The 2 Of Us - Livro 1. Duolog...

By FlaviaLobato

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Heather Colbert aprendeu a andar com suas próprias pernas e amadureceu da forma mais dura possível, perdendo... More

Inspirações
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Extra - Por Dan
Capítulo 18
Capítulo 2 - Por Stephan
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Extra - Por Dan
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Coluna: Voce ouviu?
Capítulo 40
Extra - Por Dan
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Extra - Por Dan
Extra - Por Adam
Capítulo 46
Capítulo 47 (FINAL)
Epílogo

Capítulo 3

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By FlaviaLobato

"Ela tem a habilidade de tomar tudo o que ela vê."
- Invisible Touch (Genesis)

- O que você vai fazer?

Harriet me olhava com certa preocupação, em parte desnecessária. E esse mesmo olhar entregava sua falta de sono na noite anterior. Havia se passado um mês desde que comecei a viver sozinha no apartamento e, ainda assim, ela garantia todos os dias que eu estivesse bem. Principalmente, com minha tentativa de equilibrar as despesas que tornavam-se desnecessárias por eu estar sozinha. Ainda assim, não conseguia sair do apartamento.

Não era como se eu estivesse falida, mas meu salário só era ótimo quando meu irmão ainda pagava uma boa parte das despesas, agora já não é suficiente. Dispensei qualquer ajuda que ele viesse a oferecer. Não era justo eu viver a base do seu dinheiro enquanto estivesse cheia de saúde e válida para trabalhar. Não era justo explorá-lo em memória de nossa mãe, na verdade era muito baixo, e meu orgulho não me permitia viver assim.

- Cortar alguns gastos, talvez... Ainda não sei. Eu não costumo gastar com coisas além do necessário.

- Será? Acho que sempre tem uma coisa ou outra, no caso você está tentando manter algo... Não essencial. Por onde vai começar?

Harriet até podia estar certa, mas eu não conseguiria sair do apartamento sem conversar com Bruce sobre o destino do lugar que pertencia a nós dois por direito. E a maior parte da minha vida fora toda lá, onde tinha lembranças de minha família. Por isso ainda não pensava em deixar o apartamento para trás. Seguir em frente não significa abandonar o passado, significa olhar para frente sem esquecer o que já aconteceu e sem permitir que as lembranças interferissem no futuro.

Antes que pudesse respondê-la, Neville Tamer entrou como um furacão pela porta, assustando-me, enquanto Harriet ajeitava-se apressadamente. Antes de esquecer totalmente as boas maneiras, Sr. Tamer parou para nos cumprimentar.

- Bom dia, meninas...- Ele desacelerou o ritmo enquanto seu olhar se amansava sobre mim. - Heather, como você está?

Todos faziam a mesma pergunta e o que mais me tocava era não ter uma resposta. Eu não estava maravilhosamente bem, pelo Universo! Mas também não estava me descabelando ou chorando pelos cantos, mesmo sabendo que poderia ser julgada como insensível ou qualquer outra besteira equivocada. Infelizmente eu não poderia fazer nada, todas as noites eu pedia forças para superar e isso me fortalecia cada vez mais, eu deveria agradecer por não desabar.

Antes de responder, inspirei com cuidado. Precisava escolher as palavras certas para não ficar de mal com meu patrão ou com minha consciência. Profissionalismo.

- Estou melhor, e o senhor? Deseja algo?

Pude perceber que o deixei um tanto constrangido. Pelo menos ele não iria mais tocar no assunto e, consequentemente, Harriet também não, pois estava mais abelhuda que o normal.

- Hã... Sim, providencie um café expresso para mim.

- Sem açúcar. - Confirmei, como se nada de mais se passasse.

- Isso.

Sr. Tamer dizia que não se fazia café como o meu, e que quando sua secretária pessoal tentava, não conseguia equilibrar os ingredientes. Portanto, a primeira coisa que pedia era o seu café, logo que entrava no prédio.

- Deseja mais alguma coisa?

- Se precisar, avisarei. - Sr. Tamer já estava de saída quando lembrou-se - Ah! Confirme a reunião com Adam Gilbert. Vou pedir para Dara lhe passar o número.

- Qual o horário, Senhor?

- Nove e quinze.

Assenti. Ele foi em direção aos elevadores e em menos de um minuto Neville Tamer sumiu como apareceu.

Harriet me lançou um olhar desconfiado que ignorei, deixando um silêncio desconfortável e nos fazendo voltar ao trabalho. Assim que um arquiteto entrou no prédio, eu saí do balcão de mármore para preparar o café expresso - sem açúcar - do Senhor Tamer.

Quando voltei, Harriet acessava distraidamente um site de moda, enquanto isso aproveitei para ligar para Dara, que estava três andares acima. A secretária de Neville me atendeu no primeiro toque.

- Dara, é Heather na linha. Eu preciso do número de Adam Gilbert para confirmar a reunião.

- Tenho uma ficha dele, irei mandá-lo para o seu e-mail.

- Ok. Obrigada.

- Por nada. Sinceramente, estou quase pedindo para Neville me mandar para a recepção.

- Então me avise quando acontecer, não posso esquecer de cobrar o aumento.

Nós duas rimos antes de que eu desligasse o telefone. Esperei alguns segundos até chegar a notificação do e-mail. Abri meu correio eletrônico e chequei as informações antes de discar o número. A ficha continha o endereço, o número e o e-mail, além de uma foto de Adam Gilbert.

Seus olhos verdes pareciam enxergar através da lente do fotógrafo, aquele mesmo olhar penetrante.

A foto registrou apenas seu busto, mas era suficiente para arrancar muitos suspiros anelos. Sua expressão séria e profissional intimidava de certa forma, iria me intimidar se fizéssemos algum tipo de negociação. Seu cabelo negro estava um pouco mais curto do que a última vez que nos vimos, quase um corte militar, e a boca. Ah, a boca... Os cantos levemente levantados de sua boca rosada sugeria um mínimo sorriso que infelizmente não aparecia.

Disquei o número e esperei que atendesse.

Chamou o primeiro toque. Chamou o segundo. Chamou o terceiro e até então... Nada.

- Adam Gilbert.

A voz. Estremeci ao ouvir uma voz grave e firme. Tentei me recompor, mas sentia vergonha de falar, reagindo bem da forma que previa: intimidada.

- Alô? - Ele falou com ainda mais firmeza diante de meu silêncio.

- Bom dia, Sr. Gilbert. É Heather Colbert, da ConstruVille Inc.

Fiquei orgulhosa do meu tom de voz, um pouco falhado, mas, ainda assim, consegui parecer formal, a menos que Adam Gilbert fosse do tipo que analisava cada letra como um predador que analisa cada detalhe de sua presa. Eu poderia escrever contos com facilidade, dependendo da minha imaginação, já que para fantasiar tanto sobre alguém, seria necessário uma mente fértil como a minha.

- Ah, sim. - Adam interrompeu-me, falando como se pudesse realmente lembrar de mim, de forma que me surpreendeu.

- Estou ligando para confirmar sua reunião de hoje com Neville Tamer, às nove e quinze da manhã.

Adam riu levemente. Qual a graça?

- Obrigado por me lembrar, Srta. Colbert.

- É o meu trabalho.

Sorri internamente, pensando o quão útil era o serviço que desempenhava. Bom, pelo menos eu não estava carregando documentos.

- Às nove e quinze, certo? - A voz grave me despertou.

- Sim.

- Estarei presente no horário. Mais uma vez, obrigado.

E então encerrou a ligação.

Um silêncio mental se formou e imediatamente foi substituído por uma enxurrada de perguntas desnecessárias.

Quantas mulheres correm atrás dele? Quantas ligam e quantas têm seus corações destruídos? Não que eu quisesse ser mais uma, mas será que é estranho isso? Eu o acordei ou a voz dele era sempre grave e arrastada?

Fixei meu olhar em um ponto qualquer à minha frente enquanto refletia sobre o homem e em poucos segundos de distração Harriet já me cobrava algo com urgência.

- Heather, você não pode ligar daqui para esses seus namoradinhos.

- O quê? - Perguntei, ainda distraída.

- Que cara é essa? Ei menina, acorda!

Harriet estalava os dedos de forma irritada. Está para nascer uma pessoa mais invocada.

- Desculpe Senhora, eu me distraí. - Falo debochando de Harriet, a fazendo revirar os olhos.

- Ok, Ok. Me ajude aqui. Agende essa revisão da obra em que a equipe de Ed Wright está trabalhando. Os O'Connor querem acompanhar a obra e precisam ter permissão, você sabe como Ed é.

Prontamente realizei minha parte e quando terminei, já tinha mais serviço esperando. Atendi telefonemas e repassei recados. O expediente acabara de começar e já estávamos super atarefadas.

Quando tivemos uma pequena pausa, Harriet aproveitou para retomar o assunto do dia.

- Você pode arranjar algo temporário, como... Sei lá, garçonete?

No mesmo momento as portas do hall de entrada se abriram e Adam Gilbert entrou calmamente, indo direto ao longo sofá branco na área de espera. As solas de seus sapatos faziam um barulho quase inaudível contra o piso de mármore, se não fosse pelo silêncio que se instaurou no momento de sua entrada. Seu andar era leve, seus passos eram firmes e o olhar despreocupado observava o ambiente. Ele parecia tão calmo e à vontade com o espaço e consigo que chegava a ser hipnotizante.

Adam Gilbert chegara quinze minutos antes da hora marcada. Mesmo parecendo alguém mais largado, pelo visto, era um homem responsável.

Quando Adam sentou, emergi do balcão, pronta para recepcioná-lo e pelo canto do olho, vi que Harriet o observava com extrema atenção.

Quando cheguei ao seu lado, Adam estica-se para pegar uma revista ilustrativa de construções na mesa de centro de vidro. A manga do terno escuro marcava seus braços delineando seu porte físico interessante, no pulso direito havia um relógio que parecia ser mais caro do que meu apartamento e abaixo da pulseira de couro preto era possível ver um desenho escuro. Uma tatuagem. Prestei atenção, tentando adivinhar o que era, antes de interrompê-lo, dando alguns segundos para não ser inconveniente.

- Com licença, Senhor.

Adam levantou os olhos e naquele momento minhas pernas fraquejaram. Pensei em me agachar atrás do vaso de plantas e pedir para que ele não me olhasse daquele jeito, sentia-me nua, despida pelos grandes olhos verdes e invasivos de Adam Gilbert. Era estranhamente incômodo.

- Senhorita Colbert.- Soou um pouco surpreso. É, eu ainda trabalho aqui.

O que eu estava pensando? Minha nossa, talvez os pensamentos afoitos tenham distorcido meu modo de ver as coisas. Ou não. Ele apenas me olhou. Ele só me olhou porque eu o chamei. Apenas isso. Mas, por que eu sentia que havia algo além do olhar praticamente cínico e do sorriso nocivo?

- Gostaria de beber algo?

Seus olhos brilhavam. Com certeza não era algo da minha cabeça. Aquele olhar máculo e voraz que qualquer mulher, mesmo com pouca experiência em relação aos homens, conseguiria identificar, eu identifiquei. Ele deu-me um pequeno sorriso.

- Água, por favor.

Retirei-me apressadamente e quando virei dei de cara com Harriet sorrindo maliciosamente. Sabendo que ela nunca teria jeito, passei direto, em direção ao bebedouro e ignorando suas tentativas de especulação pelo olhar. Não sabia se ele preferiria água natural ou gelada, então foi um pouco das duas, peguei a pequena bandeja prateada e coloquei o copo em cima.

Voltei à Adam Gilbert, torcendo para não derrubar a bandeja, então me inclinei devagar e lhe entreguei o copo com água. Adam bebeu rapidamente e seu pomo de adão vibrava levemente a cada gole, seus lábios ficaram mais úmidos e mais rosados.

- Aqui está.

- O Senhor deseja mais alguma coisa?

- Não, não. Obrigado.

Voltei para trás do balcão e me alinhei em minha cadeira novamente, seu estofado macio me acolheu como eu precisava, me confortando e dizendo que a tremedeira passaria, diferente de Harriet que lançava olhares que denunciavam minhas reações.

- O que foi? - Sussurrei para ela.

- O que? - Fingiu que ia sorrir, mas apertou os lábios fazendo pouco de mim.

- Por que você está me olhando assim? - Perguntei impaciente.

- Assim como, senhorita Líbido? - Arrggh!

- Harriet!

- Eu percebi seu jeito. Perto do gatão ali. - Harriet apontou com queixo.

Não estava preocupada com suas loucuras, eu estava preocupada com a sua discrição. O lugar estava silencioso o suficiente para Adam Gilbert ouvir se não murmurarmos, e ele não podia ver ou ouvir uma coisa dessas.

Caso ele ouvisse uma confissão carregada sobre o quanto eu adoraria observar melhor seus trejeitos, eu seria processada?

- Você está ficando louca.

- Certeza de que sou eu? - Por que ela tinha que gostar tanto de me desconcertar?

- Absoluta.

- Oh, Heather! Por favor!

A loira sorria como se eu fosse uma criança mentirosa.

- Ele é muito imponente. Isso é intimidante, ok? Por favor, pare de pensar bobagem!

- Hum... - Harriet fingiu considerar a ideia. - Tudo bem.

Por alguns minutos ficamos caladas. Eu estava me preparando para as próximas provocações de Harriet, mas ela era uma pessoa agitada, não parava de pensar e falar aleatoriamente.

- E você pensou no que eu disse?

- Sobre ser garçonete?

- Sim.

- Acho que vou começar a considerar algumas ideias suas. Eu preciso de dinheiro e acho que já seria o suficiente. Quanto você acha que uma garçonete ganha?

- Não sei, mas você ganharia muitas gorjetas. É simpática e bonita.

- E teria que suportar bêbados e cantadas sem fazer nada.

Harriet riu.

- Pare de reclamar! O que vier é lucro, meu bem.

Alguns minutos depois, Neville Tamer pediu que Adam Gilbert fosse direcionado a sala de reuniões, Harriet o levou enquanto eu formatava alguns documentos e foi melhor assim. Havia certa tensão e eu tinha mais do que me preocupar com a presença acentuada que ele parecia gostar de impor, além de manter a compostura na frente de um homem que só de sorrir me provocava reações estranhas.

No final do expediente, ainda havia muitos funcionários na empresa, mas fomos liberadas sem problemas já que, fora do horário comercial, quase não tínhamos o que fazer. Harriet preferiu ficar para adiantar alguns serviços que ela havia deixado pendente. Nos despedimos e antes de sair rumo ao ponto de ônibus que ficava no outro quarteirão, ouvi alguém me chamar. Uma voz grave e despreocupada.

- Senhorita Colbert!

Eu estava parada, esperando, na frente das portas do prédio enquanto Adam Gilbert caminhava em minha direção.

- Desculpe, mas já estou de saída. Se precisar de algo, a Senhorita Smith pode ajudá-lo.

- Não, meu assunto é com você. Poderíamos conversar?

Olhei-o meio surpresa e meio sem saber o que dizer, e ele apenas sorriu de modo convidativo. Eu poderia simplesmente aceitar com facilidade, mas a desconfiança que carregava desde sempre deixou-me com um pé atrás. Eu não sabia explicar corretamente o que se passava quando olhava para Adam, já que, mesmo me atraindo com sua aparência, me fazia querer manter a distância, pelo seu olhar.

- Sobre?

Foi uma pergunta instintiva, típica de uma pessoa desconfiada.

- Desculpe-me, não me entenda mal, mas eu acabei escutando sua conversa com a outra secretária. Harriet, certo?

Suei frio e fiquei um tanto constrangida. "Perdão, Senhorita Colbert, mas não tenho interesse algum em você."

- Sim. Qual parte?

- Sobre precisar de outro emprego.

Respondeu como se fosse óbvio e, confesso que fiquei constrangida, principalmente. Pelo menos era isso o que sua confiança me passava.

- Ah.

Olhei para o lado em busca de uma resposta, mas não sabia o que dizer então esperei que ele completasse.

- Bem, eu tenho uma proposta, mas prefiro falar sobre isso em outro lugar. Em um ambiente mais reservado.

Porque eu aceitaria o convite de um estranho a conversar em um lugar mais reservado? Sim, desconfiança era levada a sério comigo, ainda mais com alguém que escutou sobre um assunto particular meu e, querendo ou não, era um tanto invasivo, falar sobre isso então era quase um pecado com a educação.

- Eu não sei se...

- Não se preocupe, eu só quero conversar.

Adam me cortou, levantando as mãos e sorriu novamente. Bom, ele era um empresário, suponho eu, sério e bem-apessoado. E, claro, eu iria escolher o lugar, não iria deixá-lo me levar aos confins da cidade.

Hesitei.

- Tudo bem. O que você sugere?

Perguntei como se fosse realmente levar em consideração sua opinião.

- Tem uma espécie de bar, como um pub, aqui perto, é tranquilo e reservado, mas se você preferir outro lugar...

- Podemos ir ao Livien Park, facilitaria meu caminho pelo ônibus que vou perder se aceitar.

Ele consentiu com veemência, aproximando-se mais à vontade.

- Ótimo, vamos no meu carro.

O segui até um veículo luxuoso, um modelo sedã claramente caríssimo e tentei não demonstrar surpresa. Ao entrar no carro, senti o cheiro doce e masculino, sentei no banco de couro branco e o assento aqueceu. Sem dúvida era muito melhor que minha cadeira. O teto solar estava fechado, mas era possível ter uma visão do céu com suas nuvens escuras e carregadas, anunciando que um temporal estava por vir. Adam acomodou-se e colocou o cinto de segurança, eu o acompanhei e fiz o mesmo. Ao dar partida, o ronco suave e até agradável tomou conta do ambiente. Sorri ao comparar o carro com o dono. Luxuoso, atraente e até mesmo o som do automóvel era chamativo em sua discrição.

- Há quanto tempo você trabalha na ConstruVille?

- Há seis meses.

Respostas curtas e rápidas demonstravam minha estranheza diante a situação e, diga-se de passagem, ao luxo gritante em torno daquele homem. Não que eu fosse do tipo "Isso não é para mim", mas o carro era impressionante e eu, bem, adaptável.

Adam meneou a cabeça levemente, como se estivesse processando a informação. Seus olhos verdes estavam atentos à rua e suas mãos seguravam firmemente o volante. Ele era realmente atraente, magnético.

- Você assinou contrato com a empresa, não foi? - Perguntei, deixando minha curiosidade fluir também.

- Sim, com muito esforço para conseguir o negócio, tanto que não vale a pena falar sobre isso agora. Tenho certeza de que foi um dia exaustivo tanto para mim quanto para você. - Apenas concordei com um aceno de cabeça, então Adam continuou. - Penso o quanto você deve me achar intrometido, mas não tinha como não ouvir sua conversa. Além disso, eu posso ajudar e... Por que não?

Ri de seu tom de voz, parecia sincero, mas chegava a ser engraçado quando se percebia algo parecido com culpa em sua fala. Era difícil perceber algo com clareza em seu jeito, já que mesmo um sorriso chegava carregando ambiguidade. Minha mãe costumava dizer que eu não deveria confiar em homens, amar como pudesse, claro, mas jamais confiar numa criatura que age mais pelo impulso do prazer do que pela necessidade da razão. Imagine só o que ela diria sobre o olhar de Adam Gilbert!

- Tudo bem, não posso reclamar disso.

Seguimos em silêncio até chegar ao parque e durante o percurso pensei que aquilo era estranho, mas qualquer ajuda seria bem-vinda, afinal ele me faria uma proposta. Eu só queria ter certeza de que Adam Gilbert só havia ouvido a parte da conversa que se referia ao trabalho e o resto seria esquecido. Passamos em frente ao prédio em que eu morava e mesmo de dentro do carro pude enxergar, com certa dificuldade, o vaso com a rosa na parte de dentro do apartamento. Minha mãe havia colocado o vaso no local depois de desistir de abrir a janela, que estava emperrada. A planta se curvava para frente, encostando na vidraça, mesmo que eu tivesse todos os cuidados do mundo com ela.

O início da noite estava quente, mesmo as folhas dançantes estavam repousadas na grama verde e macia do parque. Antes de sair do carro, dobrei e deixei meu blazer azul-escuro sobre o banco de couro. Adam e eu andamos em direção ao banco de concreto já desgastado que se encontrava perto da fonte central, o mesmo banco em que Bruce levou um fora. Ao sentarmos, prestei atenção ao céu que perdia seus tons alaranjado e rosado passando para cores mais escuras e frias.

Passei a mão, instintivamente, na minha saia lápis ao ver que sua bainha dobrava. Notei que Adam também observava algo, não o céu, mas o local. Seus olhos verdes pareciam mais escuros graças a pouca iluminação natural, até o momento em que as lâmpadas dentro de grandes globos de vidro se acenderam em pontos estratégicos da praça.

- Então...

Comecei. Estávamos para discutir uma proposta e não para admirar o local.

- Sim, vamos ao ponto. - Adam olhou-me nos olhos antes de continuar e eu mantive seu olhar, um pouco receosa. - Acho que você lembra de nosso "encontro" na frente da Censored, certo?

Ele me reconheceu. Ele sabia que era eu.

- Sim.

- Eu sou um dos donos do local, tenho um sócio e a boate foi aberta recentemente. Você faz ideia de como um local desses funciona?

Sim.

- Não. - Me parecia melhor responder como uma sem-noção no momento, para que ele me explicasse detalhadamente o que seria a sua proposta.

- Bem, nós temos um serviço completo a alcance da parte mais nobre da sociedade. Não é nenhum bar de esquina ou... Puteiro, se você me entende. Temos pista de dança, música, camarotes, um bar completo com as melhores bebidas. E, bem, não podemos evitar as garotas. Mas precisamos para que tudo ocorra perfeitamente em todos os setores, precisamos de mais funcionários, no caso, mulheres atraentes...

Pisquei rapidamente, entreabrindo os lábios enquanto me perguntava se havia entendido corretamente ou se ouvia mal. Preferia acreditar na segunda opção, chocada com a possibilidade de ele ter me visto tão desesperada. Não era questão de desvalorizar o que as "garotas" faziam, mas de me respeitar. Adam me olhou com certa cautela enquanto me levantava, sentido-me ofendida. "Precisamos de mais funcionários, no caso, mulheres atraentes..." Foi uma proposta tão ousada, para dizer no mínimo, que senti certa repugnância. Eu estava parecendo tão desesperada a ponto dele pensar que eu aceitaria?

Senti-me uma bomba no momento em que algum idiota estava prestes a apertar o botão que a faria explodir.

- Ah! Não, não, muito obrigada, senhor Gilbert. Não sei que juízo fez de mim ou se pensa que minhas necessidades chegaram a esse ponto, mas, com certeza, está errado sobre tudo isso. Eu não preciso dessa forma, e nem agradecerei algo...

Adam Gilbert levantou rapidamente e fez gestos com a mão na tentativa de me acalmar, interrompendo o começo do meu protesto. Se dependesse de mim, ele ouviria ainda mais.

- Não! Por favor, me ouça, você entendeu mal. - Observei seu semblante passivo com desconfiança. - Eu me expressei mal. Veja, eu não sou louco de propôr algo assim, nem criar juízos quando mal nos apresentamos. Sente-se e ouça minha proposta, explicarei melhor.

Apenas ele sentou de novo, eu continuei em pé e fiquei para ouvir o que ele tinha para falar. Ainda estava agitada com a possibilidade dele ter considerado que eu queria tanto.

- Posso chamá-la de Heather?

- É o meu nome.

Disse num tô levemente irônico, mas claro como água. Adam apenas sorriu.

- Não precisa me chamar de Senhor fora do trabalho, apenas Adam. - Assenti. - Primeiro, eu quero que você saiba que não aliciamos garotas, na verdade são tipos de mulheres que você não acreditaria que vêm nos procurar e, bem, esse é o negócio. Todas são selecionadas, e então temos dançarinas e garotas de programa. O que eu estou oferecendo para você é algo que não tem muito a ver com isso, eu quero que você trabalhe no bar apenas servindo os clientes. Nem precisa se preocupar com mais nada, ninguém ousaria mexer com você. Entendeu?

Sua tentativa de consertar a gafe apresentava nervosismo, deixando-me um pouco mais tranquila de que fosse somente um mal-entendido. Adam me observava enquanto eu avaliava suas palavras, processando o que parecia ser uma função sem complicações.

- Sim.

Certa vez, Bruce disse que eu deveria escutar mais e falar menos, pois minha mente trabalhava maquiavélica e rapidamente. Era quase impossível para mim, deixar que alguém terminasse seu raciocínio e antes que o falante o fizesse eu já estava de pé, protestando, praguejando ou apoiando. Fazer o que? Iria culpar minha famigerada personalidade forte por isso!

- O que você acha?

Eu achava estranho, sinceramente. Me senti desconfortável com a ideia. Eu nem lembrava mais como era uma boate e mal sabia me relacionar com as pessoas e precisaria fazer isso. Mesmo que eu servisse clientes do bar, sendo uma tarefa simples, de algum jeito eu sabia que era algo a mais. Ele disse que não havia uma forte relação entre o que eu ia fazer e os que as Garotas faziam, então qual era a ligação? Era uma proposta um tanto indecente, apesar de ele não ter perguntado se eu queria dançar nua em postes ou se eu queria transar em troca do dinheiro.

- Eu não sei.

Adam me encarou pensativo por alguns segundos.

- Vamos fazer o seguinte, - Inclinou-se para chegar mais perto, como se fosse contar um segredo - nós podemos ir essa noite até lá, eu mostro como funciona e você pode, se quiser, tentar realizar o serviço. Se decidir que não vai ficar com a vaga eu te pago a quantia da noite e esquecemos isso.

Parecia bom. Se eu não tentasse não saberia como funciona e, talvez me arrependesse por isso quando estivesse servindo bêbados e universitários no bar do Clevie, um velho rabugento com fama de tarado, no bairro vizinho. Não tinha como não hesitar, mas também não tinha como negar de cara, eu precisava tentar.

- Ok, vamos ver.

Adam saltou do banco com um sorriso satisfeito e quando se pôs a minha frente, só então percebi que ele era bem mais alto que eu lembrava. No instante seguinte, gotículas de água começaram a cair apressadas, estalando levemente no concreto ainda quente da praça.

- Vamos.

Voltamos a passos apressados ao carro. Eu já estava suficientemente molhada a ponto de sentir um friozinho agradável, refrescante, o que só me deixava mais ansiosa para chegar em casa e aliviar meu corpo. Quando nos aconchegamos nos bancos de couro, Adam olhou-me e sorriu.

- Você poderia me dar o número do seu telefone?

- Claro.

Rapidamente, ele retirou um bloco de notas e uma caneta do porta-luvas. Anotei meu número, mas fiquei insatisfeita com a caligrafia desleixada devido à dificuldade que era escrever usando minha coxa como apoio.

- Será divertido. - Olhou o relógio em seu pulso. - Eu preciso passar em casa e ainda são sete e quinze. Posso deixá-la em seu apartamento e buscar mais tarde.

- Eu moro na rua da frente, no Guider Build. Posso ir a pé mesmo.

- Tem certeza?

Sorri. Não resistia a uma oportunidade sequer.

- Bem, eu tenho pernas.

Adam deu partida e em menos de cinco minutos já estávamos estacionados em frente ao prédio de construção antiga, mas conservado.

- Espero você às dez e meia. Tudo bem esse horário?

- Claro, estarei lá.

Nos olhamos por alguns instantes, incertos do que fazer quando o clima se tornou sugestivo. Não sabia se me despedia com um abraço ou aperto de mão, se dizia um "até mais" ou "te vejo depois" de tanta que era a tensão que existia entre nós dois. Sentia-me estranha sob seu olhar intensamente verde, caloroso de alguma forma, e simplesmente não agi. Adam apressou-se e pousou um leve beijo em minha bochecha esquerda.

- Até logo.

- Até.

Sorri e saí do carro, já pensando em que roupa usaria ou na fragrância. Eu queria impressionar de alguma forma, isso poderia sentir em meu âmago, porque dessa forma, algo mais intenso poderia se desenrolar. Era frustrante não sentir a real intensidade daquele homem.

Dentro do elevador, coloquei a mão sobre o beijo quente e delicado, tentando senti-lo novamente. Tentando decifrar a falta de reação do meu corpo, porque o beijo foi bom. Infelizmente, só "bom".

.
...
.

r e v i s ã o: @Crazy_Nutelleira

Espero seus comentários sobre essa última. O que acham que acontecerá com Adam entrando nessa história?

Parece que Heather não se contentou com o maravilhoso de delicioso dono dos olhos verdes...

Vejo vocês nos comentários!
Até a próxima ;**

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