Capítulo 3

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Jade

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Jade

Era final da tarde quando cheguei em casa e agradeço mentalmente pelo dia e as conquistas que tivemos. Enfim, poderia descansar e usufruir da tranquilidade do meu lar. Eu amava morar sozinha e a independência que conquistei através dos anos. A decisão mais acertada da minha vida foi sair de casa e deixar de viver sobre as influências do meu pai. Eu estava com vinte e oito anos, mas me orgulhava de ter conquistado meu espaço antes dos 20, mesmo sobre os protestos do meu pai. Joaquim Alberto Albuquerque era controlador de mais para permitir que sua única filha saísse de baixo de suas asas logo quando completaria a maior idade. Sempre fui uma filha obediente e estudiosa. Segui todas as suas recomendações e me dediquei aos estudos, fiz pós graduação e me formei na universidade com altas notas, sempre visando dar continuidade ao seu legado na empresa e orgulho a minha mãe antes de morrer. Entretanto, quando atingi a maior idade, senti a necessidade de tomar as rédeas da minha vida e sair de casa foi o primeiro passo para tal coisa.
Agora eu me encontrei na melhor face profissional com inúmeros motivos para comemorar e era exatamente isso que estava fazendo nesse momento, bebendo uma taça de vinho e observando o pôr do sol mais lindo de toda minha vida da sacada da minha janela. Eu tinha a vista mais linda da praia de copacabana a minha disposição e especialmente hoje o céu parecia brindar um encontro perfeito com o mar. Quando escolhi viver em copacabana fiz questão de escolher uma cobertura bem localizada e aconchegante e essa era a mais perfeita de todas.

Começo a pensar em minha vida pessoal e minha conversa com Maya vem à mente. Ela havia me perguntado sobre sentimentos e indagou o fato de eu nunca ter me apaixonado. Realmente, jamais havia sentido tal coisa por ninguém em toda minha vida. Tive alguns casos, mas nunca assumi compromisso e nem senti verdadeiramente amor por alguém. Sempre foram superficiais, pois nunca me envolvi profundamente com ninguém. Mas também não me fazia a mínima falta, eu já tinha me acostumado com a solidão e a absoluta certeza que meu destino era exatamente esse. Dou de ombros conformada com minhas escolhas e observei atentamente a orla. O entardecer estava lindo e o calçadão com temperatura agradável com turistas turistando a todo momento a beira mar.

Talvez eu deva descer para dar uma volta e tomar uma água de coco. A ideia surgiu em minha mente de repente. Tinha meses que eu não aproveitava a praia, o ar fresco e a companhia das pessoas no calçadão. O trabalho e a correria do dia a dia me impossibilita, a única coisa que eu não conseguia abrir mão era de vim até a sacada todos os dias e contemplar a vista, sempre depois do trabalho no fim de tarde.. Mas hoje eu me permitiria fazer diferente, e estava disposta a caminhar um pouco. Decidi ajeitar tudo que fosse preciso, coloquei uma roupa leve e fiz um coque frouxo no cabelo, por último calcei um par de tênis. Olhei-me no espelho e gostei do que vi. Vinte minutos depois estava descendo rumo à orla.

Caminho em torno da praia observando as pessoas felizes. Os quiosques e bares estavam em pleno funcionamento e pareciam aconchegantes e animados. Crianças para todos lados andavam de bicicleta, patins, ou simplesmente corriam livremente pelo calçadão e famílias inteiras aproveitavam o começo da noite fazendo leves caminhadas conversando entre si. Cerca de 1 hora depois já era hora de voltar para casa, mas antes decido tomar uma água de coco. Já estava em frente ao meu condomínio e lancei um olhar à minha volta e não demorei a avistar um pequeno quiosque à beira mar. Atravessei a avenida e depois de um curto espaço me aproximo do quiosque. O espaço parecia aconchegante com mesas espalhadas em torno dando um ar estilo bistrô ao local. Observo atentamente e vejo um senhor de meia idade com uma prancheta em mãos fazendo algumas anotações dentro do quiosque e um homem de costas atendendo uma das mesas. Penso por alguns segundos e decidi ir até o homem que parecia ser o garçom. Aguardo alguns segundos até que ele termine de atender um grupo de homens que pareceu pedir alguma bebida.

— Boa noite. — Chamei sua atenção e de imediato ele desviou o olhar para mim. — Gostaria de pedir uma água de coco. — Completo educadamente.

Ele fica em silêncio paralisado enquanto encara profundamente meu rosto e eu o observo com cenho franzido estranhando sua reação.

— Oi. — Chamo novamente.

Silêncio.

Depois de algum tempo nos encarando em silêncio consigo ver seus lábios se esticarem num sorriso sob a barba bem feita que carrega no rosto.

— Você está bem? — Murmurei confusa.

Novamente me encara sem desviar o olhar. Não sorri, não fala, só perscruta meu rosto e corpo ao ponto de deixar-me constrangida.

— O que está sentindo? Você está passando mal? — Perguntei a primeira coisa que me vem à mente para tentar estabelecer uma conversa com aquele homem pois, uma força invisível me impede de dar meia volta e deixá-lo em meio ao seu devaneio.

— Escuta, moço, eu só quero uma água de coco, mas se não puder vender, eu vou embora. — Reagi.

— Não.

— Não, o que? Não pode vender?

— Não, estou passando mal. — Diz depois de uma eternidade. — Vou pegar sua água de coco.

Ele diz virando-se em direção ao quiosque. Caminha a passos largos e sigo acompanhando seus passos. Ele era bonito, cabelos negros penteados para trás, corpo eclético, vestido com calça jeans rasgada nos joelhos e regata branca com os braços expostos evidenciando várias tatuagens. Em seguida pega o coco, abre com uma ferramenta própria, mas continuava pensativo e fazia tudo mecanicamente sem desviar o olhar de mim.

— Que estranho! — Murmurei dando de ombros.

Algum tempo depois caminha novamente até a mim e me entrega o coco. Cruza os braços sobre o peitoral, meneando levemente a cabeça. Seu peitoral se estufa subindo e descendo em uma respiração densa. Parecia que a regata que está usando será rasgada a qualquer momento o deixando desnudo da cintura para cima evidenciando sua pele bronzeada e isso me confundi porque não consigo decidir se fico e o admiro um pouco mais ou corro para bem longe daquele estranho desconhecido.

— Obrigada. — Voltei a olhar para o seu rosto. - A quem devo pagar? — Dou uma leve sugada no canudo tentando desviar o olhar.

Ele aponta para o senhor de meia idade que continua com a prancheta em mãos dentro do quiosque. Me afasto calada e caminho por poucos metros. Enquanto eu pago o valor do coco, observo ele atendendo outras mesas, mas mesmo assim seu olhar era destinado a mim o tempo inteiro. Em seguida, deixo o quiosque e ao atravessar a avenida em direção a minha casa lanço um último olhar para trás e para minha surpresa não o vejo mais. Balanço a cabeça afim de despertar e esquecer aquele homem que provavelmente nunca mais voltaria a vê na minha vida.

Bjs da Su 🌹

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Bjs da Su 🌹









Predestinados/Relançamento❤️Where stories live. Discover now