Folhas De Outono

By joycexsous

66.5K 4.3K 1K

Numa noite de outono, após sofrer um acidente, Ana Clara Caetano, que carrega o nome um tanto quanto conhecid... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capitulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Bônus
Esclarecimento

Capítulo 23

1.9K 112 14
By joycexsous

Se houvesse um dia em que acordasse de bom humor, Ana considerava um milagre, levava horas para que tudo começasse a ganhar as devidas cores. até esses dias se extinguirem devido a ciência de que teria mensagens ao olhar o celular após acordar, mensagens que eram enviadas por alguém que tinha a capacidade de mudar seu dia desde os primeiros segundos. Crescera aprendendo a valorizar cada simples detalhe do seu dia, cada pequena coisa à sua volta e agradecer por cada bom dia trocado com alguém que jamais veria novamente, cada sorriso que recebera e devolvera para qualquer pessoa que esbarrasse em algum lugar, e assim, sempre teria algo que teria feito seu dia valer a pena, no entanto, desde que Vitória havia entrado em sua vida, mais um compilado de coisas pequenas, simples e rotineiras se tornaram excepcionais quando vinham dela. As poucas palavras que lia assim que pegava o celular eram motivos para distribuir sorrisos o dia todo, e dessa vez não fora diferente. O "Bom dia, amor" estava lá sendo a primeira razão para que mesmo se tivesse um dia ruim, no final dele, ainda assim, ele valeria a pena. Já nem se lembrava mais de como era não ver essas palavras ao acordar, Vitória sempre mandava primeiro por acordar mais cedo.

Ana levantou-se da cama após responder a única mensagem que julgava ser importante ali, o resto sempre ficava para depois, e avisou — mais uma vez — Bárbara que precisaria dela na grife e quanto antes, melhor. Depois do seu banho, checou novamente o celular para ver se a amiga havia respondido.

Sis: "Eu não esqueço dos meus compromissos como você, patinha, estarei lá em uma hora."

Não precisava ter pressa para realizar sua rotina matinal, seus horários eram feitos de acordo com sua vontade, porém, dessa vez, precisaria ser rápida. Em quarenta minutos estava a caminho da grife, por sorte, morava consideravelmente perto, o que era uma grande vantagem para quem tinha que enfrentar um trânsito que, às vezes, chegava ser caótico.

— Ainda bem que não combinamos. — Bárbara disse ao parar ao lado do carro de Ana, essa que lhe deu um sorriso.

— Achei que atrasaria como sempre. — Pegou sua bolsa no banco do passageiro e desceu do carro, recebendo um abraço apertado da amiga, costume de quando ficavam tempo demais sem se verem.

— Hoje fui pontual, mereço até um modelo novo da minha estilista favorita. — Sorriu ao desfazer-se do abraço.

— Eu poderia até pensar no seu caso se você não fosse tão abusada. — Travou o carro seguindo para dentro do prédio. Cumprimentou sua secretária que arrumava algumas folhas sobre o balcão da recepção.

— Bom dia, Senhorita Caetano. Ligaram pedindo para que cheque seu email o mais rápido que puder.

— O farei já, obrigada. — Lhe deu um sorriso antes de entrar no elevador, acompanhada por Bárbara.

— Eu acho que sei do que se trata.

— E está esperando o que para me falar?

— Se lembra quando eu disse que todos amaram o meu vestido preferido em Milão? — Esperou Ana responder e a mesma assentiu. — Abra seu email para confirmar se é o que estou pensando.

— ... e eles adoraram o vestido preto que você sabe que é meu preferido de todas as coisas lindas que você faz. — Bárbara finalizou com um sorriso no rosto depois de minutos contando tudo nos mínimos detalhes.

— Ainda vamos para Milão juntas.— Entraram no escritório e Ana sentou-se em frente ao computador com Bárbara ao seu lado. Sua secretária havia dito que fora pedido para olhar o mais rápido possível, isso a deixava com a expectativa num nível extremo.

— O terceiro email! — Gritou fazendo Ana lhe dar um olhar de reprovação.

— Vejamos... — Abriu o terceiro email, como Bárbara havia berrado em seu ouvido. Começou ler o conteúdo extenso e a cada palavra ficava mais perplexa. — Não pode ser real! — Estava terminando de ler o email, automaticamente sua mão estava sobre sua boca em um gesto surpreso. — Qual é a hora em que eu vou acordar?

— Você está ficando cada dia mais reconhecida, patinha.

— Isso tem dedo seu, não é? — Ana a olhou sorrindo.

— Talvez eu tenha citado seu nome vez ou outra quando ouvi dizer que procuravam alguém para dar essas aulas.

— Vez ou outra? Eu te conheço...

— Juro, Sis. Digamos que já estavam cogitando seu nome, eu só dei um empurrãozinho. Eu quero você em Milão comigo, já conversamos sobre isso.

— Mas é para dar aulas, sis! Um curso de moda em Milão!

— E isso não é incrível? Você precisa, calma, deixa eu reforçar, você necessita — enfatizou — aceitar essa proposta. Era o que você queria desde o começo, não era?

— São sete meses!

— Podem ser os sete meses mais incríveis da sua vida inteira.

— É muita coisa para eu pensar, preciso de tempo.

— Uma oportunidade dessa pode até bater na sua porta de novo, mas aproveitar sua primeira chance, só te fará sair ganhando. Qual o prazo que lhe deram?

— Uma semana para marcar uma reunião caso eu queira aceitar.

— Você tem sete dias para pensar sobre isso, mas duvido muito que você tenha a capacidade de ser tão burra a ponto de recusar algo assim. Aulas. — Falou vagarosamente como se quisesse fazer Ana entender nitidamente cada letra, cada sílaba. — Em Milão! — Bateu com as duas mãos na mesa enquanto um sorriso enorme tomava conta dos seus lábios, fazendo Ana sorrir junto.

Sem dúvida alguma essa era a melhor proposta que recebera em todos esses seus anos de carreira. Passou anos da sua vida dedicando-se aos estudos do que tanto amava fazer, com ajuda de uma única pessoa além de seus pais, conseguiu com que sua própria grife crescesse, e, às vezes, pegava-se pensando como era possível que tanta gente gostasse do que fazia, que usassem suas peças que antes eram esboços feitos em um caderno comum de desenho. Eram poucas as sensações melhores que ter reconhecimento pelo seu trabalho. Uma proposta dessas seria mais um avanço no que tanto sonhava. Já era a realização de um sonho estar onde conseguira chegar, mas ainda tinha níveis a subir, os quais almejava muito desde quando passou a entender que era isso que queria para o resto da sua vida.

Durante a faculdade, sua intenção era formar-se e dar aulas, porém, um de seus professores renomados apreciava demasiadamente seu talento e seu empenho e alegava que não poderia deixá-la presa dentro de quatro paredes pois seu esforço tinha que, literalmente, ser palpável. Depois de ver seu próprio negócio crescendo cada vez mais, raramente passava por sua cabeça poder ensinar, entretanto, quando viu escrito bem ali à sua frente que estava sendo convidada a dar aula em um curso em Milão, seu coração parecia querer pular para fora do seu peito. Admirava tanto a capacidade de quem transmitia seus conhecimentos à outras pessoas, e ver alguém querendo que fizesse isso era surreal. Já morava em uma das capitais da moda e exercia sua função ali, fazer o mesmo em uma outra capital lhe fazia suspirar só com a ideia.

— Temos trabalho a ser feito. — Levantou-se da cadeira, contornando a mesa e indo em direção à porta que levava à sala que usava para criar suas próprias peças sozinha.

— É agora que faço meu show particular? — Mordeu o lábio inferior olhando para Ana.

— Já era para ter começado. — Arqueou uma das sobrancelhas dando um sorriso lascivo.

— Acomode-se, querida. — Bárbara desceu vagarosamente as alças da blusa que usava sem desviar seus olhos de Ana que, em segundos, gargalhou.

— Ainda bem que você ganha a vida como modelo e não como stripper.

— Para com isso, eu tenho vários outros talentos escondidos.

— Um deles não é ser stripper.

— Aposto que não diz isso para Vitória. — Falou em um tom quase inaudível, porém alto suficiente para que a morena ouvisse.

— Não iremos comentar sobre como ela tira a roupa para mim. Agora, vista isso para eu ajustar. — Lhe entregou o primeiro modelo que estava sendo feito para o seu desfile de outono.

— Ele vai ser meu depois do desfile? — Voltou-se para ela sorrindo.

— Não tem nem metade dele pronto ainda, Bárbara, só estamos ajustando o tamanho. Esperasse um pouco mais para mostrar que abusa demais da minha boa vontade.

— Certo, mas, se não me der, vai aparecer em uma revista "Modelo foge após um desfile levando consigo um look que alegou ter sido negado a ela."

— "Designer de moda fura o corpo inteiro de modelo com alfinetes alegando que ela não ficava parada."— Bárbara parou de fazer gestos com as mãos enquanto falava simultaneamente a Ana que ajustava a peça em seu corpo. Fazer as coisas que eram relacionadas ao desfile, fazia Ana pensar que se fosse para Milão durante sete meses, voltaria exatamente no mês do evento. Era a primeira vez que faria algo unicamente seu sem ser em um evento que envolvia outros estilistas, estava planejando minuciosamente para que tudo saísse perfeito como imaginava, passar o tempo que antecedia em outro continente era arriscado e a possibilidade de não sair como o planejado era grande. Iriam começar a pairar em sua cabeça o que tanto odiava: dilemas.

***

Vitória encostou sua cabeça nas mãos que seguravam o volante e respirou fundo. A imagem da frequência cardíaca da menina parando e a falha tentativa de reanimá-la, passava em sua cabeça como um filme, o olhar pesaroso da enfermeira, o choro compulsivo dos pais que estavam quase morando no hospital há dezesseis dias, seu corpo pequeno estático sendo levado ao necrotério e o atestado de óbito que assinara minutos antes de entrar no carro. Raramente pegava casos como esse, lidava mais com adultos, porém, aquela menina precisava receber o melhor cuidado que poderia ser lhe dado e o fizera. Seus plantões estavam durando mais que o normal, sua preocupação era dobrada devido ao estado da menina que se agravava a cada dia. Estava acostumada a perder pacientes, alguns quadros eram irreversíveis, e seu peito apertava quando acontecia, no entanto, a menina de nove anos perdendo a chance de crescer, de realizar seus sonhos, trazia à tona a sensibilidade que aprendera a mascarar com tantos anos sendo médica. Deixar a vida de uma criança escapar pelas suas mãos lhe fazia se sentir impotente, embora no fundo compreendesse que fizera o máximo que pôde, se doando e buscando todos os meios que a fizesse voltar a viver como alguém que tinha iniciado isso há pouco. Ver a dor quase palpável dos pais ao receber a notícia que lutara internamente para dar, a fazia pensar como seria se naquela cama fosse sua filha e o responsável por cuidá-la não tivesse cumprido seu dever.

Os quilômetros até o edifício que residia pareciam ter dobrado, seu cansaço estava notório. Os dezesseis dias em que a garota ficara internada foram dedicados somente a melhora dela, voltava para casa quando tinha certeza de que a menina ficaria bem sob os cuidados dos outros plantonistas. Por mais que confiasse nos profissionais do hospital, queria estar ali o máximo que pudesse. Parou o carro em frente ao prédio, porém desistiu da ideia de entrar e ficar sozinha, não conseguiria tirar da cabeça o que tanto temia que acontecesse.

— Ninha?

— Uhum? — Murmurou.

— Desculpa por te acordar...

— Está tudo bem? Por que essa voz?

— Tudo bem se eu for até aí? Preciso de você agora.

— Eu estou indo aí agora! O que aconteceu?

— A porta vai estar aberta. Venha logo.

— Vitória? — A preocupação em sua voz era notória. Saber o quanto importava à ela fazia o coração de Vitória aquecer.

— Não se preocupe, Em, apenas venha.

— Chego em minutos.

— Dirija com cuidado.

— Pode deixar.

— Estou esperando, não demore mas também não corra. — Falou enquanto descia do carro.

— Ou um, ou outro. — Ana riu a fazendo dar o primeiro sorriso depois do dia péssimo que teve.

— Você entendeu, Ana, não quero te ver toda quebrada em uma cama de hospital de novo.

— Sim, eu entendi. Vou desligar, sabe o problema que é meu celular e o carro ao mesmo tempo. Não demoro.

— Ok.

A ligação foi encerrada e as portas do elevador se abriram. O tempo que Vitória levou para tomar banho e vestir-se, foi o tempo exato em que Ana levou para chegar em seu apartamento. Deu três batidas na porta do quarto entreaberta e a abriu devagar.

— Amor. — Disse ao ver Vitória saindo do closet.

— Oi. — Deu um meio sorriso.

— O que aconteceu? Você não me ligaria às duas da manhã por nada. — Se aproximou passando os braços por sua cintura.

— Eu falhei.— Sussurrou ao esconder seu rosto na curva entre o ombro e o pescoço de Ana. — Fui incompetente.

— Você o quê?

— Isso mesmo que você ouviu. — Levantou a cabeça.

— Especifica para mim.

— Ela morreu, Ninha. — Admitiu em voz alta pela primeira vez. A notícia aos pais não fora emitida, eles haviam percebido em seu semblante antes mesmo que se pronunciasse. Falar fazia parecer ainda mais real, fazia doer mais.

— Você fez o possível por ela.

— Talvez eu precisasse ter feito mais. Eu não consigo aceitar que deixei passar a vida de uma criança, já passaram tantos casos piores por mim.

— Ela ao menos teve a chance de viver mais do que viveria se não fosse por você.

— Era só uma criança. — Sussurrou.

— Eu não vou deixar você se culpar pelo inevitável. Imagino como é ruim isso que está sentindo, mas não consigo ver você se culpando depois de ter feito tudo que estava ao seu alcance. Você mal dormiu e comeu durante duas semanas, passou mais tempo no hospital do que em seu próprio apartamento. Eu sei que reconhece o seu esforço, tente fazer isso agora mais uma vez.

— Obrigada por ter vindo. — Passou seus braços em torno do pescoço de Ana, fazendo-a apertar mais seus braços ao redor de sua cintura.

— Eu literalmente não estaria aqui hoje se não fosse por você. Acha mesmo que é incompetente? Sou tão grata por você ser a melhor médica daquele hospital. — Beijou seu ombro e se afastou olhando em seus olhos.

— Vai ficar aqui comigo?

— Nosso relacionamento é baseado nas perguntas desnecessárias. — Revirou os olhos fazendo Vitória sorrir.

— Achei que ia ouvir um "claro que eu fico, meu amor", mas isso também serve.

— Claro que eu fico, meu amor. — Repetiu e lhe deu um selinho. — Senti saudade sua nesses últimos dias. — Disse enquanto Vitória desprendia-se dos seus braços para ir se acomodar na cama e a puxava pela mão.

— Temos todo o tempo do mundo para matar essa saudade. — Deitou sua cabeça no peito de Ana que levou a mão até seu cabelo o acariciando e beijou sua testa. As palavras de Vitória fizeram Ana lembrar do assunto que estava dominando seus pensamentos até algumas horas atrás. Teriam mesmo todo o tempo do mundo? Ir passar sete meses em Milão significaria passar mais tempo longe de Vitória do que estivera perto, se as duas semanas em que se viram uma vez só já causava saudade, sete meses causaria algo que palavra nenhuma descreve. Precisava contar a ela sobre a proposta, mesmo que ainda não tivesse decidido, precisava saber como manteriam o relacionamento. Se é que Vitória concordaria com a sua decisão caso aceitasse. Vitória era uma das razões de haver esse dilema. A possibilidade era de duas reações e Ana temia que Vitória pudesse ter a pior delas. Esperaria um momento propício para tocar no assunto.

— Você está bem? — Perguntou depois de um tempo em silêncio. Vitória mantinha os olhos fechados enquanto recebia seu carinho mas sabia que não estava dormindo.

— Não completamente, mas estou melhor, escape.— Ana sorriu ao ouvir seu apelido que há tempos Vitória não a chamava.

— Tenho muito orgulho de você, sabia?— Vitória levantou seu rosto e sorriu.

— Eu amo tanto você.

— Eu também te amo e por isso nunca vou deixar que não enxergue o quão maravilhosa você é em todos os quesitos. Estarei aqui sempre para te lembrar disso.

Ver o que há de melhor na outra pessoa e fazê-la reconhecer o mesmo é mais uma das consequências que o amor traz consigo. Ana, para Vitória, funcionava como a morfina: os efeitos eram tranquilidade e alívio da dor.

****

O que acharam dessa proposta que Ana recebeu de ir pra Milão, será que ela vai aceitar?

Continue Reading

You'll Also Like

My Luna By Malu

Fanfiction

219K 19.4K 27
Ela: A nerd ômega considerada frágil e fraca Ele: Um Alfa lúpus, além de ser o valentão mais gato e cobiçado da escola Ele sempre fez bullying com el...
2.1K 122 12
Cesar e um streamer sem rumo de vida mais acaba conhecendo um dos maiores desafios da sua vida Joui e um ginasta e streamer nas horas vagas, só queri...
53.5K 4.5K 53
Jenna Ortega sempre foi considerada uma das melhores atrizes jovens fazendo diversos papeis desde de pequena a latina vem conquistando cada dia mais...
17.8K 1.4K 6
Numa fria madrugada, Emma Swan caminha cambaleante por Storybrooke, após ter sido expulsa da Toca do Coelho por causar tumulto. Não tinha destino ce...