Anahí
Me sentei no sofá enquanto a porta batia. Poncho sentou ao meu lado logo em seguida e segurou minha mão.
- Ta tudo bem? - perguntou preocupado me encarando.
Assenti encostando a cabeça no ombro dele.
- Poncho o que você faz quando descobre que... O seu pai na verdade é adotivo e esta morto e que seu pai biológico esta vivo em algum lugar desse mundo, mas sem saber que você existe?
Poncho: Sinceramente... Eu o procuraria. - respondeu e o encarei surpresa.
Any: Você acha?
Poncho: Sim porque você e ele foram enganados, mentiram pra você e omitiram coisas importantes pra ele.
Any: Tenho medo dele me rejeitar Poncho... Afinal não é todo dia que uma garota de 19 anos bate na sua porta dizendo que é sua filha.
Poncho: Eu sei meu anjo, mas quer fazer o que? Agir como a Patrícia agiu com você e com ele e jogar a culpa no medo? Quer ser igual à ela? Ou quer enfrentar isso e tentar sair ganhando nessa história? Afinal você não tem culpa de nada e sabe que vou ta sempre aqui do seu lado não sabe? - puxou meu rosto pra olhá-lo.
Any: Obrigada! - assenti sorrindo e o abracei. - Te amo!
Poncho: Também te amo! - respondeu de volta beijando meus cabelos.
- Run, run! - Manuela apareceu na sala e nos afastamos. - Desculpe Any, mas achei que precisavam conversar.
Any: Tudo bem Manu... Você pensou direito... Tinha coisas que eu precisava saber.
Manuela: Ajudou então?
Any: Uhum, agora eu sei que não fui a única enganada. Matheus o meu... Pai biológico, nunca soube que Patrícia ficou grávida de mim, então ele não sabe que eu existo.
Manuela: É sério isso? - sentou ao nosso lado surpresa.
Poncho: É mãe, esse Matheus e a Patrícia, brigaram e terminaram antes dela saber que tava grávida e ela ficou com medo de contar pra ele depois que ficou sabendo.
Manuela: Entendi... E o que ta pensando em fazer agora querida?
Any: Não sei, mas... Me passou pela cabeça procurá-lo, só não sei por onde começar.
Poncho: Sei que não vai gostar da resposta, mas... Patrícia pode falar tudo o que sabe sobre ele e teremos por onde começar porque você sabe que eu vou te ajudar nisso. - respondeu sério.
Any: Eu sei! - sorri apertando a mão dele. - E eu agradeço por tudo o que estão fazendo. - sorri.
Manuela: Não precisa querida, toda a ajuda que precisar pode contar com a gente. - sorriu.
Alfonso
Na manhã seguinte assim que a aula acabou fui pra biblioteca enquanto Any pegava uns lanches pra gente.
Não foi difícil encontrar o livro que íamos precisar, assim que peguei fui até o balcão de retirada.
- Poncho?!
Me virei e forcei um sorriso ao ver Renata.
- Oi! - cumprimentei por educação.
Mesmo que não fosse culpa dela, ela estava envolvida nas armações que meu pai fizera tentando empurrar um pra cima do outro. Isso a tornava uma pessoa não 100% inocente.
Renata: E ai estudando muito? - sorriu.
Poncho: Ah só um pouco, nenhum absurdo por enquanto. - sorri assentindo.
Renata: É, estamos no mesmo barco. - sorriu e mostrou os livros que pareciam bíblias.
Anahí
Assim que sai da cantina fui até a biblioteca encontrar Alfonso. Passei pela porta automática e fui até o parapeito do primeiro andar ver se o avistava. O sorriso no meu rosto desfez instantaneamente ao vê-lo conversando com ela.
Não sei porque, mas dessa vez eu não conseguia pensar na idéia de ir até lá. Não, porque dessa vez eles estavam se falando porque ambos queriam, não porque Carlos os obrigara. Mesmo sabendo que era idiotice o que estava prestes a fazer, eu simplesmente dei as costas e sai da biblioteca deixando os dois à vontade.
Fui andando não dando importância às pessoas que passavam perto de mim. Subi o primeiro lance de escadas que vi e estreitei os olhos ao ouvir barulho de água. Segui o som e entrei numa sala enorme. Reconheci na hora o pátio coberto e a piscina. Alguns alunos estavam tendo aula ainda, ou talvez monitoria. Sentei em um dos bancos e fiquei os encarando. Estranhamente a maioria dos alunos era do sexo masculino.
- Olha, sinceramente você era a única pessoa que eu esperava encontrar aqui.
Any: Kuno! - sorri surpresa o encarando. - Tava tendo aula? - perguntei notando seus cabelos molhados.
Kuno: Uhum... Sou da turma da Educação Física, estávamos fazendo uma aula prática na água, pra vermos como o corpo funciona, desempenho do organismo perante à atividades aquáticas, essas coisas. - deu de ombros.
Any: Legal! - sorri assentindo. - Não sabia que era da Educação Física.
Kuno: Surpresa! - sorriu. - Mas e ai doutora o que faz por aqui?
Any: Estava só dando uma volta, ai ouvi barulho de água. - respondi sorrindo.
Kuno: E ai você melhorou? A última vez que te vi você tava meio pálida. - fez uma careta.
Any: Já estou melhor sim. - assenti forçando um sorriso.
Kuno: Sabe as duas primeiras vezes que te vi você parecia mais alegre, mais espontânea.
Any: Ah estou com uns problemas. - dei de ombros.
Kuno: Quer conversar? - me encarou sério. - Olha se for problemas com seu namorado acho que não vou saber ajudar, mas se for algum problema com algum amigo ou com os pais, talvez possa ser um bom ouvinte quem sabe até conselheiro...
Any: São problemas familiares.
Kuno: Mas é muito sério? Porque esses tipos de problemas são normais, tanto em famílias comuns, como nas não tão convencionais e acredite, a minha não é nada convencional... Pra começar meus tios se divorciaram dos irmãos e se casaram, temos vários primos adotivos, inclusive eu.
Any: O que? Vc também é adotado? - o encarei surpresa.
Kuno: Sou... Você também é?
Any: Sim e não. - respondi fazendo uma careta.
Kuno: Vai ter que me explicar isso, fiquei curioso agora. - sorriu.
Suspirei e acabei contando sobre meu passado desastroso. Começando por uma suposta mãe que me odiava, passando por um pai que me amava e perdi num acidente e terminando no fato de, recentemente, ter descoberto que os dois nunca foram meus pais verdadeiros. Que na verdade sou filha da minha tia e de um rapaz que ela namorou e que por terem terminado antes dela sabe quer estava grávida, ele não sabe que existo.
Ao final de tudo Kuno assoviou surpreso.
- Poxa Any que barra.
Any: Nem me lembre! - comentei assentindo.
Kuno: E o que ta pensando em fazer agora? - me encarou.
Any: Não sei... Quando você soube que era adotado?
Kuno: Ainda criança, mas não tive esse problema porque quando me contaram disseram que meus pais tinham morrido num acidente, mas acho que no seu lugar eu procuraria por esse pai biológico ai.
Any: É to pensando se isso é uma boa ideia. - forcei um sorriso.
Kuno: Bom se precisar de ajuda, me fala. - respondeu dando de ombros.
Any: Uhum! - assenti sorrindo. - Ai caramba que horas são?
Kuno: Dez e meia.
Any: Ai droga preciso ir embora. - respondi me levantando às pressas.
Kuno: Que bom que fiz você perder a nossa da hora. - se levantou comigo. - Posso te acompanhar? Minhas aulas de hoje acabaram. - sorriu.
Any: Ta, mas eu preciso ir pro estacionamento, as minhas também acabaram.
Kuno: Então vamos!
Eu sabia que aquilo não ia dar certo. Se eu e Poncho nos perdêssemos o combinado era nos encontrarmos no estacionamento, então não foi surpresa quando eu o vi me esperando.
Kuno: Bom, não vou criar encrenca com seu namorado, mas foi bom te ver, até logo Any.
Any: Até! - forcei um sorriso.
Kuno deu as costas indo embora e eu me aproximei de Poncho.
- Vamos? - ele perguntou sério.
Any: Uhum... Seu lanche! - estendi o embrulho pra ele.
Poncho pegou resmungando e abriu a porta do carro. Entrei no mesmo e usei o lanche como desculpa pra não conversarmos. Eu sabia que Poncho estava me fuzilando pela canto do olho, mas eu não ligava, ele não era o único que tinha motivos pra ficar bravo.
Alfonso
Chegamos em casa e entrei atrás de Any. Bati a porta e joguei o lanche no sofá.
- Temos que conversar! - disparei não me contendo mais.
Any: Sobre? - perguntou cruzando os braços erguendo as sobrancelhas e aquilo me deixou ainda mais nervoso.
Poncho: Como assim sobre?... Sobre você e o Kuno é óbvio. - respondi furioso.
Any: Eu encontrei ele depois que sai da cantina, o que tem demais?
Poncho: E por que vocês estavam conversando? O que você tava fazendo com ele? - perguntei furioso.
Any: Olha aqui não venha brigar comigo ta legal? Eu teria ficado com você, se você não tivesse na companhia da sua querida amiguinha Renata. - rebateu me surpreendendo e percebi o tom de ironia. - Pensa que eu não vi vocês dois juntos?
Poncho: Ah então você foi atrás do Kuno pra se vingar? - deduzi.
Any: Não, eu voltei pra cantina e acabei o encontrando. Conversamos e fui pro estacionamento, mas eu não entendo porque você fica desse jeito quando me vê com o Kuno, eu quem deveria ficar brava aqui.
Poncho: Ah é? E posso saber por quê? - rebati furioso.
Any: Como por quê? Você esqueceu que me contou do seu casinho com aquela garota? Que se apaixonou por ela e quase a pediu em namoro? Entre o Kuno e eu nunca rolou e nem vai rolar nada, mas entre você e a Renata já rolou uns beijinho e vai saber mais o que né? O que você queria que eu sentisse quando os visse juntos?
Poncho: Você nunca se importou com isso antes.
Any: Porque antes era o seu pai aproximando vocês, mas hoje você parecia bem animado falando com ela.
Poncho: Olha aqui Any eu acho que você ta ficando maluca, melhor, acho que esta usando a Renata de desculpa pra não me responder por que estava com o Kuno. - respondi sério.
Any: Ah é isso que você pensa? Que ótimo! - sorriu com ironia. - Porque eu acho a mesma coisa sobre você, mas quer saber dane-se. Vai lá atrás da sua querida Renata, vai relembrar seus velhos tempos com ela, vai brincar de médico com ela Alfonso. - declarou furiosa e me dando as costas.
Poncho: Hei eu ainda não acabei. - fui atrás dela inconformado. - Você fica me acusando, mas acho que é você quem quer ter alguma coisa com o Kuno e usa a Renata pra tentar sair por cima.
Any: Ah maravilha, então porque você não vai atrás da Renata e eu do Kuno como ta me acusando de querer fazer? - me olhou com ironia.
Poncho: Beleza vamos fazer isso então, pode ir se quiser eu não me importo, pra mim esta ótimo. - esbravejei.
Any: Que bom que entramos num acordo porque pra mim também esta ótimo. - rebateu me fuzilando e subiu.
"Isso é uma grande criancice!", pensei me jogando no sofá.
No fundo eu sabia que Any nunca procuraria Kuno, depois de tudo o que passamos, eu sabia que ela era incapaz de me trair, assim como ela sabia que eu seria incapaz de traí-la. Éramos apaixonados um pelo outro caramba e os dois sabiam disso. Eu podia estar errado em ter gritado com ela e a ofendido, mas ela fizera a mesma coisa comigo. Eu iria me desculpar sim, mas só quando ela fizesse a mesma coisa primeiro.