Neutro

By -Tanchi

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Se meter com as pessoas erradas tem as suas consequências. Falyn Lake conheceu um rapaz. E tudo o que ela que... More

notas.
epígrafe.
um.
dois.
três.
quatro.
cinco.
seis.
sete.
oito.
nove.
dez.
onze.
doze.
treze.
quinze.
dezasseis.
dezassete.
dezoito.
dezenove.
vinte.
vinte e um.
vinte e dois.
vinte e três.
vinte e quatro.
vinte e cinco.
vinte e seis.
vinte e sete.
vinte e oito.
vinte e nove.
trinta.
trinta e um.
trinta e dois.
trinta e três.
trinta e quatro.
trinta e cinco.
trinta e seis.
trinta e sete.
trinta e oito.
trinta e nove.
quarenta.
quarenta e um.
quarenta e dois.
quarenta e três.
quarenta e quatro.
quarenta e cinco.
quarenta e seis.
quarenta e sete.
quarenta e oito.
quarenta e nove.
cinquenta.
cinquenta e um.
cinquenta e dois.
cinquenta e três.
cinquenta e quatro.
Tem algum sobrevivente?
quarenta e cinco.

catorze.

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By -Tanchi

Ri quando Liane ameaçou o mais novo de morte quando ele deixou o copo de leite vazio na bancada da cozinha e foi para a sala como se não tivesse feito nada sendo que ela havia acabado de organizar tudo. Nós ainda estávamos a espera de Haden chegar e ele estava a demorar.

Eu sentia-me muito melhor, mas ainda estava cansada. Não pude deixar de pensar que, se isso fosse um caso de vida ou morte eu já teria morrido há muito tempo. Já eram quinze horas da tarde e nada dele dar algum sinal de vida. E a cada hora que passava mais o meu medo crescia.

— Como você conheceu o Haden? — Liane pergunto no segundo em que Luke deixou a cozinha e foi para a sala novamente para assistir a sua luta. Remexi-me na cadeira desconfortável.

Foi num cemitério. Eu vi ele a chorar e tentei falar com ele para o passar apoio moral e o mesmo mandou-me embora de forma rude e acabámos por discutir. Sem esquecer das ameaças, é claro.

Quase respondi isso.

Quase.

— Numa cafetaria qualquer — menti, a falar a primeira invenção que me apareceu na cabeça.

Ela concordou.

— E como veio parar aqui? — outra pergunta escapou da sua boca.

Franzi levemente o cenho. Não gostava de ser interrogada. Liane era legal e se mostrou uma pessoa muito simpática comigo desde que abri os olhos essa manhã. Ela não me tratou como uma desconhecida. Tratou-me como uma garota normal que poderia ser sua amiga, mas eu não gostava de perguntas. Odiava, para falar a verdade. Principalmente quando não tinha as respostas exatas para elas.

— Não lembro muito bem — fui curta. Espero que ela tenha entendido a mensagem e para a minha sorte ela entendeu, mas isso não a impediu de continuar a falar.

— É porque achei muito estranho Haden ter trago uma garota para casa — começou, de forma causal. — Quando ele bateu na porta da minha casa essa manhã e pediu-me para ficar com você pensei que Jesus já havia descido. Quer dizer, Haden não é exatamente a pessoa mais simpática do mundo. Ele é rude, insuportável e mal-humorado. E ele não costuma sair por aí ajudar as pessoas. Então você deve ser uma pessoa importante para ele.

Não.

Não estava a gostar do rumo que aquela conversa estava a ter. Ela estava a tentar colocar-me num pedestal invisível. Haden não sentia nada por mim.

Porque primeiro: o cara não me conhecia. Não realmente.

Segundo: sempre que nos cruzávamos só sabíamos  insultar um ao outro.

Terceiro: não existia nenhuma química entre nós dois.

— Não é nada disso — balancei a cabeça em negação. — Talvez ele tenha mudado.

— De um dia para o outro?

— Talvez? — encolhi os ombros. — Mas ele não gosta de mim. Nós não nos conhecemos faz muito tempo e para ser sincera, o pouco que conheci dele não me agradou muito — sentei-me melhor na cadeira e endireitei a postura. — Apesar de estar agradecida pelo o que ele fez por mim, não existe nenhum sentimento envolvido.

— Bom saber que sou o assunto principal da vossa conversa — uma voz grave preencheu a cozinha e notei Liane apertar os olhos com força como se estivesse a se amaldiçoar internamente. Virei o meu rosto para encarar a sua figura escorada na batente da porta. Pensei que o ia ver com um sorriso sarcástico, mas o seu rosto estava sério. Talvez o que eu tenha dito o tivesse deixado irritado.

— Onde estava? — soltei e antes que ele respondesse continuei. — Demorou. Eu quero voltar para a minha casa.

— Mal-agradecida — murmurou, sem responder a minha pergunta enquanto andava até o frigorífico e tirava uma garrafa de cerveja.

— Estou a falar sério — avisei.

— Então vai. Não tem ninguém te segurando — deu de ombros, enquanto abria tampa da garrafa com os dentes. E quando ele conseguiu, tomou longos goles. Notei Liane ao meu lado o encarar como se estivesse a ver a definição da perfeição a sua frente, mas ela disfarçava muito bem.

— Não sei onde estou — defendi-me.

Sim. Sabia que estava a comportar-me como uma ingrata, mas estava preocupada demais com oque aconteceria-me no momento em que eu chegasse no orfanato. Louise não me pouparia dos castigos.

— Que pena — ele fingiu pertinência e isso irritou-me.

— Se você não me levar de volta para lá agora serei uma garota morta.

— Os seus pais são maus? — Liane finalmente se manifestou. Não fiquei incomodada com a sua pergunta. Ela não sabia e não tinha culpa.

— Ela não…

— Sim. E eles são horríveis o suficiente para me fazer desejar nunca ter nascido — interrompi Haden bruscamente, numa tentava de o fazer entender bem as minhas indiretas.

Ele encarou-me impassível.

— Que chato. Sinto muito — ela tocou no meu ombro, a tentar passar-me algum conforto.

— É, também sinto.

— Tudo bem. Vamos embora — ele deixou a garrafa de cerveja inacabada na bancada da cozinha e em seguida fez o seu caminho até a sala de estar. Virei-me para Liane com um sorriso.

— Foi muito bom conhecer você… — comecei a minha frase de despedida e ela levantou-se para puxar-me para um abraço que retribui na mesma hora.

— Espero voltar a reve-lá, algum dia.

— Também — concordei.

— Se demorar irá a pé e sozinha! — Haden gritou em plenos pulmões. Revirei os olhos enquanto me desenvencilhava da loira. Andamos juntas, cozinha afora e eu continuei o meu caminho em direção a Luke que estava esparramado no sofá. Ele franziu as sobrancelhas quando me aproximei dele, segurei no seu rosto com as duas mãos para dar-lhe um beijo na bochecha seguido de um abraço.

— Adeus — o despedi assim que me afastei. Ele concordou com a cabeça a parecer incapaz de falar.

Olhei para Liane pela última vez antes de sorrir e seguir o homem mal-amado em direção a saída da sua casa.

— O que foi aquilo com o meu irmão? — Haden perguntou assim que saímos porta afora.

— O quê? Apenas me despedi dele.

— Com um beijo na bochecha?

O encarei confusa e com as sobrancelhas unidas.

— Ficou com ciúmes? — provoquei. — Quer que eu o de um beijo também? — fiz menção de aproximar-me um pouco dele, apenas para o deixar constrangido.

Ele parou de andar e se virou para mim.

— Sim.

A sua resposta surpreendeu-me. Congelei no mesmo lugar com os olhos arregalados e por um momento esqueci-me de como respirar. Ele não parecia estar a brincar quando se aproximou mais de mim. Os meus pés haviam ficado presos no chão e eu não conseguia fazer mais nada para além de o encarar se aproximar de mim.

Desviei o olhar das suas íris acinzentadas para a sua boca completamente atónica e sem palavras. A sua respiração calma se misturou com a minha quando o seu rosto ficou muito próximo do meu. Queria o afastar e mandar nunca mais se aproximar de mim, mas nada saia. A minha mente estava em branco. Mesmo quando, o espaço entre nós estava a ficar cada vez mais preenchido continuei imóvel. Apenas respirando.

Não o podia deixar beijar-me.

Não podia o deixar tocar-me.

Não podia ceder.

Não podia o desejar.

Uma batalha interna começou a se desenrolar dentro de mim quando ele sorriu para mim. Era a primeira vez que o via sorrir.

E o seu rosto estava cada vez mais próximo. Ele iria beijar-me. Eu iria o beijar. Nós iríamos nos beijar. Por instinto, quase fechei os olhos, mas não consegui. O queria ver. Queria observar os seus movimentos. E quando as nossas bocas estavam quase a tocar-se ele sussurrou na minha orelha.

— É mais fácil brincar com os outros, não é? — soprou, mas não consegui responder. A minha voz havia sumido. — Não tente brincar comigo, outra vez. Até porque não julgo você atraente o suficiente para despertar algo em mim ou qualquer outro homem — adicionou e então se afastou.

Aquelas palavras soaram como uma espécie de vingança.

Apertei os punhos com força e ignorei todos os insultos que haviam se formado na minha cabeça.

— Não vai falar nada? — replicou, com um sorrisinho estúpido no rosto.

— A única coisa que tenho a dizer é que a beleza é subjetiva. Se não consegue ver beleza em mim, é uma pena.

— Uma pena mesmo.

— Está a fazer-me perder tempo — desconversei. — Leva-me de volta para o orfanato.

Ele soltou o que deveria ser uma risada, mas parecia um gato sendo atropelado por um camião. Ou eu só estivesse a pensar isso por conta do seu comportamento. Como era possível alguém ser tão insuportável? Ele conseguia despertar o pior de você e ainda achar graça.

Bastardo.

Imbecil.

Vagabundo.

Haden era isso e muito mais. Meu Deus do céu, como o odeio.

Depois de uma pequena caminhada no relvado verde e bem cuidado ele abriu a porta do carro para eu poder entrar e sorriu para mim, como se fosse um cavalheiro.

Revirei os olhos enquanto entrava. Ele fechou a porta e coloquei o cinto de segurança. O rapaz ao meu lado fez o mesmo e conduziu. Quando me disponibilizei para o indicar caminhos ele disse que não precisava porque conhecia. Decidi não perguntar como, não queria conversar com ele.

— Não vai mesmo agradecer-me por a ter ajudado? — rompeu com o silêncio.

— Não — menti. Mesmo que, ele se comporte como um verdadeiro verme tinha dever de o agradecer. Ele salvou a minha vida em vários aspetos. Agradecer era o mínimo que podia fazer. — Porque está tão preocupado com isso?

— Não estou preocupado — rebateu, de forma rápida.

Estalei a língua antes de murmurar:

— Obrigada.

— Não foi tão difícil assim — encarou-me por alguns segundos e o mostrei o dedo do meio até que uma lembrança invadiu os meus pensamentos.

— Quando acordei, Liane disse-me que você foi para farmácia comprar remédios para mim porque pensava que eu estava com febre e não vi nenhum saco plástico com você.

Ele demorou alguns segundos para responder.

Depois tornaram-se minutos, até ele suspirar.

— Tive que fazer uma coisa antes e acabei por esquecer-me — murmurou, curto. Deixando claro que não queria prolongar aquele assunto.

Como já sabem, não sou fã de perguntas. Não me agrada ter que responder certas coisas, mas quando era com outras pessoas era diferente. Talvez Haden curtisse ser interrogado.

— Que coisa?

— Fica bonitinha quando está de boca fechada — devolveu e cruzei os braços, irritada.

— Esse seu comportamento é desnecessário — redargui. — Aposto que não tem amigos.

— Que grande detetive você é — debochou. — E se não for pedir muito, cale a boca.

A ideia de abrir a porta do carro e lançar-me nunca pareceu tão tentadora, mas não iria dar esse gosto a ele. Eu não costumava aceitar insultos como os dele de boca fechada. Eu também sabia ser insuportável e prepotente. Por isso, fiz tudo exceto fechar a boca. Comecei a cantarolar uma música qualquer apenas para o incomodar e para o azar dele meu voz era péssima. Tão péssima que nem o autotune poderia melhorar.

— O que é isso? — ele riu. — Alguma espécie de vingança?

O ignorei e continuei a cantar, mas quando voltei os meus olhos para ele parecia que o mesmo divertia-se. E não era isso que eu queria.

— Não precisa encarar-me assim — o seu olhar ainda preso na estrada a nossa frente. — Como se fosse cuspir fogo em mim.

— Você fala como se eu não tivesse motivo. 

Ele parou o carro e notei que já havíamos chegado no orfanato.

— Você tem que aprender a nivelar o seu ódio e não sair por aí tratando mal as pessoas. Como se fosse o dono da razão

— Você julga muito as pessoas — falou. — Já parou para pensar que talvez o problema seja você?

— Eu? — soltei um riso sarcástico. — Desculpa a honestidade, mas não tenho problemas com nada nem ninguém. Sou uma pessoa pacífica.

Ele riu e quase fiz o mesmo, mas apenas limitei-me a o encarar.

— Uma pessoa pacífica com o ego do tamanho do universo — provocou.

— Se eu não me auto elogiar, quem fará por mim mim? — tirei o cinto de segurança. — Exatamente, ninguém.

— É, nesse ponto tem razão.

— Eu sei — dei de ombros e abri a porta do carro pronta para sair, mas me virei para Haden e continuei. — Muito obrigada mesmo pela sua ajuda. Estarei em dívida com você para sempre.

Um silêncio ensurdecedor preencheu o ambiente enquanto eu esperava pela sua resposta.
Ele parecia ocupado demais a encarar-me intensamente. Como no segundo dia que nos esbarramos alguns dias atrás. E isso incomodava-me.

Pigarriei e isso o trouxe de volta.

— Para uma pessoa que disse que precisava voltar para o orfanato com urgência você parece bastante despreocupada agora.

— Foi culpa sua — sai do carro e fechei a porta. Como a janela estava aberta o provoquei. — Espero nunca mais o ver. Até nunca.

Não esperei por sua resposta e o dei as costas. Apesar de estar com medo do que poderia acontecer-me naquele orfanato o sorriso que surgiu no meu rosto não desapareceu.

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