Dias Depois...
Alfonso
Foi difícil abrir os olhos e me acostumar com a claridade, uma moleza tomava conta de mim e eu mau conseguia me mover. Quando enxerguei o quarto do hospital vi uma imagem borrada ao pé da cama me chamando. Só depois de uns segundos ela tomou forma e vi que era minha mãe.
- Filho, você acordou... Graças a Deus! Carlos, ele acordou. - chamou aflita.
- Mãe! - sussurrei.
Manuela: Eu to aqui filho, calma. - senti-a segurar minha mão e depositar um beijo.
A olhei, mas logo o sono me venceu de novo e eu adormeci.
A segunda vez que acordei foi mais fácil me acostumar com a claridade e logo ouvi a voz de minha mãe.
- Ele esta voltando de novo.
Abri os olhos e diferente da outra vez minha mãe não estava sozinha, Viviane estava com ela acompanhada por meu pai que sorriu me olhando.
- Filho como ta se sentindo?!
Poncho: Meio zonzo e com sono. - resmunguei.
Carlos: Você vai ficar bem. - sorriu.
Poncho: Cadê... Cadê a Any?! - perguntei meio zonzo.
Manuela: Filho, precisamos te contar uma coisa?
Poncho: O que aconteceu... Por que essas caras? - os encarei sem entender nada.
Carlos: Depois que você piorou Anahí entrou em desespero achando que ia perder você e exigiu que eu transplantasse o coração dela em você... Quando recusei ela ameaçou se matar de novo se eu não fizesse o que ela pedia e...
Manuela: Carlos antes de terminar é melhor ele ler a carta que Any deixou, pra entender os motivos dela. - respondeu tirando um papel da bolsa e entregou pra mim.
Desdobrei a folha e reconheci a letra de Anahí imediatamente.
Poncho...
Talvez você nunca me perdoe pelo que eu vou fazer. Ou talvez um dia você consiga me entender.
Eu sei que você quer me ver feliz, que até pediu pro Kuno me conquistar, mas como eu poderia ser feliz sabendo que matei a pessoa que mais amei nesse mundo?
O coração que ainda esta batendo dentro de mim, sempre pertenceu à você... Por alguma razão você decidiu me salvar naquela noite me dando assim a chance de viver mais alguns meses e assim descobrir o que significa as palavras "vida" e "amor". Você me trouxe as duas coisas, mas agora esta na hora de eu devolvê-las.
Não me odeie por ter tomado essa decisão sem você saber. Eu nunca fiz nada de bom com a vida que eu ganhei, ao contrário tentei me livrar dela várias vezes, talvez seja por isso que eu tenha te conhecido e me apaixonado por você. Pra ver se eu teria coragem de acabar com a minha vida por algo que valesse a pena.
E você Poncho. Você vale e compensa qualquer sacrifício.
De todo coração eu desejo que você seja feliz e que aproveite cada novo dia sem se esquecer da importância que tem cada segundo que passamos com as pessoas que amamos.
Eu nunca vou esquecer tudo o que vivemos e de onde estiver estarei te desejando tudo de melhor, toda a felicidade do mundo. Você começou salvando a minha vida, mas você ainda não acabou. Como médico vai salvar a vida de muitas outras pessoas ainda!
Obrigada por ter me dado a chance de te conhecer, eu nunca vou deixar de sentir orgulho de você.
Te amo do fundo do coração...
Any!
Larguei a folha ofegando meio atordoado, era a letra dela, mas aquilo era mentira. Tinha que ser mentira.
Manuela: Filho... - se aproximou da cama.
Soltei a carta e às pressas puxei o roupão do hospital até conseguir abri-lo na altura do peito. Meu sangue gelou e meus olhos embaçaram ao ver o curativo no meu peito. Encarei a máquina percebendo pelos batimentos cardíacos que ao contrário de antes havia dentro do meu peito um coração forte, saudável e pulsante.
- Pai...
Carlos: Alfonso escuta...
Poncho: Você não fez isso, como pode ter concordado com isso?! - esbravejei furioso.
Manuela: Filho...
Poncho: Isso tem que ser um pesadelo, eu vou atrás dela, isso só pode ser brincadeira de mau gosto.
Carlos: Alfonso me escuta...
Poncho: Eu não tenho nada pra ouvir, você vai desfazer o que fez, não me interessa como... Não era pra você ter feito isso, não era pra salvar minha vida às custas da vida dela, eu nunca vou te perdoar por ter deixado isso acontecer. - esbravejei com os olhos marejados e cheios de ódio.
Carlos e Viviane se aproximaram tentando me segurar. Me debati querendo sair daquela cama.
- Me solta!
Carlos: Você tem que se acalmar. - respondeu.
Me debati não lhe dando ouvidos. Eu só queria sair daquela cama e encontrá-la.
Manuela: Filho escuta, Anahí está viva! - me encarou e só assim parei de me debater.
Poncho: Viva?! - sussurrei forçando a voz a sair.
Manuela: Sim... Viva! - sorriu assentindo, os olhos marejados.
Poncho: Mas... - suspirei tentando raciocinar e senti Carlos e Viviane me soltarem.
Carlos: Eu nunca concordaria com um absurdo desses filho. - sorriu me encarando.
Antes que eu fizesse um monte de perguntas minhas mãe sorriu e sentou na cama ao meu lado.
- Devíamos ter dito assim que perguntou dela, mas você precisava ler a carta dela antes pra entender o que ela estava disposta a fazer por você... Any não esta aqui agora porque não sabe, não faz ideia que você esta bem.
Poncho: Onde ela ta?!
Manuela: Eu vou te contar tudo... Depois que você piorou Any entrou em desespero e implorou pro seu pai transplantar o coração dela em você, Carlos desde o começo não aceitou, então ela ameaçou se matar. Ele pegou um bisturi e afirmou que cortaria os pulsos se não fizessem o que ela estava pedindo.
Carlos: Disse que íamos perder duas vidas ao invés de uma... A única maneira de contê-la foi aceitar fazer o que ela queria, ou pelo fingir aceitar.
Poncho: O que você fez?!
Carlos: A levei até minha sala e a fiz assinar uns papéis, óbvio que esses papéis não tinham valor algum e enquanto ela se despedia de você e escrevia essa carta eu contei à todos o que ia fazer e pedi segredo... Anahí nunca foi pra mesa de cirurgia, ela está aqui no hospital, internada há quase duas semanas em uma espécie de sono profundo. Algumas enfermeiras à apelidaram de "Bela Adormecida". - sorriu e sorri concordando com ele.
Poncho: Duas semanas?! - perguntei só me dando conta do tempo que passara.
Manuela: Sim, não sabíamos o que fazer com ela... Rezamos todos esses dias pra que um doador aparecesse pra você, porque se te perdêssemos íamos ter que acordá-la e contar tudo à ela. Mas graças à Deus, ontem à tarde nossas preces foram ouvidas e finalmente apareceu um doador pra você. - sorriu e seus olhos se encheram de lágrimas outra vez.
Poncho: Então eu to salvo?! - sorri ainda sem acreditar que o pesadelo havia terminado.
Carlos: Sim... Seu doador era um bandido de 24 anos, ele assaltou um banco ontem à tarde, se envolveu em um tiroteio com a polícia e teve morte cerebral. Como não tinha família, os órgãos vitais dele foram rapidamente doados e o coração dele esta com você. Foi uma vida de crime que no fim serviu pra salvar várias pessoas.
Abaixei a cabeça e inconscientemente coloquei a mão sobre meu novo coração, que batia forte, depressa.
- Eu... Eu quero ver a Any! Quero que a façam acordar!
Manuela: Seu pai já esta cuidando disso, mas é melhor você descansar e não é uma boa ideia Anahí acordar e dar de cara com você, ela vai ficar confusa, agitada, é melhor seu pai explicar tudo à ela antes.
Carlos: Enquanto isso você pode matar o tempo com outras pessoas que estão loucas pra te ver.
Sorri sabendo de quem ele falava. E poucos minutos depois meus amigos entraram sorridentes.
Carlos: Gente sem muito barulho, por favor.
Ucker assentiu acompanhado pelos outros e quando ficamos sozinhos eles se aproximaram.
Dulce: Como ta se sentindo?!
Ucker: Velho que susto você deu na gente. - se aproximou e me abraçou.
Sorri retribuindo o abraço e quando Ucker ser afastou vi que seus olhos brilhavam de lágrimas.
- Bem, apesar do susto... Realmente achei que não resistiria.
Maite: Nós também. - respondeu forçando um sorriso.
A falta dela naquele quarto era quase palpável e eu precisava saber como estava.
- Vocês a viram?!
Angell: Sim... Vamos ao quarto dela todo dia. Ela esta bem, só esta dormindo. - sorriu dando de ombros.
Derrick: Agora esta tudo bem, mas essas semanas foram as mais tensas. Tínhamos medo de que você não resistisse e do que aconteceria com ela quando acordasse.
Poncho: O quarto dela fica aqui?!
Christian: Sim é nesse corredor, mas... Poncho o que ta fazendo? - correu até mim quando me levantei.
Poncho: Eu quero vê-la gente... Por favor, me ajudem. - supliquei os olhando.
Ucker: Você vai de qualquer jeito né?! - sorriu me olhando e assenti.
Marcos: Tudo bem, ajudamos você. - sorriu e se retirou do quarto voltando com uma cadeira de rodas.
Ucker e Chris me ajudaram a sentar na mesma e posicionaram o soro do meu lado.
- Fiquem vocês aqui, a gente já volta.
Os outros assentiram e Ucker saiu empurrando a cadeira enquanto Chris empurrava o suporte com soro.
Seguimos o corredor até o final e viramos à direita. Paramos no terceiro quarto e meu coração disparou antes mesmo que eles abrissem a porta.
Chris: Olá Any, hoje trouxemos uma visita super especial. - sorriu enquanto entravamos.
Todo minha atenção se voltou pra ela. Anahí estava deitada na cama com uma expressão suave, os aparelhos mostravam que os batimentos cardíacos estavam normais assim como a respiração. Pra mim ela estava simplesmente linda.
Poncho: Acho que o apelido não faz jus à você minha bela adormecida. - sorri segurando a mão dela.
Ucker: A gente vai vigiar a porta, daqui a pouco voltamos. - respondeu e saiu puxando Christian.
Minha garganta fechou ao ficarmos sozinhos. Eu não tinha palavras pra dizer o quanto eu estava agradecido por ter ela em minha vida, mas qualquer coisa que eu dissesse seria inútil, já que ela não me ouviria. Entrelacei meus dedos nos dela e beijei sua mão.
- Eu te amo! - sussurrei sabendo que depois de tudo o que acontecera aquilo não era suficiente.
Pensei em formular alguma outra frase, mas duas vozes do lado de fora me interromperam.
- O que estão fazendo aqui?! - reconheci a voz de Viviane.
- Nada, só... - ouvi Ucker dizer.
Carlos: Meu filho esta aqui né? - cortou e abriu a porta no momento que virei a cadeira levando o suporte junto. - O que faz aqui? Não pedi pra ficar no quarto.
Poncho: Eu precisava vê-la.
Carlos: Tudo bem, agora que já a viu, volte pro seu quarto, eu vou interromper os medicamentos dela.
Poncho: Mesmo?!
Carlos: Sim, só que vai levar algum tempo até ela acordar.
Poncho: Quanto tempo? - perguntei ansioso querendo ficar do lado dela esperando.
Carlos: Algumas horas... Agora volte pro quarto! Levem, ele por favor. - encarou Chris e Ucker.
Os dois se aproximaram e me levaram de volta pro quarto. De relance eu vi Viviane segurando a bandeja e meu pai aplicando alguma coisa no soro conectado ao braço de Anahí.