The 2 Of Us - Livro 1. Duolog...

By FlaviaLobato

219K 16.6K 6.8K

Heather Colbert aprendeu a andar com suas próprias pernas e amadureceu da forma mais dura possível, perdendo... More

Inspirações
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Extra - Por Dan
Capítulo 18
Capítulo 2 - Por Stephan
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Extra - Por Dan
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Coluna: Voce ouviu?
Capítulo 40
Extra - Por Dan
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Extra - Por Dan
Extra - Por Adam
Capítulo 46
Capítulo 47 (FINAL)
Epílogo

Capítulo 5

6.4K 479 79
By FlaviaLobato

"O paraíso pode esperar, estamos apenas observando os céus
Desejando o melhor, mas esperando o pior."
- Forever Young (Alphaville)

Acordei cedo e me arrastei até o banheiro. Mal tive forças para tirar a roupa, então deixei a água fria do chuveiro cair e relaxar meus músculos. Tentei me apressar, mas a ressaca de sono era muito maior. Acabei me atrasando alguns minutos e quando cheguei à ConstruVille, Neville Tamer já estava em sua sala, alguns andares acima e deixara um recado para mim: "Sem açúcar." Pelo menos era sábado. Finalmente era sábado! Dia de meio expediente.

O dia foi muito menos agitado do que eu esperava, nada de reuniões urgentes ou de engravatados apressados. Nem mesmo Adam Gilbert apareceu naquele dia.

Enquanto a manhã passava, me perguntava se devia voltar esta noite à boate, pois o jeito como Adam agiu depois que ignorei sua investida me deixou um pouco surpresa e até desconfiada. Não era algo que eu iria esquecer, nem o ar sugestivo nem seu modo de agir. Sentia como se fosse irritá-lo se me visse ou ouvisse mais uma vez. Não queria que alguém que trabalhava nos mesmos meios que eu tivesse antipatia por mim. Podia ser uma impressão equivocada, mas era melhor prevenir do que remediar.

Sempre fui elogiada pela minha simpatia e pelo sorriso fácil, nunca dei motivos para ser mal falada, como tratar alguém de forma rude ou fechar a cara para pessoas que não conhecia. Adam Gilbert não seria o primeiro a ter! Concluí que era melhor dar seu tempo e esperar para ver como as coisas iriam se desenrolar.

Meio-dia, o Sol castigava as pobres almas que circulavam pela calçada. O verão poderia ser bastante intenso, principalmente quando na metade, mas não chegava a atrapalhar os planos de quem já estava acostumado. Harriet e eu iríamos almoçar em um restaurante perto do prédio da empresa. Não era um lugar luxuoso ou caro, apenas uma simples cantina italiana, mas muito confortável e acolhedora e, ainda tinha o principal, com pratos deliciosos.

Andamos as duas quadras em silêncio, concentradas em chegar ao destino e poder aliviar um pouco nossas tensões e calor, com uma bela massa e um vinho qualquer. Sábado era o dia perfeito para comer besteira, tanto que era o único dia em que não fazíamos lanches durante o expediente, pois estávamos ansiosas pelas milhares calorias do almoço. Quase toda semana era um lugar diferente, só não sempre, porque não era necessário gastar com táxi para o outro lado da cidade quando os restaurantes tinham um cardápio imenso. Já frequentamos de fast foods a rodízios de churrasco, mas nada parecia superar as massas.

Macarrão ao alho e óleo era o prato do dia, disse a garçonete. Enquanto esperávamos nossa refeição, Harriet e eu jogávamos conversa fora, falando sobre o último cara com quem ela havia saído.

- E quando chegamos ao bar, ele disse que tinha esquecido a carteira em casa! Vê se pode isso, Heather! - Ela suspirou, irritada, enquanto meneava a cabeça negativamente. - Com certeza, todos os meus dedos são podres.

Ri e quase me engasguei com a água que bebia. Harriet, mesmo irritada, era uma figura. Geralmente ela intimidava as pessoas ao seu redor, até Neville Tamer, mas para mim ela era uma ótima pessoa, um pouco esquentada, mas se soubesse medir suas palavras, qualquer um poderia se tornar uma companhia agradável para ela. Inclusive o tatuado com cara de suspeito, porém charmoso com quem ela saiu.

- Valeu a pena?


Ela abriu a boca demonstrando incredulidade.


- Heather! Faça-me o favor, assim você me ofende!

- E então, o que você fez?


Perguntei, tentando, fracassadamente, conter meu riso.

- Eu desci daquela moto imunda e barulhenta e voltei para casa a pé.

Depois do instante silencioso, rompi em gargalhadas, deixando-a mais frustrada do que antes. Muitas vezes, eu não conseguia acreditar nas histórias no momento em que ela me contava, porque Harriet me dizia coisas que nem conseguia me imaginar fazendo se estivesse em seu lugar. Mas, ela era ela e o que viesse nunca deveria ser uma surpresa, de Harriet poderia se esperar as maiores loucuras.

- Des-desculpa, Harriet! Sabe como fico quando me conta essas coisas, é até difícil imaginar uma cena séria. - Respirei fundo, recuperando o controle. - Você é louca...

- E depois ainda quer reclamar de mim. - Ela bufou, cruzando os braços à frente do corpo. - Para você é engraçado, amiga da onça, mas para mim, é uma frustração atrás da outra!

Observei seu semblante com mais ternura, me deixando ser tocada pelo seu drama. A questão é que ela cansava muito rápido dos homens, mas não desistia deles e acabava dando atenção a muitos que não mereciam.


- Você não tem dedo podre, só falta prestar atenção aos homens certos.

- Pode ser, mas você compensa nesse quesito, não é?

Fiquei tensa, já imaginando o rumo da conversa, porque há muito tempo não aparecia alguém diferente para mim e, quando isso aconteceu, ela presenciou.

- Do que você está falando?


Era mais fácil escapar de seu faro fingindo uma leve amnésia. Geralmente, Harriet desistia e já puxava outro assunto.

- Não me venha com essa, amiga, sabe que não consegue mais me pegar nessa. Vou dizer para você não gastar suas energias: eu vi!

Geralmente dava certo.


- O quê?

- "O quê" o que, Heather?

Ela sempre fazia isso. Sempre sabia como arrancar uma informação, principalmente de mim, pois também sabia que eu não gostava de desentendimentos ou de falsas notícias.

- O que você viu, Harriet?


Perguntei um pouco mais séria do que o normal, acabando por delatar que algo havia realmente acontecido.

- Você e Adam Gilbert. O carrão. Coisas do tipo... - Ela deu de ombros, sorrindo.

Àquela altura eu já não tinha saída, mas ainda não queria ter que explicar a situação toda, principalmente porque eu não sabia que rumo seguiria. Apenas por isso, resolvi fingir que não fazia ideia do que ela falava.

- O quê? - Franzi o cenho, muito dissimulada. - Eu não sei o que acha que vê por aí, mas, talvez, depois de tanta "frustração", precise de uma ajuda profissional.

- Ah, eu também acho.


Ela concordou com veemência, me surpreendendo. Quase não acreditei que minha tentativa deu certo e agradeci mentalmente a tudo por não me deixar à mercê da entidade mais voraz por uma boa fofoca.

- Que bom que concorda, Harriet.

Pus a mão no peito de forma dramática, demonstrando agradecimento à sua compreensão. Não acreditava que ela me fazia entrar nesse tipo de jogo infantil que existia entre nós duas quando eu não queria mesmo comentar algo. A Inquisição era um simples interrogatório em comparação com lado fofoqueiro e curioso de Harriet.

- Eu realmente preciso de uma ajuda profissional para entender essas suas loucuras, Heather! - Ela afirmou, ainda mais convicta do que antes, eliminando todas as minhas tentativas de uma só vez. - Ninguém me disse, amiga. Eu vi, com esses olhos aqui.

Suspirei, sabendo que não daria em nada.


- Sério? O que você acha, Harriet?

Mesmo me conhecendo e sabendo que aquele era o momento em que ela dizia "Ok, desculpe-me. Não vou insistir", Harriet seguia firme e forte.

- Sério, Heather. Eu acho que você devia me dizer o que está acontecendo. Sabe, não acho que seja justo você esconder o jogo como se eu fosse uma estranha. - Pequena pausa para a garçonete nos servir. A moça colocou nossos pratos sobre a mesa, em seguida, chegou um rapaz para servir o vinho. Tudo isso com Harriet me observando. - Achava que você confiava em mim, mas...

Harriet não completou, apenas meneou negativamente sua cabeça, só faltou chorar. Ela sabia como me convencer e, de certo ponto de vista, tinha razão. Desde nosso primeiro encontro, nos tornamos grandes amigas. Harriet era a irmã mais velha que eu não tive e eu confiava nela cegamente se me pedisse, apesar de que, se não comentasse sobre um evento incomum e não muito importante, a fazia desacreditar. Eu só precisava de um jeito discreto e que tornasse o ocorrido desinteressante para sair dessa.

- Harriet! - Ela me fitou com um olhar acusador. - Eu só não quero falar sobre isso. Não aconteceu nada e se vier a acontecer você será a primeira pessoa a saber. Adam ouviu nossa conversa, - Harriet arregalou os olhos verde-escuros, demonstrando o mesmo choque que senti no momento em que soube. - não toda, mas a parte em que falávamos sobre eu conseguir um dinheiro a mais.

- E...?


Com sucesso, consegui concentrar sua atenção em uma parte, em seguida era só matar a curiosidade e dar de ombros.

- E ele me ofereceu uma proposta. Uma vaga de garçonete em um negócio recém-aberto, nada de mais. A diferença é que servirei pessoas ricas e mais educadas.

Era o que eu esperava, pelo menos.

Tudo que disse era verdade, mas não com detalhes, pois fiquei receosa de que Harriet mudasse seu conceito a meu respeito ou até chegasse a pensar que eu estava fazendo algo perigoso. Eu trabalharia em uma casa noturna, com prostitutas e com tudo o que alguém que buscava prazeres mais libertinos tinha direito. Eu mesma desconfiaria de uma conversa dessas, mas a questão no momento era conformá-la.

Harriet pareceu surpresa, assim como eu havia ficado.


- Nossa. - Ela arqueou as sobrancelhas. - Um tanto inesperado.

- Então!


Concordei enquanto relembrava os fatos. Harriet pareceu um pouco tensa, me fazendo concluir que era a hora de cortar aquele assunto.

- Heather, presta atenção... Só não vai por ele. Digo, não cai na rede desse cara, ele me parece estranho ou passado demais. - Suspirou, dando de ombros, mas ainda me observando com seriedade. - É um instinto que me deixou incomodada com todo aquele jeito confiante, mas mesmo que eu esteja errada, não deixa isso de lado. Eu só não quero que você se machuque, Ok?

Apertei sua mão a fim de assegurar que eu levaria isso comigo. Eu realmente consideraria seu conselho, principalmente após o clima estranho na noite anterior.

- Não se preocupe.


Harriet sorriu e, pela primeira vez, consegui passar inteira por todas as suas perguntas.

- Vamos ao ponto principal, Heath. Eu fiquei preocupada com você. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, você parece tão calma. Neste exato momento, sinto que se não explodir, vai ter um ataque nervoso.

Esperei que Harriet continuasse, mas ela ficou calada. Tentei não ser grosseira ao responder algo que ainda não me sentia à vontade para falar, diferente da conversa sobre Adam. Todos apenas queriam saber como eu estava após o falecimento da minha mãe e, até seria útil se pudesse mudar alguma coisa, mas aquela sensação cabia apenas a mim, lidar.


- Não é porque você não viu que não aconteceu, Harriet.

- Você sabe que pode contar comigo e que não precisa esconder nada. - Seu olhar, cheio de compreensão, parecia com tantos outros que me cercavam, sendo um tanto incômodo pela falsa compreensão. Afinal, ninguém saberia como era estar em meu lugar, mesmo vivendo experiências parecidas, nunca seriam as mesmas.

- As pessoas lidam de jeitos diferentes com seus problemas. Eu só não quero falar sobre isso, não vai adiantar mexer na ferida. Apenas desejo recomeçar a minha vida de um jeito menos doloroso, Harriet.

Ela me examinou por segundos frustrantes para nós duas, onde eu não queria continuar falando sobre isso e ela não queria ficar de fora da minha bolha. Harriet consentiu lentamente.


- Tudo bem.

Tentei amenizar o clima relembrado a refeição maravilhosa à nossa frente, mesmo porque não queria estragar os momentos maravilhosos que tinha com alguém que era tão importante para mim, praticamente como uma irmã.


- Agora, por favor, vamos nos concentrar nesse macarrão. Essa espera está me torturando!


****

Uma tarde monótona e uma grande vontade de comer doce. Combinação perigosa, mas irresistível, principalmente quando não se tem mais nada de importante para fazer.

Explorei o armário da cozinha em busca de ingredientes aleatórios e encontrei frutas enlatadas. Lembrei de uma receita muito gostosa de creme suíço que aprendi com Wanda, que era uma cozinheira de mão cheia. Ocupei minha tarde cozinhando, cortando frutas e por fim, reservando o creme, ansiosa para degustar a sobremesa.


Achei que encerraria meu dia engordando em frente a TV, mas uma batida na porta mudou meus planos.


Abri a porta e já me sentia mais animada ao ver quem me encarava com um belíssimo sorriso no rosto. Wanda abria seus braços para me receber em um carinhoso abraço, onde eu sabia que poderia recuperar toda a força perdida.

- Heather! Como você está, meu bem?

Uma pergunta tão simples se transformava em algo tão complexo de se responder. Era difícil me encaixar em um grupo, minhas emoções estavam mais confusas do que nunca e eu precisava lidar com o assunto. Toda vez que pensava em minha mãe era como se prendesse a respiração, pois aquele maldito vazio estava lá. Eu não queria tê-la como algo difícil de se falar, nem como uma dor, mas sim como uma daquelas lembranças que nos fazem sorrir só de pensar.

- Não sei bem, Wan. Ainda estou tentando lidar com essa situação, é complicado mesmo depois de um mês.

Wanda me abraçou mais forte e afagou carinhosamente minha cabeça, me trazendo um conforto materno que eu não tinha há meses. A guiei para dentro do apartamento e nos acomodamos no longo sofá da sala.

- Heather, porque você não me ligou? - Seu tom de voz materno sempre se aplicava comigo, principalmente porque cresci sob seus cuidados também.

Suspirei, tentando mais uma vez ao longo do dia, não parecer grossa em minhas palavras mais do que verdadeiras.


- Por favor, não me leve a mal. Eu sei de todo o apoio que me dão, mas, ainda assim, eu preciso do meu tempo. - Ela não parecia muito feliz com minha justificativa, talvez porque eu não liguei para ninguém. - Além do mais, não queria atrapalhar a vida de ninguém, todos têm seus problemas para resolver e, até agora, estou dando conta do meu.

Seu olhar era suave como o mais doce mel e, o calor humano que Wanda transmitia era inigualável. Era óbvio o quanto eu podia contar com ela, como ela viria correndo se eu precisasse e tantas outras coisas, mas eu realmente precisava do meu espaço e lidar com tudo da minha forma, sem ninguém a tentar me segurar pela mão e agindo como se eu nunca fosse me recuperar totalmente. Eu precisava e deveria.

- Claro, meu bem! Você é como uma segunda filha para mim e eu me preocupo, Heather. Você sabe que pode contar comigo para o que for que eu sempre irei apoiá-la, mas fica complicado fazer algo quando você se isola. Sei como é difícil pra você, eu só não quero que se afaste.

- Eu não vou, Wan. - Como eu poderia fazer isso com as poucas pessoas que me restaram?

- Então, pelo menos, me ligue pra dizer que você está bem, Ok?

- Claro.

Rimos juntas. Como alguém podia ser tão amável e querida?


Wanda e minha mãe eram amigas desde sempre. Cresci com seus filhos, Patrice e Lil, e a conhecia quase como eles, sabia que ela jamais teria coragem de fazer qualquer maldade e que era a pessoa mais confiável que tinha naquele momento. Mas àquela altura já tinha decidido que não compartilharia com ninguém novidades sobre minha carreira noturna. Isto é, se ela ainda fosse acontecer.

- E então? O que temos pra hoje?

Wanda olhou para meu avental florido manchado de calda de pêssego.


- Creme suíço.


Falei toda orgulhosa. A receita era dela e, com uma professora dessas, com certeza estaria delicioso. Wanda sorriu e bateu palmas.


- Mal posso esperar. Quais frutas você usou?

Sorri cinicamente, fazendo de suas palavras as minhas.

- Pêssego e abacaxi. Sabe, Wanda, os sabores têm que se completar e misturar, sem anular a singularidade de cada um e ainda assim, estar sem igual.

Ela ficou orgulhosa, mesmo sabendo que era toda uma adaptação do seu ensinamento, e eu suspeitava que era por me ver melhor. Após algumas conversas leves, finalmente pudemos testar o creme suíço. Meu celular tocou enquanto Wanda e eu experimentávamos a sobremesa e o número não estava registrado. Até estranhei, então pedi licença e fui até meu quarto para atender.

- Heather Colbert.

- Olá, srta. Colbert.


Aquela voz. Aquele mesmo sotaque suave e arrastado. Aquela mesma voz grave a melódica.

- Adam?


Perguntei em um tom mais surpreso do que desejava transparecer.


Ouvi uma leve risada, totalmente descontraída.


- Não esperava que reconhecesse tão rápido.

Fiquei desconcertada e me irritei por estar em tal situação, ainda mais quando as últimas lembranças que tinha dele não era as mais animadas.


- Hum. O que deseja?

- Como você está? - Era clara a sua tática de desconversar para iniciar algum rodeio.


- Bem, eu acho. Você poderia ser mais direto, Sr. Gilbert?


Perguntei sorrindo. Não, com certeza ele não ligara para perguntar se eu estava bem.


- Adam, por favor. - Conseguia discernir o sorriso em sua voz, imaginando como ele poderia parecer naquele momento.

- Então, Adam, seria mais conveniente se fosse direto.


- Minha preocupação é verdadeira, não vejo mal algum em ligar para perguntar como está. Queria saber porque insiste em cobrar segundas intenções, Heather.

- Talvez por você ser sugestivo o tempo todo, Adam.


Comentei algo que ele não poderia negar, graças a falha da sutileza em suas palavras ambíguas. Ambos sabíamos que era assim.

- Dessa vez você tem uma justificativa. Fico satisfeito em saber que você está bem, mas liguei para saber se devo aguardar sua chegada esta noite.

Franzi o cenho, esperando qualquer coisa menos um questionamento desses. Estava ficando confusa com sua forma de agir e a mudança súbita que vi, então a repetição disso. Quanto uma pessoa poderia variar num intervalo de vinte e quatro horas?


- E deveria?


- Como não? - Suspirei. Ainda dizem que mulheres são complicadas.


- Eu... Não sei, de repente você poderia ter mudado de ideia. - Tal como o humor.


O que eu poderia dizer? "Ah, eu, agindo de forma egocêntrica, achei que ficara chateado por levar um fora logo de mim, afinal, quem não ficaria?"

- Olivia terminou o vestido, mas faz questão de que você experimente antes. Você pode ir mais cedo? Angel também precisa mostrar a você algumas coisas.

- Claro. - Concordei de prontidão.


- Venha às nove, por favor. - Sua voz tinha aquele tom de chefe, não chegando a separar e colocar "cada um em seu lugar".

- Estarei lá.


- Ótimo. Até mais.


Adam parecia empolgado, pelo menos o suficiente para me convencer de que o acontecera na noite passada, havia sido descartado e desconsiderado no mesmo instante. Era confuso.

Voltei para a cozinha ainda pensando na ligação. Nada de mais, certo? Certo, ele só queria saber se precisaria chamar outra garota ou se eu aceitava a proposta. E eu aceitei.


Wanda estava sentada em uma das cadeiras ao redor do balcão mais que distraída para notar minha presença, então apenas voltei ao meu lugar e peguei minha parte da sobremesa.

- Quem era? - Ela perguntou sem realmente ligar.


- Apenas um amigo. - Tentei manter uma postura menos tensa para não dar a entender que o termo que utilizei não significava nada de mais. Na verdade, significava muito menos, mas Wanda poderia desconfiar de que se tratava de algum pretendente ou algo do tipo.

Eu estava escondendo o jogo das pessoas mais próximas que tinha naquele momento pelo puro e simples receio de ser julgada, o que me levava a pensar que, ou o que estava fazendo era errado ou que eu era uma boba muito discreta. Sentia menos culpa levando a segunda sentença em conta.

- Amigo, hum?


Wanda me lançou aquele olhar constante de Harriet. O olhar "eu sei o que você está aprontando", mesmo não sabendo.


- Sim, Wan. Eu tenho uma ampla vida social, sabia?


- Na verdade, eu não sabia. Você nunca foi de andar por aí gargalhando com pessoas aleatórias da sua idade.

Ri baixo e acabei derrubando um pouco do creme no balcão.


- Pelos céus, Wanda! Assim você me ofende. Não é porque eu não saio gargalhando por aí que eu seja anti social.

- Não lembro de ter falado que era. - Ela deu de ombros, sorrindo para mim. O pior é que ela tinha um bom ponto com seu comentário, meu ciclo mais próximo se tratava do meu ex-namorado, meu primo é uma amiga de infância. O resto foi apenas passageiro.

A maioria das pessoas não passava no crivo que minha vida impunha para definir quem ficaria para fazer valer a pena.

- Tudo bem.

Lancei meu melhor olhar de coitada e ganhei o melhor abraço na melhor hora. Ficava muito feliz por ela ser afetuosa, pois apesar de que o meu jeito não fosse dos mais carinhosos, sempre gostei de ser mimada, como a boa filha mais nova.Wanda teve que ir não muito tempo depois, sobrando tempo suficiente para muito tédio antes de ir a "luta". Pensei bem antes de escolher a roupa, não queria ficar escondida debaixo de muito pano, como uma freira, mas também não queria sugestionar coisas que não faria. Revirei o guarda-roupa e encontrei um vestido liso azul com tela, tinha o comprimento perfeito para alguns que apareceria numa boate a trabalho. Calcei saltos médios e investi em uma maquiagem leve, com o contraste de um batom vermelho-cereja.Olhei a figura no espelho e adorei o que vi. Não lembrava há quanto tempo não me arrumava para sair de tal modo, mas era maravilhoso ter aquela sensação de ser poderosa. Nunca deixei de saber meu valor, mas acabei deixando a vaidade e as saideiras de lado quando a doença se manifestou em minha mãe. Eu não tinha tempo para diversões desnecessárias quando precisava cuidar para que ela tomasse os remédios nas horas certas.Percebi o quanto havia mudado com os acontecimentos recentes, que aquela garota despreocupada e vaidosa de alguns meses atrás foi de um extremo ao outro, quase esquecendo o significado de viver. O amadurecimento radical veio num tapa só, quando comecei a me dar conta dos fatos que viviam camuflados, bem debaixo do meu nariz. Infelizmente, aquela Heather precisou dar espaço para uma não tão leve.Respirei fundo diante do meu reflexo, me dando conta de que o mundo era meu e logo o reivindicaria por direito. Nada poderia interferir em minha vida novamente, eu precisava voltar a me colocar no plano principal, não como a coadjuvante de quem todos precisavam quando faltava algum apoio. Essa rotina era cansativo, desgastava quem eu era e não me merecia.Vesti meu sobretudo e saí de casa, tendo a confiança como escudo e a beleza como aliada.

.

...
.

r e v i s ã o: @Crazy_Nutelleira

Olá minha gente! Como estão? E o que acharam do capítulo?

Huuumm, Heather está decidida a buscar sua felicidade novamente, resta nos saber como ela encontrará isso!

O que acham que pode vir a seguir? Acreditem, muitas surpresinhas ainda se escondem hehehe

Espero que estejam gostando, mas saibam que vamos conhecer mais gente...

Vejo vocês nos comentários!
Até a próxima ;**

Continue Reading

You'll Also Like

1.4M 92K 131
🌊 𝙐𝙢𝙖 𝙘𝙤𝙞𝙨𝙖 𝙚́ 𝙘𝙚𝙧𝙩𝙖 𝙚́ 𝙦𝙪𝙚 𝙚𝙪 𝙨𝙤 𝙥𝙚𝙣𝙨𝙤 𝙣𝙖 𝙜𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙉𝙖̃𝙤 𝙩𝙚𝙢 𝙢𝙖𝙞𝙨 𝙘𝙤𝙢𝙤 𝙣𝙚𝙜𝙖𝙧 𝙀𝙣𝙩𝙖̃𝙤 𝙘𝙝𝙚𝙜�...
905K 96.5K 31
Em um mundo onde humanos são capazes de estabelecer laços com os dragões, grandes aventuras são vividas por 4 jovens que estão participando de um tor...
3.3M 215K 75
Scarlet Willians foi encontrada ainda recém-nascida em frente a um colégio interno para garotas e cresceu sem conhecer muito sobre o mundo que a cerc...