Anahí
Eu estava radiante. Tanto que eu mal conseguia me conter, eu estava literalmente esbanjando alegria e sabia muito bem que meus pacientes e todos no hospital estavam percebendo isso.
Aproveitei a folga de cinco minutos para ir à sala de Raio-X. Peguei alguns exames e examinei um deles atentamente. Dois braços me envolveram e eu sorri sentindo meu coração disparar.
- Fernando?! - fiquei séria na mesma hora e me afastei ao virar e dar de cara com ele.
Fernando: O que foi? Parece que viu um fantasma. - estranhou.
Any: Não tudo bem, o que ta fazendo aqui? - afastei os cabelos do rosto atordoada.
Fernando: Vim te ver. - sorriu me puxando pelas mãos. - Anahí o que é isso?!
Any: O que?! - estreitei as sobrancelhas.
Fernando: Que marcas são essas Anahí? - franziu o cenho me encarando.
Any: De que marcas ta falando?! - estreitei as sobrancelhas o encarando.
Fernando: Essas daqui! - respondeu sério puxando meu braço, gelei ao ver a marca dos dedos.
Any: Nada! - respondi puxando as mangas do jaleco.
Fernando: Quem fez isso em você?! - me olhou sério.
Any: Ninguém. - disfarcei.
Fernando: Anahí não mente pra mim, quem fez isso. - segurou meus ombros me obrigando a encará-lo.
Any: Um paciente! - menti a primeira coisa que me veio à mente. - Ele tem esquizofrenia e tava tendo uma crise, quando tentei lhe dar uma injeção ele me segurou com força, foi isso.
Fernando: Devia tomar cuidado.
Any: Ele só tinha 12 anos... Não sabia o que estava fazendo, mas eu to bem, não se preocupe. - forcei um sorriso.
Fernando: Ok então, se você ta dizendo... - deu de ombros e me abraçou. - Você sabe que me preocupo com você né?
Any: Eu sei, obrigada. - forcei um sorriso me afastando de repente eu me sentia péssima, a pior pessoa do mundo.
Fernando: Quer fazer alguma coisa hoje à noite? - sorriu.
Any: Eu adoraria, mas não vai dar. - suspirei.
Fernando: Por que não?! - estranhou.
Any: Tenho muita coisa pra fazer aqui no hospital, vou chegar tarde e cansada. - me senti mau em mentir, mas não podia dizer a verdade.
Fernando: Sério?... Poxa que pena.
Any: A gente marca pra outro dia, tudo bem?!
Fernando: Ok! - deu de ombros. - Onde você dormiu na noite passada? Sua mãe disse que você não foi pra casa.
Any: Fiquei na casa de uma amiga, meu carro quebrou e ela ofereceu a casa dela pra mim. - sorri.
Fernando: Entendi... Que bom né?!
Any: Uhum! - assenti.
Fernando: Bom eu vou nessa então... Não quero te atrapalhar. - sorriu.
Any: Ok! - assentiu sorrindo.
Fernando: Mais tarde a gente se vê. - sorriu.
Any: Ta legal! - assenti tentando ser gentil.
Fernando: Até logo então. - sorriu me dando um beijo e saiu porta afora.
Sentei na cadeira ao ficar sozinha e suspirei cobrindo o rosto com as mãos. O que eu ia fazer agora?! Como eu ia contar à ele o que tinha acontecido? Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo.
Alfonso
Assim que meu paciente foi embora me levanteri saindo da minha sala e foi até a sala de Anahí. Desde que ela havia ido embora do meu apartamento eu ansiava por vê-la de novo. Cheguei ao corredor e diminui os passos, percebendo que a porta da sala dela estava aberta. Espiei e sorri ao ver Any sozinha lendo um prontuário. Entrei sem que ela percebesse.
- Doutora! - chamei sorrindo e fechando a porta.
Any: Poncho! - ela levantou os olhos assustada e um sorriso moldou seus lábios em seguida. - O que faz aqui?! - ficou de pé.
Poncho: Desculpa... Precisava ver você. - sussurrei e a puxei pela cintura.
Uni meus lábios aos dela calando seus protestos e a prensi contra a parede. Any suspirou envolvendo os braços em torno do meu pescoço retribuindo ao beijo. Foi dificil me separar dela, por mim eu a levaria pro meu apartamento.
Any: Isso... Isso é errado!
Poncho: O que é errado?! - a olhei sem entender.
Any: Nós dois... A gente! Isso não ta certo com Fernando e Karina. - suspirou.
Poncho: Eu sei, por isso vou falar com a Karina hoje mesmo e resolver tudo.
Any: Jura?! - sorriu.
Poncho: Sim... Mas e você?! Quando vai acertar as coisas com o Fernando?!
Any: Hoje mesmo... Ele combinou de irmos jantar, lá eu vou esclarecer tudo.
Poncho: Ótimo e depois disso não vamos precisar mais nos esconder. - sorri e a beijei.
Any: Poncho... Dessa vez vai dar certo?!
Poncho: Eu juro que vamos, se depender de mim nunca vamos nos separar. - sorri e a beijei.
Any sorriu envolvendo os braços em torno do meu pescoço e apertei os braços em volta da sua cintura. Eu tinha vontade de gritar que a amava, por mim me casaria com ela amanhã mesmo.
À noite Karina chegou em casa co um sorriso radiante nos lábios.
- Não acredito quer você me chamou aqui.
Poncho: Eu preciso falar com você por isso te chamei. - respondi sério.
Karina: Eu também... Eu tenho uma coisa incrível pra te contar, acho que não vou aguentar esperar mais. - sorriu.
Poncho: O que aconteceu? - estranhei.
Karina: Eu to grávida! - sorriu.
Poncho: O que?! - a olhei pasmo.
Karina: Isso que ouviu, meu amor... Estou esperando um filho seu. - sorriu acariciando a barriga.
Poncho: Como esperando um filho? Isso não é possível. A gente não tem relações há pelo menos um mês. - respondi tendo certeza disso, porque desde que Anahí voltara não tivera cabeça pra mais nada.
Karina: Mas eu engravidei antes, eu to de quase dois meses, meu amor. - sorriu radiante.
Poncho: Isso não é possível?! - sussurrei me jogando na cadeira e cobri o rosto com as mãos.
Karina: Não esta feliz, meu amor? - sorriu e se abaixou na minha frente.
Poncho: Não é isso, é que...
Karina: Você deve estar em choque, eu também fiquei quando soube, mas depois eu fiquei tão feliz em saber que tem um pedacinho seu crescendo aqui dentro de mim. - sorriu radiante.
Poncho: É... Você já fez algum exame ou... Foi no médico pra ter certeza?!
Karina: Sim! Fiz teste de farmácia e depois fiz uma consulta. - sorriu animada.
Poncho: O médico deu certeza? - perguntei me agarrando a qualquer esperança.
Karina: Sim!... É incrível não é?!
Poncho: Eu preciso ficar sozinho. - respondi me levantando ainda atordoado.
Karina: Tudo bem, eu devo ter te assustado pra caramba, não se preocupe... Eu vou nessa e depois conversamos ok? Amanhã to querendo ir no shopping ver umas roupinhas, quer ir comigo?! Tudo bem que é cedo, mas eu to tão empolgada. - sorriu sonhadora.
Poncho: Amanhã a gente conversa. - respondi evasivo.
Karina: Ok... Boa noite, meu amor. - sorriu me dando um beijo e saiu.
Quando a porta se fechou desabei na cadeira. Eu estava atordoado, sem saber o que fazer. Na minha cabeça eu só conseguia ver Anahí. Meu Deus, como eu ia contar isso pra ela? Como depois do que aconteceu entre a gente? Me levantei atordoado e rodei pelo apartamento. Eu precisava falar com alguém, não podia ficar sozinho remoendo aquilo ou ficaria louco. Peguei as chaves do carro e disparei pra fora do apartamento, só tinha uma pessoa pra quem eu poderia contar tudo o que havia acontecido e eu iria atrás dela.
Anahí
Fernando me encarou atentamente. Na certa desconfiava do meu silêncio. Sorrindo ele tentou puxar assunto.
- Você esta tão quieta, aconteceu alguma coisa?! - meneei a cabeça incapaz de dizer alguma coisa.
Any: Foi até bom você ter vindo em casa.
Fernando: O que foi? Por que essa cara?!
Any: Tenho uma coisa importante pra te falar. - respondi o olhando nos olhos.
Fernando: Fala! - incentivou me olhando.
Any: Não podemos continuar juntos. - respondi o olhando nos olhos e senti os meus marejarem.
Fernando: Por que não?!
Any: Me desculpa se eu demorei pra te contar, mas... As coisas mudaram desde que eu voltei e... Eu não posso continuar com você.
Fernando: É por causa de outro que você ta me falando isso?... É por causa daquele Alfonso? Aquele médico que você namorou na faculdade?
Any: Como sabe que é ele? - o olhei assustada, nunca havia mencionado o nome do cara que namorei antes dele.
Fernando: Sua mãe me contou... Me disse o nome e todas as outras partes que você me escondeu. Por que não me disse quando foi aceita naquele hospital que vocês dois trabalhariam juntos?
Any: Porque eu não achei que tivesse importância, mas...
Fernando: Vocês dois se envolveram certo? E você voltou a se interessar por ele, acertei?! - me encarou e assenti incapaz de mentir pra ele. - E até que ponto vocês foram.
Any: Nos beijamos duas vezes apenas. - menti, não era necessário piorar as coisas ainda mais.
Fernando: Então você ta me trocando por esse cara. - sorriu com ironia enquanto se levantava, mas eu vi a dor nos olhos dele.
Any: Fernando tenta me entender, eu não fiz de propósito, eu jurava pra mim mesma que tinha esquecido ele, mas era mentira... E a verdade caiu em cima de mim de uma vez só quando o vi. - me aproximei dele chorando.
Fernando: Então fica com esse idiota Anahí... Só que vê se enxergasse uma coisa, se ele te desse valor não tinha terminado com você, eu faria de tudo pra te manter ao meu lado, mas você já me traiu e esta apaixonada por esse cara e eu não posso conviver com isso... Mesmo te amando eu vou deixar o caminho livre. - respondeu e respirou fundo enxugando as lágrimas, aquilo cortou meu coração.
Any: Fernando me desculpa, eu gosto muito de novo, queria ter me apaixonado, mas não consegui... Eu tenho certeza que vocêvai encontrar a pessoa certa pra você.
Fernando: Sem frase clichês agora Anahí... E quanto à você eu espero que não se arrependa da decisão que tomou.
Any: Me perdoa, por favor, não queria te fazer sofrer.
Fernando: É fácil falar né? Bom ta na cara que eu não tenho mais nada o que fazer aqui, muito obrigado pelo jantar e pela excelente notícia... Felicidades ao novo casal. - foi irônico outra vez e deu as costas.
Fui atrás pedindo que me ouvisse, mas Fernando simplesmente saiu e bateu a porta com força. Naquele momento eu soube que provavelmente nunca mais o veria. Enxuguei o rosto suspirando. O mais difícil não foi terminar com ele, mas sim ver a dor nos olhos dele. Eu só desejava que algum dia ele me perdoasse e que fosse feliz.