo revirar os olhos.

- Eu nem sei por que ela está indo com a gente, ela estragou a vida do David tanto quanto a Crystal. – rebato enfuriado, pois a lembrança do meu amigo quase morrendo afogado na banheira da minha casa por causa dela ainda está muito vívida na minha memória. Isso me faz pensar, porra, por que o David não consegue ter relacionamentos saudáveis com garotas que o amam de verdade em vez dessas loucas que literalmente expõem a sua vida ao limite? Ele merece muito melhor do que isso.

- Porque o David foi o único que ficou do meu lado quando todos me viraram as costas sendo que ele foi o mais prejudicado da história toda. Eu devo isso a ele. – ouço a voz da ruiva responder atrás de mim e me viro para vê-la. Eu mal consigo encará-la nos olhos ainda de tanta raiva que sinto.

- Nisso você tem razão. – concordo, mas nada feliz em fazê-lo. Na verdade, Amanda deve muito mais do que uma visita a ele, porém, no momento, infelizmente é tudo que todos nós podemos oferecer. – Cadê o idiota do Carter? Nós vamos acabar tendo que ir sem ele. – indago nervoso. Toda vez que vamos sair é a mesma coisa, ele sempre é o último a chegar e acaba atrasando todo mundo.

- Vocês nem se atrevam a fazer isso. – o atrasildo menciona, aparecendo no corredor. Finalmente!

- Ainda bem que nós vamos viajar de avião porque se fôssemos de carro eu mataria todos vocês antes de chegarmos ao destino. – murmuro, deixando transparecer todo o meu mau-humor. – Vamos embora. – chamo, colocando uma alça da minha mochila nas costas e arrastando a minha mala pelo quarto. Não vou me oferecer para carregar a mala de ninguém, não sou como David, o cavalheiro. Todos têm mãos e braços, eles que carreguem os seus.

Sou o primeiro a descer pelas escadas e atravesso os cômodos da casa da minha namorada, pois estou sem paciência para esses lerdos. Não me dou ao trabalho de me despedir dos Evans, os donos da casa, mas não é como se eles já não estivessem acostumados com os meus modos. Novamente, não sou como David, o educado.

Abro o porta-malas do meu carro e guardo a minha mala, deixando a porta aberta para poupar o tempo dos lerdos que estão vindo atrás. Sento no banco do motorista e procuro alguma coisa para ouvir no rádio enquanto meus amigos – e a ruiva – estão chegando. Deixo em "Angels" do Avenged Sevenfold.

Logo todos entram no carro e se ajeitam, então dou partida no carro em silêncio, prosseguindo pelo caminho enquanto eles tagarelam sem parar. Cada um tem uma forma diferente de lidar com a dor, tudo bem, mas isso ainda me incomoda.

Chegamos no aeroporto e eu guardo meu carro no pátio onde deixam os veículos para os donos buscarem na volta e despachamos nossas malas. Vamos em direção ao nosso setor de embarque quando sinto uma mão pegar na minha. É a da Courtney.

- Ei, vai ficar tudo bem. – ela diz numa tentativa de me confortar, entrelaçando o seu braço no meu.

- Você não tem como afirmar isso. – rebato, tentando não soar muito rude.

- Mas eu acredito, e você também deveria. – ela responde de forma doce. – O David é incrivelmente forte, mais do que ele mesmo acredita ser, ele vai sair dessa. – adoro seu otimismo, mas não consigo ser igual.

- Ele é muito forte, de fato. – concordo, abraçando a minha namorada de volta. – Com tudo que ele já passou na vida, ele ainda consegue ser a pessoa mais gentil e compassiva do mundo. Só uma pessoa muito forte como ele é capaz de sofrer o tanto que ele já sofreu e seu coração continuar intacto. – comento. Essa é uma das coisas que eu mais admiro nele e um dos motivos para eu querer ter me tornado seu amigo, pois eu pensava "queria ser como esse cara". Infelizmente não sou. – Eu não conseguiria. Sou fraco.

- Você não é fraco, amor. – Courtney refuta. – Cada pessoa lida com as situações de um jeito diferente, isso não te faz pior ou melhor do que ninguém.

- Você é incrível. Transa comigo? – peço com uma expressão manhosa. Eu não sou bom em expressar sentimentos, a única forma que sei fazer isso é transando.

- Jared! – ela me repreende me dando um tapinha no braço. – Estamos em um aeroporto.

- E daí? – dou de ombros. – Sexo é o meu escape.

- Eu sei muito bem disso. – ela responde com obviedade. – Quer mesmo?

- Sim. Só uma rapidinha, por favor. – imploro, sussurrando no seu ouvido. – Meu coração dói.

- Tudo bem. – a loira se rende. – Já faz três dias que você não me come mesmo, estou sentindo falta do seu corpo nu. – ela me puxa pelo braço para me conduzir rapidamente a algum lugar.

Courtney me leva a um dos banheiros próximos ali e nem vi se era masculino, feminino ou qualquer outra coisa, mas também não me importa. Ela dá uma checada rápida e, assim que vê que não tem ninguém, tranca a porta e já me beija.

Pego a minha namorada e a coloco em cima da pia, pausando o nosso beijo rapidamente apenas para tirar a sua blusa e ela faz o mesmo comigo. Ponho minha boca em seu pescoço, chupando e sugando sua pele bronzeada, que contrasta com a minha pálida, enquanto aperto a sua boceta e a acaricio, por fora da roupa mesmo, ao que ela me retribui colocando a sua mão no meu pau e me massageando. Ela é tão boa nisso, eu nem gostava de ser masturbado por uma garota antes dela, mas ela sabe como fazer.

Fico tão ofegante que nem estou beijando mais o seu pescoço, então ela se aproveita para beijar e mordiscar meu peitoral enquanto continua me masturbando. Caralho, ela sabe como fazer sexo e eu a amo por isso.

Abro o zíper da sua calça rapidamente e a puxo junto com a calcinha até os joelhos. Coloco-a sentada de volta na beirada da pia e meto nela de uma vez, pois não temos muito tempo.

- Sorte a sua que você consegue me excitar fácil. – minha loira menciona enquanto eu a fodo rapidamente.

- Obrigado. – respondo com um sorriso e a beijo de forma voraz ao mesmo tempo em que continuo metendo nela com força e rapidez. – Você também me excita fácil. – acrescento e sinto nos corpos quentes, suando, vamos gozar a qualquer momento.

Chego ao orgasmo primeiro, jorrando para fora pois estamos sem camisinha e ela não tem tempo de se lavar, e minha namorada vem logo depois. Limpo o nosso gozo depressa e vestimos nossas roupas de volta na velocidade da luz. Saímos do banheiro como se nada tivesse acontecido e vamos ao encontro dos outros.

- Sério mesmo? – Samantha resmunga ao nos ver. – Vocês não conseguem dar um tempo?

- Não era você que estava julgando todo mundo por não estar sentindo a dor apropriadamente e agora está aí transando em lugares públicos? – Amanda acrescenta com um olhar e tom de voz julgadores.

- Cala a boca, ruiva! – rebato com aspereza. – Nem era para você estar aqui. E deixa que da minha vida e do meu sofrimento cuido eu.

- Vamos parar de discutir? – Carter se intromete. – O embarque do nosso voo já começou, vamos logo.

Reviro os olhos, mas concordo internamente. Passo meu braço ao redor dos ombros de Courtney e seguimos para a fila de embarque. Pegamos os nossos lugares e eu sento o mais longe possível da ruiva surtada, Carter também não quer ficar perto dela. Ah, David, por que você tem que ter um dedo tão podre para mulheres, meu amigo?

*

Dormi a viagem toda e acordo com Courtney chacoalhando os meus ombros para me acordar. Assusto de início, mas logo já me situo.

- Chegamos. Estamos em Chicago. – ela avisa.

Chicago. Nem acredito que estamos aqui. Prometi ao David que viria visita-lo, mas jamais suspeitei, ou quis, que fosse sob essas circunstâncias. Já peguei raiva dessa cidade e ainda nem botei o pé para fora. Só aconteceu merda atrás de merda na vida do meu melhor amigo depois que ele se mudou pra cá. Sua vida era tão mais simples e sossegada em Boston.

Passo a mão na cara e me levanto, pego minha mochila do maleiro e Court coloca a mão nas minhas costas para me conduzir. Descemos, vamos até o setor de bagagens para pegarmos nossas malas e, logo que adentramos o saguão, vejo Anneliese esperando por nós. Tenho certeza. Ela está um pouco diferente e até mais bonita, mesmo que esteja visível o seu abatimento no seu físico. Sinto pena dela, com certeza é a que mais está sofrendo com tudo isso.

- Fico feliz que vocês tenham vindo. – Anneliese diz assim que nos encontra. – Mesmo que ele não saiba, isso significa muito para o David e para mim também.

- Imagina, não precisa agradecer. – Amanda responde e vai ao encontro dela para lhe dar um abraço, pois as duas costumavam ser muito próximas, mas Anneliese logo a afasta. Com certeza a proximidade delas acabou depois do que a maluca tentou fazer com o David, porém a ruiva sem noção não se tocou disso.

- Como ele está? – Sam pergunta, e eu percebo que Anneliese se esforça para manter a sua pose de durona.

- Bem, na medida do possível. – ela suspira. – Às vezes surgem algumas complicações, mas ele está sendo monitorado 24 horas. – ficamos todos um pouco chocados e abalados ao saber disso e nem ao menos conseguimos disfarçar. – Não se preocupem, ele está estável agora. Eu vim aqui para receber vocês, mas o meu namorado, Liam, está lá no hospital por mim caso aconteça alguma coisa. Não gosto de deixar o David sozinho.

- Precisamos conhecer essa lenda. – Carter, o outro sem noção, responde, se referindo ao namorado dela, recebendo uma cutucada da minha prima como repreensão.

- Vocês irão. – Anneliese responde, sem se importar. – O motorista está nos esperando. Venham. – ela pede e faz um gesto para que a acompanhemos.

Até estranho ouvi-la falar isso, pois tanto ela quanto David nunca foram de ostentar a sua riqueza, tanto que eu até esqueço que eles são podres de ricos, por isso é incomum vê-la usufruindo disso, mas quem sou eu para dar palpite.

Atravessamos o aeroporto e, na saída, realmente tem um carro preto luxuoso que mais parece uma limusine à espera, e Anneliese confirma ser este mesmo. Guardamos nossas malas, e entramos no carro. Todos parecem meio constrangidos e ninguém abre a boca para falar nada.

- Desculpem pelo luxo, eu não sou muito boa motorista e não me senti em condições de dirigir, além de que eu precisava de um carro grande que coubesse todo mundo, então peguei o carro e o motorista do meu pai emprestados. – Anneliese parece na obrigação de dizer, será que a deixamos desconfortável?

- Tudo bem, quem não gosta de um pouco de luxo, não é mesmo? – Courtney indaga num tom descontraído.

- Não tem problema mesmo ficarmos na sua casa? – Sam pergunta. – Sabemos que seu pai não é muito receptivo.

"Não é muito receptivo"? Você está sendo gentil até demais, não acha, prima? O homem é o próprio capeta.

- Claro que não. Nossa casa é enorme, tem espaço de sobra para todo mundo. – Anneliese garante, mas não tenho tanta certeza de que o pai dela está de acordo com isso.

Prosseguimos pelo restante do caminho em silêncio, e eu aproveito para dar uma olhada na paisagem pela janela. Chicago me parece ser uma cidade muito contemporânea e cosmopolita, mas, ao mesmo tempo, muito bonita. É uma pena mesmo que esse lugar tenha feito tão mal para o meu amigo.

Não demora muito até que o carro entra em condomínio de alta classe e extremamente luxuoso, dá pra ver que só milionários moram aqui apenas pelas fachadas das casas. Tinha me esquecido de como o Mason é ostentador, e tenho mais certeza disso ainda quando o carro para no que deve ser a casa deles. Nem consigo contar quantos andares o prédio tem, a arquitetura é toda rebuscada, lembrando um modelo meio provençal e uma escada enorme que me cansa só de olhar. E eu achava que a casa de Boston já era demais.

Descemos do veículo e o motorista ajuda as meninas a carregarem suas malas. Respiro fundo antes de enfrentar a escada de mil andares e subimos. Anneliese abre a porta da frente para nós e a casa está completamente silenciosa, chego a pensar que o insuportável não está aqui, mas logo sou contrariado ao ver a sua imagem arrogante parando no corredor.

- O que está acontecendo aqui? Quando foi que a minha casa virou uma república para adolescente rebeldes? – Mason pergunta com sua imensa simpatia que faz todo mundo querer morrer.

- Estes são os amigos do David lá de Boston, lembra, pai? – Anneliese responde com a maior paciência. É gêmea do David mesmo. – Eu pedi para que eles viessem para dar um apoio ao que David está passando no momento.

- E você pediu a minha permissão, Anneliese? – ele rebate furioso. – E, outra, eu lá por acaso me importo com o David? Quando eu finalmente tenho um pouco de paz daquele maldito, desejando que ele bata as botas logo, você traz uma manada de adolescentes iguais a ele para a minha casa? Só pode ser brincadeira. – ele gesticula indignado. Eu odeio esse homem com todas as minhas forças, eu juro.

- Pai, você está sendo rude. – Anneliese tenta repreendê-lo gentilmente. Admiro sua paciência, eu não teria, aliás já estou explodindo de raiva. – Nossa casa é enorme, tem inúmeros quartos de sobra, achei que não seria nada demais oferecer dois para eles.

- Isso só pode ser uma piada. – Mason começa a dizer, mas eu sou atrevido em interromper.

- Nós não fazemos questão, podemos pagar por um hotel e é lá que vamos ficar. Não somos obrigados a ficar numa casa onde não somos bem-vindos.

- Assim como eu também não sou obrigado a receber hóspedes indesejados. – ele retruca.

- O sentimento é mútuo. – acrescento e viro as costas para ir embora. Caralho, subi aquelas escadas infernais à toa.

- Inclusive, o que essa ruiva pilantra está fazendo aqui? – o embuste questiona e, pela primeira vez, eu concordo com ele. – Eu não me esqueci do golpe da barriga que você tentou dar.

- Eu já me arrependi disso. E eu me importo com o David, ele foi uma parte muito importante da minha vida, me sinto no direito de estar aqui. – ela retruca sem se intimidar.

- Que seja. Eu não tenho tempo para vocês e seus dramas adolescentes. – o mais insuportável dos Allen resmunga e revira os olhos.

- Bom, nesse caso, eu pago pelas despesas de vocês no hotel. Fui eu que chamei vocês para virem aqui de qualquer forma. – Anneliese tenta arranjar outra solução, me fazendo virar de volta de frente para ela.

- O quê? – o meu grupo e o pai dela respondemos em uníssono.

- Eu não vou permitir que você gaste dinheiro com isso, Anneliese. – Mason afirma bravo, mas não parece intimidá-la.

- O senhor não quer que eles fiquem, então eu vou pagar sim. – ela o desafia, o que me impressiona. Se fosse o David, já teria levado um murro na cara.

- Então eu prefiro que eles fiquem do que você gaste uma fortuna de hotel com eles. – o crápula se rende, me deixando mais impressionado ainda. Seu apego com dinheiro consegue ser maior do que o seu repúdio por nós, uau. – Não é como se eu passasse muito tempo nessa casa mesmo. – ele revira os olhos e nos dá as costas, sumindo para algum lugar.

- Venham. – Anneliese nos chama, ignorando toda a discussão anterior e vai na frente para nos indicar o caminho.

Passamos por um corredor enorme que dá para várias salas, todas muito luxuosas, demais para o meu gosto, até que chegamos numa grande sala de estar no fundo com uma escada em direção aos pisos superiores. Subimos para o segundo andar, o que eu estranho, pois parecem ter quartos no andar de baixo, mas tudo bem.

Anneliese abre a primeira porta à direita e avisa: – As meninas podem ficar neste quarto. Vocês dois – ela aponta para mim e Carter – podem ficar no da frente. Os quartos são grandes, têm espaço para todo mundo e os banheiros ficam ao lado. Sintam-se à vontade, podem me chamar se precisarem.

Todos concordamos discretamente com a cabeça e a loira desce as escadas, saindo para algum lugar. Eu e Carter pegamos nossas malas e entramos no quarto da frente enquanto as meninas pegam as malas delas e entram em seu quarto. É, ela tinha razão. Os quartos são grandes mesmo, dá para treinar baliza aqui dentro.

***

Já é segunda-feira e todos nós acordamos cedo, pois ninguém parece ter dormido direito. Ontem, depois que nos alojamos nos quartos, Anneliese pediu pizza para nós e voltou para o hospital em seguida. Carter e eu nos juntamos às meninas no quarto delas e ficamos até tarde, comendo e bebendo, relembrando diversos momentos incríveis que passamos juntos em nosso grupo. Decidimos lidar com a dor lembrando do quanto David é especial para nós do que ficarmos nos lamentando, me parece um tanto eficaz.

Estamos os cinco sentados na sala de estar, completamente desconfortáveis, como crianças que estão à espera da mãe chegar para busca-los na escola, esperando Anneliese chegar para nos levar até o hospital.

- Vocês também estão com medo de ver pessoalmente como ele está ou sou só eu? – Samantha pergunta, quebrando o gelo entre nós.

- Eu também. – Carter concorda. – Não sei se estou preparado para vê-lo neste estado.

- Eu já sei que não estou. – comento. – Mas preciso vê-lo mesmo assim.

- Todos precisamos. – Courtney acrescenta. – Mas estamos aqui, para darmos forças uns aos outros. – ela pega na minha mão e da Sam, que estamos ao lado dela.

- Que bom que já estão prontos. – ouço a voz de Anneliese ecoando atrás de nós. – Vamos? – sua voz parece um pouco mais animada hoje e isso me deixa um tanto aliviado.

Nós cinco nos levantamos e a seguimos. Quando saímos da casa, o motorista está novamente nos esperando naquele carro estupendamente chique. O caminho até o hospital é um tanto longo e eu me pergunto por que colocaram ele em um lugar tão longe de casa.

Quando chegamos no hospital, Anneliese nos identifica para uma recepcionista e uma enfermeira nos conduz até o quarto de UTI onde David está. Ao ficarmos de frente para aquelas janelas de vidro enormes e vermos o nosso amigo totalmente sem cor e cercado por diversos aparelhos, não conseguimos ter outra reação a não ser de choque total. Eu nunca tinha visto uma pessoa em coma pessoalmente antes e confesso que é muito assustador.

- Infelizmente, vocês não podem entrar todos lá dentro de uma vez. – a enfermeira informa, como já era de se esperar. – Podem ir até dois no máximo.

- Vocês vão primeiro. – digo, indicando Samantha e Courtney para parecer cavalheiro, mas, na verdade, estou evitando de ter que ir primeiro. Ainda estou em choque apenas em vê-lo pela janela.

As duas parecem sem jeito em recusar, então acabam aceitando e entram. Viro de costas para não observar mais a cena. Já está sendo dolorido o suficiente.

David é o meu melhor amigo e tem sido como um irmão que eu nunca tive desde que nos conhecemos, portanto vê-lo no limbo entre a vida e a morte é assustador, desesperador e doloroso. Ele sim merecia estar vivo e cheio de saúde como eu estou agora, não eu. Ele merece todas as coisas boas do mundo, na verdade, mas a vida insiste em apenas lhe dar socos e tapas na cara, eu não consigo entender.

Lembro-me da primeira vez que eu vi o David, foi na aula de música. Ele ainda tinha aquela franja meio emo e usava só preto. Quase dei risada na cara dele por ele estar fazendo aula de guitarra, pois o seu jeito mauricinho misturado com rebelde sem causa – totalmente equivocados – me fizeram pensar que ele não levava jeito nenhum para a coisa. Porém, paguei a minha língua poucos minutos depois quando ele começou a tocar. Fiquei completamente hipnotizado e de queixo caído, ele me ganhou naquele momento. Não me importo em admitir, por mais cafona ou gay que isso possa parecer.

Imediatamente, fui dizer a ele que tinha sido apenas uma brincadeira, pois, obviamente, eu não iria admitir o meu erro, e David aceitou numa boa e pareceu não ligar para o quão babaca eu tinha sido. Seu coração me pareceu tão puro, ao contrário do meu podre, que ele me ganhou novamente naquele momento. E depois mais uma vez, quando soube de tudo que ele já tinha passado e, ainda assim, continuava sendo a pessoa mais empática e altruísta que eu já vi na vida.

Estou perdido em meus devaneios quando sinto a mão de Courtney acariciar meus ombros, me dando um leve susto, que me traz de volta para a realidade.

- Todos nós já fomos. Só falta você. – ela avisa. Caramba, nem percebi que já se passou tanto tempo. – Achamos que você iria querer um momento a sós com ele.

Concordo com a cabeça. – Obrigado. – me levanto e dou um selinho rápido nela, entrando no quarto em seguida.

A cada passo que me aproximo do seu corpo imóvel e inerte, sinto a dor ficar mais aguda no meu peito. Por que isso tinha que acontecer com ele? Tanta gente horrível no mundo para acontecer esse tipo de coisa, por que tinha que ser justo com uma das melhores?

Sinto um frio na espinha, pois, se não fosse pelo barulho do aparelho monitorando seu coração, ele se parece com um defunto. Porra, que merda! Sinto vontade de sair chutando tudo, mas me controlo para não fazê-lo. Não vai adiantar de nada, pelo contrário, só vai piorar tudo.

- David... – começo a dizer baixo, observando-o. – Eu não sou muito bom com as palavras, você sabe bem disso, mas você é uma das poucas pessoas que eu já conheci que tocaram a minha alma no seu mais profundo. E só por isso você já merece parabéns, pois pouquíssimas pessoas conseguiram esse feito. Enfim, eu imagino que você esteja se sentindo sozinho agora, por não ter uma família além da sua irmã, que te apoie e por ter perdido aquela louca que te colocou nessa situação e que, apesar de tudo, era o amor da sua vida. Mas você não está. A Courtney, a Samantha, o Carter e até a outra louca da Amanda estão aqui. Eu estou aqui. Você é importante para nós. Nós te amamos, por mais que sejamos péssimos em demonstrar, mas estamos nos esforçando, e é por isso que estamos aqui, mesmo que você não tenha consciência disso. Mas eu não quero transformar esse discurso em um momento triste, não. Estava passando pelas minhas memórias, lembra daquele dia em que fingirmos ser rockstars? Foi foda. – rio com a lembrança.

FLASHBACK: Quase um ano atrás, em outubro.

Coincidentemente, eu e David brigamos com nossos pais no mesmo dia, no caso, hoje. Aparentemente, ambos concordam que somos desprezíveis e fracassados. No meu caso, posso até concordar, mas David? Jamais. Eu nunca vou conseguir entender por que o pai dele tem tanto desprezo por ele. Queria eu ser um filho como ele é.

- Quer fazer uma coisa inesperada? – pergunto para David antes de dar partida no carro.

- Quero. – ele responde, como eu sabia que concordaria. David nunca hesita em topar as minhas loucuras e ele tem um tesão por adrenalina aleatoriamente, não tento entender.

- Nossa vida está uma merda, então o que acha de fingirmos ser outras pessoas por um dia? – sugiro. – Está tendo um concurso de bandas de rock em Brockton, podemos ir para lá e fingirmos ser estrelas do rock, como se já tivéssemos um banda concreta. – explico a minha ideia.

O loiro pensa por alguns segundos e responde: – Aceito. Vai ser bom fingir que eu não sou eu mesmo por um dia e parecer um rockstar me soa atrativo.

- Beleza. – comemoro, dando partida no carro e peço para David ligar para o Deryck e avisar que estamos passando lá. Ele é outro que nunca questiona minhas loucuras e sei que vai topar sem pensar.

Alguns minutos depois, pego o baterista cabeludo na calçada de sua casa, e colocamos o pé na estrada sem olhar para trás. Vai ser ótimo fingir que não sou eu mesmo e que essa não é a minha vida por um dia, eu preciso disso. Sempre quis ter uma banda de rock mesmo, vou adorar fingir que já sou do ramo.

Piso no acelerador e já estamos saindo de Boston, quando David decide trocar a música do rádio e coloca "In My Remains" do Linkin Park para tocar. Nos representa muito bem agora.

- Ótima escolha, Allen. – elogio enquanto sinto os primeiros toques da música eletrizarem o meu corpo. Adoro essa, Chester é uma lenda.

- É Adam agora. – David me corrige, já entrando no espírito da coisa.

- Tipo o Gontier? – indago.

- Exato. – ele confirma. – E você?

- Kurt. – respondo sem pensar muito.

- Que nem o Cobain? – indaga de volta.

- Isso. – confirmo com satisfação. Tenho até uma Courtney em vista, além de já ter um Dave. – E você, Deryck?

- Deryck mesmo. Eu gosto do meu nome. – vejo-o dando de ombros pelo retrovisor e nós três concordamos.

Cantamos "In My Remains" a plenos pulmões e no último volume, interpretando e balançando a cabeça como doidos, e Deryck tocando suas baquetas nos bancos, mas não estamos nem aí. Hoje não queremos sentir culpa e nem vergonha de nada, já sentimos isso demais todos os dias, hoje queremos apenas ser livres nem que seja escondidos por um personagem.

Fazemos uma sessão cantoria por todo o caminho, já nos aquecendo para nos apresentarmos logo mais. Não demoramos para chegar a Brockton, apenas meia hora de viagem e passamos pela placa de boas-vindas. Peço para David colocar no GPS o local do concurso e torço para esse troço funcionar desta vez. Aparentemente é num galpão que costuma acontecer esse tipo de evento, imagino que seja um lugar bacana.

Tenho sorte e a merda do GPS funciona direito pela primeira vez. Quando chegamos, o lugar já aparenta estar meio cheio, pois a garagem está lotada de carros e alguns trailers. Bateu um pouco de medo de pagarmos um mico enorme e sermos humilhados por bandas profissionais de fato, mas já chegamos até aqui, então ignoro essas paranoias.

- Quer desistir? – David pergunta ao me ver encarando o cenário lotado.

- Eu? De jeito nenhum! – respondo tentando soar óbvio para não parecer que eu cheguei a amarelar por um segundo. – Vamos, time.

David e Deryck caminham ao meu lado, estou no meio, na nossa melhor pose de rockstars, carregando nossos instrumentos nas costas – menos o Deryck, é óbvio. Entramos no local e parece que me abriram as portas do paraíso, aqui é o meu lugar. O galpão é enorme, com uma decoração bem rock n roll vintage, com pôsteres e quadros de bandas clássicas, paredes pretas, luzes amareladas e chão de madeira, além de ter um bar bem estiloso.

- Pelo visto, você está se sentindo em casa. – David brinca comigo, colocando a mão sobre o meu ombro.

- É melhor do que na minha casa. – respondo com um sorriso.

- Boa tarde. – uma recepcionista negra linda, de lábios fartos e cachos marcantes, chama a nossa atenção. – Vocês estão aqui para o concurso?

- Estamos. – confirmo. – Ainda podemos nos inscrever?

- Vocês estão com sorte, ainda temos algumas vagas restantes. – ela responde. – Qual o nome da banda?

- Dead Skull. – respondo orgulhoso. Nem acredito que isso está acontecendo de verdade.

- E os nomes individuais de vocês? – ela questiona e eu quase não presto atenção, pois estou hipnotizado pelos seus grandes olhos caramelos.

- Deryck, – aponto para ele – Kurt, – aponto pra mim – e Adam. – aponto para David.

- Vocês já têm nomes de rockstars. – ela responde impressionada. – Sentem-se na mesa 15 da lanchonete.

- Obrigado. – agradeço com um sorriso sedutor, tentando flertar com ela, mas não sou correspondido. Droga.

- Ela ficou reparando em você. – Deryck comenta, se referindo ao David.

- O quê? – eu e ele indagamos em uníssono.

- Claro que não. Pff. – David responde inconformado. Ele e sua mania de achar que não é nada interessante ou atraente quando é justamente o contrário.

- Só porque eu não tenho olhos azuis. – resmungo e rolo os olhos.

- Vocês estão delirando. – ele contesta e seguimos para a mesa que a recepcionista nos indicou.

Logo que sentamos na nossa mesa, um garçom vem nos atender e pedimos uma rodada de vodca com gelo e limão, porque, mesmo fingindo sermos outras pessoas, ainda estamos sofrendo e com o coração dolorido.

- Eu realmente vou precisar disso aqui para conseguir pisar naquele palco. – David comenta girando o gelo dentro do seu copo e dá uma longa golada.

- A sensação vai ser melhor do que você espera, eu te garanto. – respondo dando um tapa no seu ombro e viro um gole da minha bebida também.

Bebemos mais algumas rodadas e comemos uma porção enorme de frango frito enquanto assistimos às outras bandas se apresentarem. As primeiras são muito fraquinhas, nem me sinto intimidada por elas, apenas uma me pareceu uma concorrente à altura e era uma banda de garotas, meu pau ficou até duro. A banda que está se apresentando agora é até boa, mas o vocalista não tem presença de palco alguma, chego até a ficar com pena dele.

- Sempre quis namorar uma garota guitarrista ou baterista, tenho muito fetiche nisso. – David menciona, entretanto está perdido em algum lugar profundo em seus pensamentos.

- Você parece ter algo por garotas perigosas mesmo. – respondo com uma risada e finalizo a minha bebida. – Somos os próximos. – lembro.

- Estou pronto. – David responde com uma segurança que eu nunca havia visto, e gostei disso, ele deveria ser assim mais vezes.

No mesmo instante, a banda termina sua apresentação e o organizador do concurso os parabeniza e convoca a próxima que, como eu disse, somos nós. Bate um frio na barriga enquanto andamos até o palco, mas logo passa porque eu sou completamente apaixonado pela sensação de estar num palco e transmitir a emoção que a música proporciona.

Subimos alguns degraus de escadas, pegamos nossos instrumentos e nos posicionamos. David parece estar tranquilo, o que me impressiona, então ele está fingindo muito bem ou realmente entrou no espírito de ser outra pessoa e esqueceu todos os seus traumas e medos. Quando estamos prontos, dou uma olhada nele, que me olha de volta na mesma hora, como se eu estivesse perguntando se está tudo bem com ele e a nossa conexão não falha, portanto ele sinaliza com a cabeça que sim, então eu sorrio e começo.

- Boa tarde a todos. Meu nome é K..urt, – quase deixo cair o disfarce, mas consigo segurá-lo a tempo – e estes são meus companheiros, Adam e Deryck, nós somos o Dead Skull. – nos apresento e a plateia, muito educada, bate palmas. – Por enquanto, ainda somos uma banda de covers, mas, dependendo da empolgação de vocês, podemos apresentar um original. – digo animado, fazendo a plateia vibrar e David me fuzilar com o olhar, pois todos os "nossos" originais são dele, porém faço uma expressão para que ele se acalme. – Obrigado pela sua animação, Brockton, é um prazer tocar para vocês. – sorrio e sinalizo para os meus companheiros que podemos começar e iniciamos.

Nossa primeira música é "Figure It Out" do Royal Blood, como havíamos combinado, e David é quem começa na guitarra e eu confesso que sinto meu coração vibrar na mesma intensidade que ele toca as cordas do instrumento e explodo de felicidade por dentro. É a primeira vez que tocamos juntos em público e é como estar realizando um sonho, mesmo que não vá durar por muito tempo. Por enquanto, me basta.

Estou tão feliz neste momento que esqueço por completo que eu estava triste ou porquê eu estava triste e apenas me entrego no fluxo da canção e da sensação de libertação, pois no palco é onde eu me sinto realmente livre e encaixado no mundo, como se tudo parecesse certo e tudo fizesse sentido.

Na sequência, tocamos "Hysteria" do Muse, "All My Life" do Foo Fighters e "In The Dark" do 3 Doors Down e, caralho, o prazer que sinto em ouvir David tocar é indescritível, ele é fantástico e faz parecer como se estivesse fazendo a coisa mais fácil do mundo, somente os bons conseguem passar essa sensação. Queria muito que fôssemos uma banda de verdade e David o meu guitarrista, seríamos imbatíveis.

Diversas vezes, olho para ele quando toca, principalmente nos seus solos impecáveis, e vejo como meu amigo se entrega no que está fazendo, é quase palpável o tesão que ele passa ao tocar e a conexão com o instrumento. Toda a sua pinta de playboy mauricinho riquinho vai embora e ele se parece com uma verdadeira estrela do rock, nos seus movimentos, gestos e expressões, o cabelo bagunçado e, gostaria que ele tivesse uma noção da presença de palco que ele tem. David consegue dominar o ambiente tanto quanto eu sem deixar com que eu seja ofuscado, temos uma harmonia realmente incrível.

Quando terminamos, eu me atrevo a questionar: – Vocês querem ouvir aquele original que eu mencionei, Brockton?

Eu olho para David, enquanto a plateia grita alto, fazendo-o lançar para mim um olhar de quem vai me matar, mas eu curvo as mãos para cima num gesto de que não posso fazer nada, por isso ele apenas balança a cabeça e sorri.

- Vocês vão adorar essa. Se chama "Hunter of Souls". – anuncio e nos aplaudem.

David compôs tudo nessa canção, tanto a letra quanto a melodia, como ele sempre faz, e essa começa com a guitarra suave e lenta, mas não demora muito para que eu comece a cantar. Decorei essa fácil porque é uma das minhas preferidas.

"I feel something growing in me

I cannot control it nor stop it

This feeling of darkness

It seems kinda creep

But it's the only thing that still comforts me"

Neste momento, a guitarra começa a criar mais força, assim como o meu baixo se sobressai mais e a bateria também.

"The darkness eats me out alive

I can feel its hunger for my soul

Devouring each bit of my mind

I like what it provokes me though"

O refrão é a próxima parte e onde a canção começa a ficar mais agressiva, eu adoro esse dégradé.

"I try to reach out the light

But every time I come closer

It only seems farther

That's when I fall apart

'Cause I'm on the ground

Consumed by the dark"

Agora a música volta a ficar um pouco mais leve, apenas para ser elevada novamente depois.

"This pain seems to never go away

Sometimes it can drive me insane

Then something reminds me

If I don't feel nothing,

I have no reason to escape"

Voltamos para o refrão na mesma agressividade de antes, então tem um solo de guitarra sensacional que traz ainda mais intensidade para a música, que já é pesada.

"Running throughout the black

My soul has been hunted by it

A prison inside of me is suffocating

But when I surrender, it makes me freed

I don't fight it, I won't fight it

Because it is delighting

While everyone is looking for a spark

My flame is out of oxygen

'Til it's erased by my dark"

Depois dessa ponte que é, com certeza, a minha parte favorita da música, voltamos para o refrão duas vezes e finalizamos com a melodia no seu ponto mais alto, com agudos, David fazendo meu eco de fundo, e os instrumentos em energia total. Acho que finalizamos com chave de ouro.

A plateia vibra e nos aplaude avidamente, meu peito se enche de orgulho, não só por mim e pela banda, mas, principalmente, por ver que David conseguiu superar seus traumas e inseguranças, mesmo que por alguns minutos, e mais do que isso, ver as pessoas adorando e exaltando algo que ele criou, é tudo que ele merece.

Agradeço pela oportunidade novamente e nos aplaudo também, com os meus dois companheiros me acompanhando, e é ótimo ter colocado um sorriso nesse rosto tão inseguro, espero que ele esteja sentindo tanto orgulho de si mesmo quanto eu estou sentindo agora. Seu talento é absurdo e espero que ele esteja se dando conta disso.

DE VOLTA AO PRESENTE

- É, parceiro, você faria muito sucesso como rockstar. – comento, sorrindo com a lembrança. – E é por isso que você tem que acordar e viver. Você tem muito o que conquistar ainda.

- Jared? – ouço uma voz feminina me chamando ao fundo, é Anneliese. – O horário de visitas acabou. Venha. – ela me chama.

Concordo com a cabeça e saio do quarto, encontrando com os outros no corredor. Courtney me abraça ao me ver, pois deve ter notado meus olhos lacrimejando, afaga as minhas costas e dá um beijo no meu ombro.

- Olá, eu sou o Liam. – um rapaz alto, moreno, de olhos verdes e muito bem-apessoado, nos cumprimenta. – Sou o namorado da Anneliese. – as meninas ficam surpresas e nem ao menos tentam disfarçar.

- Então você é a lenda. – faço a brincadeira que Carter fez antes, mesmo que eu o tenha repreendido mentalmente, porque eu simplesmente não posso deixar de ser inconveniente.

- O próprio. – ele responde com um sorriso de canto, parecendo não se importar. – E vocês são o famoso squad de Boston?

- Correto. – respondo.

- Ficamos surpresos quando o David nos contou que você estava namorando. – Samantha comenta.

- Não entendo por quê. – o tal Liam se intromete. – Anneliese é uma garota fantástica e repleta de qualidades, qualquer cara seria sortudo em ser seu namorado. – ele rebate, todo na defensiva, e nós sentimos o tapa na cara não muito delicado.

- Desculpe, nós não tivemos a intenção de ofender. – Courtney responde, tentando nos redimir. – É só que... bem, deixa pra lá.

Sei exatamente o que a minha namorada ia dizer, que Anneliese não parecia estar tão interessada em um relacionamento antes, ou pior, que ela não era do tipo de garota que atrairia um cara do porte dele, ou algo desse tipo, por isso também concordo que foi melhor ela não ter falado nada e fingido demência.

- De qualquer forma, foi bom conhecer vocês. – Liam menciona, parecendo sincero.

- Igualmente. – Sam concorda com um sorriso simpático.

***

Voltamos para o hospital no dia seguinte, terça-feira. David continua bem e estável, felizmente, mas viajamos até aqui para lhe dar apoio, e é isso que vamos fazer. Mesmo que os médicos digam que ele não tem consciência de nada, ainda achamos que a nossa presença possa lhe fazer algum bem.

Estamos na recepção, esperando o horário permitido para visitas, e uma notícia na TV aqui perto chama a minha atenção em particular. A repórter está em frente a uma delegacia e diz:

- A jovem aspirante a modelo, Crystal Müller, filha da estilista Georgia Müller e do corretor Robert Müller, está processando o filho do empresário Nichols Wright, Sean Wright. A acusação é por tentativa de homicídio e... – não ouço o restante, pois vejo a própria aparecendo no balcão da recepção. Mas é muito abusada, tem gente que não se toca mesmo.

- Com que direito você acha que tem de vir até aqui? – questiono, me levantando depressa e indo até ela, irritado com a sua ousadia.

- Com todo o direito que eu quiser. – ela responde com um riso de deboche. – Eu vim visitar o meu namorado que está internado.

- Seu namorado? – é a minha vez de rir de deboche na cara dela. – Você está louca ou com amnésia para ter esquecido que você mesma terminou com ele e por sua causa, ele está na beira da morte. – não me importo em acusa-la, quero mesmo que ela sinta o peso de suas ações.

- Pelo visto, vocês, bostonianos, não têm costume de acompanhar o noticiário. – ela alfineta, me fazendo lembrar da notícia sobre ela que estava passando há pouco, mas que não vi até o final, sua petulância me chamou mais a atenção. – Eu estou processando Sean Wright.

- Quem é esse e o que ele tem a ver com isso? – pergunto, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas.

- Tudo. – ela revira os olhos. – Ele já foi meu namorado quando eu era mais nova e voltou pra cá para me atormentar. Ele ameaçou a vida do David, me disse que o mataria se eu não terminasse com ele, foi por isso que eu fiz o que fiz. – ela explica firme, apesar do semblante nervoso. – Eu não sou uma filha da puta como vocês estão pensando, achando que eu terminei com o David simplesmente porque sou sem escrúpulos. Eu estava tentando salvar a vida dele. – ela fala mais alto para que os outros possam ouvir.

- Eu sinto muito, Crystal. – Samantha menciona ao meu lado, se aproximando de nós. – Não consigo acreditar que aquele lixo realmente fez aquilo com você.

- Ele fez. – a morena confirma, mas não parece interessada na piedade de ninguém.

- O que esse lixo fez além de quase ter matado o meu amigo que aparentemente eu não estou ciente aqui? – questiono.

Samantha parece ficar sem jeito de dizer o que seria a tal coisa, mas Crystal bufa e balança a cabeça. Ela não larga dessa arrogância de jeito nenhum, que coisa irritante.

- Ele me estuprou. – ela responde com firmeza, me deixando surpreso e completamente em choque. Por essa, eu não estava esperando. – Ele tirou a minha virgindade sem a minha permissão de forma bruta e nojenta quando eu ainda era namorada dele. – sua pose não se desfaz nem por um milésimo de segundo, ou ela não se abala mais com isso, ou ela realmente sabe interpretar muito bem.

Agora tudo faz sentido. É por isso que quando David levou Crystal para nos conhecer lá em Boston, ele contou que eles nunca tinham transado, óbvio, ela deveria sofrer por conta desse trauma ainda. Ele realmente estava certo quando disse que o assunto era muito mais sério do que poderíamos imaginar. E pensar que eu cheguei a fazer piadinhas sobre isso, meu Deus, como eu posso ser tão babaca?

- E ele tentou novamente ontem, mas, felizmente, foi impedido a tempo. – Crystal acrescenta e agora eu realmente fico calado, pois sinto que não tenho mais local de fala aqui, estou impressionado demais, é muita informação para a minha cabeça.

- Você não poderia ter denunciado aquele imbecil antes que ele tivesse feito algo contra o David? – a ruiva, que também não tem local de fala, vem querer se intrometer.

- Eu já sabia da fama de que loiras são burras, mas ruivas são um conceito novo para mim. – Crystal debocha. – Qual a parte de "Sean é um psicopata obsessivo e controlador" você não entendeu? Se eu tivesse outra escolha, é óbvio que eu teria feito diferente, mas estava sob ameaça total, o demônio controlava todos os meus passos. Só consegui fazer essa denúncia ontem por um tremendo golpe de sorte. – ela não tira o sarcasmo por um segundo da língua. – Aliás, o que é que você está fazendo aqui? David também ficou na beira da morte por sua causa e não faz muito tempo.

É o que eu também me pergunto a cada minuto ao ver essa ruiva louca aqui com a gente.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu, ok? – Amanda tenta se defender. – Eu não tive a intenção de fazer nenhum mal a ele, eu estava passando por um momento difícil e claramente não estava pensando direito.

- Ah, mas não estava pensando direito mesmo. – Crystal debocha mais um pouco simplesmente porque isso transpira nela. – Eu estava. E eu tive que usar cada nervo do meu corpo para fazer o que eu tive que fazer com David, porque eu o amo e a vida dele consegue valer ainda mais do que a minha.

Olha, eu não posso deixar de concordar. David é praticamente um anjo, já você é outra louca também, feita de puro sarcasmo e arrogância.

- Você pode até amá-lo, – me intrometo no assunto, porque não consigo me conter – mas você não é boa para ele. – sinto que ela se abala um pouco com o que digo. – A vida do David só ficou mais conturbada depois que você apareceu nela, você só trouxe mais problemas. – ela abre a boca para dizer alguma coisa, mas eu não lhe dou chance para rebater. – E o David já tem problemas demais. Ele merece um amor simples, descomplicado e saudável e isso é tudo que você não pôde oferecer a ele. – afirmo, tentando provar o meu ponto. Eu realmente não estou duvidando que ela o ama o tanto que ela diz que ama, mas o relacionamento dos dois era extremamente desgastante, sei só pelo que eu acompanhava de longe.

- Você tem razão. – ela concorda, o que me impressiona. – David realmente merece um amor simples, descomplicado e saudável, que o faça feliz como ele merece, mas...

- Mas nada. – interrompo-a novamente. – Se você o ama tanto quanto diz, você deveria libertá-lo.

Assim que digo isso, ouço um pequeno barulho de alarme soar, e a recepcionista se apressa em fazer diversas ligações e pedir socorro urgente para o quarto 304. Ai meu Deus. É o quarto do David.

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