Mordia o meu lábio enquanto esperava que alguém me abrisse a porta. Não sabia o porquê mas sentia-me mal pelo que tinha acontecido na noite passada, como se tivesse sido eu a causa-lo. E por causa deste sentimento, que me estava a comer por dentro, tive de engolir o meu orgulho e bater à porta.
Cerca de trinta segundos depois abriram a porta, foi lentamente aberta por uma cara desconhecida.
“Oi.” O estranho rapaz de cabelo preto disse, com um grande sorriso na cara. “És a Lorena certo?”
Apenas assenti com um sorriso educado. Penso que seja este o colega de quarto do Louis.
“Bem.” Ele continuou, bastante alto desta vez. “Receio que o Louis esteja ocupado neste momento, e a razão por ele estar indisponível incluem uma loira bimba e-“
“Zach, sua cabeça de pila, para de atrofiar com as pessoas dessa maneira.” Ouvi uma voz familiar, um pouco rouca vindo de dentro do quarto, e franzi as sobrancelhas para o Zach.
“Desculpa.” Ele disse, com um sorriso ainda maior. “Eu apenas gosto de atrofiar com as pessoas desta maneira.” Zach abriu a porta e moveu-se depois de ter repetido as palavras do Louis, deixando-me entrar. O dormitório não estava lá muito diferente desde a última vez, 10 dias atrás. Roupas, livros e sabe-se lá mais o quê. Parecia muito com a caixa Pandora. E eu achei que por entrar neste lugar mostrava o quão culpada me sentia pela noite anterior.
“Quem é?” Vi o Louis deitado na cama, com os seus braços sob os olhos. Instantaneamente sorri com a visão ele, mas o meu sorriso logo desapareceu quando o vi com ligaduras, e pensos aqui e ali. Wow, foi assim tão mau?
Apenas para me meter com ele, andei silenciosamente até à cama e aproximei os meus lábios da sua orelha, com cuidado para não lhe tocar.
“Sou eu, LeClerc.” Sussurrei alto, citando uma linha da minha série de comedia favorita, e recebi a reação que esperava; Louis repentinamente saltou da cama, olhando-me com os olhos arregalados, agora sentado. Ele pestanejou uma vez e expirou, deixando o ar que ele tinha prendido durante este tempo sair. Não evitei em rir assim que me levantei; ela parecia um cachorrinho perdido com os seus olhos do tamanho do sol.
“Achaste muito engraçada, não achas?” Antes de conseguir responder, Louis agarrou-me nos joelhos e puxou-me para a cama, ignorando todos os meus gritos. Quando ele finalmente me deitou de costas, subiu para cima de mim e beijou-me forçadamente enquanto eu não conseguia parar de rir.
“Hey!” Louis protestou assim que se afastou. “O que é tão engraçado? Sou um beijoqueiro engraçado?” Ele perguntou a dramatizar, o que só fez com que me risse mais. No entanto, quando penso nisto, a fala estranhamente não soou familiar?
“Não.” Respirava ofegante, acalmando-me. “Não acho que sejas.”
Louis sorriu e vinha-me beijar novamente, pus um dedo à frente dos seus lábios e ele franziu a testa.
“Mas sabes o que eu acho?” Questionei-o, e ele franziu ainda mais a testa em resposta.
“Eu acho…” Olhei para baixo para a parte do seu corpo descoberta pela camisola, antes de continuar.
“Acho que vamos causar uma ereção ao teu amigo se tu não parares.”
“Hey!” Zach disparou do seu lugar perto da porta, e agora eu e Louis riamos.
“Eu sabia que isto ia acontecer.” Zach murmurou para si próprio, abanando a cabeça e indo até à casa de banho, acho.
“Hey! O que é sabia que ia acontecer, o que aconteceu?” Disparei depois dele.
“Ele arruinou-te!” Zach disparou de volta, fazendo com que eu e o Louis ríssemos ainda mais. Arruinou-me? Eu não diria arruinar por mais que ele me tenha transmitido o seu estranho senso de humor.
“Eu não o fiz!” Louis exclamou, ainda a rir um pouco.
“Mentiroso!”
“Zach, eu nunca faria algo assim!”
“Shiu! Não fales dela como se ela não estivesse… como se ela não estivesse deitada debaixo de ti!” Zach exclamou, mal capaz de manter a sua cara séria, o que fez nós os dois na cama desatar a rir outra vez.
“Pronto, já percebi, sou hilariante. Vejo-vos mais tarde.” Zach disse com um sorriso e caminhou para fora do quarto. Uns segundos depois, Louis e eu finalmente paramos de rir, e ele voltou a olhar para mim.
“Então.” Ele começou calmamente. “O que te traz aqui LeClerc?”
Dei-lhe um grande sorriso e toquei-lhe na face, só depois reparei que também lá tinha hematomas. O canto do seu olho esquerdo estava negro, e o seu lábio inferior um pouco inchado. Nem me façam falar das suas bochechas e da mandibula. Ele parecia pertencer a outro planeta.
“Lori?” Louis calmamente me chamou, fazendo-me pestanejar e arrancando-me dos meus pensamentos. Só depois me apercebi que ele tinha as sobrancelhas franzidas e já não sorria.
“Ele realmente magoou-te, não foi?” Eu disse calmamente. Se eu antes tinha dito que me sentia culpada, não era nada comparado àquilo que sentia neste momento.
Para minha surpresa, Louis sorriu. “Ele não o fez amor. Eu estou bem, tu nem consegues dizer o quanto a minha cara está fodida de longe” Ele deu-me um sorriso tranquilizante e eu lambi os lábios, nada convencida. Louis pareceu notar e suspirou.
“Lorena, mesmo que eu estivesse em coma, eu não te culparia. Por isso, para de olhar para mim dessa maneira, eu estou b- ah! Que merda!” Ele respirava ofegante enquanto saía de cima de mim. Repentinamente sentei-me e tentei perceber o que tinha acontecido, mas tudo o que consegui fazer foi olhar para ele, chocada, horrorizada, enquanto a sua respiração se tornava mais pesada, e os seus olhos se fechavam com força.
“Estás bem?” Perguntei. Terei feito algo inconscientemente?
“Sim, apenas.” Louis começou enquanto se atirava para a almofada.
“O paramédico disse-me que não me deitar de barriga para baixo pelo menos durante uma semana.” A sua respiração continuava pesada, eu fechei os olhos e suspirei; estava explicado.
“Consegues ao menos sair da cama?” Perguntei sem rodeios. Ele parecia ter bastantes problemas em vestir só umas calças, e não era apenas por só usar skinny jeans.
“Sim, eu só… preciso de um minuto.” Louis finalmente conseguiu relaxar, o que lhe causou um grunhido e voltou-se a deitar, não consegui evitar em não sorrir. As suas tentativas para me convencer de que estava bem eram patéticas, no entanto, ele era adorável enquanto tentava.
“Mas mais uma vez, talvez tenhas razão.” Louis respirava fundo. “Eu talvez seja incapaz de fazer… bem, alguma coisa neste momento.”
Eu ri com o seu ar de desapontamento. Eu praticamente podia sentir que ele queria ir jogar futebol assim que lhe dei um beijo na bochecha, com cuidado para não lhe causar mais dores.
“Bem.” Comecei devagarinho, um pouco hesitante. “Sou um pouco aborrecida mas posso-te fazer companhia por um tempo.”
*******
Louis POV
Sorri para a Lorena com o seu último comentário. Aborrecida? Ela acha-se aborrecida? Pergunto-me como é que ela descreve uma pessoa engraçada.
“Eu gostaria disso.” Disse e ela deu um risinho. Só o seu sorriso fazia com que eu sorrisse também.
“Boa.“ Lorena sorriu. “Podíamos ver um filme ou assim.”
Bufei pela sua sugestão. “Ver um filme? Pensei que fosses sugerir algo divertido!”
“Bem, eu disse-te que era aborrecida! O que tens em mente?”
Suspirei e abanei a cabeça para a Lorena enquanto ela me encarava, à espera de ouvir a minha resposta. Ah, doce, inocente Lorena. Inocente de mais para a sua própria segurança, digo.
“Nada amor. Um filme seria ótimo.” Sorri e ela pareceu satisfeita com a minha resposta, pois saltou da cama. Abanei a cabeça, não consegui evitar. Ela era tao distraída às vezes.
“Só tens isto?” Lorena disse assim que pegou nas duas caixas, dando-me um ‘só podes estar a brincar comigo’ olhar.
“Sim, na verdade. Nós normalmente jogamos playstation.” Eu disse e bingo! Um sorriso apareceu na minha cara com a ideia de jogar com a Lorena; talvez, por uma vez, eu fosse capaz de ganhar uma corrida.
“Não.” Ela disse firme, como se tivesse lido os meus pensamentos. “Não podemos jogar, não te podes entusiasmar muito.”
Olhei para ela sem acreditar. “Vá lá! É essa a verdadeira razão ou estas com medo de perder?” Franzi as minhas sobrancelhas para ela. Desafios quase sempre funcionam.
Lorena olhou-me simpaticamente e andou até à cama, pondo a sua mão na minha bochecha assim que se sentou.
“Sim, é a verdadeira razão. Achas mesmo que não percebi o que querias dizer com ‘algo divertido’? Aw.” Ela abanou a cabeça para mim, e eu só consegui ficar a olhar para ela. Engoli em seco, talvez ela não fosse tão distraída, ela era apenas… cautelosa.
“Eu falei com o paramédico ontem à noite, e ele disse-me que irias precisas de paz e descanso nos próximos dias. Portanto, a coisa mais excitante que te posso oferecer agora é… X-Men as origens: Wolverine.” Lorena sorriu para a capa, e virou-a para ler à cerca do filme. Uns segundos depois, a sua expressão facial mudou completamente.
“Ooh, Hugh Jackman! Eu gostar.” Ela disse para si própria e não consegui evitar em rir com a sua escolha de palavras.
“Hugh Jackman? A sério?” Disse enquanto ela punha o DVD no leitor e voltava para a cama.
“Sim, ele é uma das pessoas por quem tenho uma queda se tivesse mais 10 ou 20 anos.” Lorena virou-se para a tv e encarou o ecrã, enquanto eu a encarava a ela. Ela disse aquilo como se fosse a coisa mais normal no mundo.
“Quantas pessoas andam por aí como o Jackman?” Perguntei, um pouco com medo da sua resposta.
Lorena suspirou e voltou-se para mim. “Bem, temos…Hugh Grant, Johnny Depp, Orlando Bloom, Brad Pitt, James Franco-“
“Dave Franco?” Sugeri, e ela semicerrou os olhos para mim.
“Na, ele ainda está nos vinte, ainda pode melhorar.” Ri com a sua resposta, ela parecia tão séria a falar disto.
“Depois temos o Jim Carrey, Tom Cruise, Kevin Bacon, James Blunt, George Clooney, Matt Damon, oh meu Deus, Matt Damon!” Lorena apertou o peito e caiu na almofada, como se tentasse expressar os seus sentimentos pelo ator.
“É tudo?” Perguntei, com medo, e ela apenas riu. Vou considerar como um não.
“Nem de perto! Não mencionei o Michael Bublé, Gary Barlow, Edward Burns, Jude Law, Ryan Reynolds, Liam Neeson-“
“Liam Neeson?!” Exclamei, olhando-a sem acreditar. “Ele tem tipo, cento e quarenta!”
Lorena piscou umas quantas vezes. “Bem, ele tem boa aparência para alguém de 140 anos!”
Bufei com o seu comentário. “Ele não é assim tao bem-parecido.”
“Ele parece melhor do que aquilo que tu serás na sua idade.” Ela murmurou para si mesma, mas eu ouvi-a.
“É mesmo?” Perguntei, mas ela continuava a ignorar-me. Rapidamente me sentei e comecei a fazer-lhe cócegas. Felizmente para mim, ela parecia ser uma pessoa com bastantes cócegas, e fiz uma nota mental para que não me esquecesse disto. Nunca.
“Deixa-me em… paz.” Lorena respirava ofegante, ainda a rir, assim que caiu nas minha pernas, facilitando-me a vida. Aw, porque é que ainda não tinha descoberto isto?
“Nunca.” Disse, gargalhando imenso enquanto a vi-a a tentar livrar-se dos meus braços, mas mesmo no estado em que eu estava, ela continuava a ser mais fraca que eu.
“Por favor Louis, eu… eu faço qualquer coisa!” Ela disparou e foi quando parei, sorrindo. Ela não fazia ideia de onde se tinha metido.
“Qualquer coisa?” Questionei-a calmamente.
“Sim, Jesus.” Lorena respirou ofegante, ainda a recuperar do meu ataque de cócegas.
“Ótimo.” Assenti. “Beija-me”
Lorena olhou para mim, e enquanto eu contava que ela não o fizesse, ela parecia chocada com a minha fraqueza. Ela piscou umas quantas vezes antes de se sentar, suportando-se a si própria em um cotovelo, e usou a sua outra mão para puxar a minha cara para mais perto da dela.
Eu juro, nem queria saber se o filho da puta do Max se sentia tão bem como era beijar esta rapariga. Não era pela maneira como o fazíamos, a técnica ou outra coisa. Eu simplesmente amava isto por ser ela que eu estava a beijar, e não outra rapariga qualquer que não tinha significado nenhum para mim. Foi impressionante o tempo que demorei a perceber que beijar alguém de quem gostávamos era mais prazeroso do que fazer sexo com alguém que não conheçamos, o que costumava ser o meu estilo de vida. Até a Lorena ter captado a minha atenção, claro.
Lorena queria afastar-se, eu podia dize-lo, mas não a deixei. Eu dependia do seu beijo, eu queria beija-la o mais demoradamente, porque assim que nos separasse-mos ninguém saberia quando o voltaríamos a fazer. Nós já não o fazíamos em bases regulares, apenas quando algo acontecia, mas decidi ser paciente e dar-lhe todo o tempo que ela precisasse.
Um minuto depois de estarmos a beijar-nos, senti a Lorena relaxar completamente, e finalmente começou a beijar-me sem se segurar a nada ou hesitar. Ela pós as suas mãos no meu pescoço enquanto se descolava para o meu colo, tal como há uma semana atrás, na roda gigante. A única diferença é que desta vez eu não tinha intenção de a parar.
Lentamente fui deitando-me, e deixei as minhas mãos explorar o seu corpo. Deus, se eu soubesse que isto ia acontecer, nem tinha entrado numa luta com o babuíno da última noite. Ele na realidade causou-me mais danos do que aquilo que eu queria admitir.
Assim que eu começava a tirar a camisola da Lorena, o seu telemóvel começou a tocar e ela afastou-se. Suspirei em frustração, não era a primeira vez que alguém nos interrompia assim que uma camisola ia ser tirada. E eu juro, se for a mesma pessoa…
“Oi Cait, que se passa?” Lorena disse para o microfone, um pouco ofegante, e eu assenti para mim mesmo; tal como eu pensei.
“O quê? Eu agora não posso.” Ela abanou a cabeça e olhou para mim, sorri para ela. É isso mesmo ela não pode agora, que merda seja a que elas estão a falar.
“O quê?! Oh me Deus, eu esqueci-me completamente… Jesus, estarei aí em um minuto.” Lorena suspirou e desligou, ficando a encarar o ecrã do telemóvel.
“Lori?” Disse inseguro sobre o que vinha aí. Eu apenas sabia que iria ter uma conversa bem séria com a Caitlyn por estar a fazer a Lorena ir embora agora.
“Vamos ter teste amanhã, tinha-me esquecido completamente… ugh.” Ela grunhiu e cuidadosamente saiu de cima de mim, e começou a calçar-se. Suspirei mais uma vez ao vê-la preparar-se para ir embora. Isto era fantástico.
“Hey Lori?” Tive uma ideia repentina e tinha de a verificar antes que ela fosse embora.
“Sim?” Ela virou-se, a sua mão na maçaneta.
“Isto conta como um encontro?” Perguntei com um sorriso e ela gargalhou.
“Bem, vejamos.” Lorena começou e esfregou as mãos.
“Fizeste-me cócegas, coisa que eu odeio; insultas-te o Liam Neeson, o que me magoou profundamente; sugeriste que fizéssemos sexo, e depois quase que me enganaste para eu o fazer contigo.” Ela deu-me um sorriso sarcástico e eu abanei a cabeça, já sabia qual era a resposta.
“Vou considerar isso como um não, certo?” Lorena assentiu, confirmando os meus pensamentos.
“Mas.” Ela começou enquanto andava até à porta.
“Qualquer coisa que queiras, ficarei muito feliz em ir num encontro real contigo.” Ela disse calmamente e para minha surpresa, deu-me um beijinho nos lábios. Ela sorriu para mim e fez o seu caminho para fora do dormitório, deixando-me sozinho com os meus pensamentos, e Hugh Jackman.
Suspirei e pus os braços sob os olhos. Eu sabia que tinha tudo planeado para o encontro mas tinha de adicionar mais qualquer coisa. Eu tenho de fazer a sua cabeça explodir.
Alguém sabe o número do Matt Damon?