The 2 Of Us - Livro 1. Duolog...

By FlaviaLobato

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Heather Colbert aprendeu a andar com suas próprias pernas e amadureceu da forma mais dura possível, perdendo... More

Inspirações
Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Extra - Por Dan
Capítulo 18
Capítulo 2 - Por Stephan
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Extra - Por Dan
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Coluna: Voce ouviu?
Capítulo 40
Extra - Por Dan
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Extra - Por Dan
Extra - Por Adam
Capítulo 46
Capítulo 47 (FINAL)
Epílogo

Capítulo 1

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By FlaviaLobato

"Mas eu tenho mais sorte na minha cabeça."
- This Side of Paradise (Hayley Kiyoko)

Respirei fundo e mordi com força meu trêmulo lábio. Chovia muito, e o cheiro de morte impregnava em minhas roupas me sufocando. O reverendo dava o sermão aos poucos presentes naquele enterro.

- *Não há família que possa escapar dessa dor, a que parece ser a mais aguda de todas as dores. O luto. Algum dia, todos enfrentarão a dor que lateja na alma e devasta nossas vidas. Enterrar alguém que amamos, ser privado do convívio com tal ente, não é fácil. Mas há consolo para aqueles que choram, sabem que há esperança, pois sabem que Cristo já venceu a morte.

Ela já estava fraca antes mesmo da doença, não era a mesma pessoa ainda que fingisse ser. A tuberculose tomou conta muito fácil, e assim vieram infecções e hemorragias. Mesmo o melhor médico, do melhor hospital, não conseguiu salvá-la, porque ela simplesmente não deixou.

Wanda estava ao meu lado e sua mão apertava a minha de maneira reconfortante. As lágrimas escorriam sem cessar pela minhas bochechas e a dor no meu peito só aumentava desde que recebi a notícia do falecimento de minha mãe.

Os únicos raios de Sol eram tão fracos que eu podia jurar que estava anoitecendo. Eu consegui imaginar o lugar antes de se tornar um cemitério, provavelmente quem passasse por ali, sentia calafrios. Eu sentia calafrios. Sentia também um abandono e um grande vazio.

Flores estranhas e quase sem cor dominavam os túmulos abandonados e as árvores pendiam com seus galhos, como se fossem dar o bote a qualquer momento. E davam, levando toda a esperança de quem perdia e enterrava seus entes. Nem a área além dos limites do cemitério conseguia superar a paisagem, era o começo de um pântano; alguns pássaros cantavam por lá, mas pareciam mais pedidos de ajuda.

Louis estava aos prantos do outro lado da cova, enquanto Stephan e Rick davam duro para cobrir o caixão de forma decente. Seus guarda-chuvas estavam jogados ao lado da lápide, os meninos estavam ensopados. Ainda era possível ver a silhueta do reverendo caminhando com seu guarda-chuva em direção a capela e, mesmo fazendo aquela cerimônia de forma monótona, me sentia um pouco mais reconfortada pelas suas palavras.

Não era fácil saber que eu não a veria mais sorrir; não era fácil saber que dali em diante eu estaria praticamente só; não era fácil aceitar que minha mãe estava morta, mas eu teria de me conformar. Eu não podia fazer mais nada. Nunca pude. O máximo que estava ao meu alcance eu fiz: estive ao seu lado, retribui todo o carinho que eu havia recebido durante meus 23 anos e me fiz de forte em meio aos acontecimentos que mudaram aos poucos e drasticamente nossas vidas.

Quando os garotos terminaram de cobrir o caixão, Louis pôs, gentilmente, um lindo buquê de lírios sobre o túmulo. Rick pegou as pás e jogou-as na mala do carro, e quando voltou, deu uma última olhada para a lápide que continha as seguintes inscrições: " Suzan Colbert. Mãe e Guerreira. Para sempre em nossos corações. 1967-2015".

- Adeus, titia.

Com as mãos na cintura, ele admirava o buquê; seus olhos castanhos e seu nariz estavam avermelhados. Coloquei a mão em seu ombro e o acariciei, na tentativa de confortá-lo. Rick sentia muito e tanto quanto eu, pois mamãe o acolheu como um filho quando tia Flery faleceu em um acidente. Bruce e eu perdemos nossa tia, mamãe perdeu sua irmã, mas Rick perdeu a mãe. E agora eu sabia como era.

O abracei por um longo tempo. Ele era mais alto, então encostei minha cabeça em seu peito e assim ficamos. Deixei as lágrimas rolarem livremente por meu rosto, como se assim pudesse alcançar algum consolo real e, não a vontade de desabar de vez. Rick sempre foi sensível, mas neste momento me abraçava e tentava me tranquilizar enquanto continha seu pranto. Quando eu o soltei estávamos mais calmos e, com certeza, mais próximos do que nunca.

Eu queria gritar, queria fazer algo além de chorar, mas não conseguia. Talvez fosse a minha parte "forte" me impedindo de sofrer novamente por alguém que eu amava e amo tanto, ou era a parte que sabia que seria menos doloroso desse jeito, para todos nós. Ou então eram as duas coisas.

Stephan tentou falar baixo, mas, mesmo assim, ouvi ele perguntar a Wanda:

- E Bruce?

Senti raiva. Pensei em sua ingratidão e insensibilidade. Depois veio o desprezo. Tantas características diferentes que poderiam, apenas uma, acabar com alguém. Pior ainda é pensar que alguém poderia ser tudo isso, ou muito mais, e usar contra a própria mãe.

- Está em Soulburn.

Respondi cerrando os punhos.

Rick pousou uma mão, carinhosamente, no meu ombro.

- Não é culpa sua. Ele é um mal-agradecido.

- Um grande imbecil, isso sim!

Stephan parecia ainda mais irritado, então abraçou-me com força e me fez sentir todo seu afeto por mim. O que mais extrair foi sua compaixão. O abracei de volta e me confortei em seus braços. Sempre foi assim, Stephan sempre soube como manter a calma e as coisas no controle, e isso sempre me passou segurança. Mas ele e Bruce nunca se deram bem e quanto mais amadurecemos, pior ficava. Ruim era não poder dizer o contrário de meu irmão naquele momento e eu queria muito que fosse diferente.

Wanda afagou minhas costas e apressou-se.

- Vamos, filha. Eu sei que isso é doloroso, mas Suzan está bem agora, ela está em paz, querida. Agora nós precisamos ir.

- A chuva está mais forte.

Louis tremia enquanto fechava seu guarda-chuva na mala do carro. Ela esfregava e assoprava suas pequenas e pálidas mãos.

Entramos no carro rumo ao apartamento no centro de Rolesville, minha única herança, onde todas as memórias ainda corriam frescas.

Wanda preparou sanduíches e Stephan trouxe refrigerantes. Comemos todos juntos na sala em silêncio, enquanto tentávamos entender um seriado sobre uma família que deveria ser engraçada, mas as piadas eram tão fracas e tão preconceituosas que mais parecia um bando de sádicos torturando os telespectadores esperançosos de que ainda restava bom humor na TV.

Eu não estava entendendo nada. Na verdade, ninguém parecia entender. Era como se todos estivessem em transe tentando tratar de seus próprios fantasmas e digerir algum trauma, enquanto aquele programa incomodava. Procurei me desligar, agindo de forma automática para neutralizar a dor que sentia, porque não conseguia ver outra forma de sentir menos.

Ao terminar, nos despedimos e cada um seguiu seu rumo, já que a vida continuava, por mais que eu sentisse o contrário. Rick e Stephan voltaram para a universidade. Louis voltou para a casa de seus avós. Wanda voltou para sua família. E eu me tranquei em meu luto.

- Você vai ficar bem mesmo? Eu posso passar uns dias aqui.

Os olhos claros de Wanda ainda estavam vermelhos e contrastavam com sua pele escura, sua voz transparecia preocupação.

- Sim, só preciso de um tempo. Não posso fazer mais nada por ela, vou descansar um pouco.

Sinto meus olhos lacrimejarem, quase vertendo-as e a assegurei que ficaria bem. Eu não queria demonstrar insegurança para Wanda. Eu caí, mas precisava tentar andar com meus próprios pés e superar isso mesmo que fosse difícil. Eu não estava sozinha, sequer passava uma ideia dessas em minha cabeça, mas estava na hora de lidar por mim mesma.

Meus amigos, Stephan e Louis, meu primo, Rick, e uma velha amiga de minha mãe, Wanda, eram as únicas pessoas que eu tinha e saberia que podia contar com eles. Nem meu irmão compareceu ao enterro e eu já estava cansada de tentar entender seu lado, porque toda vez que tentava entendê-lo, só via mágoa.

O que sobrou de tudo? Eu precisava juntar meus pedaços, emendar com uma fita vagabunda e esperar que o tempo fizesse seu trabalho e aliviasse minha dor. Não sabia se seria capaz de suportar mais uma perda e eu já devia estar acostumada, afinal sempre foi assim. As pessoas que eu mais amava sempre iam embora. Sempre. Sempre.

Fechei meus olhos e mais lágrimas vieram e dessa vez eram de revolta. Todo sofrimento pelo qual eu passava não serviu para nada, eu estava cada vez mais sozinha e tinha medo de deixar alguém entrar na minha vida, pois sabia que iria me machucar de um jeito ou de outro.

Abri os olhos e por um momento não reconhecia o lugar. Andei pelo apartamento, investiguei cada cômodo com aquela sensação de vazio, como se faltasse algo importante, então comecei a procurar. Não sabia exatamente o quê, só procurava. Olhei o quarto de hóspedes, que já havia sido de Bruce; olhei meu quarto, mas nada. Evitei entrar no quarto de mamãe, não queria lembranças. Não naquele momento.

Abri a porta do banheiro e a banheira estava lá. O chão estava frio e as paredes, úmidas. A essa altura um sentimento profundamente doloroso tomava conta de mim. Não era apenas a falta dela, a dor de sua perda precoce e quase provocada por ela, era ainda maior. Até então, nunca havia pensando em mim acima dos outros e minha felicidade fora trocada por sofrimento graças a cada partida. Plenitude e eu nunca nos cruzamos, talvez a vida estivesse me cobrando esse desencontro.

Aqueci a água, logo tirei minha roupa e entrei sem hesitar. Me recostei e tentei relaxar, enquanto uma onda de pensamentos me atingiu e eu estava me afogando em culpas e coisas mínimas que fossem, que eu poderia ter feito, mas agora não adiantava nada.

Sentia falta de ouvir a voz de minha mãe, pedindo para que eu lavasse a louça, ou colocasse o lixo para fora e qualquer exigência ou conversas comuns entre mães e filhos, mas havia muito tempo que isso não acontecia. Há muito tempo ela já agonizava no hospital e pensar nisso fez com que as lágrimas voltassem. Assim fiquei por um longo tempo na banheira, aproveitando o momento que eu teria para me livrar de sentimentos ruins, chorando a minha perda e sentindo mais do que nunca a dor.

Vesti uma blusa de crochê, que ela havia feito para mim, há três anos. Aquele tipo de roupa que você não usaria fora de casa, mas eu amava vestir aquela bendita peça, me sentia confortável e muito à vontade. Antes era extremamente colorida, agora já estava desbotada.

Era como se toda vida tivesse se esvaído junto com a de minha mãe. A dor e a saudade estavam em cada canto, mas meu conforto era, além das boas lembranças, saber que seu sofrimento havia chegado ao fim.

Dizem que se sofremos muito por alguém que faleceu, é remorso e ainda que, para os mais espiritualistas, isso pode atrapalhar a "passagem" da pessoa. Eu sempre tive crenças e sabia que a minha dor cicatrizaria, mas primeiro precisava deixá-la partir, me contentando em suportar e superar, já sabendo como seguir em frente. Só não conseguia imaginar que precisaria de tanta força para tal façanha, já que, se pudesse, teria feito de tudo para tê-la de volta como em minhas memórias de infância.

Um vento gélido invadia a sala deixando qualquer um com o sobreaviso de uma noite difícil, fria e solitária. Eu nem conseguia aproveitar o sentimento que sempre me atingia em momentos como esse - a paz no silêncio das pessoas e a agitação nos sons do vento cortante ou da chuva turbulenta - e, como não havia o conforto da presença de alguém importante para mim, imediatamente fechei as janelas e liguei o aquecedor. Deitei-me no sofá, sentindo que não poderia aguentar mais de tudo no momento e peguei no sono.

.
...
.

r e v i s ã o: @Crazy_Nutelleira

Mesmo sendo um capítulo triste, anseio para que se apeguem e avancem até o próximo. Não esqueçam de votar se gostaram e comentar o que acharam, se sentirem-se à vontade com isso.

Vejo vocês nos comentários!
Até a próxima ;**

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