Ligação On
— Amor?
— Oi, amor. Tudo bem?
— Sim, e você?
— Vou bem.
— Eu tenho que te contar uma coisa. — talvez eu tivesse com um tremor na voz.
— Aconteceu alguma coisa? Você parece abatida...
— Não, não, na verdade eu estou feliz. Quer dizer, por um lado.
— Então diga. — ele ri.
— O Coronel me disse que o Capitão que eu estava substituindo vai voltar para seu antigo cargo, sendo Capitão novamente.
— E não era para você estar triste?
— No contrato que fizeram de "empréstimo", dizia que se o Capitão antigo se recuperasse eu voltaria para meu país.
Ficou um total silêncio. Acho que ele estava tentando processar.
— Hum... Isso é bom. — ele não transmitia emoção na voz.
— Você ficou triste?
— Ah, Jade, você sabe que eu não posso me mudar para o Brasil de repente. Vou ter que continuar aqui, pelo menos, por mais um tempo. Hoje sou um dos melhores fotógrafos, estou bem na agência, estou tendo vários trabalhos e propostas de uma vez, não posso largar tudo.
Dessa vez eu que fiquei em silêncio.
— Eu não posso continuar aqui. Tenho que voltar a morar no Brasil, no Rio. Três anos longe de minhas irmãs, dos meus amigos, dos meus sobrinhos. — digo cabisbaixa.
— Amor. — ele me chama, parecia sorrir. — Eu sei, eu te entendo. Não irei te prender. Isso que eu quero para você. Que você seja feliz. E já está perto das minhas férias, daqui à algum tempo eu posso passar uns dias lá. E pode continuar assim. Vou fazer de tudo para nossa relação continuar. Não foram três anos perdidos.
— Que homem incrível! — sorrio. — Você sabe que se não fosse a saudade e as pessoas importantes que estão no Brasil, eu permaneceria aqui com você, todo dia, toda hora, não sabe?
— Sei sim. Já comprou as passagens?
— O Batalhão vai bancar, e o Coronel disse que amanhã o vôo já sai.
— Que horas?
— Na verdade é de madrugada. Às duas e vinte da manhã.
— Então quer dizer que só temos mais algumas horas juntos? — se eu o conheço bem, ele deveria estar com um biquinho e a maior cara de dó.
— Hoje eu não fui e nem vou trabalhar. Por tanto, às seis, depois que você sair da agência, poderíamos ir em algum restaurante ou parque de diversões.
— É, pode ser. Eu sentirei tanta saudade daqueles cafunés diários, aqueles momentos de casal, grudadinhos.
— Eu também, meu amor. Mas você tem que ser forte por você e por mim. São nossos trabalhos que estão em jogo. Antes de nós conhecermos pensávamos no que em primeiro lugar?
— O trabalho.
— E vamos continuar pensando assim. Eu nunca quis namorar alguém para tirar seu trabalho e as oportunidades que essa pessoa tem de vencer e crescer na vida. Não vai ser diferente agora.
— Eu tenho orgulho de ti, minha branca. — ele insistia com essa ideia de me chamar de branca por minha cor pálida demais.
— Bobo. — risos. — Tenho que desligar e ir para a casa fazer minhas malas. Ou você quer ir para a minha casa e ver eu fazendo isso, sem aproveitarmos essas últimas horas? — ameaço, rindo.
— Ok, ok, pode ir. Tchau. — disse tudo muito rápido. Acabamos rindo juntos.
— Tchau, até mais tarde.
— Até, meu amor.
Ligação Off
Sorri mais uma vez. Seria difícil acordar sem uma mensagem dele dizendo "estou à caminho da sua casa, te levarei para o Batalhão" ou então "Se arruma que eu vou te levar para ***** ******".
Mas é tudo questão de costume. O que importa agora é arrumar minhas coisas para voltar para o Brasil. Meu Deus, nem acredito que depois de anos vou voltar a morar no Brasil. Subi na moto e liguei a mesma, indo para casa.
Ao chegar, deixei a moto ali em frente à porta e destranquei a mesma. É, daqui para frente as coisas irão mudar, e para melhor.
A primeira coisa que eu fiz foi ir para o quarto, arrumar minhas malas.
Meu celular apitou. Era uma nova notificação. Liguei a tela do celular e apertei na mesma. Vi que era uma foto de Tomás. Sorri ao ver aquilo.
"Meu sobrinho é o único que se salva nessa família feia😂💔"
No mesmo instante Brenda respondeu.
"Hahaha 😒 Meu filho é muito lindo, mas puxou a mãe😚"
"Nós*"
Corrijo. Tomás e Benjamim eram os sobrinhos mais lindos do mundo. Tomás, com aqueles cabelos loiros, que puxou de Brenda, e o liso, que puxou do pai, assim como os olhos negros. Benjamin era a cópia de Tomás, a diferença é que eram de pais diferentes. Meu sobrinho mais novo faz três anos esse ano. Pois é, Brenda, depois de algumas meses de reconciliação com Matheus, engravidou. Para a surpresa de muitos, como para mim.
Quem se tornou mãe também foi Luana e Lívia. Sim, a portuguesinha teve mais um. Dessa vez foi uma menininha, que era a mistura dela com Diego, impossível não saber de quem era filha. Já Luana teve um menino. Gabriel vai fazer três anos. É alguns meses mais novo que Tomás. Mirela, filha de Lívia e Diego, vai fazer dois ainda.
É, agora, quando eu voltar, vai estar cheio de crianças para eu mimar muito!
Depois de passar a tarde inteira sentada no chão, em meio à uma pilha de roupas jogadas, tentado botar tudo dentro de três malas, e também de ter pego alguns objetos que eu trouxe ou que eu comprei aqui, fui me arrumar para Lorenzo vir me buscar e me levar para o shopping. O parque de diversões mais próximo estava em reforma, segundo Lorenzo.
Escolhi um macacão de veludo, bem quentinho. E ainda por cima, um casaquinho curto, todo peludo, que era antes da cintura. Separei também uma, das milhares botas que eu acabei colecionando nesses três anos. O look ficou ideal para a ocasião. Peguei uma bolsa de lado, colocando documentos, dinheiro, e tudo que precisava.
Tomei um banho demorado. Eu precisava. Depois de molhar o cabelo, saí do banheiro com uma toalha enrola no corpo e a outra no cabelo. Tirei a tolha que estava na cabeça, deixando meus cabelos loiros caírem, humidos. Sim, ele já estava loiro natural novamente. Na verdade, ele cresceu até os ombros, loiro. Então eu cortei a parte escura, que eu havia pintado, deixando o meu loiro de novo. E ficou lindo o corte que eu fiz. Combinou com meu cabelo ondulado nas pontas.
Brenda e Cecília também cortaram. A gente faz de tudo para parecermos iguais no visual, éramos pior que crianças.
Vesti a roupa que eu tinha escolhido e calcei minhas botas. Enrolei aquelas bandanas de cabelo, na cor vermelha com alguns detalhes em branco, colocando como acessório de cabelo. Fiquei até que meiga com aquela roupa e aquele cabelo. Investi em brincos de argolas e alguns colares, para finalizar o look.
A campanha tocou, Luna já latia igual uma louca para avisar. Peguei a minha bolsa e desci as escadas. Abri a porta, dando de cara com aquele par de olhos negros.
— Oi, gata, passa WhatsApp. — ele zuou. Rimos com a besteira que saiu de sua boca.
— Nem estou tão arrumada. Peguei a roupa que restava colocar na mala.
— E foi a melhor escolha, tenha certeza. — sorriu. — Bom, vamos?
Bem na hora Luna entrou no nosso meio, com ciúmes, com certeza.
— E aí, princesa. — ele se agacha para deslizar suas mãos nos pelos dela. — Está com ciúmes? Por que? O papai tem boas intenções com a sua mãe. — risos. — Agora vamos aproveitar os últimos momentos que eu e mamãe tem juntos, mais tarde ela é toda sua, ok?
Ele sorriu por último e, Luna, mais tranquila, voltou para sua caminha num canto da sala.
— Meu Deus, essa menina é muito ciumenta. — ele ri entrando no carro.
— É, eu percebi. — risos.