Alfonso
Quando a mulher entrou na sala e começou a falar sobre sua vida com o marido, eu percebi que não estava sozinho. Não disse uma palavra durante a conversa dela com Any, mas
entendia perfeitamente a situação. Ele precisando de um transplante, listado em uma filha que parecia nunca ir pra frent e. Ela dedicando sua vida à ele querendo passar todos os últimos momentos que ainda tinha com ele. O que mais me chocou foi nós três naquela sala e o homem naquela maca compartilharmos a mesma realidade. A de que ele não vai sair desse hospital vivo.
Quando a mulher se levantou pedindo licença, forcei um sorriso e quando fiquei a sós com Any, a puxei pela mão e a abrcei. Eu sabia o quanto essa conversa tinha mexido com ele. Tanto que só chamei a atenção pra que não entrasse afundo em uma conversa que eu sabia que não ia lhe fazer bem.
- Poncho... Isso não vai acontecer com a gente né?! - me encarou confirmando minhas certezas, ela tinha nos enquadrado no mesmo problema que aquele casal. - Nós não vamos terminar assim né?
Poncho: Não porque aos 50 anos, vou estar morto ou já vou ter recebido um transplante à anos. - tentei brincar, mas o tom de voz saiu sério demais.
Any: Essas coisas não deviam existir. Não é justo, as pessoas deveriam morrer de causas naturais aos 150 anos.
Poncho: Meu amor, se quer ser uma médica, não pode pensar assim... Vamos lidar com morte todos os dias.
Any: Eu sei... Por isso gosto muito mais de Pediatria... Crianças sempre vão me lembrar início, vida longa, possibilidades, esperança de que tudo só está começando e pode ser alterado e remediado facilmente.
Acariciei seu rosto enxugando suas lágrimas. Por mais que amadurecesse e lidasse com a vida, eu sabia que Any sempre teria aquele coração bom e puro. A abracei encostando a cabeça dela no meu ombro e desejei ser otimista como ela. Os exames que meu pai logo me entregaria é que iriam confirmar se eu estava bem ou mal o suficiente pra já ir me preparando para terminar meus últimos dias numa cama de hospital como aquele senhor.
Meu pai apareceu segundos depois e Any enxugou o rosto e se ajeitou na cadeira.
Carlos: Filho, vem até minha sala, por favor!
Any: Eu te espero aqui. - se prontificou em responder, antes que eu perguntasse.
Assenti e lhe dei um beijo, antes de ir com meu pai pra sala dele. Assim que entramos, ele fechou a porta e pegou na gaveta o resultado dos exames. Quando vi os envelopes abertos perguntei:
Poncho: E então? Eu continuo piorando? Vou poder viajar com todo mundo ou não?
Carlos: Sim, você vai poder viajar, mas seu quadro está se agravando... Com os remédios e as injeções que vou te passar vc não terá problemas na viajem, mas... Quando voltar vai precisar ser internado de novo.
Poncho: Tudo bem! - assenti sentindo a garganta fechar. - Vou fazer diferente dessa vez, eu mesmo vou vir pro hospital, não vou esperar passar mal outra vez, assim que voltar de viajem, vou me internar por vontade própria.
Carlos: Filho se não quiser mais viajar...
Poncho: Não pai eu quero sim, é a única oportunidade que eu tenho pra viajar com a Any e todos os outros... Vai ser a primeira e última vez que eu viajo com a minha namorada e todos os meus amigos. Se eu não for vou estragar a viajem de todos e eu quero sim.
Carlos: E se acontecer alguma coisa com você?
Poncho: Ucker sabe que eu andei piorando, ele vai me ajudar.
Carlos: Any ainda não sabe de nada?
Poncho: Não e é a pior hora pra ela saber... Eu quero que essa viajem seja inesquecível pros dois.
Carlos: Entendi, filho não perca as esperanças.
Poncho: O que me consola é saber que eu não to sozinho. Seu paciente do quarto 603, o que precisa de um pulmão, vai morrer aqui dentro também . - respirei fundo, as lágrimas escorrendo por meu rosto.
Carlos: Só que ele é um paciente de 56 anos, homem casado, com filhos, teve uma vida... Você é só um garoto que esta começando a viver agora e ainda por cima é meu filho. - respondeu emocionado, a figura de médico desaparecendo dando lugar à figura de pai.
Sorri e o abracei com força. Quando nos separamos, eu vi que os dois seguravam as lágrimas, éramos parecidos até nisso. Meu pai apoiou as mãos nos meus ombros e sorriu.
- Divirta-se e qualquer coisa me ligue.
Poncho: Ok! - assenti e voltei a abraçá-lo.
Quando sai da sala, meu pai já havia se recomposto. Acho que a prática em lidar com a morte todos os dias o fortalecera. Enxuguei o rosto e respirei fundo, antes de voltarmos pra sala onde Any estava.
Anahí
Quando Poncho e Carlos entraram na sala me levantei preocupada e assustada. Preocupada pelo exames e assustada por causa da cara dos dois, Carlos estava sério e Poncho parecia ter chorado.
- Tudo bem? - perguntei apreensiva.
Poncho assentiu se aproximando e me deu um beijo, se afastou e parou do meu lado.
- Meu pai disse que esta tudo bem comigo e posso viajar. - sorriu.
Any: Sério? Não vai ter problema irmos?!
Carlos: Não nenhum, a não ser que aconteça alguma coisa grave, como uma parada cardíaca com um desmaio, algo assim... Do resto ele esta perfeitamente bem. - sorriu.
Any: Hum, que bom! - sorri forçando um sorriso.
Poncho: Meu amor, vamos embora? Precisamos terminar as malas.
Any: Ok!... Tchau Carlos, a gente se vê em 03 semanas. - sorri e fui até o abraçando.
Poncho: Tchau querida, boa viajem. - sorriu acariciando meus cabelos e nos soltamos.
Sorri acenando e encarei a mulher no quarto, ela sorria e conversava com o marido. Me encarou e acenei sorrindo. Ela sorriu e acenou de volta, em seguida voltou-se pro marido. Dei as costas e fui com Poncho.
Alfonso
Na manhã seguinte terminei as malas e me despedi da minha mãe.
Manuela: Por favor querido se cuida.
Poncho: Pode deixar. - respondi a beijando e fui pro aeroporto com meu pai, ele iria pro hospital depois.
Cheguei e todos já estavam no aeroporto faltava apenas Ucker e Dulce que chegaram logo em seguida.
Any: É a primeira vez que viajamos todos juntos né? - comentou sorrindo.
Poncho: É mesmo, da última vez, quando acampamos Marcos, Celina, Chris e Angelique não estavam.
Any: Essa viajem vai ser melhor que a outra tenho certeza.
Poncho: Pelo menos mais confortável vai ser já que não dormiremos em barracas no meio do mato.
Any: É, mas eu adorei aquele acampamento... Você sabe por que né? - sorriu e a encarei, foi ai que me liguei sobre o que ela falava e sorri concordando.
Poncho: Bom já sabemos que na cama é bem melhor do que em um colchonete, mas podemos praticar mais né?! - cochichei no seu ouvido e ela gargalhou arrepiada, olhei os outros que conversavam ou se beijavam.
Any: Te amo sabia?! - sorriu me olhando.
Poncho: Também te amo. - devolvi e a beijei.
Nosso vôo foi chamado logo em seguida, entregamos os documentos com as passagens e logo embarcamos. Conseguimos sentar uns perto dos outros, mas por ser 04 horas da manhã estavamos um tanto cansados. Eu praticamente não tinha dormido à noite, tinha ficado pensando na viajem e em todo o resto.
- Bebê!
Poncho: Oi! - sorri desviando os olhos da janela e encarei seus olhos azuis, estranhamente me lembrei da primeira vez que os vi e de como eles me hipnotizaram como estavam fazendo agora, sorri e beijei sua testa.
Any: Por que ta quietinho?!
Poncho: Cansaço! - sorri afastando uma mecha de cabelo do rosto dela.
Any: Então dorme comigo, eu to morrendo de sono, apesar de estar ansiosa e nervosa sobre aquilo.
Poncho: Vai dar tudo certo. - me ajeitei no banco e puxei Any, a abraçando de forma que ficasse com a cabeça encostada no meu peito.
Any: To com medo dele não gostar de mim! - respondeu apreensiva.
Poncho: Impossível! - sorri apertando seu nariz. - Eu me apaixonei por você no primeiro minuto que te vi, na porta do meu quarto me olhando assustada e curiosa. - sorri me lembrando daquele dia.
Any: Mentiroso você já tinha me visto na maca quando dei entrada no hospital.
Poncho: Sim, mas você tinha me chamado a atenção apenas, eu me apaixonei mesmo quando Carlos nos apresentou. Me lembro de ficar hipnotizado quando vi de perto seus olhos e de como meu coração disparou quando nos tocamos pela primeira vez. - sorri revivendo as sensações.
Any: E por que esta me dizendo isso só agora? - sorri.
Poncho: Pra você saber que eu sempre te amei e sempre vou te amar. Você é maravilhosa Any e seu pai vai enxergar assim assim que bater os olhos em você, como eu enxerguei.
Any: Quer me fazer chorar agora? - respirou fundo, os olhos brilhando pelas lágrimas.
Poncho: Só se for de alegria. - brinquei e ela sorriu.
Any: Te amo! - se aproximou e me beijou.
Poncho: Também te amo! - devolvi o beijo e abracei com força.
Any logo pegou no sono, mas apesar de cansado eu não consegui dormir. Eu apoiava ela em relação ao pai por dois motivos. Primeiro porque era o certo a fazer, ela tinha todo o direito em conhecer o pai e a irmã. Segundo porque queria que ela estivesse rodeada de pessoas que a amassem pra que eles a ajudassem a segurar a barra quando eu não estivesse mais ao seu lado.
Alfonso
A única coisa que eu lembro foi de abraçar Poncho e sentir os carinhos dele nos meus cabelos. Acordei com ele me chamando, assim que chegamos, uma hora e meia depois. O sol começava a nascer em Acapulco o que nos obrigou a colocar óculos de sol, ajudando a disfarçar a cara de cansaço.
Quando chegamos no hotel, fomos à recepção e pegamos as chaves dos quartos. Estávamos todos no mesmo andar. Entrei no quarto onde eu e Poncho ficariamos e larguei as malas no chão perto do closet me jogando na cama logo em seguida. Poncho sorriu e largou as malas dele perto das minhas. Engatinhou até a cama com um sorriso sapeca nos lábios. Sorri derretida quando os lábios dele se aproximaram dos meus e nos beijamos. Envolvi meus braços em torno do pescoço dele me sentindo levemente desperta. Poncho se afastou um pouco e começou a contornar meu nariz com o dele.
- Te amo! - sussurrei suspirando.
Poncho: Te amo! - devolveu me dando um selinho. - Sabe, eu adoraria passar o resto da manhã com você, mas...
Any: Se não dormirmos agora, vamos perder hora e é capaz dos outros saíram sem nós.
Poncho: Exatamente. - fez uma careta e deitou do meu lado.
Tirei meus sapatos e o abracei encostando meu queixo no peito dele.
- Não tem problema... Teremos muito tempo pra isso quando estivermos a sós. - sorri.
Poncho: Eu gosto do seu jeito de pensar. - sorriu acariciando meu rosto.
Any: E eu gosto do seu jeito de agir. - sorri de volta e o beijei.
Tomamos coragem pra sair da cama e nos vestirmos pra dormirmos um pouco. Quando deitamos na cama de novo, logo pegamos no sono. Acordei em algum momento com Poncho resmungando, ele se mexia bastante e parecia que estava tendo um pesadelo. O encarei por alguns minutos, até que parou de falar e se mexer. Voltei a dormir, mas mesmo assim o ouvi resmungar e acordar outras vezes.