S k y l a r
" Sky! " Alguém chama por mim.
Olho para o lado e deparo-me com os irmãos Wood a caminhar na minha direção. Eles só falaram comigo uma vez na vida, e nem sei porque é que estão a fazê-lo pela segunda vez. Talvez seja algo importante. Ou talvez não.
" Bom dia. "
" Bom dia. " Eles ficam a uma curta distância de mim. " Quem é o rapaz que está com a Bella? "
Olho para os meus pés, e balanço-os de um lado para o outro. Se eu dizer que eles são namorados, os Wood irão enfurecer-se, e Harry de uma certa forma, também. Se eu fizer isto, Harry irá ficar tão chateado, que nunca mais falará comigo. Esta ideia tem desvantagens e vantagens. As desvantagens são claramente ver os Wood enfurecidos e a Bella também, mas as vantagens são ver o Harry a afastar-se de mim, algo realmente bom. Quer dizer, eu acho que é uma coisa boa. Se eu fizer isto, vou ser egoísta e estúpida. Só vou pensar em mim, e no que eu quero, mas neste momento, não quero saber.
" É o namorado dela. " Digo num susurro.
" O quê?! " Dois guinchos esganiçados são ouvidos.
De um momento para o outro, os Wood aproximam-se de mim rapidamente, e ficam mesmo à minha frente. Olho nos olhos dos dois, e vejo que transmitem bastante irritação. Isto vai acabar mal.
" Eu pensava que ele era teu namorado, andavam sempre juntinhos! " O Wood número um grita.
" Éramos só bons amigos. "
" Eu vou matá-lo! " O Wood número dois diz bastante alto e eu arregalo os olhos.
Ele começa a correr para longe, e o Wood número um igualmente. Tento apanhá-los, mas não consigo. Só sei que eles estão à procura de Harry e quando o encontrarem, vão - literalmente - matá-lo. Sempre que os Wood se metiam em brigas, os outros saíam sempre com um nariz torto, com um deslocamento de pernas, ou até com dentes partidos. Eu não posso deixar isto acontecer. Tenho de salvar o Harry.
Começo a correr para onde deixei Harry e Bella a conversarem. Estou a rezar para que eles ainda estejam lá. Eu tenho de tirar Harry daqui rapidamente, antes que seja tarde demais. Quando estava mesmo quase a chegar lá, embato num corpo gigante. Cambaleio ligeiramente para trás, mas os braços daquele ser rodeiam o meu torso. Olho para cima e deparo-me com Harry, e com o seu sorriso divinalmente lindo.
" Harry, vem comigo! " Afasto-me dele, agarro na sua mão enorme e começo a correr para a despensa da secundária.
" O que estás a fazer? " Ele pergunta, mas eu recuso-me a responder.
Quando viro no corredor que vai dar à despensa, o Wood número dois aparece no meu campo de visão. Recuo dois passos e fico com Harry rente à parede.
" Espero que ele não nos veja. " Começo a conversar comigo mesma.
" O que é que tu fizeste? " Harry pergunta com a testa franzida.
Fiz algo que te vai prejudicar. Nem sei porque é que estou a salvar Harry desta situação. Não me importaria de vê-lo ferido por causa dos Wood, acho eu. Acho que estou a fazer isto porque... Não sei. Isso não é importante agora.
" Nada. " Olho para o corredor e o Wood número dois já não está lá.
Apresso-me a correr para a despensa e quando lá entro com Harry, tranco a porta e suspiro pesadamente. Encosto-me à porta e começo a olhar para o vazio. Dezenas de esfregonas, alguidares, vassouras, e até panos sujíssimos, estão neste cubículo nada luminoso. A luz que está no teto vermelho, encontra-se a piscar morosamente e eu estou a irritar-me. Não foi uma boa ideia ter vindo para aqui, e muito menos, ter salvo o Harry.
" Podes explicar-me o que aconteceu? " Harry aproxima-se de mim.
" Queres mesmo saber a verdade? - Pergunto e ele assente, fazendo com que eu continue. " Disse aos Wood que tu e a Bella eram namorados. Eles estão à tua procura e querem, literalmente, matar-te. "
Estava à espera de um berro, ou até de palavrões saídos da boca dele, mas isso não acontece, fazendo com que eu fique surpreendida. Porque é que ele não gritou comigo? Aliás, porque é que ele está tão silencioso e quieto?
" Não vais dizer nada? " Ergo uma sobrancelha.
" Não. "
" Porquê? " Olho nos seus olhos.
" Porquê o quê? "
" Porque é que não estás chateado comigo? " Cruzo os braços.
" Porque é que eu haveria de estar chateado contigo? "
" Porque eu inventei algo sobre ti e a Bella. "
" E depois? " Ele faz uma pausa e um sorriso cresce no seu rosto. " Valorizo muito o facto de me teres salvo. "
Arregalo os olhos de imediato. Ele não ficou irritado comigo, aliás, ficou agradecido. Isso quer dizer que assim, ele vai aproximar-se mais de mim, e tentar ter uma amizade comigo. Não quero que isso aconteça, eu tenho de afastá-lo. Quer dizer, ele de qualquer forma vai afastar-se, porque eu vou ganhar aquele acordo, nem que seja o fim do mundo. Eu tenho de ganhar aquele estúpido acordo.
Agora que reparo, eu sou uma pessoa realmente esquisita. Quem é que afasta um rapaz tão querido e tão carinhoso? Exatamente eu. E tenho motivos. Não quero que ele fique envolvido nesta escuridão, e muito menos, se sinta preso a mim, como eu fosse a sua única amiga. Não quero ter nenhum rapaz na minha vida, e prometi isso a mim mesma à alguns anos atrás. Rapazes são seres cruéis, sem coração, e destruidores de vidas. E eu só quero evitar um coração partido - mesmo que o meu já esteja - e uma vida destruída - mesmo que a minha já esteja completamente destruída. Rapazes estão na minha lista negra. É algo que tenho de evitar ao máximo, porque eles são cruéis, muito cruéis. Eles não têm sentimentos.
" Eu não te salvei. " Respondo ao fim de alguns minutos.
" Não? " Ele faz uma pausa. " Então porque é que estamos na despensa? "
" Porque eu tive de vir cá buscar uma vassoura. "
" Para quê? " Ele franze a testa.
" Para limpar o chão. "
" Então porque é que me trouxeste até aqui, e quando os Wood estavam a passar no corredor, escondeste-nos? "Ele aproxima-se e fica mesmo a meu lado.
Eu não sei mentir, e nem sei formular uma frase de jeito quando o faço. Quer dizer, eu nunca soube mentir. Nunca fui de mentiras. Nasci numa família mentirosa, mas nunca me tornei numa pessoa assim. Nós não temos de ser iguais aos nossos pais, nem tentar ser. Nós temos de ser nós próprios, e temos de ditar o nosso próprio caminho, porque bem, ninguém fará isso por nós.
" Meninas, esperem por mim! " Ouço a voz de Yasmin no corredor.
Um pensamento repentino, ganha forma na minha mente. Lembrei-me de quando eu disse a Harry que ele iria arrepender-se de sair com ela, e lembro-me também do que ele me respondeu. Ele disse-me que, quem se iria arrepender era Yasmin. O que será que ele fez? Quer dizer, o que será que Yasmin fez? Será que ela conseguiu o que queria?
" Harry? "
" Sim? " Os seus olhos fixam-se nos meus.
"Como correu a tua saída com a Yasmin? " A pergunta sai quase instantaneamente dos meus lábios.
Um grande sorriso sombrio ganha forma na sua cara e eu franzo a testa. Ele fez-me lembrar momentaneamente aqueles bonecos assustadores que aparecem nos filmes de terror.
" Ela não conseguiu o que queria. " Ele diz e morde o lábio inferior.
" Como assim? " Franzo a testa.
" Nada. " Ele faz uma pausa, mudando totalmente de assunto. " Vamos sair daqui, ou não? "
Franzo a testa e fico a pensar nisto. Algo me diz que ele fez algo de grave, porém não o quer confessar. Eu sei que Harry é inteligente e também sei que esta história não está muito bem contada. Yasmin também não é de todo estupida, e sei que algo aconteceu naquela noite. Algo que Harry está a esconder. Algo sombrio e mau.
" Vamos? " Ele abre a porta.
" Se quiseres ficar com um olho roxo, tudo bem. "
" Eu sei defender-me, Sky. "
" Acredito. " Digo num susurro.
Nós saímos da despensa, e começamos a caminhar pelos corredores. Estou com medo que os Wood apareçam, muito medo, porque algo me diz que eles estão prestes a aparecer a qualquer momento. Nem sei porque é que estou tão assustada. Até parece que fiz algo de errado. Está bem, até posso ter feito, mas estou arrependida. Estou arrependida porque eu não costumo mentir, e nem sei porque é que o fiz.
Olho para Harry e observo a sua postura descontraída. Ele sabe que vai apanhar uma carga de porrada se os Wood o virem, mas nem parece. Harry está tão indiferente, que não estou a compreender. Uma pessoa normal estaria cheia de medo,- e na pior das hipóteses - já tinha borrado as cuecas, porém este rapaz está inexplicavelmente descontraído, como estivesse numa ilha desértica com mar à sua volta.
" Não estás com medo? " Olho para as suas esmeraldas.
" Porque achas que eu haveria de estar com medo? " Ele ergue uma sobrancelha.
Acabo por parar no meio do corredor, e ele faz o mesmo. Os nossos olhos fixam-se um no outro de uma forma que não consigo explicar. Um sorriso sinistro ganha forma no seu rosto, e eu franzo a testa. Gostava mesmo de saber tudo o que vai na sua mente. Gostava de saber no que é que ele está a pensar agora, e também se ele está mesmo descontraído, ou está com medo.
Muitas pessoas escondem o medo. Por exemplo, eu. Medo é algo horrível, e pode chegar a ser doloroso. Existem muitos tipos de medo. Aquele medo quando te assustas com algo ou com alguém, e o teu coração começa a bater descontroladamente. O medo de ser rejeitado, medo de não ser nada para ninguém. Também existe o medo de ser criticado, e o medo de não ser o que as pessoas querem que tu sejas. Eu acho que o medo é algo inevitável. Quer dizer, se nós não sentíssemos medo, a vida não valia a pena. Se não sentíssemos o coração a bater descontroladamente e o sangue a fluir nas veias com um grande rapidez, a vida não valia a pena. O medo é para ser sentido, é para ser vivido. O que é que tu fazias, se não tivesses medo de nada?
" Não vais responder? " Harry interrompe os meus pensamentos.
" Eu não acho normal, estares descontraído. Tu não conheces os Wood. "
" Eles também não me conhecem. " Ele arregaça as mangas da sua blusa, mostrando as suas tatuagens. " E eu não tenho medo de nada, Sky. "
" Isso é impossível. Todos temos medo de algo. " Respondo.
Ele está a mentir-me. Todos temos medo de alguma coisa. Eu tenho um medo inexplicável de abelhas, e também de ser rejeitada. Tenho muitos medos. Ele também deve ter medo de algo, e talvez seja covarde demais para admiti-lo, e isso já é considerado um medo, caso ele não saiba. Não à ninguém no mundo suficientemente corajoso para não deixar um pouquinho de medo entrar no seu corpo e na mente.
" Eu não tenho medo de nada. "
" Tens de ter. "
" Não. " Ele faz uma pausa. " Se tu deixares o medo controlar-te, enlouqueces. "
" Não. Todos temos de sentir medo. É sinal de que estamos vivos. " Respondo.
" Talvez. " Ele faz uma pausa e morde o lábio inferior. " Mas se deixares o medo controlar-te, nunca serás tu mesma. Nunca. "
" Isso é mentira. " Cruzo os braços. " O medo pode controlar-me, mas eu posso muito bem ser eu mesma. "
" Não. Tu nunca vais entender. "
" Tu é que não estás a entender! "
Estou a ficar imensamente irritada, porque a sua teoria está imensamente errada. O medo não nos controla, o medo é só um peso que temos de mandar para longe. Algo que podemos fazer desaparecer, porque ele não faz parte da nossa vida, a menos que nós deixemos.
" O medo é algo que controla cada parte do teu corpo, que te mata aos poucos. " Ele faz uma pausa. " E um dia, desapareces. Tu desapareces. E tudo se torna numa escuridão imensa. "
Olho surpreendida para ele, e não só pelo facto de ele ter dito uma coisa destas, mas sim por tê-lo dito de uma maneira tão fria e obscura. Ele é algo frio, como a Antártida. Algo quente, como o deserto do Saara. Algo ameno, como a primavera. O Harry parece ser uma pessoa feliz, alegre e divertida, mas isso é só um disfarce. Ele tem muita dor dentro de si, muita dor... Eu sei o que é isso. Sei como é querermos libertar-nos daquele vazio imenso, de toda aquela escuridão, e simplesmente não conseguirmos.
" P-porque dizes isso? "
" Eu sei sobre isso. " Ele faz uma pausa. " Sei o que é sentir medo, e também sei que não podemos deixá-lo levar o melhor de nós mesmos. "
Não podemos deixá-lo levar o melhor de nós mesmos. Não podemos deixá-lo levar o melhor de nós mesmos. Não podemos deixá-lo levar o melhor de nós mesmos. Não podemos deixá-lo levar o melhor de nós mesmos.
Essa pequena frase, mas com um grande significado, ficou a morar na minha mente, como um bom estrangeiro sem ter para onde fugir. E dei por mim a querer aproximar-me de Harry e susurrar-lhe ao ouvido uma simples frase: Tarde demais Harry... Tarde demais.
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☯ oláaa! Como assim, estou quase a chegar às 1.000 visualizações?! Omg ainda nem acredito.
☯ Adorei simplesmente escrever este capítulo. E se vocês repararem, ele revela um bocadinho do passado do Harry.. Não digo mais nada ahaha.
☯ Espero que tenham gostado! Beijinhos, amo-vos. ❤️