Alfonso
Assim que meu pai entrou na sala me levantei alerta.
Poncho: E então? O que deu os resultados?
Carlos: Você anda sentindo esses desconfortos e passou mal daquela vez porque sua insuficiência piorou.
Poncho: Muito? - perguntei assustado.
Carlos: Não, mas se não quer ficar internado, terá que vir fazer exames praticamente todos os dias.
Poncho: Tudo bem... Com Any morando com a Angelique dá pra mim vir pra cá sem preocupá-la.
Carlos: Foi por isso que você aceitou a decisão dela né? Afinal se ela ficasse com a gente veria seu estado verdadeiro e iria querer te acompanhar em todos os exames.
Poncho: Exatamente e não quero que ela se sinta culpada como antes... Por isso concordei que fosse embora de casa, do contrário teria dado um jeito de convencê-la a ficar com a gente.
Carlos: Eu sei. Por isso também que você pediu pra que ela fosse embora da faculdade aquele dia né? Deu a desculpa que ela deveria descansar, pra poder vir aqui fazer os exames.
Poncho: Isso... Ela acha que dormiu até as 02 horas porque eu deixei, não porque eu fiquei fora até aquela hora.
Carlos: Filho não acha que ela deve saber que você piorou? Afinal vocês namoram?
Poncho: Não pai, quero manter isso em segredo, ela sempre se culpa pelos meus mau estares. Eu não quero que ela fique outras noites sem dormir e se prejudique na faculdade.
Carlos: Tudo bem... Olha não há motivos pra preocupações extremas, apenas temos que ficar de olho.
Poncho: Tudo bem, mas que isso fique entre a gente, nem Any, nem a mãe devem saber ok?
Carlos: Ok! - assentiu sorrindo.
Anahí
Mais tarde depois de desfazer minha mala e guardar tudo na minha parte do armário, desci e fui pra sala ver t.v. Assim que sentei no sofá a porta se abriu e uma garota entrou.
- E ai?!
Any: Oi! - me levantei sorrindo.
- Você é a menina nova então? Angelique me falou de você. - apertou minha mão. - Prazer, Celina!
Any: Anahí, mas pode me chamar de Any! - sorri.
Celina: E ai o que achou da nossa humilde casa?
Any: Que nada, ela é maneiríssima. Adorei o quarto, a cama, tudo.
Celina: Ah que bom, seja muito bem vinda viu?
Any: Obrigada! - sorri assentindo.
Celina: Você vai adorar o bairro aqui, você vai ver.
Any: A Angelique saiu pra comprar umas coisas, eu tava pensando em ir dar uma volta ta afim?
Celina: Eu vim da rua, tava pensando em tomar banho, mas vai você, aqui é grande.
Any: Ah tudo bem então. - dei de ombros. - Não demoro. - sorri, peguei as folhas do fichário na mesinha e sai.
A rua era extensa e percebi que mais à frente havia um clube. Fui até ele e entrei, sorri ao ver um enorme campo de futebol onde alguns rapaz jogavam. De frente pro campo havia um barzinho.
- Um suco de maracujá, por favor! - pedi ao balconista.
O senhor sorriu e rapidamente me entregou o suco. Às vezes era estranho pensar que há alguns meses eu vivia tomando as bebidas mais alcoólicas possíveis. Graças à Deus desde que Poncho me encontrara na boate Nebraska completamente bêbada eu nunca mais bebi de novo e por mim as coisas continuariam assim.
Sentei no banco que ficava na mureta do bar e deixei o copo de suco do meu lado. O sol de fim de tarde era confortante e peguei as folhas começando a ler. Mesmo com os gritos e os passos eu consegui me concentrar.
- Vai chuta a bola! - alguém gritou bem alto, desviei os olhos, peguei o copo e voltei a ler novamente.
Não vi de onde veio, mas a bola me acertou com tudo. O copo escapou das minhas mãos me ensopando e ensopando as folhas de suco de maracujá.
Any: Ah droga! - afastei as folhas amassadas e molhadas.
- Moça, moça desculpa, não foi por mal!
Any: Tudo bem, o único problema é que... Kuno! - me surpreendi ao vê-lo.
Kuno: Não acredito... Você anda me seguindo? - sorriu cruzando os braços.
Any: Pois é, mas ai você percebeu e me deu uma bolada né? - brinquei.
Kuno: Eu nunca faria isso com você, foi mal. - chutou a bola pros amigos e me estendeu as mãos.
Pus as folhas no banco e me levantei. A blusa, as pontas do cabelo, o shorte e meus braços já estavam grudentos.
Any: Tudo bem... Só que não tem condição deu ficar aqui... Vou ter que ir e tomar um banho. - sorri.
Kuno: Mas o que ta fazendo por essas bandas?
Any: To morando na república 26 e você?
Kuno: Ta me zoando, eu moro na república 32 de frente pra sua.
Any: Turma da Educação Física! - sorri assentindo.
Kuno: Exatamente, mas da última vez que conversamos você me disse que estava morando com seu namorado.
Any: Pois é, mas eu sai da casa dele.
Kuno: Vocês brigaram, terminaram?! - sorriu demonstrando uma alegria estranha demais pro meu gosto.
Any: Não... Esta tudo perfeito entre a gente. - fiz questão de explicar e ele ficou sério. - Só sai porque não acho uma situação legal. Você deve conhecer minhas amigas de casa, Angelique e Celina.
Kuno: Ah conheço, são gente boa. - assentiu.
Any: Legal... Bom eu tenho que ir... Tomar banho! - me apontei lambuzada.
Kuno: Posso acompanhar você? - me olhou fazendo uma careta.
Any: Mas e o seu jogo?
Kuno: Ah eles estão bem melhores sem mim. - encarou o campo, onde os amigos jogavam. - Vamos?!
Any: T...Ta! - respondi dando de ombros sem escolha.
Peguei minhas folhas enquanto Kuno jogava o copo fora.
- Se quiser te compro outro suco.
Any: Não precisa! - sorri.
Kuno deu de ombros e caminhamos pra fora do clube. Sei que é errado, mas eu estava com pressa em chegar em casa, tomar banho e ficar pronta pra quando Poncho viesse. Tinha medo dele já estar na república me esperando e eu sabia que as coisas não iam acabar bem se ele me visse chegando com Kuno. Eu tinha que assumir que em alguns momentos Poncho tinha razão em ser tão ciumento já que às vezes Kuno parecia estar dando em cima de mim descaradamente. Não sei se ele faz isso com todas ou se o lance é só comigo.
Ficamos conversando sobre a faculdade até chegar na esquina de casa. Fiquei aliviada ao não notar sinal da Mercedes da mãe de Poncho ou de sua Hornet. Parei na calçada já me despedindo.
- Obrigada Kuno, até logo!
Kuno: Nossa já vai assim tão rápido?
Any: É que preciso de um banho urgente, depois a gente se fala ta? - me afastei andando de costas.
Kuno: Ok... Até mais!
Any: Até! - sorri e entrei em casa assim que ele deu as costas.
Joguei as folhas na mesinha e subi as escadas, as roupas úmidas e grudadas.
Celina: Já voltou?! - me encontrou na escada. - Nossa que cheiro de maracujá é esse? O que aconteceu com você?
Any: Um pequeno acidente... Posso ir tomar banho?
Celina: Ta vai lá, já acabei!
Any: Valeu! - sorri e subi as escadas correndo.
Tomei banho, me troquei e fechei as janelas do quarto ao me vestir. Quando estava penteando os cabelos Celina entrou no quarto.
- Any tem um cara te procurando lá embaixo.
Any: Quem? - a olhei com medo que fosse Kuno quem tivesse voltado.
Celina: Não sei, mas ele é muito lindo, moreno, forte, de olhos verdes, nossa que olhos. - sorriu encantada.
Any: É o Poncho! - sorri jogando o pente na cama e sai correndo do quarto.
Alfonso
Deduzi que a garota que subiu pra chamar Any fosse Celina, mesmo não tendo nos apresentado. Encarei o lugar e me virei ao ouvir barulhos na escada.
- Oi! - sorriu descendo os últimos degraus e me abraçou.
Poncho: Oi!... Uau, ta cheirosa. - a soltei lhe dando um beijo.
Any: Tomei banho na hora certa, vem cá. - me puxou até o sofá e sentamos.
Poncho: E ai? O que ta achando de ficar aqui? - a abracei e ela deitou a cabeça no meu ombro.
Any: Ah é legal... Só sinto falta de você e seus pais. - fez bico e me deu um beijo no rosto.
Poncho: Não teria esse problema se tivesse ficado em casa.
Any: Bobo! Mesmo sendo ruim, eu gosto de sentir sua falta e saber que você sente a minha. - sorriu me ganhando. - Ah a garota que te atendeu é a Celina viu?
Poncho: Imaginei! - assenti sorrindo.
Any: Você conquistou ela viu? - piscou. - Precisava ver, ela entrou no quarto falando que tinha um cara super lindo me procurando. Moreno, forte e que tinha uns olhos verdes... Acho que vou ter que ficar preocupada com ela.
Poncho: Vai nada sua boba. - respondi segurando seu queixo. - Só quero você do meu lado.
Any: Te amo! - respondeu me dando um beijo. - Ah vou ligar a tv pra gente ver alguma coisa. - se afastou.
Olhei pro lado e vi algumas folhas na mesinha.
- Any o que sua matéria de Anatomia ta fazendo aqui e nesse estado? - olhei as folhas manchadas de amarelho. - Ta cheirando a maracujá, o que aconteceu? - a encarei quando sentou do meu lado.
Any: Um acidente... Tava estudando e derramei suco em cima delas, vou ter que passar a limpo depois.
Poncho: Toma cuidado pequena! - a puxei pros meus braços de novo.
Any: Ah tudo bem, são só algumas folhas, vai me servir como estudo. - deu de ombros.
Sorri negando com a cabeça e encarei a t.v. Não consegui prestar atenção ao programa, na verdade eu andei distraido o dia todo, antes e depois de pegar os exames. Eu sabia que as coisas não estavam bem, que as noticias não seriam as melhores, mas pelo menos eu estava livre de uma internação. Pelo menos por enquanto. Suspirei sem saber bem o que fazer. Eu não ia conseguir levar isso sozinho, em segredo, alguém ia acabar descobrindo. Foi então que tive uma idéia. Contar tudo pra Ucker e Chris, eles eram meus amigos há anos, sempre me animaram e poderiam me ajudar caso acontecesse algum problema. Essa seria a solução por enquanto, estava decidido.
Fiquei tão pensativo que só me lembrei onde estava e com quem estava quando peguei Any me olhando.
- O que foi?
Any: Ta tudo bem? - me estudou atentamente.
Poncho: Uhum! - assenti forçando um sorriso, o assunto do hospital martelando em minha cabeça.
Any: Você ta sério! - estreitou os olhos. - Não esta chateado comigo, esta?!
Poncho: Porque ia me chatear com você? - acariciei seus cabelos.
Any: Isso que eu tava me perguntando enquanto te olhava. Você parecia meio perdido em pensamentos, ta com algum problema? Aconteceu alguma coisa?
Poncho: Não aconteceu nada, fica tranqüila... Estava só repassando na cabeça umas coisas da facul que temos que fazer... Trabalho, provas, seminários, essas coisas. - sorri a tranqüilizando.
Any: Então ta! - deu de ombros e não me pareceu muito convencida.
Infelizmente todas as mulheres são boas em pegar os homens quando estão mentindo ou escondendo algo delas, minha namorada então nem se fala.
Poncho: Por que não me mostra o resto da casa? To interessado onde vai dormir. - sorri mudando de assunto.
O sorriso que ela me devolveu provocou que eu tinha conseguido distraí-la.
Any: Vem, vou te mostrar meu quarto. - me puxou pelo braço.
Me levantei e ela me arrastou correndo escada acima.