Alfonso
Eu nunca achei que a hora do almoço fosse demorar tanto pra chegar. Eu estava com raiva de mim mesmo desde a tarde anterior e pra piorar já havia ligado desde então umas 07 vezes pra Any e em nenhuma vez ela me atendeu. Desde que estamos namorando isso nunca aconteceu. Eu ainda estava sendo punido, constatei.
Carlos: Filho se acalma!
Poncho: E se ele não vier pai? - perguntei entrando em desespero.
Carlos: Ela vem, mesmo você tendo sido bem mau educado ontem, ela não vai deixar de vir te ver por isso.
Poncho: Droga eu sou um imbecil.
Carlos: Só um pouco, mas a culpa não é sua, estava sob o efeito de medicamentos. - sorriu brincando.
Poncho: Não esta ajudando sabia?! - o fuzilei.
Meu pai apenas riu negando com a cabeça. A porta então se abriu e foi como se o mundo tivesse parado quando Any entrou.
Carlos: Eu não disse... Com licença! - sorriu e se retirou.
Poncho: Oi! - sorri como um idiota a olhando.
Any: Oi... Desculpa o atraso. - forçou um sorriso. - Passei na república antes pra deixar as coisas.
Poncho: Não vamos estudar hoje? - estreitei os olhos.
Any: Não... Hoje to só de visita. Aproveite o dia de folga! - deu de ombros e sentou na cadeira afastada da cama.
Poncho: Vai ficar ai? - perguntei sério não gostando nada daquilo.
Any: Uhum! - assentiu e abaixou a cabeça. - Se quiser eu busco alguma coisa pra você.
Suspirei e afastei os lençóis da cama com raiva, ficando de pé.
Any: O que ta fazendo? - se levantou da cadeira assustada.
Poncho: Por que você ta me dando gelo Any? - perguntei bem próximo à ela, olhando em seus olhos.
Any: Eu... Eu não to te dando gelo. - vacilou ao responder.
Poncho: Ah não? Então por que ontem foi embora daquele jeito e não atendeu as minhas ligações? Por que chegou agora e sentou aqui ao invéz de ficar perto de mim?
Any: Eu não vi suas ligações e quando vi já tava tarde e também eu não tinha o que dizer e só fiquei aqui pra não aborrecer você. - defendeu-se.
Poncho: Pois está me aborrecendo fazendo exatamente isso. - rebati.
Any: O que você quer que eu faça depois do jeito que me tratou ontem? - me encarou magoada.
Poncho: Eu já pedi desculpas.
Any: Ta, só que vai levar mais quantos dias pra você fazer isso de novo?... Todo mundo sabe que pra você é horrível ficar aqui preso sem poder fazer nada, só que ta todo mundo tentando facilitar as coisas pra você. Nossos amigos quando vêem aqui tentam te distrair com piadas e assuntos banais e eu só to tentanto te ajudar com a faculdade.
Poncho: Any me perdoa por ontem, eu sei que eu fui um idiota, me desculpa. - acariciei o rosto dela.
Any: Ta, já falei pra esquecer isso! - se afastou enxugando o rosto.
Poncho: Você não esqueceu, então como quer que eu esqueça?
Any: Ta, então vamos os dois esquecer o que aconteceu ontem... O que quer fazer agora?!
Poncho: Isso! - respondi a puxando pela cintura e a beijei, sem lhe dar tempo pra que me rejeitasse.
Any tentou me afastar, mas em segundos estava com os braços em torno do meu pescoço correspondendo ao beijo com a mesma gana que eu. Quando nos afastamos continue abraçado à ela.
- Me perdoa?!
Any: E eu consigo dizer não pra você, ainda mais quando me olha assim? - perguntou me olhando com ternura. - Devo ser uma tonta.
Poncho: Eu sou o tonto por não dizer sempre que eu te amo! - respondi sorrindo acariciando seu rosto. - Mesmo que às vezes eu não demonstre como você merece, você é tudo pra mim Any e eu te amo muito.
Any: Também te amo! - sorriu emocionada e me abraçou.
Anahí
À noite enquanto terminavamos de jantar Angelique me perguntou:
- Então você e o Poncho se entenderam?
Any: Sim... Eu não consigo ficar brava com ele por muito tempo. - respondi sorrindo.
Angelique: Entendo... E ele ta melhor?!
Any: Igual. Esse problema não vai ter solução enquanto ele não fizer um transplante.
Angelique: Entendo, mas vai dar tudo certo Any!
Any: Eu espero que sim! - sorri assentindo.
Terminamos de comer e começamos a tirar a mesa.
Any: Podem deixar a louça por minha conta.
Celina: Ok! - sorriu dando de ombros e saiu da cozinha.
As duas foram pra sala e fiquei lavando a louça. Angelique logo saiu pra se encontrar com Chris e Celina subiu indo mexer no computador. Quando acabei de lavar a louça a campainha tocou.
- O que ta fazendo aqui? - perguntei pasma ao abrir a porta.
Patricia me encarou e abaixou a cabeça antes de responder:
- Posso entrar e falar com você? Tenho algo do seu interesse!
Suspirei e sem saída dei passagem pra ela entrar.
Patricia: Eu não vou demorar, só vim te trazer uma coisa.
Any: Que coisa?! - a olhei séria.
Patricia: Isso aqui. - me estendeu o envelope pardo que segurava.
Any: O que é isso?!
Patricia: Algumas coisinhas que consegui descobrir sobre o seu pai biológico. Como você nunca me procurou querendo saber dele, achei melhor te trazer eu mesma, fui na casa do seu namorado e a mãe dele me disse que tinha se mudado pra cá.
Any: E o que acha que eu vou fazer com isso?!
Patricia: Não sei, mas sinceramente espero que tome a decisão certa, como eu disse, ele não teve culpa de nada.
Any: Eu vou pensar. - respondi tentando não me abalar.
Patricia: Ok... Era isso que eu queria. Até logo! - forçou um sorriso e foi até a porta.
Any: Boa noite! - respondi abrindo a porta pra ela.
Quando a vi entrar no carro me lembrei da época em que a adorava e vivíamos felizes como tia e sozinha, nos vendo de vez em quando. Senti duas lágrimas escorrerem por meu rosto e as enxuguei rapidamente antes de entrar em casa e fechar a porta.
Celina: Quem era Any?! - perguntou no topo da escada.
Any: Ninguém! - forcei um sorriso desconversando e subi.
Celina: Quer usar o PC vou ficar aqui embaixo vendo t.v.
Any: Ok! - assentiu concordando e terminei de subir os degraus que faltavam pro corredor.
Quando entrei no quarto me sentei na mesinha de estudos e encarei o envelope. Suspirei, mas acabei perdendo a coragem de abri-lo. Peguei os livros de Cardiologia e tentei em vão me concentrar neles. Parecia que o envelope ao meu lado estava gritando por atenção, não deixando que eu me concentrasse em mais nada.
Alfonso
Na tarde seguinte quando Anahí entrou no quarto sem material algum eu soube que alguma coisa estava errada.
Any: Oi! - ela forçou um sorriso ao me ver.
Poncho: Oi! - devolvi o sorriso e ela se aproximou.
Me deu um beijo e me abraçou confirmando minhas suspeitas.
- O que aconteceu?! - perguntei quando ela se afastou.
Any: Patricia me fez uma visita ontem à noite. - respondeu com a voz falhando.
Poncho: O que ela queria? - perguntei sério, a última coisa que eu queria era ver Any mal outra vez.
Any: Me entregar isso aqui. - respondeu me mostrando um envelope pardo.
Poncho: O que é isso?! - estreitei os olhos e peguei o envelope.
Any: Coisas que ela reuniu sobre... O tal Matheus. - respondeu.
Poncho: Seu pai biológico?! - perguntei surpreso e ela assentiu. - E o que tem aqui?
Any: Eu não sei... Na verdade não tive coragem de abrir sozinha. - me olhou cheia de medos. - Por isso eu trouxe.
Poncho: Quer que eu abra com você?
Any: Na verdade... Quero que vc o abra pra mim e leia o que tem ai dentro.
Poncho: Mas Any...
Any: Eu não tenho coragem de abrir e ler o que tem ai... Você sabe como eu odeio tocar nesse assunto.
Poncho: Tudo bem... Se quer mesmo que eu faça isso, eu faço. - assenti concordando.
Any ficou me olhando assustada. Girei o cordão que mantinha o envelope fechado e o abri logo em seguida. Puxei algumas folhas brancas pra cima e me surpreendi ao ver a foto presa na primeira folha.
Anahí
Quando Poncho puxou as folhas e as encarou surpreso me preocupei com o que ele poderia estar vendo.
Any: O que foi?
Poncho: Any esse cara lembra muito você, olha a foto! - mostrou a mesma pra mim.
Peguei a foto com uma das mãos e uni as sobrancelhas a estudando. Realmenteéramos parecidos, pelo menos agora eu sabia de quem tinha puxado os cabeloslouros, já que Henrique e Patrícia possuem cabelos castanhos e Marichello temcabelos negros. Encarei a foto daquele homem sem conseguir assimilar queaquele desconhecido era meu verdadeiro pai. Encarei Poncho que lia os papéisconcentrado.
Any: O que diz ai?! - o olhei angustiada.
Poncho: Tudo, inclusive aqui tem o endereço dele, é uma ficha completa. - meencarou sério.
Any: E... Onde ele mora? É aqui, no México? - perguntei assustada não sabendose queria ouvir a resposta.
Poncho respirou fundo e começou a ler em voz alta.
- Matheus Gutierrez, 37 anos, nasceu na cidade do México em 1974...Formado em Hotelaria pela Universidade Federal do México, mudou-se há cerca de19 anos para Acapulco, onde abriu uma grande rede de hotéis. Casou-se há oitoanos com Marina Fernandez que infelizmente faleceu há anos anos vitima decâncer. O casal... - ele parou de ler e me encarou na dúvida.
Any: O que foi? Continua lendo Poncho! - pedi angustiada.
Poncho: O casal teve uma filha antes da morte de Marina, a pequena Vitória decinco anos! - leu e me olhou.
Any: Uma... Uma filha?! - perguntei assustada me dando conta do que aquilosignificava. - O... O que mais diz ai?
Poncho: Só isso Any. Depois tem fotos da falecida esposa, de um dos hotéis, masnão tem fotos da menina.
Any: E agora Poncho o que eu faço? - tapei a boca assustada.
Poncho: Any sinceramente... Eu acho que você tem que ir atrás dele. Ele foiembora há uns 19 anos, isso significa que foi logo em seguida à briga com aPatrícia, ele nunca soube de você porque ele foi pra Acapulco e a Patrícia proCanadá. Eu acho que você tem que ir procurá-lo, porque agora você não temapenas um pai pra conhecer, mas também uma irmã!
Any: Mas... Eu não quero fazer isso sozinha. Não consigo fazer issosozinha! - respondi atordoada. - E pensar que eu estive tão perto dele, eleesta Acapulco, justamente o lugar pra onde eu fugi quando soube a verdade.
Poncho: Então Any, é mais um motivo pra você voltar pra lá... Meu amor vocêprecisa ir!
Any: Mas não sozinha e agora não dá. Não posso ir pra Acapulco e deixar vocêaqui, a faculdade...
Poncho: Olha por que não fazemos o seguinte, assim que as aulas acabarem, nósvamos pra Acapulco ok?
Any: Mas tem um mês e meio pra isso acontecer.
Poncho: Mesmo assim, é tempo suficiente pra eu melhorar, pra você criar corageme pra organizarmos tudo. A gente chama os outros e podemos passar as férias láo que acha?
Any: Pode ser! - assenti de acordo forçando um sorriso.
Poncho: Então fica calma e não se preocupe com isso ok?... Vai dar tudo certo.
Any: Mas e se ele... Não gostar de mim? - perguntei com medo.
Poncho: Impossível não se apaixonar por você! - respondeu com um sorriso terno.
Sem resposta o abracei com força e fechei os olhos feliz por tê-lo ao meu lado.Eu não sabia o que faria e como enfrentaria toda essa situação se não tivesse Poncho comigo me dando toda a força que estava dando.