Folhas De Outono

By joycexsous

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Numa noite de outono, após sofrer um acidente, Ana Clara Caetano, que carrega o nome um tanto quanto conhecid... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capitulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Bônus
Esclarecimento

Capítulo 10

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By joycexsous

Letícia: "Você e sua médica que parece mais uma modelo vem, não vem?"

Ana recebeu a mensagem de Letícia assim que a porta do elevador se abriu e o som da sua risada ecoou lá dentro, sua sorte era estar completamente sozinha na própria empresa em pleno sábado a tarde. Passara o dia colocando em prática o design que estava só no papel. Havia ficado dias para ajustar perfeitamente como queria, para ficar exatamente do jeito que imaginava no corpo de Vitória. Aproveitou que tudo aquilo que era seu, era literalmente só seu; preferia fazer isso enquanto pudesse dar cem por cento de atenção ao que estava fazendo, sem pessoas conversando, sem qualquer barulho de máquinas de costura, sem saltos ecoando sobre o piso ou qualquer outra coisa que lhe roubasse atenção e pudesse lhe atrapalhar.

Vitória: "Se eu não for, você me busca e me arrasta pelo cabelo, não é?"

A porta do elevador abriu de novo e Ana pisou no térreo, foi o tempo de chegar outra mensagem.

Vitória: "Eu certamente irei, Caetano"

****

Ana ajustou a saia preta de pregas que ia até o meio das coxas e fazia a combinação perfeita com suas botas também pretas de salto baixo que cobria suas pernas até o joelho, e a blusa da mesma cor, coberta por uma jaqueta de couro vermelha já que o tempo em São Paulo pedia por algo que não a deixasse sentir o vento gélido. Seu cabelo caia ondulado sobre os ombros, e a maquiagem que estava acostumada a usar só reforçava o quanto não era necessário muito para realçar sua beleza natural.

Com uma última olhada no espelho, pegou o celular sobre a cama e viu que passava um pouco já do horário marcado, a fazendo sair do quarto imediatamente. Se quisesse chegar não tão atrasada, não poderia mais perder tempo considerando que Letícia não mora perto e o trânsito de São Paulo em um sábado a noite é caótico. Levou quase quarenta minutos para chegar até a casa da amiga e desejou que um dos vários carros parados por ali fosse de Vitória, tal que mal falara com ela durante o dia. Checou as notificações do celular antes de descer e confirmou que não havia nada dela. Estaria um tanto quanto preocupada se não soubesse que a veria em minutos. Ou, pelo menos, assim esperava. Guardou o celular no bolso da jaqueta e pegou o presente, deixando o carro em seguida. Caminhou até o jardim dos fundos que estava preenchido por uma música eletrônica e foi recebida imediatamente.

— Cadê sua médica gata? — Perguntou enquanto se aproximava.

— Ainda não chegou? Bom, eu não sei. — Deu um sorriso torto e lhe estendeu a caixa de presente.

— Feliz aniversário, amiga.

— Obrigada! — Abriu um sorriso e os braços ao mesmo tempo que Ana, se permitindo dar um abraço caloroso. — Minha casa é sua também, você sabe disso. Fique à vontade até sua doutora sexy chegar. — Piscou com o olho direito.

— Pare de dar apelidos assim a ela. — Proferiu em meio a um riso.

— Tudo bem, me desculpe, não sabia que você tinha ciúmes. — Deu as costas a Ana antes que a mesma a respondesse.

Ana analisou todo o jardim procurando por um rosto conhecido e falhou, realmente Vitória era sua salvação da noite. Andou entre as pessoas que estavam extremamente animadas enquanto moviam seus corpos ao som da música, bebendo e comendo. Uma das mesas de picnic estava vazia, o que a levou a sentar-se lá, como sempre fazia com Letícia quando mais novas, era o lugar das duas. Retirou o celular do bolso e mais uma vez, nada de Vitória.

Letícia havia marcado nove horas e já se passavam das dez e meia. Vitória com sua postura demonstrava ser alguém pontual. Ana mandara várias mensagens perguntando por ela, a cada cinco minutos olhava para a tela, e não obteve qualquer resposta. Tamborilou as unhas sobre a mesa, observando cada canto daquele lugar e nem sinal de Vitória Falcão. Levantou-se para pegar pegar alguma bebida, mas assim que se pôs de pé, Letícia lhe entregou um copo cheio.

— Desfaz essa cara de enterro, ela vai vir. — Cruzou os braços.

— Obrigada. — Agradeceu pela bebida e suspirou. — Ela não responde minhas mensagens.

— Ela só está atrasada, venha, vou te apresentar a alguns amigos. — Letícia a puxou em direção a uma rodinha de pessoas no meio do jardim e fez as devidas apresentações. Estavam em um assunto que fugia dos entendimentos da morena, portanto, apenas observava calada ao lado da amiga que estava mais animada que nunca. Percebeu o olhar de um das amigas de Letícia, qual foi apresentada como Clarissa. Seus olhares se encontraram e ela recebeu um sorriso de canto. Jamais negaria que ela era linda e poderia até ser interessante, mas sua mente estava demasiadamente ocupada por estar preocupada com outra pessoa para se importar.

****

— Você não pode sair assim sem dar satisfações ao seu marido. — isabel interviu assim que Vitória colocou a mão na maçaneta para sair de casa. Ela havia questionado o tempo todo onde a filha iria nesse horário, muito bem arrumada e sozinha. Apareceu em sua casa os convidando para um jantar em família, uma desculpa sem fundamento para mais uma vez tentar manipular sua própria filha.

— Ele não é meu marido. — Falou pausadamente sem olhar para a mãe.

— Vocês ainda são casados! — Alterou o tom de voz.

— No papel!

— Enquanto estiverem casados no papel vocês ainda são casados! Eu vim até a sua casa para jantarmos juntos, você não vai a lugar algum. — Disse retirando a mão de Vitória da maçaneta. Ela cerrou os punhos e olhou para sua mãe e Luis. Se fosse demonstrar toda a raiva que estava sentindo, certamente causaria uma discussão ainda maior, e era o que menos precisava.

— Deixe ela ir, não é a primeira vez que isso acontece. — Luis colocou a mão no ombro de Isabel, que olhava para a filha como se ainda tivesse algum domínio sobre ela.

— Vocês dois se merecem.— Sua mão alcançou a maçaneta de volta e só então percebeu o quanto estava tremendo, seu corpo inteiro estava tenso. Parou do lado de fora e procurou se acalmar antes de ir para a casa de Letícia, a qual já nem sentia mais tanta vontade de ir. Gostaria de um lugar calmo, porém iria mesmo assim, até porque, um dos seus lugares calmos estava lá. Assim que desbloqueou o celular, já dentro do carro, para ver o endereço, viu que haviam inúmeras mensagens de Ana e uma chamada perdida, foi como um peso tirado de cima de si quando notou a preocupação da morena, ao menos ainda tinha pessoas que prezavam seus sentimentos. A veria em minutos e já estava atrasada, então voltou a guardar o celular sem responder. Assim que colocou os pés no local da festa, Letícia empurrou Ana com o cotovelo e indicou com a cabeça para Vitória.

— Eu disse que ela viria. — Sorrindo, levou Ana consigo para receber a médica. — Hey, atrasada.

— Hey, me perdoe pelo atraso. — Sorriu. — Feliz aniversário. — A abraçou por segundos e assim que se separaram, lhe entregou o presente.

— Obrigada, e obrigada de novo por ter vindo. Sinta-se a vontade, é como a casa da Aninha. — Se afastou deixando as duas sozinhas.

— Aconteceu o que dessa vez? Você está bem? — Ana soltou como um suspiro.

— O de sempre, escape. Estou bem na medida do possível.

— Luis? Sua mãe?

— Ambos.

Ana passou seu braço pelo braço de Vitória, a levando até a mesa onde estava antes que por sorte ainda continuava vazia.

— Quer falar sobre? — Disse assim que se sentaram.

— Eu quero o divórcio, apenas. — Deu um sorriso com pesar e isso refletiu nos lábios da outra.

— Está perto. — Com a mão que não segurava o copo, colocou sobre a da morena, a acariciando. O corpo dela involuntariamente correspondeu ao toque, deixando-a arrepiada.

— Não parece. — Suspirou e pegou o copo de Ana da sua mão, virando o pouco que tinha. — Vou pegar mais para você. — Vitória fez menção de levantar mas Ana segurou seu braço.

— Eu vou. — Pegou seu copo de volta e colocou-se de pé.

Ao se aproximar da mesa de bebidas, pegou outro copo para Vitória também, e estava prestes a enchê-los quando seu ombro foi tocado.

— Atrapalho? — Era ela. A amiga bonita de Letícia que a encarou por minutos e minutos e lhe lançava vários sorrisinhos sempre que ela o olhava de volta. Ana levantou a cabeça, virando um pouco seu corpo para ela e sorriu da mesma forma que ela sorria.

— Não.

— Ana Clara, certo? — Ana assentiu à pergunta. — Clarissa. — Lhe estendeu a mão. — É um prazer te conhecer.

— O prazer é meu. — Sorrindo, aceitou o cumprimento e assim que suas mãos se soltaram, ela pegou um dos copos e serviu a mesma cerveja que estava tomando antes. — Não precisava, mas obrigada.

— É sempre uma honra poder ajudar alguém tão linda.

Vitória ainda sentada no mesmo lugar, observou o lugar com calma, já que era impossível focar em outra coisa quando Ana estava na sua frente. A cacheada prendia sua atenção mesmo sem querer, só por estar ali. Olhou de canto para onde Ana havia ido já que não demorava tanto assim para pegar uma bebida. Virou seu corpo, deixando suas costas encostadas na mesa e cruzou os braços enquanto assistia o claro flerte que estava acontecendo a metros na sua frente. Ana segurava os dois copos, enquanto o mulher à sua frente falava com ela com um sorriso galanteador nos lábios. Ela deveria estar mandando bem já que Ana claramente esquecera que a havia deixado sozinha ali.

Era egoísta da sua parte, mas estava incomodada com aquela cena. Embora conhecesse poucas pessoas de vista por conta do seu local de trabalho, estava ali por Ana. Minutos depois, a morena voltou à ela, se sentando ao seu lado e lhe entregando um dos copos.

— Me desculpa...

— O assunto parecia interessante de longe. — Interrompeu Ana com mais seriedade do que deveria ser expressada. Ana a olhou franzindo o cenho. — Ela é bonita.

— E você é uma mimada que está brava por eu ter ficado minutos conversando com outra pessoa.

— Ela realmente era bonita, Ana, estou apenas dizendo. — Deu de ombros.

— Não vou deixar você sozinha, você é meu escape essa noite, lembra? — Empurrou seu braço com o cotovelo, o que fez Vitória dar um sorriso contido.

O celular de Ana vibrou no bolso da jaqueta. Era mensagem de um número desconhecido. Era o número de Clarissa.

— Eu já disse para ela que essa noite você está acompanhada. — Letícia disse ao sentar na mesma mesa, no banco da frente, fazendo Ana e Vitória virarem para ela.

— Ana está totalmente livre essa noite. — Vitória sorriu para Letícia.

— Não estou, não. — Respondeu para Vitória fazendo Letícia gargalhar.

— Se vocês não fossem héteros eu poderia jurar que isso é uma cena de ciúmes. — Disse em meio a risada. Vitória ignorou o comentário que a fez sentir frio na barriga, levando o copo até a boca. — Vocês formariam um casal lindo. — Cinco palavras suficientes para fazer o organismo de ambas reagirem e as fazerem estremecer.

— Letícia Tavares! — Ana a repreendeu.

— Tudo bem, tudo bem, eu paro só porque vocês vão explodir de tão vermelhas. — Ela se colocou de pé e deu a volta na mesa. — Lembrem-se de que hétero fica com hétero. — Sussurrou entre as duas e saiu de perto.

— Ela parece bem mais tímida.

— Sóbria e com quem não conhece ela é.

****

— Ela está te convidando para uma madrugada na casa dela, ela é rápida. — Vitória riu ao ler a mensagem. — Vá, Ana. — Proferiu o contrário do que queria.

— Não mesmo.

— Você está em dúvida, está estampado na sua cara. — Ana deu um meio sorriso.

— Não estou em dúvida.

— Está sim. Se for por minha causa, juro que não me importo.

— Você disse minutos atrás que não queria que a noite acabasse por não querer ir para casa.

— Já disse que se for por mim, tudo bem, Ana.

— Não, eu e você vamos para a minha casa. — Ana sorriu.

— Para a sua casa? — Arqueou as sobrancelhas.

— Você não quer voltar para a sua, quer? — Vitória negou com a cabeça. — Pois bem.

— Mas e ela? — Indiciou Clarissa com a cabeça.

— Ela é linda e simpática, mas você é bem mais, senhorita Falcão. — O álcool ingerido fazia sua sinceridade sair de forma inevitável. Vitória sentiu seu estômago revirar ao ouvir aquelas palavras. Ana estava dispensando uma garota linda que demonstrava até demais estar interessada e ainda a levaria para sua casa. — Vamos nos despedir da Letícia. — Se colocou de pé, sendo seguida por Vitória. A encontraram próxima a entrada de sua casa.

— Não me diga que vocês já vão. — Cruzou os braços.

— Sua festa foi ótima, amiga. — Ana lhe deu um beijo no rosto.

— Obrigada por terem vindo. — Sorriu para as duas. — Se cuidem. — Deu-lhes um sorriso lascivo e piscou com o olho direito antes de se despedir de Vitória também. Contornaram a casa de Letícia e chegaram à rua.

— Você vai para a minha casa? — Ana disse ao pararem próximas ao seu carro.

— Não sei, Ana. — Saiu mais como um suspiro.

Era sua vontade, mas ao mesmo tempo não era certo. Tinha sua casa, tinha Luis que mais uma vez terá motivo para importuná-la e também estava se sentindo um tanto quanto culpada por ter estragado a noite da morena com a garota bonita.

— Use seu escape de maneira correta. — Disse sorrindo. — Eu estou indo, você tem todo o direito de ir para a sua própria casa, mas gostaria que fosse comigo. — Destravou o carro e Vitória assentiu e caminhou até o seu que estava um pouco mais distante.

Ana sorriu vitoriosa e satisfeita quando percebeu que o carro atrás do seu no semáforo era o da cacheada. Era mais que satisfatório ser quase como um refúgio para Vitória. Percebera que transmitia confiança à outra, gostava de ser chamada de escape e via que agora era muito mais que isso. Formaram um laço tão simples mas tão bonito e agradável. Vitória tinha a presença incansável, sua voz um tanto quanto rouca poderia ser ouvida o tempo todo, sua gargalhada então soava como uma orquestra conduzida pelo melhor maestro.

Ana desceu do carro ao mesmo tempo que Vitória, soltou um suspiro ao ver que ela atendeu seu pedido. Tinha um cuidado com ela e sempre a tiraria de perto do seu pesadelo. Adentraram o edifício juntas e em silêncio até o elevador.

— Estou acumulando tudo que você faz por mim para poder retribuir algum dia, só não sei se conseguirei chegar ao alcance. — Vitória proferiu baixo olhando seus próprios pés. Estava ficando impossível para Ana ouvir coisas assim vindo da outra e não sentir uma sensação gostosa que muitos chamam de borboletas no estômago. Colocou seus dedos sob o queixo da cacheada e levantou seu rosto, procurando alinhar seus olhos aos dela.

— Cuido porque gosto de você, Vitória, já é uma grande retribuição ver você bem.

Vitória apenas sorriu sem conseguir emitir qualquer palavra. Suas pernas estavam fracas. Os olhares estavam sendo trocados com tanta intensidade, estavam tão perto uma da outra que podiam ouvir suas respirações. O barulho do elevador indicando que haviam chegado ao último andar as tirou do transe, fazendo ambas sentirem suas bochechas queimarem. Saíram do lugar que era testemunha de uma tensão notória. Os saltos de Vitória ecoaram sobre o piso do corredor, quebrando o silêncio, até chegarem na porta. Assim que Ana abriu, jogou suas chaves sobre o aparador ao lado da porta e se virou para Vitória.

— Me acompanhe. — Fez sinal com as mãos e seguiu para seu quarto. Vitória olhou ao redor, reparando o quanto tudo ainda era a cara da morena assim como o resto do apartamento. Ana entrou no closet e Vitória ficou parada em seu quarto a fazendo voltar para chamá-la. — Pode pegar para dormir o que preferir. — Disse abrindo uma gaveta um tanto quanto grande, repleta de camisolas e pijamas.

— Ana... — Soou baixo.

— Sim?

— Você tem certeza que eu deveria dormir aqui?

— Você não quer? — Ana se virou para ela, encostando seu corpo no espelho enorme que cobria o meio da parede, indo do chão até o teto.

— Eu só não quero incomodar. — Encolheu os ombros.

— Você não é tão tímida assim. — Riu. — Você não incomoda nunca. — Colocou a mão em seu ombro e se retirou do closet.

Vitória passou os olhos por tudo de novo. Era basicamente do mesmo tamanho que o seu, até algumas peças eram bem parecidas, entretanto, o que chamou sua atenção foram as várias jaquetas vermelhas de couro, cada uma em um modelo diferente. E ao olhar os sapatos expostos, o tanto de botas que tinha ali também. As que Ana usava nessa noite era só uma das muitas. Vitória suspirou, sentindo o cheiro do closet que era exatamente o mesmo de Ana. Não era como perfume ou algo assim, era algo específico que só ela tinha. Era bom e lhe trazia a sensação de estar em casa, a um lugar que pertencia e só tinha encontrado agora.

Saiu dos seus devaneios que eram completamente insanos para ela, estava já julgando o pouco de álcool que ingeriu. Pegou uma das calças de dormir de Ana e uma blusa sem mangas. Retirou o salto e a calça social que vestia, trocando pelo pijama e dobrou sua roupa, as arrumando em um canto vazio para pegar assim que acordasse.

Saiu do closet e Ana estava deitada sobre a cama, com as pernas para fora e mexendo no celular. A mesma teve sua atenção voltada para a médica, bloqueou o celular e se sentou. Questionou internamente porque seu cérebro fazia ela pensar o quanto Vitória estava sexy dentro de uma das suas roupas de dormir.

— Você prefere dormir em um outro quarto? Juro que minha companhia é agradável. — Arqueou as sobrancelhas e Vitória deu um riso que poderia ser considerado tímido.

— A casa é sua, você quem manda.

— Lhe darei a honra de dividir a cama comigo. — Saiu de cima da cama.

— Acho que prefiro um outro quarto. — O sorriso de Ana estava quase se desfazendo. — Não gosto de ficar perto de pessoas convencidas.

— Fique à vontade e, por favor, sinta-se em casa. Vou trocar de roupa. Dentro da primeira gaveta do lado esquerdo tem uma escova nova. — Apontou para a outra porta fechada e Vitória assentiu. Ana entrou no closet e instantaneamente o perfume de Vitória foi sentido. Trocou sua roupa em minutos, vestindo o pijama que mais estava acostumada a usar, um short e uma blusa de seda. Segurou um sorriso quando voltou e Vitória estava sentada na cama, encostada na cabeceira, olhando o celular. Era uma cena diferente de todas que já havia visto e embora quisesse até mesmo tirar uma foto para guardar aquela visão, apenas a guardou em um cantinho de seu cérebro no lugar onde suas memórias preferidas habitavam. Apagou a luz do centro do quarto, deixando somente as pequenas luzes amarelas que ficavam próximas às paredes e não iluminavam tanto. Se sentou na cama de forma idêntica a Vitória e retirou o celular dela.

— Não finge que não me conhece direito, sua timidez me incomoda.

Vitória a olhou sorrindo e negou com a cabeça.

— Não estou nem um pouco tímida, coisa da sua cabeça.

— Espero mesmo que seja. Se importa se eu deixar a janela aberta?

— De modo algum.

Ana levantou da cama, abrindo o vidro da janela do seu quarto que tinha um ângulo perfeito para apreciar a cidade.

— Você tem alguma coisa com janelas? Me lembro de que no hospital você sempre a queria aberta.

— Gosto da vista e do vento que entra por ela. — Voltou a cama.

— Gostos peculiares. — Deu um meio sorriso.

— Isso porque nunca te contei sobre meu lugar favorito.

Apagou as outras luzes do quarto, deixando com que a luminosidade lá de fora entrasse pela janela e fosse a única forma de estar um pouco claro ali.

— Vou saber um dia?

— Talvez...

Ana puxou o edredom fino que estava dobrado ao pé da cama e se deitou, cobrindo a si e a Vitória que fizera o mesmo.

— Muito secreto?

— O lugar não. Mas é algo que eu considero muito... — procurou pela palavra — meu. Apenas Barbára e meus pais o conhecem.

— Há algum critério para conhecê-lo?

— Tem de ser prioridade para mim.

"Talvez"

— Entendo.

Minutos se passaram em silêncio, ambas estavam deitadas na mesma posição, com as costas sobre o colchão e as mãos entrelaçadas sobre o abdômen. O silêncio passava longe de ser constrangedor, era bom estar apenas ali uma com a outra.

— Ana. — Falou baixo.

— Sim? — Ana a olhou.

— Posso reclamar de que está um pouquinho frio aqui? — Riu nervosa e mordeu lábio inferior.

— Venha mais para o meio da cama.

Assim Vitória fez. Ana se moveu um pouco para o lado, e de um jeito receoso, puxou Vitória sobre seu peito, colocando-a em seus braços e entrelaçando suas pernas.

— Juro que se não ajudar posso pegar outro cobertor.

— Não precisa.

Passou seu braço sobre o abdômen de Ana, e colocou seu corpo ainda mais perto, acabando com qualquer milímetro de distância.

Ana acariciava seu braço devagar e soltou um riso contido.

— O que foi? — Vitória levantou o rosto.

— Você se arrepia fácil.

— Isso não tem graça.

— Claro que tem. Seu corpo reage ao meu toque.

Vitória não respondeu. Não havia como contrariar. Só gostaria que Ana não tivesse percebido. Se sentia uma idiota por não ter controle sobre si mesma quando se tratava de Ana.

— Ana. — Chamou depois de minutos em silêncio de novo.

— Fale.

— Me desculpe por ter estragado sua noite com a garota bonita.

— Você é uma idiota quando você quer. — Ana riu mais alto dessa vez. — Eu não gostaria de estar em outro lugar que não fosse aqui.

***

Gente, primeiramente me desculpe pelas 3697 palavras. Vou tentar diminuir os capítulos se vocês tiver achando ruim. Segundo, Clarissa pra quem não sabe é a loirinha que vai fazer par com a Ana no filme "Ana e Vitória"... Será que coloco ela na história? Me diga o que acharam :)

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