Folhas De Outono

By joycexsous

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Numa noite de outono, após sofrer um acidente, Ana Clara Caetano, que carrega o nome um tanto quanto conhecid... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capitulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Bônus
Esclarecimento

Capítulo 7

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By joycexsous

Uma semana havia se passado desde a noite em que Vitória conversara com Luis sobre pedir o divórcio e a responsabilidade dele de ir atrás dos papéis havia sido deixada de lado de propósito. Com os dois vivendo sob o mesmo teto ainda, Luis alegava não ter tempo para tal coisa mas que faria em breve, quando tudo o que tinha em mente era ter esse tempo para que talvez Vitória pudesse voltar atrás da sua decisão.

Durante esses sete dias não havia passado um sequer em que ela e Ana não conversaram por mensagens. O tempo que lhe sobrava no hospital entre um atendimento e outro e o período da noite era preenchido com conversas entre as duas. Os assuntos, felizmente, deixaram de ser somente o casamento arruinado da morena e passaram a ser sobre diversas coisas aleatórias. Tinham uma amizade basicamente formada, onde descobriram inúmeros gostos em comum e semelhanças nas personalidades. Ana sempre dava alguns dos poucos motivos que ela tinha para sorrir no dia. Ana estava sentada na sala de espera do hospital aguardando para a retirada dos pontos e do gesso, acompanhada por Edimilson Já estavam lá há minutos esperando, a cacheada com a cabeça encostada no ombro do pai que por sua vez tinha o braço esquerdo passado por seus ombros. Vitória abriu a porta devagar fazendo Ana levantar automaticamente a cabeça do ombro de Edimilson. Ambas sorriram quando seus olhos se encontraram e a morena indicou com a cabeça para o corredor.

— Bom dia, escape! — O apelido permaneceu entre as duas. Vitória o pronunciou baixo por estarem seu local de trabalho.

— Bom dia! — Ana disse após Vitória fechar a porta atrás dela. — Aliás, bom não, ótimo. Não via a hora de tirar essas coisas. — Fez Vitória rir.

— Seu desespero é nítido.

— Impossível conter.

Ao entrar na sala de Vitória, ela instruiu Ana para que se sentasse na maca.

— De qual tormento quer se livrar primeiro?

— Tira isso da minha perna, por favor. — Suplicou.

— Como quiser.

Vitória tirou o que estava incomodando a morena há dias.

— Não acredito que ainda existe uma perna. — Ana sorriu satisfeita.

— Venha. — Vitória lhe estendeu a mão e ela segurou para descer, firmando seus dois pés no chão.

— Sente alguma dor? — Perguntou e Ana negou com a cabeça. — Ótimo, agora ande até a porta e veja se ainda não dói. — Ana soltou sua mão da de Vitória e andou normalmente até a porta, se virando de novo para a morena.

— Dor nenhuma. A minha única dor é ter tido uma perna de uma das minhas calças cortadas para poder usá-la.

— Creio que isso não seja um problema tão grande para você. — Semicerrou os olhos, sorrindo. — Vamos tirar os pontos agora, senhorita Caetano.

— Voltamos às formalidades?

— De jeito nenhum, escape.

Ana voltou para a maca, dessa vez se deitando, e puxou a blusa que estava por dentro da saia, a levantando. Sentiu seus pelos arrepiarem quando Vitória tocou a pele do seu abdômen. Seu corpo reagia assim estranhamente.

— Vai fazer mesmo hoje o que me disse ontem? — Ana perguntou tentando tirar o foco da aflição que sentia enquanto Vitória retirava os pontos sem pressa e com delicadeza.

— Sim. Vou sair mais cedo para isso.

— É o certo.

— Não sei onde estava com a cabeça quando concordei em deixar nas mãos dele.

— Foi melhor para ele ganhar tempo. Ele foi esperto. — Ana recebeu um olhar de desaprovação.

— Tão esperto que não conseguiu nada do que queria.

— Ele não sabe que você vai antes, não é?

— Vai saber quando eu chegar em casa. — Vitória abaixou a blusa da morena assim que acabou.

Ana se pôs de pé, arrumando novamente a roupa. Vitória passou os olhos por seu corpo e notou o quão ela realmente é linda sem aquela roupa do hospital, sem um gesso cobrindo parte da sua perna, seus cabelos devidamente arrumados num rabo de cavalo alto.

— Vou querer saber se deu certo, ok?

— Você está participando dessa separação tanto quanto eu. — Vitória disse fazendo Ana rir.

— Você não precisa passar por isso necessariamente sozinha, não é mesmo?

— Realmente seria pior se não tivesse minha válvula de escape.

— Espero que continue me usando de válvula de escape mesmo após o divórcio.

— Você deixou de ser só meu escape, pode ter certeza. — Sorriu.

— Fico feliz por isso. — Ana sorriu de volta. — Espero que dê tudo certo. Se ele reagir mal, me liga, agora posso dirigir. — Piscou com o olho direito.

— Seu número é meu número de emergências nesses casos. — Proferiu em meio a um riso contido.

— De prontidão. — Se aproximou mais de Vitória e lhe deu um beijo no rosto. — Vai começar a dar tudo certo. — Sorriram juntas e Vitória assentiu.

Ana deixou a sala de Vitória e voltou à sala de espera onde Edimilson estava. Ele se levantou assim que a filha passou pela porta e os dois caminharam até a saída.

— Satisfeita? — Perguntou quando passaram da porta.

— Mais que satisfeita. — Ana riu. — Posso dirigir? Estou sentindo falta.

— Primeiro passa o celular. — Edimilson estendeu a mão e Ana o olhou com repreensão, fazendo com que ele risse. — Pode ir. — Disse ao parar do lado da porta do passageiro e jogou a chave por cima do carro.

— Vou passar na grife antes, ok? — Perguntou assim que entraram no carro.

— Ótimo, eu já fico por lá. Você precisa ver sobre aquela loja que quer suas peças o mais rápido possível. Querem uma resposta para já.

— Já faço isso agora.

O trajeto do hospital até a empresa não era tão longe, portanto em minutos chegaram no prédio onde são produzidos todos os modelos de Ana Clara Caetano. Assim que as portas do elevador se abriram, seus olhos passaram por todo o local onde seus funcionários estavam costurando, bordando e fazendo todos os diferentes processos que passam as peças enviadas às lojas ou seja lá quem compra. Ana cumprimentou todos que vieram perguntar por sua saúde, a maioria com preocupação de verdade. Sua relação com todos que trabalhavam ali era a melhor possível, se tratavam mais como amigos do que como chefe e empregados, até porque, para a designer de moda, onde tudo saía do papel e se tornava real era como sua segunda casa, sendo assim, se tornava essencial a gentileza e o respeito para o convívio com quem fazia tudo de modo tão perfeccionista. Ana cuidava de cada detalhe, para que tudo saísse sem qualquer linha fora do lugar, qualquer milímetro de tecido maior ou menor, qualquer etiqueta que não estivesse perfeitamente posicionada, então era mais que necessário que todos que trabalhavam ali fossem profissionais qualificados.

Quando finalmente pôde entrar em sua sala, suspirou ao ver tudo exatamente como havia deixado na noite do acidente. Era a primeira vez que ficava tanto tempo sem entrar ali. Caminhou devagar até a sua mesa, se sentando na cadeira atrás dela. Seus olhos pararam no manequim posicionado no canto da sua sala, onde geralmente ficam as roupas que ela mesma faz quando não são peças que irão para venda, como as que são para Bárbara ou para si mesma. Seu cérebro instantaneamente relacionou aquele manequim com a conversa que tivera com Vitória ainda no hospital, quando a médica sentou ao seu lado e viu seus desenhos.

— Ana ! — Exclamou virando a folha de novo.

— O que?

— Você é muito egoísta fazendo essas coisas só para você.

— Nem é para tanto.

— Sua melhor amiga tem sorte de ter alguém talentosa fazendo roupas exclusivamente para ela.

Não seja por isso, posso fazer algo que você queira. — Falou com naturalidade, chamando atenção de Vitória que tirou o olhar das folhas que estava observando atentamente e passou a encarar suas iris.

— Estou apenas brincando. — Vitória então sorriu e voltou a olhar o caderno.

— Mas eu não estou.

Não se dê ao trabalho, foi só um comentário.

Sorriu com o próprio pensamento. Ela se daria sim ao trabalho. Das inúmeras folhas em cima da sua mesa, a primeira que viu na frente pegou, com um lápis passou a rascunhar algo que imaginava ficar perfeito no corpo da morena. Já havia até decidido a cor antes mesmo de concluir o modelo mentalmente. Seria da sua cor preferida.

****

Seu relógio indicava que a hora que havia marcado com seu advogado estava próxima. Vitória entrou no carro para sair do hospital no meio da tarde, algo incomum para quem cumpria todos os plantões até o fim. Dirigiu para casa absorta eu seus pensamentos que ora lhe davam uma sensação boa por estar indo atrás do divórcio, já que Luis não havia ido, ora lhe davam medo, não que esperasse que ele aprovasse isso, ela faria de qualquer forma, contudo, uma reação não tão ruim seria ótimo. Passou uma semana sem se sentir à vontade na sua própria casa, se encontravam pelos corredores, na escada ou em qualquer cômodo e mal se olhavam, trocavam uma palavra ou outra num tom frio. Isso não impediu que Luis persistisse na ideia de continuar casado, estava dando tempo à ela para que talvez repensasse, mas o que fez só a incentivou a prosseguir. Decidira em meio a uma conversa com Ana que iria começar isso sozinha e ele não teria como escapar; poderia adiar o quanto fosse, mas casados não seriam mais.

Era satisfatório entrar em sua casa sabendo que estaria sozinha, pena que era só para tomar um banho e sair de novo. Passou pela sala e apertou para ouvir algum possível recado na secretária eletrônica antes de subir.

Sabra: "Você tem celular para que, Vitória? Estou tentando falar com você há tempos mas você não olha nem as mensagens e muito menos atende minhas ligações, me procura o mais rápido possível."

O tom desesperado da voz da sua irmã saindo do aparelho a fez tirar o celular do bolso da calça imediatamente. Doze mensagens e sete chamadas perdidas de Sabra. Suspirou pesado e ligou de volta enquanto subia as escadas.

— Finalmente! — Sabra disse ao atender.

— O que aconteceu?

— Está no hospital?

Vitória colocou o celular no viva voz em cima da pia do banheiro enquanto tirava sua roupa.

— Não, estou em casa.

— Sozinha?

— Sozinha.

— O negócio está feio para o seu lado.

— Não tenho dúvida disso. — Soltou um riso baixo.

— É sério. Pode vir até minha casa? Prefiro falar tudo pessoalmente.

— Vou mais tarde, pode ser?

— Pode. Por que não está trabalhando?

— Te falo aí.

— Ok. Até mais tarde.

— Até.

Vitória encerrou a ligação e entrou para tomar seu banho. Seu tempo estava esgotando, então se arrumou em minutos, voltando ao carro e indo em direção ao escritório de advocacia.

***

Assim que saiu do escritório e entrou no carro, sentiu seu celular vibrando no bolso da calça que usava. Pensou em ignorar e ir direto para a casa da sua irmã, mas acabou por pegá-lo e não se arrependeu ao ver que era Ana.

Ana Clara: "Hey, e aí?"

Vitória: "Dei entrada nos papéis, agora as coisas vão acontecendo e espero que o mais rápido possível"

Respondeu e colocou o celular no banco do passageiro. Levou quase uma hora para chegar na casa de Sabra, tanto por conta da distância quanto pelo trânsito que nesse horário é o pior. Estava temerosa pelo que viria a saber assim que pisasse lá. Apertou a campainha e segundos depois a porta foi aberta.

— Eu estou com medo do que você tem para me falar.

— É bom que tenha. Quer tomar alguma coisa?

— Não, obrigada, eu só quero saber mesmo.

— Sente aí. — Sabra indicou um dos sofás e sentou-se ao seu lado, dobrando as pernas sobre o mesmo para ficar de frente para Vitória. — Primeiramente, quero saber por que não contatou sua irmã sobre seu divórcio.

— Não sei, — encolheu os ombros — não estava preparada para falar abertamente sobre o assunto.

— Sei... — Sabra semicerrou os olhos — agora vamos ao que interessa. — Respirou fundo. —Cheguei na casa da dona Isabel ontem à tarde e seu marido, ex marido, ou sei lá o que ele é seu, estava lá.

— Prossegue, Sabra.

— Eles estavam conversando sobre o divórcio. Não peguei a conversa inteira, mas tudo que consegui entender foi que ele estava atrás de documentos falsos para que você assinasse mas ainda continuassem casados, e nossa mãe está do lado dele para ajudá-lo consertar esse casamento.

— Quando pedi para me separar eu disse que iria atrás primeiro e ele insistiu para que ficasse nas mãos dele. Passou uma semana me dizendo que não teve tempo para isso.

— Ele teve sim, mas não para um divórcio de verdade. Luis sempre foi esperto. Se você assinasse esses papéis falsos, mesmo longe, os laços de vocês não estariam cortados.

Vitória estava com um turbilhão de pensamentos embaralhados na sua cabeça. Duvidou da própria capacidade de ter se casado com um homem desse e jamais ter percebido o quão ruim ele pode ser. Ou é.

— Já dei entrada nos papéis do divórcio, meu advogado estará ciente sobre isso.

— Não esquece que tem nossa mãe no meio disso tudo. Ela não vai deixar tudo acontecer tão fácil assim. São dois contra um.

— A que ponto eu cheguei?! — Deslizou as costas pelo encosto do sofá, respirando fundo e olhou para a irmã. — Você pode tentar descobrir mais alguma coisa?

— Claro. Sou sua agente particular. — Piscou com o olho direito.

— Obrigada, maninha! — Estendeu-lhe a mão, Sabra colocou a sua sobre a dela e apertou.

— Sou sua irmã, é meu dever estar do seu lado. — Sorriu — Mas e aí, tem alguém nisso tudo, assim, te dando um empurrãozinho para não querer mais Luis? — A pergunta fez a imagem de alguém instantaneamente aparecer na cabeça de Vitória, mas a resposta para a pergunta não era exatamente essa.

— Por que vocês sempre acham que tem que ter alguém no meio? Eu só não quero mais.

— Tudo bem, só imaginei que alguém finalmente tivesse conseguido o coração de Vitória Falcão. — Deu de ombros.

— Acho difícil...

— Difícil mas a pessoa certa consegue. Você já pensou que com esses documentos falsos, você poderia se relacionar com outra pessoa e isso seria traição? Ele teria você nas mãos dele do jeito que ele bem entendesse.

— Você me salvou dessa, estou te devendo uma.

— Estamos juntas nisso, vai dar tudo certo. Vou tentar tirar algo da nossa mãe, ou sei lá, eu descubro mais coisas caso tenha.

— Mudando de assunto... que casa vazia — desdenhou enquanto olhava ao redor — quando vou ganhar um sobrinho?

— Quando você arrumar alguém que tenha irmãos, sabe que daqui — pôs a mão sobre a barriga — não sai nada.

Vitória ficou para o jantar, Sabra a fez ficar já que isso a ajudaria ficar mais tempo longe de Luis, tentou tirar alguns sorrisos da irmã que estava nitidamente infeliz e conseguiu parcialmente.

*****

Seria a primeira noite de Ana em seu apartamento desde que saiu do hospital. Assim que saiu da empresa, foi direto para lá, levando consigo a folha com o mais recente modelo que começara desenhar. O que mais estava fazendo falta era seu terraço, que ficava vazio na maior parte do tempo, era o lugar onde todos os seus pensamentos eram colocados em ordem, onde conseguia ficar na companhia dela mesma já que jamais levara outra pessoa ali, chegava ter ciúmes do lugar, era só seu, por mais que dividisse com os moradores do prédio, era grata por quase ninguém subir até lá. Prestes a subir para observar de cima toda a cidade e ter seu momento de privacidade já que ficou rodeada por dias, ouviu seu celular tocando ao longe. Voltou até o quarto e o encontrou sobre o travesseiro na cama. Sorriu ao ler o nome de Vitória na tela e atendeu sem pensar duas vezes.

— Hey.

— Hey. — O tom de Vitória saiu mais baixo.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Não muito.

— Precisa de algo? O que aconteceu, Vitória?

— Preciso ficar longe de casa. Meu escape está disponível?

— Sempre. — Ana sorriu. — Venha até aqui.

— Me passe o endereço.

****

Bom dia. Desculpe pelas 2677 palavras rsrs

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