Jade
Depois de um final de semana tranquilo, chego à empresa na segunda-feira pela manhã atrasada. Observo o hall de entrada da cerâmica e percebo que tudo estava em pleno funcionamento. Todos estavam concentrados em suas funções no terrio. Examino o elevador e vejo Ryan entrando no mesmo apressado.
— SEGURA O ELEVADOR, RYAN. — Peço em voz alta chamando atenção.
Caminho a passos longos e o alcanço rapidamente.
— Obrigada, primo! — Agradeço Ryan com um sorriso no rosto. Ao menos, acho ser Ryan porque certeza mesmo eu não tinha já que confundia ele e Roger em várias outras ocasiões. Lógico que com o passar dos anos assumiram posturas e personalidades diferentes tanto na maneira de se vestir como na de se portar. Ryan, se vestia de maneira mais despojada, era divertido, simpático e bastante querido na empresa, enquanto Roger assumia um tom mais sério, distante, frio e seu visual era impecavelmente elegante. No entanto, qualquer um que não se atentasse às diferenças confundia facilmente ambos pois, eram gêmeos idênticos.
— Bom dia. — Ele me cumprimenta, observando com cautela se havia mais alguém atrasado disposto a utilizar o elevador. — Está atrasada prima. — Diz apertado o número do andar da presidência.
— Estamos, pelo que vejo. — Concordo conferindo as horas no meu relógio de pulso.
— Observe ali no alto — Ryan, apontou para o canto direito do elevador na parte superior. — Agora dê um tchauzinho para a câmera. — Falou, cruzando os braços na altura do peitoral com um sorriso sarcástico. — Não me surpreendo se seu pai estiver nos monitorando agora mesmo.
— Também não é pra tanto.
— Ok, continue iludida. — Ele diz zombando.
Em seguida, meu celular toca dentro da bolsa desviando minha atenção.
— Alô — Atendo desconfiada.
— Jade, já sei que chegou a empresa. Preciso de você na minha sala.
— Como sabe que cheguei, pai? — Indago franzindo a testa desviando o olha para Ryan.
— Eu avisei. — Ergueu o queixo quadrado tomando uma postura engraçada. — Definitivamente esse era Ryan não restavam dúvidas.
— Papai, já estou a caminho. — Balanço a cabeça atordoada tentando me situar.
Ryan e eu deixamos o elevador e seguimos caminhos opostos no andar da presidência. Algum tempo depois bati na porta do escritório do meu pai e escuto um sonoro entre:
— Tenho uma dúvida e espero que seja esclarecida — Indago sem rodeios batendo a porta as minhas costas. — Como sabe que eu tinha chegado à empresa? Não posso acreditar que anda espionando os funcionários?
— Bom dia para você também, Jade. — Meu pai cumprimento-me desviando sua atenção do computador na sua mesa.
— Bom dia. — Respondo de cenho fechado. — Poderia responder minha pergunta.
— Não compreendo sua dúvida, minha filha, tenho acesso a tudo e todos que fazem parte dessa empresa. E câmeras de vigilância em qualquer empresa de grande porte é absolutamente normal — Ergue uma sobrancelha encarando-me com sinismo. Papai, tinha uma superba que me assustava muitas vezes. O que me deixava sempre em alerta até onde poderia ir sua sede por poder e ganância.
— Câmeras de segurança para proteção dos funcionários e colaboradores. O que te faz pensar que tem o direito de invadir a privacidade das pessoas dessa forma papai? — Questiono indignada.
— Não te chamei aqui para discutir direitos e deveres logo pela manhã Jade. — Diz impaciente. — Tenho assuntos mais importantes a tratar com você nesse momento.
— Não adianta papai, nunca vamos pensar igual. Esse jeito de agir e controlar a vida das pessoas é errado e não vou mudar de opinião quanto a isso.
— Eu tinha esquecido que criei uma boa samaritana. Você me entedia às vezes, Jade. É minha filha, mas não puxou para mim.
— Isso não é motivo de lamentação e sim orgulho. — Arrasto a cadeira de frente para sua mesa e me sento com cenho franzido. — Acho até que devo comemorar.
— Sim, mal gosto existe em todos os lugares, infelizmente — Murmura entre dentes — Se vê que puxou toda pra sua mãe. Mas enfim, não te chamei aqui para falar sobre personalidade e sim para que me ajude a solucionar um impasse.
Respiro fundo e decido ignorar por hora as palavras amargas do meu pai.
— Diga o que quer? Tenho muito trabalho hoje, Joaquim. — Pergunto impaciente.
— Quero falar sobre dois assuntos. O primeiro é sobre o coquetel de comemoração que vamos oferecer aos espanhóis.
— Sim, já estou sabendo.
— Já temos data e local definidos, os convites vão chegar em 2 dias. Quanto a isso está tudo certo, em 3 semanas acontecerá o evento. — Joaquim diz satisfeito. — O outro assunto é sobre a Campos. Pablo Osório faz questão que Maya Campos faça todo o trabalho de marketing das peças na Espanha. Quero que a convença a aceitar essa campanha sem recusa.
— Isso não é comigo que precisa falar e sim com Maya. Era só isso? — Indago me levantando de imediato.
— Sabe que aquela negra jamais aceitaria um pedido meu. — Diz com desdém.
— Está sendo racista papai ao se dirigir a Maya dessa forma, acho que não preciso te lembrar que racismo é crime! — Ressalto indignada com a postura do meu pai.
— Não me interessa a sua opinião, Jade. Só preciso que cumpra as minhas ordens. — Ele lançou-me um olhar mordaz. — Ela precisa aceitar essa campanha para os espanhóis, é uma ordem!
— A mim o senhor não dá ordens! — respondo seca. — Quanto a Maya talvez se pedir com educação e humilde ela aceite a campanha e demostre a profissional excelente que é. — Caminho com intuito de deixar a sala do meu pai. — Com certeza assim o senhor não perderá a credibilidade que tem com o grupo de espanhóis, mas isso é algo que não depende de mim e sim exclusivamente de Maya. Estou fora dessa negociação. — Completo deixando de vez sua sala sem esperar resposta.
Caminho apressada pelo longo corredor e não demoro a chegar na minha sala. Abro minha bolsa e pego meu celular. Guardo minha bolsa em um canto qualquer em seguida sento-me atrás da minha mesa para encarar mais um dia de trabalho na empresa.
3 Semanas depois
Heitor
Levantei cedo como todos os dias desde que cheguei ao Rio de janeiro. Hoje era sexta-feira o primeiro dia do fim de semana e isso era sinônimo de praia cheia e muito trabalho. Tomo um banho rápido e faço um café forte do jeito que eu gostava para começar bem o dia. Procuro algo para me alimentar e a única coisa que encontro é um pedaço de pão velho que deveria está ali a dias e acabo não fazendo muita questão. Afinal, no quiosque sempre tinha café da manhã a minha disposição. Pego tudo que preciso depois de alguns minutos e estou prestes a deixar minha kitnet quando meu celular toca chamando minha atenção.
— Alô, mãe! — Atendo com sorriso no rosto.
— Oi, meu filho. — Sua voz doce e saudosa ecoa por meus ouvidos de forma terna. — Liguei para saber se está tudo bem meu amor e te agradecer pelo dinheiro que mandou. Foi de grande ajuda meu filho, deu para comprar mantimentos o mês todo. — Ela completa agradecida.
— Mãe, não precisa agradecer. Tudo que eu faço é para vocês. — Digo pegando minhas chaves prestes a fechar a porta da minha casa — Eu estou bem! E papai e Gabriela?
— Ótimos! Estão mandando um beijo.
— Que bom mãe! Manda outro para eles. — Digo com carinho. — Quando receber o próximo salário eu mando mais um pouco de dinheiro, não é muito o que recebo, mas faço de tudo um pouco e economizo bastante no final das contas consigo dividir bem o que tenho ganhado por aqui.
— Deus te abençoe meu filho! Tenho certeza que ele vai te honrar e vai conseguir trabalhar no que se formou. Quem sabe até abrir um escritório um dia. — Ela diz em tom profético.
— Amém! Eu recebo mãe. — Digo consultando as horas no meu relógio de pulso. — Mãe, eu preciso ir trabalhar no quiosque. Mas tarde nos falamos, pode ser?
— Sim, meu orgulho! Meu filho! Até mais tarde meu amor. — Ela se despede e eu encerro a ligação guardando o telefone no bolso da bermuda.
Cerca de 1 hora depois eu chego a Copacabana e começo mais um dia de trabalho árduo no quiosque. As horas passam com o movimento intenso e um vai e vem frenético de pessoas. Mal havia tempo para se alimentar ou pensar. Mas quando os ponteiros indicam cinco da tarde era impossível não pensar ou arrumar um jeito de ver minha Sereia na sacada. Eu parava qualquer coisa que estava fazendo e deixava esperando o cliente que fosse só para ficar admirando a mulher que povoava meus sonhos desde que a vi pela primeira vez. Eu não sabia nada a respeito dela, nem mesmo seu nome. Mas sabia todos os seus horários e acompanhava sua rotina diária mesmo de longe e nas sombras. Sabia o horário que saia para trabalhar, o hora que voltava, o modelo e placa do seu carro e até as amizades que costumava andar. Eu prestava atenção em tudo, desde que ela falou comigo uma única vez no quiosque. Quando desceu num final de tarde para caminhar e acabou comprando uma água de coco no quiosque, eu nunca mais esqueci aquele olhar. Ela não saia da minha cabeça. Era como se eu a conhecesse, já tivesse convivido. Era uma sensação inexplicável. Eu só sentia uma feição muito grande e não sabia dizer seguer de onde vinha. Já tinha a visto duas outras vezes frente a frente juntamente com uma amiga e todas as vezes era mesma sensação de reconhecimento. Eu conhecia aquela garota de algum lugar e um dia chegaria a oportunidade de falar isso para ela. Conto os segundos no relógio e no mesmo horário de sempre ela aparece na sacada linda como todos os dias. O olhar penetrante olhando o mar ao longe. O corpo lindo e cintura bem marcada dentro de um vestido simples de alças com caimento a cima do joelhos. Não conseguia ver muitos detalhes de longe, mas nem precisava pois eu sabia ser a mulher mais linda do mundo.
Bjs da Su 😘❤️