TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLET...

By FernandoRaposo

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Bem-vindos à Parallel, uma cidade decadente. Cinzenta, seus arranha-céus são constantemente abraçados por esp... More

CONSIDERAÇÕES
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EPÍLOGO

Vol. 5

47 12 12
By FernandoRaposo

Não consegui pregar os olhos, pensando no que havia acontecido.

A morte do agente Mason havia mexido comigo, ainda mais sob aquelas circunstâncias. A esta altura a polícia já sabia da morte do jovem agente, a balística confirmaria a origem do disparo e o meu rosto estará nos principais jornais como suspeito número um deste crime.

O primeiro lugar a ser visitado pelas autoridades seria a minha casa. Desta forma, permaneci na parte antiga de Parallel, longe dos holofotes, neste pequeno hotel, se é que posso chamar isso de hotel. Ninguém se preocuparia com a minha cara, aqui entra qualquer um.

Caminhei rumo a estreita janela vertical, o vidro, antigo, encontrava-se embaçado e com alguns arranhões, mesmo assim dava para ver alguma coisa do lado de fora. Mason não merecia um destino como aquele. Esta cidade precisava de agentes como ele, que ainda tinham algum tipo de no sistema.

A flor roxa repousava em meu bolso. A retirei e mantive minha atenção nela por algum tempo. Ela pertencia ao mulato, mas porque ele haveria de me proteger?

10:30h AM

Peguei o telefone e liguei para a recepção. Depois de insistentes toques a recepcionista atendeu. Pedi o jornal do dia que foi deixado em minha porta. A notícia estava na primeira página. A matéria não mencionava suspeitos, para a minha surpresa, mas informou que o oficial havia morrido durante o cumprimento de seu dever e que o seu enterro seguiria os ritos oficiais.

Uma matéria evasiva. A polícia não denunciaria que o agente morreu sob fogo amigo. Manteriam o caso na encolha. O departamento não mancharia sua reputação.

Me entrego? Não.

Como explicar as razões que levaram o agente à morte? Não saberia explicar sem parecer um louco. Continuaria foragido, investigando por conta própria o caso. Desta forma poderia provar minha inocência e encontrar as respostas que tanto procuro.

O enterro foi marcado para às 14:00h no cemitério da cidade. Não poderia deixar de prestar minha última homenagem ao garoto...

Um temporal desabou sobre Parallel. Os relâmpagos, rebeldes, deslizavam no céu iluminando o dia que mais parecia noite. Me mantive a distância, entre as árvores, evitando possíveis olhares. Ao redor do caixão, parentes e oficiais, devidamente protegidos com suas capotas e guarda-chuvas pretos.

Nunca fui de fazer orações. Para falar a verdade, confiava mais na minha pistola do que nas preces. Contrariando a mim mesmo, pedi para que a alma do agente encontrasse o seu devido caminho além deste mundo. A minha, nem com o papa intercedendo. O inferno aguardava ansiosamente a minha chegada. O Diabo terá que esperar, porque irei dificultar as coisas para ele.

Uma vez que a polícia estava prestando sua derradeira homenagem ao jovem agente, acreditei ser este o melhor momento para voltar a minha casa.

Não havia policiamento nas imediações onde morava, o que facilitaria bastante as coisas para mim, mas ao mesmo tempo deixava uma grande pulga atrás de minha orelha.

Fácil demais...

Subi os andares pela escada de incêndio, na tentativa de me manter furtivo e longe dos olhares. A janela do apartamento estava aberta, o que me fez pensar se a havia deixado daquela forma quando saí do apartamento pela última vez.

Entrei com facilidade e aproveitei para trocar de roupa. Estava sentindo falta de roupas limpas. Também precisaria de mais munição e para isso, deveria deixar o meu quarto e me dirigi para a sala. Assim que adentrei a sala dei de cara com o comissário.

— Oi Rick. — O comissário estava sentado em uma das cadeiras com sua pistola apontada para mim. — Sabia que mais cedo ou mais tarde você retornaria para sua casa, e nada melhor do que fazê-lo durante o enterro do Mason.

Continuei encarando o comissário em silêncio.

— Sempre soube que era um lunático, mas matar aquele garoto foi demais Rick! — Falou enquanto levantava, ainda com a arma em riste.

— Sou inocente, mas você nunca acreditaria na minha versão dos fatos.

— Eu até poderia acreditar em sua justificativa, mas terá que fazer isso na delegacia, de maneira formal. — Ordenou o Comissário.

— Você sabe que não permitirei.

— Eu sei, por isso vim acompanhado. O Gary e o Thomas me ajudarão a leva-lo para prestar interrogatório.

Gary e Thomas eram os dois brutamontes do departamento. Sempre se gabavam pelos melhores índices em tudo que faziam. Havia entre eles uma disputa saudável, mas nunca fui com a cara deles. Acho que nem eles com a minha, por isso aceitaram o servicinho.

— Gary... Thomas... — Falei enquanto os dois caminhavam em minha direção.

— Você está encrencado até o pescoço, Rick! — Falou Gary sorridente, enquanto intensificava a aproximação.

Somente agora havia percebido como eram brancos os dentes do agente Gary. Quando os dois grandalhões avançaram de maneira mais enfática, me posicionei defensivamente, aguardando o instante para uma reação.

Meus dedos se contraíram, fechando por completo. Gary tomou a iniciativa, que foi prontamente desviada. O soco passou muito perto. Nem sempre ser o maior conta como ponto decisivo em uma luta. A lentidão dos meus oponentes era uma vantagem que eu deveria me aproveitar e foi isso que me salvou. Desviei desferindo um contragolpe certeiro. Gary recuou cambaleante até cair sobre a mobília. Seu sorriso nunca mais seria o mesmo depois daquele soco. Com o Gary fora de combate, teria mais condições de encarar o Thomas.

O outro parrudo avançou e conseguiu projetar o seu corpo contra o meu. Seu peso somado a sua força me jogaram contra o sofá antigo. Caí por trás do móvel. Com um sorriso no rosto, Thomas investiu me aplicando alguns socos. Posso garantir, sua mão era bem pesada. Diferente do Gary, que ainda tentava se recompor, Thomas praticou boxe na universidade, chegando a ganhar alguns títulos amadores na categoria.

Observei sua postura. O calcanhar do pé de trás estava ligeiramente levantado, o que concedia maior mobilidade, amenizando a desvantagem natural de seu peso e tamanho. Seus joelhos flexionados davam a Thomas estabilidade e força, conferindo ao quadril o peso ideal para o seu equilíbrio. Com a parte de baixo bem estável, a parte superior se encontrava relaxada e móvel. Os braços para cima cobriam o seu rosto, que se mantinha para baixo, bloqueando qualquer possível iniciativa. A distância das mãos para o rosto o ajudava a contra golpear com velocidade. Para furar esse bloqueio deveria ser criativo.

O comissário, mesmo com a sua arma pronta para o disparo, não desejava um banho de sangue. Thomas sabia que poderia me derrubar. Com os movimentos de perna me chamou para a luta. Conhecia muito bem o meu velho apartamento, principalmente suas debilidades. Entrei no jogo do Thomas e blefei até que ele recuasse, tentando se esquivar das minhas investidas. Sua guarda fechada lhe dava a segurança, mas se eu não podia investir por cima, tentei por baixo. Assim que ele chegou ao lugar exato pisei de forma contundente no taco corrido, que cedeu, levantando sua outra extremidade. Thomas, inadvertido, tropeçou, desfazendo sua guarda. Avancei rapidamente sobre ele desferindo alguns golpes. O grandalhão não conseguiu recompor sua defesa, caindo. Me projetei sobre ele e continuei desferindo os golpes até o patife perder a consciência.

Olhei sobre os ombros e encarei o comissário, que sem acreditar, continuou estático. Gary enfim levantou-se, e trôpego, caminhou em minha direção, desta vez, sem alguns dentes em sua boca. Tentou me acertar com um soco que se perdeu no vazio. Apliquei um soco na boca do estômago que o fez cuspir sangue. Ele ainda tentou reagir, mas com um direto o apaguei também. Havia sobrado apenas o comissário, que ainda sem acreditar, mantinha a arma apontada para mim.

— Você não vai atirar — Falei enquanto me aproximava.

— Não... — Neste momento o comissário abaixou sua arma.

— Tenho que ir agora. Sei que me tornarei um foragido e que todo o contingente policial desta cidade estará a minha procura, mas não posso encontrar respostas atrás das grades.

Puxei o distintivo e o coloquei nas mãos do comissário.

— A sua arma Rick. — Pediu o comissário.

— A pistola não entrego. — Respondi enquanto cuspia uma mistura de saliva com sangue no chão.

Deixei o prédio que morava, seguindo para o único lugar que poderia encontrar segurança.

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