Neutro

By -Tanchi

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Se meter com as pessoas erradas tem as suas consequências. Falyn Lake conheceu um rapaz. E tudo o que ela que... More

notas.
epígrafe.
um.
dois.
três.
quatro.
cinco.
seis.
sete.
oito.
nove.
dez.
onze.
doze.
treze.
catorze.
quinze.
dezasseis.
dezassete.
dezoito.
dezenove.
vinte.
vinte e um.
vinte e dois.
vinte e quatro.
vinte e cinco.
vinte e seis.
vinte e sete.
vinte e oito.
vinte e nove.
trinta.
trinta e um.
trinta e dois.
trinta e três.
trinta e quatro.
trinta e cinco.
trinta e seis.
trinta e sete.
trinta e oito.
trinta e nove.
quarenta.
quarenta e um.
quarenta e dois.
quarenta e três.
quarenta e quatro.
quarenta e cinco.
quarenta e seis.
quarenta e sete.
quarenta e oito.
quarenta e nove.
cinquenta.
cinquenta e um.
cinquenta e dois.
cinquenta e três.
cinquenta e quatro.
Tem algum sobrevivente?
quarenta e cinco.

vinte e três.

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By -Tanchi


Estava sentada no chão do quarto a montar um dominó que Greta teve a gentileza de trazer para eu passar o tempo — porque ela sabia que eu não fazia nada e que isso era cansativo para mim. E com a ajuda de vários tutoriais na internet finalmente consegui iniciar um truque. Estranho, mas era algo e mantinha-me ocupada.

A felicidade era tanta que por pouco a abracei, mas apenas limitei-me agradecer o seu gesto com um pequeno sorriso. Greta apenas sorriu de volta também e foi embora.

— Ei, boa noite — parei todos os meus movimentos e levantei o olhar para encarar o Theron parado na batente da porta.

— O que quer aqui? — perguntei-lhe, sem cerimónias.

O mesmo não respondeu de imediato. Não sei porque ele ficava tão surpreso com as minhas atitudes. Admito que, quando estava perto dele algo em mim explodia e isso densecadeava todas essas perguntas e respostas apáticas e frias. E isso não é da minha natureza. Sei que não sou assim. E é uma merda estar a me tornar algo que sempre repudiei: um corpo movido pela raiva e ódio.

Mas o facto, é que isso não é nenhum conto de fadas da Disney. Eu não o amaria depois que o conhecesse verdadeiramente, depois que visse o seu lado bom ou o príncipe que existia nele. Eu rejeitaria-o até o meu último suspiro. Não importa o quanto a sua história ou essa situação toda faça sentido. Se ele me desse a opção de escolher ou ir embora o mesmo nunca mais ouviria falar do meu nome. Eu não sou a bela e ele muito menos o monstro.

— Porque não pode dar-me uma oportunidade para a provar que não sou esse ser humano horrível que meteu na cabeça?

O encarei irritada. Isso nunca iria acontecer.

— Desculpa se não tenho problemas mentais ao ponto de apaixonar-me pelo meu sequestrador — debochei.

— Não a pedi que se apaixonasse por mim — esclareceu.

Cruzei os braços, desconfiada.

— E o que quer, então?

Um silêncio ensurdecedor preencheu o ambiente. Eu sabia que ele sabia o que queria, mas era como se tivesse medo de alguma coisa. Por isso ignorou a minha pergunta e falou:

— O jantar está pronto. Espero que desça.

Deu-me as costas e foi embora. Soltei o ar que prendia.
Parece que só terei que jantar com eles porque os mesmos nunca estavam no pequeno-almoço e no almoço. Greta era a única que estava presente em todas as refeições.

Levantei-me com cuidado por conta do dominó e sai do quarto. A medida que me aproximava do fim das escadas algumas vozes se faziam presentes.

Desci as escadas com cuidado para não fazer barulho e atrair olhares indesejados para cima de mim. E foi isso que aconteceu até eu forçar o meu corpo a ir sentar-se naquela mesa ao lado de Greta — a única que me deixava confortável naquele caos todo.

Evitei e ignorei todos olhares presos em mim enquanto servia a comida no meu prato.

Toda aquela situação era constrangedora. Senti as minhas mãos trémulas enquanto executava todo o processo para servir a quantidade que gostaria.

A conversa que eles iniciaram havia parado no momento em que sentei e isso só me deixou ainda mais desconfortável.

Eu queria morrer, literalmente.

Porque o destino deixou isso acontecer comigo?

Não bastou sofrer no orfanato com as regras distorcidas de Sra. Rebeca e algumas de Louise, ser olhada de cima com os outros órfãos e sentir-me um peixe fora de água na escola? Eu nunca fiz mal a ninguém — pelo menos, não intencionalmente — sempre evitei entrar em conflito com as pessoas ao meu redor (com exceção de Bethany, é claro) para que se realmente existisse o carma, não afetasse a minha existência.

A vida tem uma forma engraçada de nos mostrar que vale a pena viver.

— Que bom que decidiu jantar com a sua família hoje — a voz de Sr. Robert causou uma sensação de enjoo pelo meu corpo.

Família.

Aquela não era a porra da minha família. Eu não fazia parte daquilo. E por esse motivo, não respondi. Eu não iria sorrir na sua direção e concordar com  aquilo. Era insano e estúpido. Eu nem sabia o motivo de estar sentada naquela mesa. Não sabia o motivo de estar naquela casa. Não sabia de nada. Então é isso que eles — menos Greta, talvez — significam para mim. Nada.

— Estou a falar com você — a sua voz saiu mim tom rude, claramente me avisando o que aconteceria se eu não reagisse.

A contragosto levei os meus olhos até ele.

— Eu ouvi — repliquei.

— Que bom — bebeu a água que estava no seu copo.

— É.

E o silêncio pétreo contínuo. Pelo menos para mim, a situação toda era incómoda, mas quando olhei para Greta ao meu lado percebei que a mesma estava no seu próprio mundo alheia a tudo e Theron com os olhos em mim.
O fitei de volta até ele desviar o olhar, como se nunca tivesse me observado.

Gostaria de saber o que se passa na sua mente. Pessoas caladas demais costumam ter a mente desordeira. Provavelmente várias batalhas aconteciam na sua mente enquanto o mesmo fazia de tudo para manter a expressão impassível. Porque ele se dava ao trabalho de ser tão impassivo?

— Quando será o casamento? — fui pega de surpresa quando Sr. Robert decidiu quebrar o silêncio. Ele não conseguia manter a boca fechada por muito tempo.

Casamento?

Franzi as sobrancelhas, confusa sobre para quem ele direcionava a pergunta.

— Pai… — pela primeira voz Theron se pronunciou, num tom repreensivo, mas seu pai parecia nem aí para os problemas que poderia causar.

Greta ao meu lado havia parado todos os seus movimentos, como se tivesse congelado no tempo.

— E quando pretende conta-lá? — a sua voz saiu desdenhosa. — Se não é homem o suficiente para a dizer eu irei — ele voltou os seus olhos pretos para mim. — Falyn, minha querida — o veneno não passou despercebido na sua voz. — Daqui a alguns meses você e o meu filho irão casar e se Deus quiser, viverem  felizes para sempre.

A única coisa que consegui fazer no segundo após isso foi rir. Um riso nervoso que precisava desesperadamente ser acompanhado porque era impossível acreditar nas palavras daquele homem.

Nenbuma pessoa se juntou a mim. E por isso calei-me, com o olhar fixo no de Theron. Pela primeira vez desde que o conheci, ele demonstrou alguma emoção para além da falsa calma: arrependimento. 
Era como se a palavra “desculpa” estivesse presa na sua garganta. E naquele momento, o seu lugar era ali mesmo. Porque essa palavra não iria diminuir o sentimento de raiva que estava a nascer no meu peito.

— Não — balancei a cabeça em negação. — Diga-me que isso não é verdade — pedi, com a voz embargada. Ele não respondeu. Parecia incapaz de formular uma palavra naquele momento. — Fala algo, Theron! — aumentei o meu tom de voz. — Eu exijo uma explicação!

Silêncio.

Ninguém falou nada.

E eu levantei-me de forma brusca da cadeira, a fazer com que ela caísse atrás de mim.

— Fala algo! — bati na mesa com as duas mãos, a causar um barulho enorme. Tanto que fez Greta tremer levemente.

O encarei com escárnio e depois do que pareceram horas ele respondeu.

— Sinto muito.

Balancei a cabeça em negação e soltei um riso sarcástico, várias vezes seguidas.

— Você só pode ser um psicopata retorcido — repliquei, com raiva. — Porque eu não irei casar com você nem agora e nem nunca. Nem que me leve acorrentada para o altar e com uma arma no meio da testa a minha resposta será sim. Prefiro morrer e arder no quinto dos infernos durante toda eternidade — a minha voz preencheu toda sala. — Isso não é possível — desaceitei e então adicionei. — Vocês são malucos. Doentes. E eu não irei aceitar ser família de pessoas que não batem bem da cabeça.

Sr. Robert que até então estava com um sorriso contido por ver-me no ápice do meu limite levantou-se de forma abrupta.

— Escolha bem as palavras para falar de mim e a minha família — apontou o dedo na minha direção, não me abalei nem um pouco.

— Você e a sua família são loucos! Deviam estar no hospício — gritei na mesma intensidade.

— Se continuar a falar assim as minhas ações não falarão por mim — ameaçou-me, mas não consegui me sentir assustada.

— Pouco me importam as suas acções.

Antes que o seu pai pudesse rebater a minha resposta Theron se aproximou de mim.

— Vamos conversar. A sós — tentou segurar no meu pulso.

— Não me toca — ordenei.

— Por favor — a sua voz saiu pesarosa.

— Se afasta de mim — repliquei, sem paciência alguma, mas não continuei parada no mesmo lugar. Andei em direção às escadas a ignorar o olhar de Sr. Robert e Greta direcionavam para mim enquanto escutava os passos de Theron atrás de mim.

Entrei no quarto e bati a porta com força, mas segundos depois ele entrou e a fechou com calma.

— Eu tô, irritada — murmurei, a andar de um lado para o outro. Incapaz de permanecer no mesmo lugar. — Muito puta da vida — adicionei.

— Não queria que você soubesse assim.

Parei de andar.

— Nem que você me desse essa notícia com um milhão de dólares eu iria aceitar de boa. É de um casamento que falamos. Um matrimónio importante. Que deve ser feito quando duas pessoas se amam e querem passar o resto da vida juntos. E eu não quero nada disso com você. Eu não quero casar com você!

Não o dei oportunidade de falar e continuei.

— Não acredito que fui raptada, deixei o meu no futuro lixo para ser obrigada a casar com uma pessoa que não conheço.

— Nós podemos nos conhecer melhor ao longo do tempo — sugeriu, com a voz receosa e precisei de todo o meu autocontrole para não apertar o seu pescoço e sufoca-lo até a morte. 

— Para de tentar idealizar um futuro para nós os dois — gritei, em plenos pulmões. — Nada vai acontecer entre nós. Nunca irei apaixonar-me por você porque você não merece nada bom vindo de mim. Pode manter-me presa aqui por quanto tempo quiser, mas não irei casar com você. É melhor descartar essa ideia porq… — a minha voz se perdeu e precisei inspirar fundo para continuar, mas um soluço escapou da minha boca e em seguida lágrimas salgadas começaram a deslizar pelo meu rosto. Tentei abrir a boca para falar, mas não conseguia. Era como se vários nós tivéssemos se formado na minha garganta.

— Falyn, não chora — a sua voz saiu afetada, mas ele não se aproximou de mim porque sabia o que poderia acontecer com ele. — Se eu pudesse voltar atrás nunca teria feito isso com você — replicou.

— Eu só quero sair daqui — solucei. — Quero a minha vida de volta — lamentei, mas ele não respondeu nada sobre isso por isso levantei os olhos para o encarar e não senti nada quando vi os seus olhos, cor de mel assumirem uma tonalidade vermelha. Como se me ver naquele estado causasse algum tipo de dor nele. Mil vezes pior que a minha. E sem dizer nada o mesmo virou as costas e foi embora. Como se estivesse a fugir de algo.

Quando fiquei sozinha senti-me incapaz de continuar de pé e sentei-me no chão para em seguida abraçar os meus joelhos e chorar compulsivamente.

Pela segunda vez anos sentia-me destruída. Sem chão.

Era uma sensação horrível que trazia a tona vários pensamentos mórbidos.

A cada soluço que escapava da minha boca fazia com que o meu coração ficasse apertado. Se eu pudesse, abria o peito e o arrancava para evitar tanta dor. Como isso não era possível só me restava afogar no mar de mágoas e raiva que consumia todas as partículas existentes no meu corpo.




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