Depois que deixei a reunião no começo da tarde, fui procurar Heitor no setor de conferência com intuito de saber como ele estava indo na nova função na área de logística. Eu estava cheia de expectativa, mas acima de tudo com uma certeza gigantesca que Heitor se sairia bem no novo cargo. Cheguei ao local e fui diretamente procurar Rocha, o gerente de logística. Ansiosa em ter notícias do desempenho de Heitor e qual foi minha surpresa quando o encontrei e fui informada que ninguém novo tinha começado no setor naquela manhã. Fiquei confusa e estranhei a situação. Onde estaria Heitor?
Procurei em todos os setores do armazém, perguntei a cada gerente responsável e depois de algum tempo fui informada que o único lugar que tinha recebido funcionário novo naquela manhã havia sido o centro de distribuição. Eu me recusava a acreditar que Heitor estivesse lá. Entretanto, mesmo duvidando, decidi conferir com meus próprios olhos, antes de procurá-lo em outros setores da empresa. Cheguei até o local e percebi que estava vazio. Dou-me conta do horário do almoço e instivamente caminho em direção ao refeitório da da Ala C observo a grande concentração de pessoas numa fila enorme até o final do corredor. Abri espaço entre os trabalhadores e caminho com atenção quando sou surpreendida com a voz de Heitor me chamando do fim da fila.
Eu o abracei forte e Heitor sorriu me acolhendo em seus braços.
— Heitor, te procurei por toda empresa. — Levantei o olhar encarando seu rosto. — O que faz aqui? Quem te colocou nesse setor? — Indaguei já me dando conta do que estava acontecendo.
— O diretor executivo. — Heitor diz me encarando sério.
— Não acredito que ele passou por cima da minha autoridade. — Nego incrédula. — Vem comigo. — Ofereci minha mão e caminhamos juntos em direção ao elevador.
— Jade, eu não me importo de trabalhar aqui. — Heitor começa a dizer depois de um longo suspiro. — Seu primo só me colocou nessa função porque não tenho experiência em logística. — Ele tenta minimizar o fato de Roger tentar diminuí-lo, mas sua face demostra o quanto ele estava sentido.
— Não me importa se tem experiência ou não. — Começo a dizer decidida. — Está apto a exercer o cargo que mandei que te dessem e ponto, Heitor. — Digo as palavras, estremecida pelos olhos brilhando encarando-me fixamente.
Incerto ele pensa por alguns segundos.
— Não quero te trazer problemas.
— Não vai trazer! — Murmuro apertando sua mão. — Vou te levar onde vai trabalhar realmente.
Heitor levanta a cabeça e responde:
— Tudo bem. — Assentiu.
Levei Heitor até o setor de conferência e o apresentei a Rocha, o gerente de Logística. Pedro Rocha, era um bom homem, bastante experiente e já trabalhava a mais de 20 anos na cerâmica. Expliquei a ele claramente a situação de Heitor e as expectativas que ele tinha em relação ao emprego. Rocha, o recebeu bem de imediato e logo engataram um papo entrosado em relação ao trabalho. Em seguida, deixei ambos com a promessa de Rocha ensinar a Heitor como funcionava tudo naquele setor da fábrica.
Agora tinha chegado a hora de saber porque Roger tinha passado por cima das minhas ordens e não pensei duas vezes em ir até sala dele para tirar satisfação. Eu já tinha previsto que algo assim pudesse acontecer, e por conta disso tinha deixado Roger avisado que não queria nenhum tipo de interferência com o que diz respeito a Heitor, e mesmo assim minhas ordens tinham sido descompridas.
Caminho até escritório dele e percebo que a mesa da secretaria estava vazia, me aproximei da porta e escuto vozes. Era meu pai juntamente com Roger pareciam alegres, como se estivessem comemorando algo. Entrei sem aviso batendo a porta atrás de mim. Ambos se surpreendem com a minha presença inesperada e se entre olham desconfiados.
— Interrompi algo? — Pergunto sem conseguir esconder minha irritação.
— Lógico que não! Você nunca interrompe. — Roger fala um tanto sem jeito.
— Ótimo que estejam juntos, queria tirar uma dúvida com ambos. — Digo semicerrando os olhos. — Posso saber o motivo de tantos sorrisos? Talvez eu queira me juntar a vocês e consiga vê graça no assunto em questão.
Meu pai dá de ombros, buscando o olhar cúmplice de Roger.
— Talvez o assunto não seja tão interessante e engraçado para você como é para nós dois. — Papai sorri sarcástico.
— Eu posso apostar que não. — Girei o corpo voltando a encarar Roger novamente. — Roger, eu gostaria de saber com que autoridade você passou por cima de uma ordem minha? — Cruzei os braços diante do corpo.
— Qual seria a ordem? — Indaga sínico.
— Você sabe muito bem ao que me refiro. — Ergui uma sobrancelha. — Quero saber porque trocou Heitor de setor, sendo que deixei claro onde eu o queria desde do começo.
Roger encarou-me alisando a barba sobre o queixo quadrado. — Não tínhamos vagas disponíveis para o perfil dele. A única coisa que fiz foi solucionar o problema e encaminhá-lo para onde melhor se encaixava. — Um riso curto escapou de seus lábios num sinal claro de satisfação.
— Eu não te perguntei se tínhamos ou não vaga disponível. — O encarei. — Minha ordem foi clara e direta para o encaixar no setor de logística.
— Chega Jade! — Me pai nos interrompe. — Roger só fez o lógico que qualquer um no seu lugar faria. Aliás, acho que a vaga que lhe foi oferecida é maior do que o garçom realmente merece.
— Eu fico impressionada, como ambos ainda conseguem me surpreender. — Digo olhando de um para o outro enojada com tamanha arrogância. — Estão completamente enganados se pensaram que eu deixaria Heitor no setor de carga da empresa. Heitor é apto a assumir qualquer função aqui dentro. Tem formação, cursos e uma vivência enorme comprovada em carteira. Ele já está devidamente incorporado na função que designei e aí de quem passar por cima das minhas ordens. — Falo apontando para ambos. — Roger está suspenso por 48 horas por passar por cima de uma decisão minha.
— Enlouqueceu, Jade? — Meu pai indaga entre dentes. — Eu sou o presidente da cerâmica Albuquerque e não permitirei que aja com descontrole aqui.
— Não retiro uma vírgula do que disse que está suspenso Roger. Quero que deixe a empresa agora mesmo. — Olhei com severidade para ele. — E você papai deve lembrar que tenho autoridade para tomar essa ou qualquer outra decisão que eu quiser aqui dentro. Não esqueça que só está na diretoria por que eu permiti e dei meu total apoio a você. — Ressalto com autoridade. — E digo mais se ambos continuarem perseguindo Heitor, ou tentar fazer algo novamente contra ele, eu tiro o Sr. da cadeira da presidência.
— Está perdendo a noção por um pobretão sem eita nem beira. — Meu pai reclama indignado. — Eu jamais vou aceitar um disparate desse dentro da minha empresa.
— A empresa nunca foi sua — Fiz questão de lembrar o desafiando de frente. — Não esqueça que é sócio-minoritário.
— Deixa tio. — Roger se coloca entre meu pai e eu com intuito de apaziguar. — Aceito a suspensão e já estou indo embora. — Assentiu a contra gosto. — Jade está cega por esse pobretão. Espero que quando ela se der conta que o único interesse dele é se dar bem na vida, não seja tarde demais.
Preciso dominar minha língua para não disparar o que realmente queria para Roger. Ultimamente ele estava me tirando muito do sério.
— Ambos já estão avisados e espero que seja a última vez que tenho esse tipo de conversa com vocês. — Ajeito minha postura sem perder a pose diante dos dois. — Agora peço licença tenho mais o que fazer. — Me despeço dando o assunto por encerado deixando eles para trás. Deixo a sala e respiro fundo no corredor, encolhendo os ombros em sinal de cansaço. Era impressionante como meu pai e Roger conseguiam deliberadamente sugar minhas energias em tão pouco tempo de conversa. Entretanto, estava disposta a ir até às últimas consequências para garantir que Heitor trabalhasse com tranquilidade na empresa.
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6 meses depois
Em 6 meses muita coisa mudou em minha vida. E a principal diferença era tudo que eu tinha conquistado ao lado de Jade. Nossa rotina e a vivência em comum, o companheirismo, o carinho e o amor que nos unia eram únicos e muito valorizados por mim. Nós entendíamos muito bem como um casal unido que se amava muito e respeitavam um ou outro na vida, enquanto que no trabalho, tudo andava calmo e tranquilo e eu aproveitava cada oportunidade de aprendizado. Vinha me esforçando para oferecer sempre o melhor de mim para empresa.
— Heitor, eu já terminei, podemos ver a série de hoje? — Jade indaga se jogando em cima de mim no sofá, interrompendo meus pensamentos. Hoje estava um sábado chuvoso e bastante propício para relaxar.
— Lógico, amor! — Assenti, com as mãos segurando sua cintura. Ela estava sentada em minhas pernas de frente para mim com ambas as mãos apoiadas em meus ombros.
— No que estava pensando, tão compenetrado? — Jade sorri, ressaltando as maçãs do rosto corada resultado das nossas caminhadas diárias pela manhã na orla.
— Em minha vida, em como tudo mudou nesses 7 meses desde que nós nos conhecemos. — Digo colocando um mecha atrás de sua orelha.
— Você também transformou minha vida, sabia? Antes de te conhecer eu sentia que tinha tudo e ao mesmo tempo nada. Você trouxe cor pra minha vida. Me faz sentir viva todos os dias. — Seus olhos castanhos âmbar brilham mais que o normal fazendo com que meu coração dispare dentro do peito.
— Eu te amo, Jade! — Juntei nossas testas enquanto sinto nossas respirações se fundir em uma só. — Obrigado por tantas coisas, pelas oportunidade e principalmente por acreditar em mim.
— Eu sempre soube que você era capaz. — Jade sussurra sorrindo. — Tem se saído muito bem na empresa. — Ela afastou levemente o rosto e encarando-me fixamente. — Além disso vem recebendo diversos elogios de Rocha.
— Tenho aprendido muito com ele. — Ressalto. — Inclusive Rocha confiou a mim a missão de atender Xavier Gonzalez para saber os critérios do último carregamento comprado por eles. Parece que vão deixar o Brasil logo depois da entrega desse último pedido.
— Sim, o grupo de Espanhóis está há tempo de mais no Brasil. Fizeram questão de acompanhar toda movimentação, produção e embalo das peças. Foi um processo lento, mas bastante lucrativo para ambas as partes
— Com certeza! — Assinto pensativo. — Entretanto, me pareceu um tanto de exagero a quantidade de porcelanas de altíssimos valores. Em nenhum momento pensaram nas pessoas menos favorecidas. A classe média com toda certeza gostariam de adquirir louças de qualidade com preços acessíveis ao seu orçamento. Ganhariam de ambos os lados. Mas enfim, talvez não pensaram com carinho no assunto.
— Ou não fizeram um trabalho de mercado como se deve. — Jade contrapõe.
— Talvez eu possa o alertar sobre a possibilidade. — Pondero. — Mas agora chega de falar de trabalho. — Levantei do sofá e peguei Jade em meus braços. — Vamos fazer nossa pipoca e vê nosso série enquanto fazemos amor o restante do dia. — Murmuro sorvindo seu cheiro enquanto caminho em direção a cozinha.
Deixei seu corpo sobre a bancada, enquanto vou até a dispensa buscar a pipoca.
— Eu gostei tanto dessa ideia de fazer amor o dia inteiro. — Jade sorri enquanto balança as pernas no ar.
— Se quiser podemos deixar a série para mais tarde. — Falo em tom malicioso. Enquanto coloco o saco de pipoca no microondas.
Alguns minutos depois a pipoca estava pronta e o cheiro forte de manteiga toma conta do ambiente.
— Heitor, que cheiro é esse? Essa pipoca tá estragada, amor? — Jade Balbucia engolindo a seco e a vejo fechar olhos e tombar o corpo para o lado. — Olhei a cena agoniado. — E Preciso correr rápido o suficiente ao seu encontro antes que ela perca o equilíbrio e caia da bancada.
— Jade olha para mim? — Segurei seu rosto entre minhas mãos preocupado. — O que você tem?
— Nada, acho que é só uma queda de pressão. — fala respirando fundo. — Por conta desse cheiro forte e enjoativo. — Diz com um fio de voz parecendo está sentindo uma espécie de ânsia.
— É a pipoca que estamos acostumados a comer sempre, amor. — Digo a abraçando preocupado. — Vem, vamos para cama. — Peguei Jade novamente em meus braços e caminhei em direção ao quarto.
Deitamos e depois de algum tempo Jade se recuperou completamente do mal estar. Passamos o restante do dia agarrados aproveitando um a companhia do outro.
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Ps. Prestem atenção nesse diálogo entre Heitor e Jade sobre a empresa 😉
Bjs da Su 😘