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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
nota final.

epílogo.

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By hellenptrclliw

Eu me deparei com uma árvore caída
Eu senti seus galhos olhando para mim
Esse é o lugar que costumávamos amar?
Esse é o lugar com o qual tenho sonhado?

Oh, simplicidade, aonde você foi?
Eu estou ficando velho e preciso de algo em que confiar
Então me diga quando você vai me deixar entrar
Eu estou ficando cansado e preciso de algum lugar para começar

E se você tiver um minuto, por que nós não vamos
Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?
Isso pode ser o final de tudo
Então, por que nós não vamos
Para um lugar que só nós conhecemos?
Um lugar que só nós conhecemos

SOMEWHERE ONLY WE KNOW | Keane.


GWEN MARIE EVANS. Por tempo limitado. Poderia ser só por alguns dias, mas minha namorada era um pouco neurótica. Ela jurava que precisava de meses para planejar um casamento, e eu achava — tinha certeza — que era um exagero. Toda vez que ela mencionava a palavra "meses", algo no meu interior murchava e morria. E toda vez que isso acontecia, ela me oferecia um olhar solene e dizia que eu estava exagerando. Alyssa havia me dito que eu estava sendo esperançoso demais achando que um casamento era uma questão de dias, e que eu deveria aumentar a dose do meu remedinho.

Parei de tomar remedinhos há um ano, mas a piada permaneceu.

Gwen Marie Evans. Por tempo limitado. Gwen Marie Young, por tempo indeterminado. E foi uma honra estabelecer que eu manteria o sobrenome de Liliana depois de conversar com meus irmãos.

Respirei fundo, apenas para sentir o fôlego preso novamente quando Gwen voltou para nosso quarto, puxando a toalha que envolvia seu corpo. Meu olhar percorreu as curvas e centímetros que eu conhecia melhor do que conhecia a mim mesmo, e meu coração começou a bater mais forte. Pensei inúmeras vezes em como faria o pedido para ela, e não consegui chegar a nenhuma conclusão. Deveria ser na frente da família? Mas então, Gwen era reservada como eu, e sei que ela gostaria que fosse um momento apenas nosso. Deveríamos ir jantar? Deveria ser aqui em casa?

Qualquer uma das opções, no entanto, parecia simples demais para essa mulher. Eu poderia passar o resto da minha vida ao seu lado e duvidava que ela entendesse o quanto eu a amava.

Então, dois dias atrás, eu me lembrei de algo.

Deveríamos procurar um lugar alto na cidade, como na saída dela, por exemplo, onde há aquelas colinas na costa cercadas por árvores altas e que dão uma visão especial de toda a cidade — ela me disse, muito tempo atrás. — Porque poderíamos ver o céu inteiro de lá, e você poderia passar horas me contando sobre lendas e mitos, e histórias antigas sobre o universo, sobre as estrelas.

Esse dia, anos atrás, foi quando ela me descreveu o que seria um "encontro perfeito" para ela.

E deveríamos fazer um piquenique. Sem ninguém para ficar com ciúmes e sem pratos caros para que você não fique olhando torto para todo aquele desperdício de comida. E sem ninguém por perto, poderíamos ser nós mesmos. Você poderia rir até sua barriga doer e eu poderia me constranger até que você me salvasse de mim mesma com um beijo.

Eu era muito idiota, porque demorei tanto para lembrar isso. Na época, nunca realizamos seu desejo e nem nos anos seguintes, e de alguma forma parecia que tudo tinha sido por um motivo. Então, eu pesquisei e hoje em dia, haviam locais na colina mais próxima que já era um ponto de lazer, durante o dia ou à noite. Trilhas e a vastidão do campo. Estive nervoso nos últimos dias, esperando por esta noite. Eu não tinha os itens para realizar o piquenique que ela queria. Tinha um champanhe, os cookies de Rosie, sua mãe, que ela amava. E um anel. E meu coração.

Dei tempo a ela. Tempo para que ela visse que poderia construir sua vida individualmente, separada de mim, para que percebesse que éramos uma força completa e que não atrasaríamos um ao outro. Ao longo dos anos, consegui três promoções quase consecutivas, e eu era um daqueles caras que você via de longe, ou lia seu nome em artigos e pensava "nossa, esse cara é inteligente". Ela trabalhava para três empresas de marketing e fazia trabalhos autônomos, e frequentemente via sua assinatura gravada abaixo de algum design novo na internet e pela cidade. Claro que ela ainda tinha um longo caminho a percorrer, mas já havia construído sua estrutura.

Gabriel me disse, há muito tempo, que temia o bem estar da filha por estarmos em processos completamente diferentes da vida. Fiquei bravo na época, mas em retrospecto, sabia que ele tinha razão. Foi por isso que me empenhei em provar que, apesar disso, éramos capazes de nos construirmos e, então, construir nossa vida. A vida de Ethan e Gwen não poderia existir antes da vida de Ethan e da vida de Gwen.

Eu estou pronto.

Há muito tempo.

Você pode me chamar de louco, mas acho que estive pronto, no fundo, desde a primeira vez que a vi.

— Muito suspense aí — disse Gwen, enquanto se arrumava. — Espero que seja em algum lugar que você possa me foder.

Esse lado confiante dela ainda me pegava de surpresa às vezes.

— Vou pensar nisso — eu respondi.

Embora, no entanto, talvez meu nervosismo não permitisse que meu corpo funcionasse como era o esperado. Uma gota de suor escorreu por minha têmpora quando ela vestiu um sapato social para combinar com seu vestido verde musgo, com uma camada delicada de um tecido que cintilava sob a luz. Certamente não era a roupa ideal para o que eu havia planejado, mas eu a queria linda e confortável. Isso era para ela. Eu me sentia bem para caralho quando a fazia se sentir tão especial quanto merecia.

Quinze minutos depois, ela estava pronta. Com o que era necessário para a noite muito bem escondido comigo, eu coloquei uma venda em seus olhos e dirigi.

Allie: EU DEIXEI O LUGAR PERFEITO RESERVADO
Allie: E FIQUEI ESPREITANDO ENTRE AS ÁRVORES PARA TER CERTEZA QUE NINGUÉM IRIA TIRAR DE VOCÊ
Allie: MAS AGORA, TEM UM HOMEM ME PEDINDO PARA VOLTAR PARA A CIDADE PORQUE ESTOU ASSUSTANDO AS CRIANÇAS
Allie: Ele era da polícia. Ainda bem que eu não ofereci um boquete para ele me deixar em paz, né?

Jesus.

Limpei o suor da minha testa outra vez, enviando um breve texto para Alyssa de que já havíamos chegado ao local. Mesmo de longe, era possível ouvir o ruído distante das pessoas lá em cima, no final da trilha, e como não era capaz de organizar isso sozinho — segundo minha irmã — ela foi responsável por deixar tudo pronto para que Gwen suspeitasse o mínimo possível do que estava acontecendo. Conforme dei a volta no carro e abri a porta dela, a caixinha do anel queimou um buraco, profundo e ardente, na minha perna.

Não acho que estive tão nervoso em minha vida inteira.

— Oi, amor — murmurei, aproximando-me dela e liberando seu cinto. — Chegamos.

— Posso tirar a venda?

— Não.

— Que droga.

Quando ela desceu do carro, o cascalho sob nossos pés a fez oscilar em seus saltos. Nossa, eu era um idiota. Mas eu deveria ter dito a ela para colocar um calçado confortável? Para que ela pensasse no motivo? Eu não tinha uma mulher tapada ao meu lado. Costumávamos sair para jantar sempre que tínhamos a oportunidade, então não pareceria suspeito.

Mas vendá-la era muito discreto, né?

— Querida — chamei, segurando sua mão. — Você pode montar nas minhas costas.

Ela parou. — O quê? Ethan, para onde diabos estamos indo?

— Para um lugar diferente.

— Com cascalho? — ela ecoou. — E tem um cheiro tão bom aqui, de natureza... E é quieto. Não parece que estamos... Ah.

Senti a ponta das minhas orelhas esquentando. Essa não tinha sido uma boa ideia.

Então, ela ficou ainda mais rígida na minha frente, seus lábios pintados de uma cor escura se abrindo em um "O" perfeito. Eu percebi a maneira com que suas sobrancelhas subiram por trás da venda, e seu pulso disparou em minha mão.

Merda.

Ah — ela suspirou novamente. — Você vai me pedir em casamento.

Você tem que estar brincando comigo.

— Quê? — tentei soar o mais surpreso possível. — Do que você está falando?

Havia uma razão, obviamente, para que eu fosse astrônomo e não ator.

— Nós estamos fora da cidade, não estamos? E você tem agido tão esquisito nos últimos dias...

— E?

— E? Você vai me pedir em casamento.

Minha têmpora começou a doer. Continuei falando coisas genéricas enquanto ela permanecia congelada na minha frente, descrevendo todas as razões pelas quais chegou nessa conclusão e eu me aproveitei da ansiedade que desenrolou sua língua para enviar um S.O.S no grupo denominado "SOS". Foi ideia de Caden. Ele queria disfarçar, caso Gwen visse meu celular eventualmente. Não era um bom disfarce, mas ele era um bom amigo.

Ethan: ELA DESCOBRIU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

— Eu estava achando que você...

— Sim....

Allie: FINJA! JURO POR DEUS QUE SE EU QUASE TIVER SIDO PRESA PRA VOCÊ SER UM IDIOTA, NÃO VAI TER CASAMENTO
Allie: VAI SER UM VELÓRIO
Hunter: Não sei que porra você vai dizer, mas você vai enganar ela, irmão.
Caden: Tira isso da cabeça dela, mesmo que ela fique envergonhada ou decepcionada depois
Hunter: E aí, nem que demore o resto da noite, você faz o pedido
Ethan: Fácil falar. Estou morrendo
Caden: Sim, é bem fácil falar, por isso não sou eu que estou me casando
Allie: CONSERTTA ISSSDO AGHORW

Era um sinal de emergência quando Alyssa começava a digitar errado.

Allie: Ethan, eu vou te matar.

—E... Ethan?

Pisquei, enfiando o celular novamente no bolso. Respirando fundo um par de vezes, tentei controlar a ansiedade iminente para me recompor. Aproximando-me, desamarrei a venda com muito cuidado para não estragar seu cabelo e maquiagem, coisa que ela odiava, e esperei que sua visão voltasse ao normal antes de falar. Incrivelmente, devia estar expressando a quantidade de emoções que uma parede seria capaz, porque suas bochechas ficaram imediatamente coradas e ela franziu a testa.

— O quê?

Pensando nas ameaças de Alyssa, balancei a cabeça.

— Sinto muito, G — comecei. — Eu queria fazer uma surpresa, porque me lembrei de quando conversamos sobre como seria seu encontro perfeito. E mal estávamos nos vendo nos últimos dias, então... pensei que seria legal.

Ela esperou, enfim, muda.

— Mas não é um pedido de casamento, querida — soei sincero, olhando de um lado para o outro em seus olhos. — Desculpa. Não pensei que você estava pronta.

Levou alguns segundo até que ela piscasse e voltasse a respirar. A decepção em seus olhos me fez querer descer imediatamente em um joelho, mas fez uma alegria crescer em meu peito de forma incontrolável. Isso significava que ela estava pronta e, que depois disso, eu não passaria por um idiota completo.

— Desculpa — repeti, para consistência do ato.

— Tudo bem — ela disse, a voz tímida. — Eu só...

— Eu sei — toquei sua bochecha. — Parece suspeito mesmo. Desculpa. Talvez seja um bom momento para falarmos sobre como você espera que isso aconteça.

Isso trouxe um sorriso aos seus olhos, e ela se recuperou rapidamente do constrangimento.

— Isso parece bom — ela disse, então olhou acima do meu ombro. — E, sim, acho que vou ir nas suas costas. Não sei por que você não me pediu para colocar um tênis.

Outra gota espessa de suor correu por minha têmpora.

Gentilmente, eu a pousei sobre a manta que Alyssa tinha posto sobre a grama. Ela tinha, realmente, se empenhado nisso. O lugar tinha a vista perfeita das luzes da cidade, cercado por árvores que tornavam mais fácil de respirar, mas tinha uma visão espetacular do céu nessa noite estrelada. Apesar de não conseguir pensar em uma história boa o suficiente para contar a ela, talvez eu nem precisasse. Eu queria que ela olhasse para lá. E queria que ela se perguntasse, realmente, como o universo funcionava. Qual a vastidão dele. Como e quando as coisas aconteciam.

Eu disse a ela quando conversamos sobre isso, que ela tinha roubado minha ideia. Porque simplesmente tinha colocado minhas coisas favoritas em um lugar só.

E era tão nostálgico que, anos depois, eu estava certo.

— Uau — ela respirou, olhando ao redor.

Fiquei parado, como um idiota, olhando para ela sem piscar. Aquele vestido cintilante. O cabelo caindo em cascata pelas costas, com algumas mechas mais iluminadas, porque no mês passado ela decidiu que precisava mudar um pouco. A maquiagem suave que apenas ressaltava sua beleza. A maneira com que essa mulher sofisticada e elegante era a mesma que ainda vestia all-star e vestidos floridos, jaquetas de couro e camisetas ridículas de desenhos animados.

A mesma que ficou ao meu lado por meses, anos, brilhando para mim mesmo quando eu queria ficar no escuro.

A vida teria sido tão diferente sem ela.

Nunca quero descobrir.

— Muito obrigada, Ethan — ela sussurrou. — Isso está lindo. É nostálgico.

—É, — respondi, assustado com a emoção em minha voz.

Ela girou nos calcanhares, avaliando o que estava sobre a manta, que eram simplesmente duas taças, seu champanhe favorito e uma caixa de cookies. Sem jantar. O nervosismo mostrou sua face feia novamente, mas recuou assim que um daqueles meus sorrisos favoritos surgiu em seu rosto.

— São os cookies da mamãe?

— Sim. Comentei que estava pensando em fazer algo para você, e ela disse que você não ia lá há alguns dias.

Ela grunhiu. — Deus, nem me fala. Essa coisa da pós-graduação está consumindo todo o tempo que sobrava.

— Mas é por uma boa causa, certo?

Nós nos sentamos, lado a lado, e eu sentia meu estômago cada vez mais agitado. Ela parecia alheia a tudo, não parava de olhar ao redor, admirada, contemplando tudo que aqueles olhos verdes conseguiam. As pessoas ao redor nem sequer nos notavam, e eu me sentia muito mais confortável do que se tivesse feito o pedido perto dos nossos familiares. Esqueça o que disse. Essa tinha sido sim uma boa ideia, mesmo que eu não tivesse conseguido contornar a situação.

Gwen continuou falando sobre seu dia, sobre uma mulher que não gostava dela no trabalho, mesmo que ela nem sequer trabalhasse no horário integral. Sobre como alguns alunos estavam falando mal do orientador deles, embora ele estivesse ajudando Gwen a conseguir as melhores qualificações. Ela falava sobre o novo restaurante que Alyssa e ela descobriram quando saíram para almoçar alguns dias antes.

Ela falava muito.

Como um bálsamo para mim.

Pisquei, ouvindo cada palavra preciosa que saía de sua boca. Eu sempre a ouvia. Sempre olhava para ela. Ela era minha pessoa favorita. Era tão bom saber que eu estive certo desde o começo, afirmando que meus sentimentos não mudariam se tivesse a sorte de mantê-la ao meu lado.

Quer dizer, nem tão certo, porque mudaram.

Eles cresceram.

Nós crescemos.

— Querida —, eu a chamei, interrompendo-a no meio de uma palavra — você é linda.

Ela corou sob a maquiagem e a luz noturna. — Obrigada. Você também.

— E, me desculpa, outra vez — abri um sorriso malicioso. — Tem gente demais aqui. Você vai ter que esperar até chegarmos em casa.

Ela gargalhou, distraída enquanto abri a caixa de cookies para ela.

— Tudo bem — ela encolheu um ombro, pegando um biscoito. — Você vai fazer valer a pena.

Nós conversamos sobre tudo o que havia acontecido nos últimos dias, desde a escola de Calum até nossos trabalhos e rotina. Ela me disse que sentiu minha falta, e eu disse que também senti. Disse que iria voltar para a academia agora que tinha mais tempo, e disse que em outra noite, enquanto eu estava dormindo, ela achou um cabelo branco na minha cabeça. Disse que nunca se sentiu tão bem na vida. Disse que se sentia orgulhosa do próprio nome.

Eu ri, porque que coincidência maravilhosa.

Eu disse que também sentia orgulho do meu próprio nome.

Eu tinha minha família, minha casa, meu trabalho. Lugares seguros. Pessoas para quem voltar, pessoas que tornavam tudo melhor. Conquistas em meu nome. Orgulho e dignidade.

Era muito bom estar vivo.

E quando Gwen inclinou a cabeça, com aquele olhar conhecedor, eu senti meu coração derreter.

— Nós chegamos longe, não é?

Balancei a cabeça. — É. Longe pra caralho.

Então, apenas porque eu queria ir tão longe quanto fosse capaz, quando ela desviou o olhar novamente com um sorriso no rosto para contemplar o céu, eu enfiei a mão em meu bolso e puxei a caixa de veludo verde. A outra coincidência com seu vestido diminuiu uma pequena fração da minha ansiedade. Verde era minha cor favorita no geral, mas nela também, e ela sabia disso. Verde, como aqueles olhos.

— Ei — chamei, minha voz tão suave que a fez olhar imediatamente para o meu rosto. — Estou desconfortável. Preciso arrumar essa manta por causa da minha calça.

— Tá bom.

E, assim que minha bobinha parou em pé, eu me ajoelhei.

E a ansiedade foi embora.

Ainda não encontrei algo mais forte do que meu amor.

— Ei — eu sussurrei.

— Ei.

— Eu... — pigarreei. — Bem, sim, vou pedir você em casamento. Desculpa. Precisei mentir um pouquinho lá atrás.

— Tudo bem — respondeu ela, estática, encarando-me. — Continua.

— Eu venho planejando isso por dias — confessei. — E nada se compara a ter você aqui, agora. Eu li alguns livros. Pesquisei em dicionários, pensando em ter o discurso perfeito, mas eu não tenho. Eu nunca consigo encontrar as palavras certas para descrever você.

Gwen piscou, e uma brisa correu pela copa das árvores e nos atingiu, balançando a gola da minha camisa e agitando as mechas de seus cabelos. Em nenhum momento me permiti desviar meu olhar do seu.

— Eu poderia dizer que você é a mulher mais impressionante que já vi, e que às vezes, fico tão orgulhoso de quem você é que quero gritar para todo mundo — lambi os lábios secos, continuando: — Que você é o ser humano mais bonito que já conheci. Que às vezes eu me pergunto se existe alguma realidade, alguma parte de você, que eu não ame. E a resposta é não, caso você queira saber.

Uma risadinha baixa vibrou em seu peito.

— E que eu tenho ciúmes, porque se você fosse de outro, eu te roubaria — minha voz ficou rouca, viva com a sinceridade. — E que fico esperando que alguém tente te tirar de mim, porque, porra, quem não iria querer?

Ela corou, até o colo.

— E eu poderia dizer que o para sempre parece uma miséria de tempo para estar ao seu lado, mas se é o máximo que consigo, então é o que eu quero — disse. — E se é verdade que existem outras vidas, eu faria coisas imperdoáveis para garantir que você estivesse nas minhas. Não sou religioso, Gwen, mas vou seguir você. Aqui e em qualquer outro lugar. Rezando para que você me ame por tempo o suficiente para nutrir, pelo menos um pouco, a fome que eu sinto por você.

Após uma pausa, mais palavras vieram:

— Estive perdido por muito tempo. Alguns sentimentos nunca voltaram para seu lugar, mas estes que eu sinto por você? — balancei a cabeça, um sorriso tenso em meu rosto. — Pertencem a você. Apenas a você. Sempre a você. Eles nasceram quando te conheci e nunca vão morrer, mesmo quando você me deixar. Você nunca vai entender o quanto eu te amo, Gwen, e se um dia entender, você ficará apavorada.

Abrindo a caixa, revelei o anel diante dela.

— Eu poderia dizer essas coisas — murmurei, minha voz tão firme. — E poderia dizer que você é o meu lar. Que não importa o lugar em que você esteja, você é a minha casa. Você é o meu caminho. Eu aprendi a amar, amando você.

Suas mãos trêmulas foram até seu rosto, para enxugar as lágrimas.

— Você queria um céu estrelado — eu olhei para cima, e então para ela novamente. — Eu conheço tudo por trás disso, e nada me impressiona tanto quanto você. Céu estrelado, universo, Sirius... O que você achar bonito aí em cima. Nada disso chega aos seus pés.

Tirando o anel da caixa, eu a deixei cair em seus pés e estendi minha mão, instável, para ela.

— Então, minha estrela mais brilhante, você faria a gentileza de se casar comigo?

— Deus, sim, por favor.

Graças a Deus, porra.

Eu deslizei o anel em seu dedo, e ela nem sequer olhou para ele antes de se ajoelhar em minha frente e jogar seus braços ao redor dos meus ombros. Eu inspirei seu perfume, mergulhei na sensação de sua pele e ignorei alguns gritos e assovios ao nosso redor. Aparentemente, as pessoas não estavam tão alheias assim.

Mas, acima disso, estava a força com que meu coração estava batendo.

Eu não acho que estive tão feliz na vida.

— Eu te amo — ela disse, salpicando beijos por todo o meu rosto. — Eu te amo tanto, Ethan.

— Eu posso ver, — zombei, espalmando a base de sua coluna. — Mas, ei, você nem olhou seu anel.

Ela fez uma pausa, e seu sorriso era tão estonteante que nem sequer prestei atenção enquanto ela avaliava a joia. Tinha uma esmeralda no centro, em um design alto, mas não chamativo o suficiente para atrapalhá-la no dia a dia. Cravejada com pedras menores no aro do anel, contornado por outro aro mais fino ao seu redor que se conectava bem abaixo da pedra, parecendo um símbolo do eterno. Era delicado, como ela, mas valioso, como ela. A pedra tinha o formato oval, e era quase do tom dos olhos dela.

Eu tinha o anel de noivado da minha mãe, que ela planejava dar para o filho que casasse primeiro, mas não consegui imaginar no dedo de Gwen. Então, passei adiante, para minha irmã.

— É tão lindo — ela sussurrou. — Eu amei. Você realmente me conhece.

Espalmei sua bochecha, afastando algumas mechas de cabelo.

— Tudo por você, querida. Tudo.

— E você é o meu lar, também — ela sussurrou. — Obrigada por ter me encontrado. Eu te amo, Ethan.

Eu encontrei.

Encontrei a estrela mais brilhante. Ela me guiou de volta para casa.

E a roubei, apenas para mim, e nunca irei me arrepender.

. . .


No outono, as folhas velhas despencavam em grande quantidade em torno deste exato ponto de terra. Eu gostava mais dessa época. Acho que era por causa de como o sol ficava bonito daqui, especialmente ao amanhecer e o anoitecer. Até seu último fio de luz, ele deixava feixes nessa direção. Era silencioso, calmo; permitia que você pudesse pensar e sentir. A beleza ao redor de algo tão triste.

Abaixando-me, coloquei em um ponto plano de terra uma garrafa de cerveja. Era a favorita dele. Passei o polegar no relevo da escultura, removendo a poeira incrustada ali. Ninguém além da minha noiva sabia que eu vinha aqui com tanta frequência.

— Chicago Bulls ganhou ontem à noite — anunciei. — Você deveria ter visto. Foi incrível.

Uma risada escapou dos meus lábios.

— Eu sei, certo? — disse, olhando para cima do meu lugar agachado. — Que porra eu entendo de basquete? Ou melhor, desde quando eu me importo com basquete?

Inclinei a cabeça, certa irritação tensionando os músculos das minhas costas. Eu não sei por que Leonard pagava um serviço de limpeza e manutenção uma vez por semana, se havia tanta sujeira aqui. Talvez, em nosso almoço no sábado, eu criasse coragem para dizer a ele que qualquer um de nós cuidaria melhor disso. Talvez. Suspirando, inclinei-me novamente e puxei do bolso esquerdo do meu casaco um lenço, usando o mesmo para clarear as palavras gravadas na escultura.

Este era o ponto mais alto do cemitério, e as pessoas sempre paravam para olhar. A escultura não merecia estar suja assim. Como se ninguém se importasse.

Nós nos importávamos.

Tanto que, ao limpar, ler estas palavras ainda me deixava doente.

— Pronto — disse. — Agora está melhor.

EM MEMÓRIA DE LEON REED ST. JOHN.


— Que coisa louca — eu continuei. — Em "memória". Era para você estar aqui, criando essas memórias. Você só tinha vinte e dois anos.

Sacudi minha cabeça, consternado. Eu vinha aqui quase todos os dias e, portanto, estava começando a ficar sem ter o que dizer. Contar como foi o meu dia e dos nossos amigos, dizer-lhe que não concordei com essa escultura, mas apreciei o gesto. Contar-lhe que vinha diretamente das mãos talentosas de Alyssa James Young. Contar-lhe que era uma dor extraordinariamente bela ver a forma de uma criança, equilibrada em um pé enquanto o outro joelho estava dobrado, e ela olhava para cima, como se almejasse a cesta.

Sua mão estava erguida, e nela, se mantinha uma bola de basquete.

A única coisa com cor na escultura eram os olhos da criança.

Dourados.

Uma lágrima escorreu do meu olho esquerdo.

— Odeio cemitérios — murmurei, sendo recebido por um silêncio infinito.

Respirei fundo antes de me levantar, limpando as mãos uma na outra.

— Bem, tenho que ir — anunciei. — Foi bom falar com você. Até outro dia, John.

FIM.

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Início: 16/09/23 Término: ?