Uma Lição de Amor ✔

Por PricaWenzel

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Anahí e Alfonso, dois pacientes de um mesmo hospital se conhecem de uma forma pouco convencional. Ela dá... Mais

Nota da Autora!
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Epílogo
Agradecimentos!

Capítulo 01

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Por PricaWenzel


Anahí

Mas que merda!

Foi à primeira coisa em que pensei ao ser acordada pela desgraça do meu relógio-despertador.

Como tenho o costume de dormir com dois travesseiros joguei um deles em cima do relógio, que, como toda manhã caiu no chão parando de me atormentar. Enfiei o segundo travesseiro sobre a minha cabeça e fechei os olhos sabendo que não teria paz por muito tempo.

Confirmando as minhas suspeitas a porta se abriu e a doooce voz da insuportável da minha mãe invadiu o quarto.

Marichello: Anda Anahí acorda, são meio-dia! - puxou minhas cobertas.

Any: Ta eu já sei! - respondi de mau humor pressionando o travesseiro sobre minha cabeça. - Esse maldito relógio apita sempre ao meio dia, maldito fabricante que não colocou no manual onde tira essa droga! - reclamei, já que ninguém programara o relógio intrometido pra me acordar todo dia ao meio-dia.

Marichello: Então levanta de uma vez, não me faça vir aqui de novo. - avisou séria.

Any: Ta me deixa, que inferno! - rebati e ouvi a porta bater com força.

Enrolei mais um tempo na cama, até perder a paciência - já que o sol estava batendo sobre mim e me deixando com calor - e jogar o travesseiro longe me sentando na cama. Passei a mão pelos cabelos bagunçados.

Odeio férias!... Odeio essa casa!... Odeio essa porcaria de vida que eu tenho!, resmunguei em pensamento enquanto me levantava. Aliás esses pensamentos povoam a minha cabeça há cerca de um ano.

Escolhi uma roupa, abri a porta do banheiro e fui tomar banho pra começar a me arrumar antes que a minha adorável mãe voltasse pra me encher o saco.

Infelizmente nós nunca nos demos bem, temos um gênio do inferno e sempre batemos uma de frente com a outra, teimando em seus pontos de vistas, desafiando e contrariando uma a outra. O meu pai coitado, a única pessoa bondosa e paciente dessa casa, a única pessoa que me amou nessa vida, sempre tentava apartar a briga e conseguia ficar do meu lado e da minha mãe sem que nos sentíssemos traídas, ai as coisas se acalmavam. Até brigarmos de novo, claro!

Mas há um ano as coisas pararam de se acalmar, mais especificamente desde que meu pai morreu. Desde então essa casa virou um inferno, toda hora minha mãe me insulta, diz que eu não sou nada, que sou um estorvo pra ela e eu com meu gênio, não permito ofensas e mando que vá pro inferno e me deixe em paz. Essa é sempre minha última frase antes de sair daqui batendo a porta. E é incrível como as coisas se acalmam quando eu coloco o pé na rua e se acalmam mais ainda quando entro em um bar.

Não sou alcoólatra, antes que pensem isso, mas nesses últimos meses o álcool e até o cigarro às vezes, são as únicas coisas que conseguem me manter de pé. O único momento do dia que sinto prazer, que fico alegre, sem a ideia fixa de que minha vida é uma merda e eu deveria morrer, é quando encho a cara e fico tão doida que esqueço meus problemas e às vezes esqueço até meu nome e onde moro. E todo dia é a mesma coisa!

Começa assim, com esse maldito despertador tocando, depois vem minha adorada mãe me mandando levantar aos berros. Em seguida e com a cabeça explodindo e o estômago revirando como agora eu tomo banho pra tentar me livrar melhor da ressaca e ter ânimo pra sair do quarto. Sempre que desço pro café ou não dirijo a palavra àquela mulher que acostumei a chamar de mãe, ou já brigamos logo cedo. Então eu bato a porta de casa e começo a perambular pelas ruas com meu carro. Carro que ganhei de presente de 18 anos do meu pai.

Às vezes vou pra casa de Maite e fico lá com ela conversando e a ouvindo suspirar pelo seu namorado Derrick. Mas ela sim tem uma vida interessante, pessoas que gostam dela de verdade, que a amam, ao contrário de mim, então ela não pode me dar atenção todos os dias ou o dia todo. E infelizmente hoje é um desses dias em que vou ter que me distrair com outra coisa que não seja a Mai. É nesses dias quando Mai e eu não nos vemos que fico perambulando pelas ruas ou indo de bar em bar, ou no shopping.

Tentando achar um rumo, algo que me deixe feliz, mas a única opção sempre acaba sendo a bebida. Então passo o dia na rua, enchendo a cara, volto pra casa sempre as 03, 04 horas da manhã, ouço xingo da minha mãe, subo, deito na minha cama com a roupa que tiver no corpo e durmo profundamente... Até o maldito despertador tocar, todo dia ao meio dia e tudo começar de novo.

Quando eu tinha as aulas do cursinho eu ficava por lá de manhã e o dia todo na rua, fazendo lição ou estudando na casa da Maite, isso ocupava minha cabeça e me deixava longe do álcool. Mas agora nas férias, sem deveres, sem provas, sem cursinho e sem Maite, o álcool se torna meu único refúgio, a única coisa que me impede de cometer um suicídio. E acreditem... Já tentei me suicidar duas vezes!

A primeira foi 03 meses após a morte do meu pai, onde após uma briga feia com minha mãe eu ingeri um vidro de comprimidos. Eles foram suficiente pra me deixar internada três semanas no hospital ouvindo sermões da minha mãe sem poder fugir pra algum lugar, mas não foram suficientemente fortes pra me matar. Nessa época eu ainda não tinha descoberto o álcool, eu só ficava fora de casa andando e andando até anoitecer. Voltava cansada o suficiente pra deitar na cama e dormir sem nem olhar pra cara da Marichello.

A segunda vez foi dois meses depois da primeira tentativa e essa segunda vez foi meio sem querer. Estava tão fula da vida após brigar com a minha mãe que sai andando e um pessoal meio mal encarado, me achou bonita e me chamou pra ir pra uma balada. O local era barra pesada e vendo todo mundo encher a cara e começar a rir eu comecei a fazer o mesmo, desde que meu pai morrera que andava sempre zangada, quase nunca sorria, quase nunca ficava feliz como eles. Então enchi a cara pela primeira vez na vida. O resultado? Coma alcoólico, quase morri. QUASE. Mais duas semanas no hospital com minha mãe me perturbando.

Mas quando sai percebi algo. Eu tinha me sentido feliz como antigamente, como não me sentia à cinco meses desde que meu pai morrera. Então eu comecei a ir em busca daquilo e sempre que Maite não conseguia me distrair eu apelava pro álcool e cada vez mais chegava tarde em casa. Eu nunca mais bebi a ponto de desmaiar como da primeira vez. Hoje em dia eu bebo até o ponto em que fico feliz, até o ponto de esquecer minha mãe e minha casa. Bebo a ponto de esquecer que eu não sou nada. A ponto de me enganar e acreditar que sou alguém nessa droga de mundo, que existe alguém por ai que me ama e se importa comigo. Mas quando a ressaca bate e a verdade vem à tona, eu fico pior. E corro pra bebida outra vez!




Alfonso

Acordei com a movimentação no meu quarto e a espetada de agulha costumeira no meu braço.

- Bom dia senhor Alfonso! - a enfermeira sorriu pra mim quando abri os olhos.

Sorri de volta um pouco sonolento. Ela saiu e em seguida minha mãe entrou. Não sei de onde ela tira todo esse sorriso quando me vê. Afinal estou num hospital, tomando soro na veia e medicação 24 horas por dia, com uma cara de sono e com os cabelos bagunçados. Sem ânimo algum nem pra falar quando acordo.

Manuela: Bom dia querido! - ela sorriu amorosa dando um beijo em minha testa.

Poncho: Oi! - sorri a olhando.

Manuela: Como ta se sentindo amor? - segurou minha mão usando o mesmo tom de quando eu era criança.

Poncho: Bem, mas não fica usando esse tom de voz comigo mãe, eu tenho 19 anos, pega mal.

Manuela riu com minha piada. Em seguida ficou séria lembrando de algo. Eu sabia do que ela lembrava.

- Eu te dizia isso quando era um menininho assustado que mal entendia o que estava te acontecendo. - respondeu e seus olhos brilharam com as lágrimas que começavam a surgir. - Desde aquela época, meu maior medo e do seu pai é perder você, nosso único filho! - começou a chorar.

Poncho: Não se preocupe mãe, eu vou sair daqui. - respondi forçando um sorriso tentando passar força à ela.

Manuela: É tudo o que eu peço a Deus filho. - respondeu com os olhos marejados e apertou minha mão.

Poncho: Ele vai te escutar, você é insistente quando quer algo. - sorri e minha mãe retribuiu o sorriso. - Você é teimosa e ele logo vai atender seu pedido... Eu sou o primeiro na lista mãe, o primeiro coração que aparecer virá pra mim... E eu sinto que algo bom vai acontecer,tenho certeza que é o transplante! - sorri e realmente estava com essa impressão, eu sentia que em breve algo bom aconteceria e mudaria minha vida.



Anahí

Estacionei o carro em frente à praça e desci, achando melhor dar uma volta pelo shopping e tomar um ar puro. Ainda é cedo pra começar a encher a cara e só vou fazer isso se nada conseguir me acalmar.

Graças a Deus hoje foi um dos dias em que não briguei com minha mãe logo cedo. 

Simplesmente tomei meu café e sai de casa, sem escutá-la reclamar como sempre faz. Isso é bom. Em partes!

Me sobressaltei no banco da praça quando meu celular tocou, eu sabia que só podia ser uma pessoa. Maite.

- Oi! - respondi com calma.

Maite: Oi, que bom que atendeu. - respondeu e percebi seu tom de voz aliviado, normalmente quando fico embriagada mal consigo articular uma frase, então Maite sempre sabe se estou bêbada ou não.

Any: Aconteceu alguma coisa? - perguntei, desejando que houvesse uma mudança de planos e a gente pudesse ser ver, mesmo que fosse pra escutá-la falar do namorado a tarde toda.

Maite: Preciso de um favor seu. - respondeu com a voz apreensiva e imaginei que boa coisa não podia ser.

Any: Manda! - incentivei meio de mau humor.

Maite: É que... Derrick quer que eu conheça a namorada de um amigo dele, que mudou há pouco tempo pra cá e não tem amigas pra sair, ela vai vir umas oito da noite e queria que você viesse umas sete e meia pra nós recebermos ela juntas e assim você ter mais alguém com quem conversar além de mim.

Any: Uhum entendi! - assenti olhando a rua.

Maite: Só que não é bem esse o favor que eu tenho pra te pedir... Eu gostaria que você viesse, só que... - ela hesitou antes de continuar, eu desconfiei o que ela queria antes de me dizer. - Gostaria que você estivesse no seu estado normal sabe? - pediu totalmente sem graça.

Any: Sóbria você quis dizer né? - perguntei séria. 

Maite: Isso! - respondeu envergonhada. - Me desculpa pedir isso, mas ia pegar mal se ela te conhecesse e você estivesse embriagada e também você sabe que eu sou contra você encher a cara. - argumentou.

Any: Tudo bem Mai, vou ficar longe dos bares hoje e vou chegar em perfeito estado pra conhecer essa garota.

Maite: Obrigada e já que vai estar sóbria, porque não pensa no que te digo há sete meses desde que começou a beber? Procura uma psicóloga, você podia marcar uma consulta já que está com o dia livre. - brincou, mas não entrei na brincadeira. Odeio quando ela fala de psicóloga e tratamento.

Any: Mai já conversei com você sobre isso, não vou a psicóloga nenhuma, a bruxa da história é minha mãe, quem tem que se tratar é ela, não eu! - rebati ficando de mau humor.

Maite: Mas ela não chega bêbada em casa todas as noites. - respondeu com cautela.

Any: Não vou discutir com você sobre isso, eu não sou alcoólatra pra procurar tratamento, daqui a pouco você vai querer me mandar pros alcoólicos, fumantes ou qualquer outra parada anônima. - rebati brava. - Não vou tomar nada hoje em consideração à você e à essa garota pra não pensar mal de mim.

Maite: Obrigada mesmo assim! - respondeu com a voz suave.


Any: De nada, agora tenho que arrumar o que fazer, já que estou de castigo. - brinquei com meu humor negro.

Maite riu do outro da linha e respondeu por fim:

- Até mais tarde!

Any: Até! - respondi e desliguei o celular. 

Levantei do banco e suspirei. Agora fodeu. O que vou fazer a tarde toda sozinha e perdida numa cidade grande como o México? E o pior sem poder tomar uma gota de álcool pra me livrar da ansiedade e me deixar feliz?



Alfonso

Odeio quando chega esse horário no hospital. Porque é o momento em que estou ativo o bastante pra andar e louco pra sair daqui e também é o momento onde preciso ficar no quarto, esperando minhas visitas.

Por sorte tenho um amigo fiel e louco o bastante que sempre vem me chatear. O nome dele? Christopher!

Ucker: Como ta bonitão? - ele me pergunta isso sempre que chega na porta do quarto.

Poncho: Ucker eu sei que você é apaixonado por mim, mas preciso manter minha honra, eu jogo a favor da sua namorada, não contra ela. - entrei na brincadeira, sorrindo.

Ucker: Eu sei, por isso não a trouxe aqui hoje. - respondeu sorrindo.

Poncho: Não seja idiota, conheço a Dul há tanto tempo que ela é como minha irmã então não seja ingrato porque eu juntei vocês dois, não se esqueça! - respondi sério.

Ucker: Eu sei to te zoando... Dona Manuela já veio aqui hoje?

Poncho: Você acha que não? - cruzei os braços. - Fez até o drama dela. - revirei os olhos.

Ucker: Ela é sua mãe Poncho, é claro que vai se preocupar... Faz anos que você espera por um transplante!

Poncho: Eu sei, mas não gosto de vê-la daquele jeito, me faz mal. - respondi fazendo uma careta, não gosto de ver as pessoas preocupadas comigo, não gosto de ver o olhar de pena que todos lançam pra mim.

Ucker: Você tem que ser forte cara. - incentivou. - Às vezes por você e por ela. - respondeu sério.

Poncho: Pode deixar velho, eu não vou desistir... Não agora que falta pouco!

Ucker: É assim que se fala e quando você sair desse hospital, vamos jogar futebol na chuva como fazíamos antes lembra? - sorri assentindo. - Sua mãe ficava furiosa com a gente lembra? - gargalhamos ao lembrar.

O bom de conversar com o Ucker é que ele é daqueles tipos de pessoas que te animam, mas o mais importante de tudo, ele foi à única pessoa nessa vida que não me tratou diferente ao saber sobre meu problema de coração. Até Dulce me olhara com pena ao descobrir que eu necessitava de um transplante.

E acontece o mesmo com todas as pessoas! Algumas dizem coisas como "Pobre rapaz, tão novo e bonito e condenado à morte!", outras por sua vez me olham com pena e dizem pra mim ser forte. É isso que eu odeio. Essa pena que as pessoas sentem de mim e por isso considero Ucker o meu melhor amigo, pois, nunca, em momento algum eu vi esse sentimento nos olhos dele. Tanto que o desgraçado me zoa com tudo o que pode. Seja porque estou solteiro, seja porque estou no hospital, até com meu coração ele brinca falando que se eu arrumar uma namorada ele se cura e não vou precisar de transplante.

O infeliz não sabe como eu gosto dele por ser assim e como queria comigo, do meu lado, uma garota que me olhasse da mesma forma que ele. Sem pena. Sem preconceito. Mas agora deixa eu parar com isso que ta me soando meio gay. E só pra constar. Eu gosto de garotas. Melhor, amo as garotas!

Ucker: Mas me conta, ta de olho em alguma enfermeira ou paciente daqui? - sorriu com malicia.

Poncho: Não! - neguei fazendo uma careta com o tamanho do absurdo.

Ucker: Cara por isso precisa de um transplante, seu coração ta muito solitário, tem que arrumar alguém!

Eu disse que ele adora me zoar! 

Poncho: Eu até queria, mas não sei se é uma boa ideia, seria legal ter uma namorada, mas não quero se for pra ela se tornar uma Manuela na vida e ficar me olhando com aquela cara de preocupação, querendo morar aqui no hospital comigo... Não quero mais alguém pra sentir pena de mim ou pra me rejeitar ao saber do meu problema como umas e outras já fizeram. - respondi sério, já fui rejeitado por 02 garotas que gostei quando elas souberam que eu tinha problemas de coração. - Mas se você tiver uma cópia sua versão feminina me apresenta. - sorri com malicia.

Ucker: Ah então eu sou o tipo de garota ideal pra você? - sorriu cruzando os braços.

Poncho: Sua colocação ficou meio estranha, mas acho que é isso ai... Minha namorada, nas minhas atuais condições teria que ser alegre, divertida e nunca me olhar com pena, assim como vc.

Ucker: Acho que você é quem ta apaixonado por mim! - estreitou os olhos desconfiado.

Poncho: Me lembra de quando sair daqui comprar um chá de semancol pra você, ou Dulce ta levantando sua autoestima demais ou você sempre foi metido assim e me escondeu! - entrei na brincadeira e ele gargalhou divertido.

À tarde com Ucker basicamente passou assim. Cheia de brincadeiras, piadas de mau gosto e conversa fiada. Do jeito que eu gosto. Do jeito que faz o tempo passar mais depressa aqui dentro.



Anahí

Bati a porta de casa às seis horas da tarde e subi pra me arrumar e tomar um banho. Me joguei na cama decidindo dormir um pouco. Colocaria o despertador do meu celular pra me acordar às 18:30 e assim não perderia hora e chegaria às 19:30 na casa de Mai, talvez até antes.
Bater perna no shopping por cinco horas apenas pra se distrair é um verdadeiro tormento, mesmo quando se compra alguma coisa. Não foi nenhum pouco difícil pra mim ficar longe do álcool ou do cigarro, eu odiava os dois, mas infelizmente eram as únicas coisas que aliviavam a minha cabeça. Eram a minha válvula de escape!

Mas de certa forma, saberque Maite ficaria feliz por me ver bem me deixou bem também. Ela e Derrickainda se preocupavam comigo, eram os únicos. E mesmo eu odiando que me olhassemcom pena e no fundo me achassem uma pobre coitada, eles ainda assim gostavam demim. E eu gostava deles. Meus únicos amigos! Talvez as únicas pessoas no mundoque provavelmente sentiriam minha falta se eu morresse.

Fechei os olhos e suspirei cansada, deixando o sono me levar. A porta foiescancarada e minha mãe me puxou dizendo:

- Onde você estava o dia todo sua imprestável.

Any: Você não sabe bater? - perguntei me soltando.

Marichello: Não respondeu minha pergunta. - insistiu.

Any: Ai eu tava na rua! - respondi de mau humor e sai do quarto descendo asescadas. Estava disposta a abandonar o sono, o banho e sair de novo, só pra nãoter que ficar mais 1 minuto perto dela.

Marichello: Andou bebendo de novo? - agarrou meu braço me fazendo olhá-la.

Any: Não! - gritei a resposta na cara dela e voltei a me soltar jogando-me nosofá.

Marichello: Você é uma inútil mesmo... Você deveria ter morrido no lugar do seupai! - declarou e tapei os ouvidos sabendo o que estava por vir, respirei fundosentindo a garganta arder como sempre acontecia. - Maldita hora que eu fuiengravidar de você, eu teria te abortado se o seu pai não tivesse meimpedido... Eu nunca gostei de crianças, mas você serviu pra manter ele ao meulado, mas agora você não me serve pra mais nada, seria muito melhor ter morridovocê ao invés dele... Eu nunca pedi pra ser mãe! - declarou fazendo drama.

Any: E EU NUNCA PEDI PRA NASCER! - gritei com toda força enquanto me levantava.

Marichello: Seria bom se não tivesse mesmo nascido, você foi uma imprudência opior erro da minha vida!

O meu olho ardia, minha garganta queimava pelas lágrimas que eu lutava praconter. Eu nunca chorava na frente dela, eu simplesmente batia a porta de casae ligava o carro, ai sim eu chorava, socava o volante e gritava como se alguémpudesse me escutar e me responder o que eu tinha feito pra merecer ela comomãe.

Me encaminhei até o bar já que ela bloqueava a passagem pra porta, mas elacorreu na minha frente e pegou a garrafa de uísque antes de mim. Eu estava tãofuriosa que poderia espancá-la.

- Me dá isso aqui! - ordenei tomando a garrafa da mão dela.

Marichello: Não, você não vai beber outra vez! - tomou a garrafa de mim e levoupra longe.

Any: Vai pro inferno então! - respondi e sai de casa batendo a porta furiosa.

Marichello: Alcoólatra maldita! - ela gritou quando entrei no carro. 

Pisei no acelerador com força e sai às pressas. Dei um murro no volantequerendo quebrar minha mão e assim sentir uma dor grande o suficiente paraesquecer a que estava sentindo por dentro naquele momento. Por que ela nãomorrera naquele maldito acidente? Por que teve que ser meu pai?

Virei o volante de uma vez ao dobrar a esquina quase subindo na guia. Segui eentrei na pista colocando 5ª marcha e acelerando ao máximo. As lágrimas meimpediam de enxergar alguma coisa, ainda não estava totalmente escuro, mas asluzes dos faróis já estavam acesas e me cegavam. Naquele momento recordei aspalavras dela. Palavras soltas como INUTIL e IMPRUDÊNCIA. Eu sempre seria issopra ela, uma inútil, uma imprudência, um erro. Uma alcoólatra maldita como elagritara.

Apertei meus olhos com força e desejei com todo meu coração que meu paiestivesse comigo, mas ele não estava, eu nunca mais o veria e ele sempre foi aúnica pessoa que realmente levantava minha autoestima.

Eu estava num beco sem saída e só havia uma solução. Fugir. Fugir daquelemundo. Eu não queria voltar pra casa e não queria que Maite me visse daquelejeito, menos ainda a tal garota que conheceríamos. Ela seria mais uma a sentirpena de mim quando visse meu estado e soubesse como era minha mãe.

Minha ficha caiu. Era só isso que eu sabia despertar nas pessoas. Pena! Minha mãe realmente tinha razão, teria sido melhor que eu nunca tivesse nascido,teria sido melhor se eu tivesse morrido no lugar do meu pai. Ele era muito melhor do que eu. Qualquer um merecia viver mais do que eu. Eu merecia...Morrer!

Enxuguei meu rosto com raiva com essa ideia fixa na cabeça de novo, eu sóqueria acabar com tudo.

- Eu vou acabar com tudo isso!... Eu vou te ver de novo pai, seja no céu ou noinferno! - disse a mim mesma quando vi uma árvore grande a alguns metros. Foi osuficiente pra mim acelerar e joguei o volante com tudo pra direita, na direçãoda árvore que agora eu via como minha única salvação.

Soltei minhas mãos do volante ao ver a árvore vindo com tudo na minha direção ou eu estava indo com tudo na direção dela? Fechei meus olhos e cobri o rosto com os braços sentindo por último um forte impacto contra ele.

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