S k y l a r
O silêncio ainda predominava pelo ar, e eu não sabia o que dizer, ou como começar uma conversa normal. Já vi muitos tutoriais na internet de como começar uma conversa civilizada com um rapaz, porém já me esqueci deles todos. Também já li vários livros de como fazer isso, porém também já me esqueci de tudo o que eles ensinavam. Entra a duzentos por um ouvido, e sai a trezentos pelo outro. É algo que não dá para evitar.
Eu, à dias atrás nunca pensaria que neste preciso momento, estaria a ir em direção a uma feira com um rapaz que mal conheço. É por isso que não ensaiei à frente ao espelho uma conversa civilizada, ou voltei a rever tudo o que aqueles livros diziam. Eu simplesmente não estava à espera disto. Afinal, nós nunca estamos preparados para o amanhã. As coisas acontecem como têm de acontecer, e ninguém pode evitá-las.
- Estás aí? - Harry interrompe os meus pensamentos, ao mesmo tempo que me dá uma cotovelada no braço.
- Não, estou ali. - Aponto para um sítio escuro e sem nenhuma luz ao seu redor.
Harry olha para esse sítio à minha procura, e é inevitável não rir perante isso. À muito tempo que eu não estou tão feliz e a rir tanto, e é por isso que tenho medo. Tenho medo, porque estes momentos costumam ser temporários.
- Não, a Sky não está ali. - Ele coça o seu queixo.
- Ela está aqui. - Dou-lhe um safanão no braço.
Ele começa a rir e eu também. E um som melódico ganha forma no ar, como uma boa cantiga sem fim - apesar de sempre ter fim. Agora que reparei, tudo o que é bom, tem fim. Nós podemos rir, rir e rir até a barriga doer, mas nós não vamos rir para sempre. É temporário. Isso faz-me pensar que o choro também é temporário. Nós podemos chorar, chorar e chorar, mas não é para sempre. Ou talvez até seja. Depende do para sempre, e do seu tamanho.
Repentinamente, uma música altíssima infiltra-se nos meus ouvidos, e gritos estridentes também. Avisto a feira à minha frente e arregalo imediatamente os olhos.
Fico maravilhada imediatamente pelas cores deste sítio e pela maneira que elas trespassam para o chão de cimento. O barulho que outrora parecia ser incomodativo, passou a ser a melodia mais linda que eu já ouvi até hoje. As várias atrações desta feira que estavam em movimento, fizeram-me sorrir de uma maneira que eu nunca antes tinha sorrido. O cheiro apetitoso das pipocas e dos fritos infiltrou-se rapidamente no meu nariz, e isso fez com que eu ficasse com água na boca. Rapidamente olhei para as pessoas que se encontravam bastante alegres. A sua alegria era magnífica, e isso fazia-me sentir bastante feliz, mas ao mesmo tempo, bastante diferente. Como é que existe tanta alegria neste sítio, e tanta tristeza dentro de mim?
- Vais ficar aí? - Harry interrompe novamente os meus pensamentos.
Ele agarra na minha mão, e entrelaça os seus dedos nos meus. Eu naquele momento, senti-me confortável com isso, senti-me segura, apesar de estar ligeiramente relutante.
Nós caminhamos por entre os amontoamentos de pessoas, e eu suspiro quando avisto a montanha-russa em movimento. O cabelo das pessoas a esvoaçar pelo carrinho e a felicidade estampada nas suas caras, faz com que eu dê pulos de alegria. Eu estou tão feliz, que acho que toda esta felicidade vai expandir-se para fora de mim. Ela não vai aguentar muito mais tempo aqui fechada, no meu corpo.
- Harry, quero andar na montanha-russa! - Digo confiante.
- Já andaste em alguma? - Ele franze a testa e um sorriso torto ganha forma na sua face.
- Não. - Faço uma pausa. - Mas há uma primeira vez para tudo.
- Tu vais ter medo. - Ele confessa.
Eu sei que vou ter medo, e ele tem toda a razão no que disse, mas eu não quero saber. À muito tempo que eu não venho a uma feira e quero aproveitar este dia o máximo que puder. Estou felicíssima e quero continuar assim.
- Não vou não. - Minto.
- Vais sim. - Ele sorri maliciosamente.
- Veremos. - Pisco-lhe o olho na brincadeira.
Aproximo-me da bilheteira e compro rapidamente um bilhete. Não está fila nenhuma e fico bastante contente por isso, porque eu não iria ter paciência para esperar. Harry aproxima-se de mim, já com o seu bilhete na mão, e pisca-me o olho.
Um carrinho pára mesmo à nossa frente e as pessoas saem contentíssimas dele. Quando elas acabam de sair, eu não exito e entro logo para o carrinho, ficando à frente. Harry senta-se ao meu lado, e aquele sorriso idiota ainda não saiu do seu rosto.
- Queres ficar logo em primeiro lugar?
No momento em que ele profere tal coisa, o carrinho ganha vida própria e um suspiro profundo sai dos meus lábios. Nós começamos a ganhar altitude, e todos os meus cabelos caem para trás das minhas costas. Quando chegamos à altitude máxima, e eu vejo o que vamos descer a seguir, arregalo os olhos.
Aperto com todas as minhas forças a base do carrinho, e finalmente nós começamos a descer a toda a velocidade. Os meus cabelos começam a esvoaçar pela minha face, graças ao vento forte que embate no meu corpo.
Neste momento, eu não senti medo, mas sim adrenalina e felicidade, muita felicidade. Morosamente, levanto os meus braços e começo a gritar alegremente, para toda a gente ouvir.
- Não estás com medo? - Harry interrompe todos os meus pensamentos.
- Não! - Faço uma pausa. - É esquisito sentir felicidade?!
O olhar de Harry cruza-se com o meu, e um grande sorriso ganha forma na sua cara. Ao ver os seus cabelos encaracolados a esvoaçarem e as pupilas dos seus olhos mais dilatadas do que nunca, foi impossível não sorrir também.
- Não. - Ele faz uma curta pausa. - Isso é bom!
O carrinho entra num túnel escuro, e eu sorrio ainda mais. Acho que o meu sorriso vai rasgar a minha cara. O túnel tem várias luzes de muitas cores, e elas são capazes de reluzir tanto, que momentaneamente, senti que estava num daqueles sonhos bons, de onde nunca quero sair.
Olho sorrateiramente para Harry, e eu fui capaz de ver um anjo, e não um simples rapaz amigável e carismático. Os seus cabelos encaracolados com a junção das luzes multicolores, fazem-no parecer algo feito pela minha cabeça, algo irreal. O sorriso cativante que ganha forma na sua cara pouco a pouco, faz-o ficar mais bonito do que ele habitualmente é.
Os meus pensamentos são interrompidos com a saída do carrinho do túnel e com a sua paragem rápida.
- Já acabou? - Faço beicinho - Quero andar outravez!
Depois de mais três vezes seguidas na montanha-russa, e na segunda vez o Harry ter quase saltado do carrinho - literalmente - eu nunca mais consegui parar de rir. Eu ri, ri e ri. E ainda não parei. Simplesmente não consigo.
- Não tem piada. - Ele cruza os braços e faz beicinho.
- Tem sim! - Recomeço a rir novamente, quando me lembro daquele momento.
- Nunca te vi a rir verdadeiramente. - Ele faz uma pausa. - Sabias que, quando o fazes, os teus olhos adquirem um brilho único?
Olho para ele, e meto um fio do meu cabelo atrás da minha orelha. Os meus lábios entreabrem-se e os meus olhos ficam fixos no Harry. Eu vi que as suas palavras foram sinceras, mas realmente não acredito muito nisso.
- Queres fazer o quê agora? - Ele quebra o silêncio.
- Comer, estou esfomeada. - Admito.
Nós começamos a caminhar até uma tenda onde estão a vender fritos, e Harry puxa-me para si, fazendo com que os nossos corpos fiquem juntos e o seu braço fique à volta da minha cintura.
Se eu estivesse a pensar racionalmente, já lhe teria dado uma chapada ou até um soco, mas estou a sentir-me incrivelmente confortável ao sentir o seu corpo junto ao meu, e ao sentir o calor que ele me proporciona. Sinto-me nas nuvens, para ser sincera.
Depois de eu ter comprado os churros com demasiado chocolate, eu e Harry sentamo-nos nas mesas. Os nossos olhares, de vez em quando cruzavam-se, e sempre que isso acontecia, eu ficava atrapalhada e desnorteada.
- Queres um? - Pergunto.
- Estava a ver que nunca mais perguntavas. - Ele mostra-me a língua na brincadeira.
Ele retira um churro do copo de plástico e começa a mastigá-lo. Eu faço o mesmo processo e não consigo tirar os olhos deste rapaz.
Eu acho que tenho de lhe dizer algo, porém estou reticente a isso. Eu quero dizer-lhe isto, porém não sei como fazê-lo. E se ele achar que eu sou estupida? Aliás, e se ele achar que eu não estou boa da cabeça?
Olho novamente para ele, e os nossos olhares cruzam-se pela milésima vez hoje. Rapidamente baixo o olhar, e abano o copo com os churros de um lado para o outro. Olho novamente para Harry, e ele já se encontrava a fazê-lo. Quando estava pronta para falar, ele faz-o primeiro.
- O que foi? - Harry sorri de canto.
- Obrigada. - Simplesmente digo.
- Pelo quê? - Ele franze a testa, e começa a mastigar novamente um churro.
Ganho coragem e finalmente, as palavras saem da minha boca sinceramente. Eu tinha de dizer-lhe isto, por mais que estivesse reticente. Ele faz-me feliz, e eu quero fazer com que ele se sinta também feliz.
- Por me fazeres sentir feliz. Obrigada, Harry, muito obrigada.
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☯ Hey! Desculpem por não ter publicado mais cedo, mas eu estava sem imaginação!
☯ Então gostaram? O Harry e a Sky parecem estar finalmente felizes... Pena que isso vai acabar rapidamente hm...
☯ Beijos e até ao próximo capítulo! Amo-vos ❤️