Neutro

By -Tanchi

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Se meter com as pessoas erradas tem as suas consequências. Falyn Lake conheceu um rapaz. E tudo o que ela que... More

notas.
epígrafe.
um.
dois.
três.
quatro.
cinco.
seis.
sete.
oito.
nove.
dez.
onze.
doze.
treze.
catorze.
quinze.
dezasseis.
dezassete.
dezoito.
dezenove.
vinte.
vinte e um.
vinte e dois.
vinte e três.
vinte e quatro.
vinte e cinco.
vinte e seis.
vinte e sete.
vinte e oito.
vinte e nove.
trinta.
trinta e um.
trinta e três.
trinta e quatro.
trinta e cinco.
trinta e seis.
trinta e sete.
trinta e oito.
trinta e nove.
quarenta.
quarenta e um.
quarenta e dois.
quarenta e três.
quarenta e quatro.
quarenta e cinco.
quarenta e seis.
quarenta e sete.
quarenta e oito.
quarenta e nove.
cinquenta.
cinquenta e um.
cinquenta e dois.
cinquenta e três.
cinquenta e quatro.
Tem algum sobrevivente?
quarenta e cinco.

trinta e dois.

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By -Tanchi


Tal como prometido, Haden estava a minha espera do lado de fora do café, dentro do carro a mexer no celular, alheio a tudo a sua volta. Por isso quando me aproximei, bati levemente no vidro do carro, o suficiente para atrair a sua atenção. Sorri minimamente para ele quando o mesmo me encarou e dei a volta para poder entrar.

— Como foi? — ele perguntou, enquanto me observava sentar ao seu lado e colocar o cinto de segurança.

— Legal — foi a única coisa que respondi.

— E esse pedaço de papel na sua mão? — olhei para a minha mão.

No pedaço de papel — que nos foi oferecido por uma garçonete quando pedimos — tinha o endereço do apartamento que Keanu iria alugar assim que saísse do orfanato para eu poder o visitar sempre que quisesse.

— Nada de importante — dei de ombros. Amassando o papel nas minhas mãos porque já não precisava dele. Tenho uma boa memória e lembraria-me perfeitamente do endereço quando precisasse.

Não muito satisfeito com a minha resposta, ele questionou:

— E o seu amigo? Para onde foi?

— Já foi embora. Você não o viu porque estava concentrado no celular — quando ele estava prestes a abrir a boca, ergui a mão. O pedindo silenciosamente que calasse. — E por favor, pare de me fazer perguntas. Eu não gosto.

Isso só o motivou a fazer o contrário do que pedi.

— Não estaria a fazer perguntas se você não estivesse a dar-me respostas curtas.

— Estou a dar-te respostas curtas porque é um assunto que não te interessa — fui rude, irritada com a insistência dele.

Ele fechou a cara e apenas murmurou um “ok”.

Cruzei os braços, e virei o rosto para o lado oposto do dele, sentindo-me arrependida no momento a seguir. Sabia que a minha reação havia sido um pouquinho exagerada, mas não conseguia evitar. Eu tinha a noção de que quando estava frustrada com alguma coisa, descontava no primeiro ser humano que me aparecia a frente. E o motivo da frustração é não ter nenhuma ideia de como ajudar as garotas que estão desaparecidas.

Soltei um suspiro pesado e me encolhi mais no banco. 

Queria pedir a Haden para ir a casa dele, mas não sabia como. E depois da nossa pequena e insignificante discussão o orgulho não me permitia abrir a boca.

Nem parece que a algumas horas atrás estávamos felizes.

— Desculpa — um murmúrio baixo despertou a minha atenção fazendo-me encarar o rapaz ao meu lado com as sobrancelhas erguidas, surpresa.

— O quê? — me fiz de desentendida. — Não ouvi o que você disse.

Ele soltou um riso irónico, mas repetiu.

— Desculpa — a sua voz saiu mais clara dessa vez. — Desculpa por tê-la pressionado. Não foi a minha intenção ser invasivo, mas é que você entrou aqui com uma cara de poucos amigos e só queria ajudar.

— Eu também peço desculpa por ter sido tão rude sem muita necessidade — deixei o orgulho  de lado.

— Agora posso respirar melhor — brincou, a fazer com que o clima tenso se dissipasse tão rápido quanto surgiu.

— Para onde estamos a ir? — decidi arriscar, não perdia nada a tentar.

Ele desviou o olhar da estrada para mim por alguns segundos, intrigado.

— Para que outro lugar iria? — respondeu a minha pergunta com outra pergunta.

Mordi o interior da bochecha, receosa. Não queria que ele interpretasse mal as coisas. Que pensasse que por conta de um beijo eu havia idealizado um futuro para nós os dois, quer dizer, até agora isso ainda não aconteceu, mais sei que eventualmente irá. Por mais que queira não tenho coração de pedra.

— A sua casa? — sugeri, com a voz baixa.

— A minha casa? — havia estranhamento na sua voz. — Porquê?

— Só queria respirar um pouco. Aquela casa deixa-me doente — expliquei.

— Está bem.

— Sério? — não consegui disfarçar a minha empolgação.

— Sim, não vejo nenhum problema.

Ele parou o carro por conta do semáforo que estava vermelho e aproveitei o momento para inclinar-me na sua direção e o dar vários beijos na bochecha.

— Você é incrível, sabia? — o elogiei, assim que me afastei.

— Sim, eu sei — abriu um sorriso convencido.

(…)

A casa de Haden não havia mudado nada desde a última vez que estive aqui. As paredes continuavam com o mesmo tom branco, sem nenhuma decoração — apenas o essencial — porém dessa vez estava vazia. O que foi motivo suficiente para ele ligar a Liane e perguntar onde ela e o irmão dele estavam.

Para não parecer bisbilhoteira fui-me sentar no sofá, a espera que ele terminasse e quando isso aconteceu ele sentou-se do meu lado, mas um pouco distante então deitei-me o suficiente para colocar a minha cabeça nas suas pernas. E fechei os olhos quando senti os dedos dele, no meu couro cabeludo, fazendo-me cafuné e quase que instantaneamente fechei os olhos.

— Onde eles estão? — sussurrei, mas sei que ele escutou.

— No parque — respondeu, com a voz tão baixa quanto a minha.

— Isso tá me deixando com sono — avisei.

— Então dorme — devolveu.

E foi isso que fiz, apesar de ter tentado relutar contra o sono não aguentei. Parecia que tinha chumbo nas minhas pálpebras superiores. E a sensação de estar em casa nunca havia se tornado tão real.

Quase ri do meu próprio pensamento. Não podia viajar muito e criar expectativas que mais tarde iriam desiludir-me. Não estava pronta para ter o coração quebrado. Não agora.

Quando abri os olhos e olhei ao redor, estava sozinha numa cama. A mesma que estava da primeira vez que cá estive. Senti o meu sangue ferver com a imagem de Haden me carregando até aqui. Ele é tão fofo comigo agora, que até parece obra da minha imaginação.

Levantei-me e olhei para a janela, onde um céu preenchido por estrelas fez-me sorrir.

Desviei o olhar e abri a porta do quarto para poder sair. Os meus pés descalços pisavam no piso gelado enquanto procurava por uma alma viva naquela casa.

A minha atenção se prendeu num quarto, onde a porta estava aberta e mesmo do lado de fora podia ver o interior.

E vi Luke dormindo na sua cama abraçado ao travesseiro na sua forma mais adorável. Ele deve ter voltado quando eu desmaiei por conta dos dedos mágicos de Haden o que era uma pena porque eu queria conversar com ele, mas faria isso amanhã.

Estou prestes a continuar o meu caminho até a sala da estar quando olho o lado esquerdo, também tem uma porta. Só que está entreaberta e não consigo segurar a curiosidade.

Não irá demorar nem dois segundos.

O meu subconsciente tentou convencer-me e aceitei o seu conselho. Peguei na maçaneta, girei e empurrei a porta, tendo a visão de um cómodo repleto de quadros de pintura e tintas.

Instantemente lembrei-me de quando me esbarrei com Haden pela segunda vez numa curva qualquer. Ele tinha uma sacola plástica cheia de materias de pintura. Ele pinta. E muito bem. Não sabia nada sobre essa área, mas sabia reconhecer uma coisa bonita. Apesar de serem um pouco estranhas…

— O que faz aqui? — levei um susto quando escutei a voz de Haden ao meu lado.

— Meu Deus! — gritei, com a mão no peito. — Porque apareceu assim? — o dei um pequeno tapa no ombro. — Eu podia ter uma paragem cardíaca agora mesmo sabia?

— Não exagera — desdenhou.

Fiquei calada, o encarando. Os seus cabelos castanhos estavam um pouco húmidos, fazendo-me concluir que ele estava no banho.

— O que se passa? — redarguiu, estranhando o meu silêncio.

— Não está zangado comigo?

— Porque estaria zangado com você?

Gesticulei ao redor e falei:

— Por entrar aqui.

Ele deu de ombros.

— Na verdade, já sabia que você é fofoqueira e eventualmente encontraria esse lugar — não perdeu tempo em provocar-me.

Indignada, abri a boca e voltei a fechar.

— Fofoqueira? — repeti, com os braços cruzados. Ele segurava o riso. — Eu não sou fofoqueira. Sou curiosa. A uma enorme diferença aí.

— Se prefere se iludir assim, tudo bem.

— Besta — murmurei, enquanto olhava ao redor. Até que um quadro chamou a minha atenção. Quase que escondido num canto. Andei na sua direção e peguei, a avaliando. Era uma daquelas pinturas esquisitas, onde haviam homens estranhos. Alguns nus e outros com pedaços de panos tampando as partes íntimas. — O que é isso? — questionei.

— Uma pintura romana.

Vendo uma oportunidade para retribuir a sua provocação, apontei para a parte íntima de um homem no quadro.

— É impressão minha ou você inspirou-se no tamanho do seu… — não terminei por conta da vergonha, mas sei que ele entendeu. — Para pintar isso?

Ao invés de ficar tão irritado quanto eu, o mesmo apenas riu. Riu tanto que quase ficou sem ar, os seus olhos até estavam vermelhos e lágrimas no canto dos seus olhos.

— Porque está a rir? Deveria se sentir ofendido — fingi estar irritada.

— É que achei muito engraçado.

— Mas não deveria.

Ele limpou o canto de os seus olhos e pegou no quadro, para deixar num canto. Abraçou os meus ombros e guiou-me para porta afora.

— Não fica assim. Você pelo menos tentou — beijou o meu pescoço, fazendo-me desenvencilhar dos seus braços por conta do arrepio que senti. — Porque está a fugir? — brincou.

— Quero distância de você — menti.

Ele jogou as mãos para trás em rendição.

— Está bem — deu três passos para trás. — Assim está bom?

— Muito.

— Então, eu não sei cozinhar por isso encomendei comida. Pode tomar banho enquanto fico a sua espera na sala. Ok?

— Sim, pode ser — o dei as costas e comecei a andar em direção ao quarto onde estava.

Antes de tomar banho, abri o armário que ali tinha e encontrei a minha roupa limpa — como eu já previa.

Fui tomar banho, usei a roupa limpa e fui até o encontro de Haden. No início, comemos em silêncio por minha causa, já que eu havia pedido distância — e ele deu mesmo —, mas eu não aguentei com o meu próprio pedido e tratei de puxar assunto. É claro que ele não falou logo comigo, dizendo que estava extremamente magoado com a minha atitude, apenas para me sabotar.

— Você está a ser mau — resmunguei, a levar o pedaço de piza até a boca. — De propósito.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Só estou a fazer o que você pediu.

— Eu estava a brincar, e você sabe disso. Bastardo.

Ele riu.

— Eu não sei nada sobre você — soltei, de forma aleatória. Como se tivesse me apercebido desse facto agora.

E o ambiente subitamente, foi preenchido por um silêncio pétreo. Ele já não tinha o mesmo sorriso que minutos atrás.

— Também não sei nada sobre você — devolveu, de forma amarga e sem pensar muito abri a boca no segundo a seguir.

— Chamo-me Falyn Lake, irei completar dezoito anos daqui a alguns meses e antes de viver no orfanato, vivia numa casa com os meus pais. Éramos felizes até minha mãe descobrir que tinha câncer incurável e morrer. O meu pai ficou distante de mim, e maior parte do tempo tratava-me como se eu não existisse, acho que eu lembrava muito a minha mãe e isso dava cabo dele — não sei exatamente porque estou a contar isso a ele, mas decidi continuar. — E então, numa bela manhã de quinta feira, ele levou-me para igreja. Disse que era para tentarmos encontrar a nossa paz de novo. Quando chegamos, fomos nos sentar e minutos depois ele disse que precisava atender uma ligação lá fora e bom. Foi a última vez que o vi. Lembro de o ter procurado por tudo que era canto, até desistir e sentar nas escadas da igreja com o rosto molhado de lágrimas… e uma senhora perguntou o que se passava. Contei tudo e ela disse que cuidaria de mim — o rosto da Sra. Rebeca apareceu na minha mente, fazendo-me torcer a boca em desgosto. — Mas, enfim. Essa é a minha história.

— Sinto muito por seu pai — foi a única coisa que ele disse, e apesar do clima estranho, pude sentir o afecto nas suas palavras.

— Não sinta. Ele foi um babaca covarde — disse, dá forma mais rancorosa que consegui. Mesmo depois de já se terem passado anos, ainda o odeio. — Agora, fale-me um pouco sobre você.

Ele não estava a olhar para mim agora. O garfo na sua mão parecia mais interessante que qualquer coisa ao seu redor.

— Haden — o chamei.

— Não tenho nada para dizer — murmurou.

— É sério? — desacreditei.

— Acho que já está tarde — olhou para o seu pulso, mesmo que não tivesse um relógio. — Estou com sono.

Cruzei os braços, com uma cara de poucos amigos.

— Qual é o problema de contar-me? — exigi uma resposta. — Não confia em mim?

O mesmo suspirou, frustrado.

— Já está tarde — repetiu, irredutível.

— Não acredito nisso — levantei-me, e andei em direção ao quarto. Desiludida comigo mesma por achar que só porque o contei uma parte da minha vida ele faria o mesmo.

Fechei a porta com um pouco de força e sentei-me na cama. Refletindo sobre o que aconteceu. Sinceramente? Ele tem a razão dele. Haden não é obrigado a me contar nada e não podia ficar irritada com isso. É uma atitude estúpida. Não podia o forçar a nada, porque ele não fez isso comigo. Eu abri a boca de pura e espontânea vontade.

Precisava pedir desculpa a ele e faria isso amanhã.

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