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Od hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... Více

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

55. se apaixonar.

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Od hellenptrclliw

Isso se tornou algo muito maior
Em algum lugar em meio à névoa, eu senti que havia sido traída
Seu dedo no meu grampo de cabelo me engatilha
Soldado caído naquele chão gelado
Olhou para mim com honra e verdade
Quebrado e triste, então eu mandei as tropas recuarem

Aquela foi a noite em que quase te perdi
Eu realmente pensei que havia te perdido
Nós podemos plantar um jardim de memórias
Fazer uma oração solene, colocar uma coroa de flores em meu cabelo
Não há manhã de glória, era guerra, não era justo
E nós nunca voltaremos

Sempre se lembre
Uh-huh, nós queimamos para melhorarmos
Eu juro que sempre serei sua
Porque sobrevivemos à Grande Guerra

THE GREAT WAR | Taylor Swift





SETE HORAS DA MANHÃ, uma brisa perfeita nos agraciava na pequena mesa de café da manhã improvisada, diante da janela estilo francesa mais próxima da cozinha. Com quatro lugares, não havia espaço suficiente para que sua perna não esbarrasse no colega ao lado. Não era suficiente para que você não batesse sua mão na xícara do outro eventualmente, mas era suficiente para um café da manhã em família onde você conseguia realmente ver um ao outro. E no entanto, a quarta cadeira vazia carregava um fantasma ausente por quase quatro semanas agora.

Eu respirei fundo, aproveitando a brisa fria que refrescava o ambiente e minha própria mente. O cheiro de café e pão fresco, madeira e móveis novos. Olhei ao redor, contemplando a graciosa bagunça da mudança.

Essa era a casa de Ethan James Young agora.

Recomeços.

— Gwen, será que você pode me ajudar?

Olhei na direção de um pequeno Calum, cabelos loiros bem penteados e rosto limpo, camisa xadrez para dentro de uma calça jeans escura, e um clássico all star que definitivamente já viu dias melhores. Essa era uma roupa muito social para um garotinho com a energia de dez fardos de energético. Eu estendi minha mão para ele, que a alcançou ao sentar na cadeira ao meu lado onde anteriormente havíamos compartilhado o café da manhã. Nos últimos dias desde a mudança, Calum passava a maioria das noites aqui, tanto que tinha um quarto somente para ele e a maioria de suas coisas acabou vindo para cá - por escolha dele.

Alyssa ainda era uma casca difícil de quebrar, mas pelas conversas que tínhamos diariamente, ela não se ressentia por eles, o que levou Ethan a ter certa dose de paz ao saber que apesar de não ter a visto em três semanas, ela ainda não afastaria Calum dele. Nunca tive dúvidas. Na verdade, penso que Alyssa se ressente de si mesma por ter colocado essa distância entre Ethan e ela desde que descobriu sobre Malorie. Tantas coisas boas aconteciam em meio a tantas ruins, e eles deveriam estar juntos para compartilhar isso.

Eu tento não me intrometer, porque meu pai diz que não devo interferir em assuntos que nem eles estão prontos para encarar, mas... é difícil. É difícil ver duas pessoas que se amam tanto manchadas por erros dos quais não tem culpa.

Ainda falava com Alyssa e a via quase todos os dias, e era responsável por atualizar Ethan sobre como ela estava. E atualizar Alyssa de como Ethan estava, mesmo que ela não precisasse perguntar. Normalmente, ela fazia alguma suposição que me permitia a entrada para falar dele, o que percebi dias depois que era apenas uma técnica. Eu não os entendia. Depois de tantas perdas...

— Eu fiz esse desenho — Calum chamou minha atenção, abrindo uma folha de papel diante do meu rosto. — Mas agora, não sei para quem dou. Esse é o melhor. Se eu fizer um novo, não vai sair tão bom.

Contemplando o desenho, um sorriso estendeu meus lábios. O boneco exageradamente alto e de feições sérias só podia ser meu namorado, a boneca menor e de longos cabelos castanhos deveria ser Allie, e ele, de cabelos loiros bagunçados entre os dois o próprio artista. O céu era azul, com um sol dourado no canto da folha. Abaixo dizia "presente para a casa nova, de Calum James Young".

— Eu não sabia que iríamos morar em casas separadas quando fiz — murmurou ele, triste. — Agora não quero que o mano fique triste se eu der para a Allie. Ou o contrário...

Ele dobrou o desenho novamente, cuidadosamente guardando no bolso da frente de sua mochila. Seus olhos procuraram os meus em busca de uma direção, e eu me perguntei o quão difícil era criar uma criança. Ser sua bússola, ser aquela pessoa na qual a criança acreditará ter todas as respostas do universo. E se for a resposta ou a decisão errada, isso refletirá para sempre. Ser um bom exemplo, ser um lugar de confiança para todas as coisas assustadoras que o mundo ainda mostraria a Calum.

Ethan me proporcionou sentimentos imensuráveis desde que cruzou meu caminho.

Respirando fundo, inclinei-me para segurar sua mão.

— Bom, como você está passando a maior parte das noites aqui com Ethan, eu acho que é justo que Allie receba o desenho. Você não acha?

Seus expressivos olhos azuis demonstraram dúvida.

— E então, com mais calma, você poderá fazer um para ele — sugeri. — Porque ele já está muito contente em ter sua companhia quase todos os dias.

— Eu também gosto de ficar com ele — Calum disse. — É bom ter um garoto para ficar comigo.

Ele arregalou os olhos. — Não que eu não goste de ficar com a Allie! Eu gosto! Eu amo! — ele fez uma pausa, encolhendo os ombros. — Mas é legal estar com o Ethan também. Ele joga jogos de menino comigo, e diz coisas de menino. Eu gosto de ficar aqui. Será que a Allie vai ficar triste?

— De forma alguma, Callie. Ela está feliz por você — acariciei sua bochecha, afastando minha mão da sua. — Aposto que quando tinha sua idade, ela também só queria ficar perto do irmão mais velho.

Meio irmão.

Calum sorriu. — É verdade. Acho que você tem razão.

— Sempre que você precisar, pode me procurar, tá bom? — procurei seu olhar, afirmando minhas palavras com um pequeno sorriso. — Vou te ajudar da maneira que eu puder, a qualquer momento.

Calum James Young me surpreendeu ao pular da cadeira e envolver meus ombros magros em um abraço desajeitado, que imediatamente retribuí. Ele encostou sua bochecha em meu peito, e senti o sorriso que apertava suas bochechas. Ele era um menino extremamente sensível e expresso — puro —, e apesar de não dizer, sabia que notava a distância entre Alyssa e Ethan. E sabia também que, por um tempo, o melhor seria não se intrometer entre os dois. Afinal, ele ainda era a prioridade número um dos dois, e sempre seria uma das coisas mais importante na vida deles. Ele sempre estaria amparado, sempre teria refúgio.

Eu queria vê-lo crescer, entender as coisas, conhecer a vida.

Ele deveria ser apenas o garotinho para o qual fiz uma boa ação comprando Naruto para que ele pudesse se entreter.

Agora ele era uma das minhas preocupações diárias. Uma das coisas importantes. Ele era família.

— Também tô aqui se você precisar de alguma ajuda — disse ele. — Embora não possa ajudar em muita coisa. Mas posso te acompanhar, e te acobertar se você fizer algo errado e Ethan quiser te dar uma bronca!

Eu ri, não pude evitar.

Essa família me fez pertencer novamente.

— Fica com o Ethan pra sempre, ok? — pediu, afastando o rosto. — Eu meio que gosto muito de você. Não vou gostar de nenhuma outra aqui em casa além de você.

— É o que eu também peço a ela, Callie — a voz profunda surgiu atrás de Calum. — Talvez você possa convencê-la para mim.

— Eu posso! Vai, Gwen, faz uma promessa comigo.

Selando as digitais de nossos indicadores e com um longo beijo de despedida em minha bochecha, eu meio que prometi ficar para sempre com o irmão frio e antipático, maníatico e indiferente de Calum James Young. Meio que prometi ficar para sempre com o homem que atravessou a sala até se inclinar sobre mim e tocar sob meu queixo, deixando o mais suave dos beijos em meus lábios, que me fitou com profundos e caóticos olhos cor de avelã e murmurou:

— Para sempre ainda parece pouco tempo para estar com você, minha estrela.

Está bem então, Calum. Posso ficar para sempre com o seu irmão.

. . .

Eu estava esboçando uma nova logo para o escritório do papai quando meu celular começou a vibrar em cima da cama. Ele havia me pedido cinco esboços diferentes para que pudesse escolher, prometendo pagar o valor justo — mesmo que fosse uma honra ser a designer dele. Gabriel Evans era um cliente difícil, mas por saber que ele tinha as melhores intenções por trás desse pedido, eu o relevava na maioria das vezes.

Ignorando o celular, voltei a traçar a volta da letra G na tela.

Não mais que cinco minutos depois, no que parecia ser a quinta vez que o celular tocou, eu me levantei com certa irritação para ver o nome de Allie na tela. Era apenas 17h da tarde, e ela deveria estar saindo do trabalho. Sem Ethan, que no começo costumava encontrá-la para que voltassem para casa juntos antes que essa animosidade tomasse conta deles, às vezes ela pedia carona. Às vezes caminhava até tarde em ruas familiares. Às vezes me pedia para encontrá-la sobre a ponte do parque.

Às vezes, ela deixava escapar que eu meio que era a melhor amiga dela.

Portanto, deslizei o dedo no ícone verde.

— Oi — disse, baixando o volume da música na caixinha de som. — Tá tudo bem?

Houve um momento de silêncio, seguido de um longo suspiro.

Preciso da sua ajuda em uma coisa — a voz dela estava tensa, no limite. — Será que você pode vir aqui no apartamento?

— O que está acontecendo?

Eu fiz merda, Gwen — ela murmurou. — Fiz muita merda dessa vez.

Era de se suspeitar que, apesar de tudo, as coisas estivessem calmas demais.

Vinte minutos mais tarde, eu estava no elevador do prédio onde os irmãos Young moravam, caminhando no corredor de um andar acima do que eu costumava frequentar todos os dias. Era curioso como esses dois conseguiram realizar com sucesso a artimanha de não se cruzarem em nenhum momento do dia morando no mesmo prédio. Eu estava lentamente começando a ficar de saco cheio disso, mas Ethan dizia que Alyssa precisava de tempo. E que não conseguir desassociar Malorie dele era esperado e compreensível.

Alyssa sentia tanta falta dele que era palpável.

Isso me lembrava do meu pai e eu, e como nos perdemos tanto um do outro no último ano e como demoramos para encontrar o caminho de volta. Eu não queria isso para eles, mas não era minha decisão.

Toquei a campainha e menos de um minuto depois, Alyssa abriu a porta.

Os apartamentos eram muito semelhantes, mas os toques individuais de cada um davam a vida necessária para que esse se tornasse seu lar. As telas de Alyssa, tintas e pincéis. Almofadas coloridas e um mural de desenhos de Calum na parede da cozinha, que ela colecionou pelos cinco anos em que ficaram sozinhos. Suas pastas do trabalho. Algumas peças de roupa aqui e ali, demonstrando a rotina do dia a dia.

E a foto na estante da televisão, sozinha em uma das prateleiras.

Lábios vermelhos de uma garota feliz e olhos dourados olhando para a câmera, um sorriso de menino em um dia feliz com a garota que amava.

Pisquei para longe, porque era um soco no estômago olhar para a imagem. Alyssa fechou a porta, os pés descalços fazendo um baque surdo quando ela cruzou por mim, cruzando os braços ao levar uma das mãos na frente dos lábios. A palidez incomum de seu rosto me assustou, seguido pelos fios bagunçados e umidos de seus cabelos. Kiara dizia que sempre se sentiria estúpida por ter rejeitado Alyssa no passado, ainda mais agora que minha amiga estava demonstrando todo seu potencial no novo projeto dela. Alyssa trabalhava o dia todo e nunca parecia cansada, porque fazia o que gostava.

Ela estava visivelmente saudável nos últimos dias, recuperando o peso que perdeu no final do ano com tudo o que aconteceu. Deixando para trás aqueles episódios escuros que mancharam seu rosto com profundas olheiras e marcas de cansaço.

Eu estive presente enquanto eles se reergueram, mantendo a esperança, porque essa era minha família também agora. Senti a dor à minha maneira e respeitei a deles, que nunca realmente iria embora.

São quase três meses agora.

As pessoas vivem com uma verdade baseada em estatísticas e fatos anteriores.

Qual é a previsão de achar uma pessoa desaparecida com vida?

— Por que você está em casa a essa hora? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Não me diga que vou precisar remover minha tia da família porque ela achou um motivo para te demitir de novo?

Alyssa piscou aqueles aterrorizados olhos coloridos.

— E por que você está assim?

Indiquei sua figura, transparecendo minha confusão. Alyssa era muito composta por fora, sempre tendo a certeza de que tinha sua beleza evidenciada para todos bem ao lado de sua poderosa confiança, independente do dia ruim que estivesse enfrentando. Acho que era sua maneira de reunir um pouco de força a cada dia. Comecei a cuidar de mim mesma quando percebi que estava deixando de me amar, e isso ajudou.

Alyssa arrastou as mãos pelos cabelos castanhos bagunçados, caminhando pelo pequeno corredor que dividia a sala da cozinha.

— Gwen... — sua voz era um sussurro, assustado e preocupado. — Você se lembra de como os últimos meses foram conturbados, não é?

Caminhei para perto, seguindo-a.

— Para todos nós. Você e Ethan, eu e... — ela fez uma pausa, engolindo em seco. — Eu cometi um erro, Gwen. Um erro grande pra caralho.

— Allie, do que você está falando?

Ela parou, cobrindo os olhos com a palma das mãos. Meu coração triplicou seu ritmo quando me aproximei, espalmando seus ombros para tentar conseguir alguma atenção. Estive por perto todos os dias, e ela não estava assim. Isso não era por causa de Ethan, ou o trabalho, ou Malorie.

— Saí mais cedo porque me senti mal — ela sussurrou —, tenho me sentido mal há vários dias. Acho que estou doente.

— Doente?

Alyssa nunca pareceu tão saudável quanto atualmente. Todo mundo dizia que ela estava mais bonita, acreditando até mesmo que era por ter superado a perda de Leon St. John e parado de definhar enquanto esperava por ele. Apesar de tudo, ela estava se reconectando cada vez mais consigo mesma — assim como todos nós.

Eu abri minha boca, honestamente sem saber o que dizer, mas ela foi mais rápida. Afastou as mãos de seus olhos vermelhos e ligeiramente úmidos para segurar minhas mãos entre as suas.

— Levei um tiro — ela continuou —, fiquei hospitalizada, tomei muitos remédios para dor e ansiedade. Eu... eu perdi ele, e isso teve suas consequências, porque eu não conseguia comer ou dormir... ou qualquer coisa.

— E Ethan — concluí seu racíocinio, entendendo o que ela queria dizer. — O problema todo com Ethan e Malorie, o novo projeto no trabalho. Você se descuidou da saúde. Eu entendo. Podemos conversar com a minha médica e...

— Gwen — ela sussurrou, soando desesperada. — Isso começou antes. Começou quando eu fui estúpida demais a ponto de me deixar levar por causa da minha paixão.

Franzi a testa, inclinando a cabeça para longe para poder ler seu olhar melhor.

— Eu me descuidei, Gwen — ela confessou. — Todos os problemas, a paz que ele me trazia. Como ele controlava o caos que eu era. Eu caí, Gwen. Forte, jovem e estúpida.

Uma sensação quente e fria ondulou através do meu corpo, gelando meus ossos. A saliva desceu quente e grossa através da minha garganta quando finalmente entendi o que aquele olhar em seu rosto pálido e assustado significava. O ganho de peso, aquele brilho em sua pele... Esses sentimentos genuinamente mais transparentes. O período conturbado pelo qual todos nós passamos no final do ano e como era fácil associar tudo ao estresse do que aconteceu. Como Ethan também precisava tomar remédios para dormir e não podia tomar café da manhã direito, porque acordava muito enjoado.

Balancei a cabeça, tonta.

— Alyssa...

— Eu não me importei quando minha menstruação não veio no primeiro mês — continuou. — Quero dizer, e daí? Só que então, ela não veio no segundo, e ela não veio agora... E eu parei com a pílula naquele mês. Depois que eu parei pra pensar, Gwen, nem sequer me lembro quando tomei a última vez.

Espalmei minha testa, tentando controlar meus próprios ânimos.

— Mas vocês não se protegiam mesmo assim? — eu disse, soando acusatória. — Allie, vocês não usavam camisinha?

Uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo, orgulhosa e dolorida.

— Não no último dia — confessou ela. — No último não. Ele teve tudo o que quis de mim e eu dei, de boa vontade, burra demais para perceber que estava pulando os dias da pílula.

— Ai, meu Deus — balbuciei, cobrindo meu rosto. — Alyssa. Você já fez um teste?

Ela desviou o olhar, quase como se estivesse envergonhada. Não era minha intenção fazer com que ela se sentisse oprimida, mas meu Deus, ela entendia o que estava dizendo? Ela poderia estar grávida de um homem que a essa altura poderia muito bem estar morto? Do homem que foi cúmplice em sua tentativa de assassinato? Alyssa poderia estar grávida de Leon St. John.

Por estupidez. Porque ela se apaixonou demais.

E ele a deixou para morrer.

— Fiz — ela balançou a cabeça, a voz silenciosa de algum modo. — Fiz seis testes e deixei no banheiro. Não tenho coragem de ir ver, por isso chamei você.

Jesus, meu Deus. Eu meio que gostaria de incorporar um Ethan James Young composto e calmo, preparado para situações como essa como ninguém; ele saberia manter tudo sob controle e ainda seria capaz de apaziguar esse transtorno nos olhos de Alyssa. Como se o que estivesse no banheiro fosse sua sentença de vida ou morte. Eu poderia dizer que não entendia como ela pôde não prestar atenção a todos esses detalhes e descuidos antes, mas então, estaria sendo a Gwen de antigamente. Julgando, sem me dar ao trabalho de analisar a situação como um todo.

E essa garota diante de mim não passou por "situações" corriqueiras nos últimos anos.

Meu coração ficou apertado só de olhar para ela, e antes de mais nada, a envolvi em um abraço fraterno e apertado; para que ela pelo menos soubesse que eu estava aqui com ela, e não contra ela.

— Como eu fui burra... — ela respirou em meus braços, chorando. — Tão burra que não consigo nem acreditar no que fiz.

— Shh. Vai ficar tudo bem, Allie.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não vai — ela chorou novamente. — Se o resultado for o que acho que será, não vai, Gwen.

Deixando-a no sofá escuro de sua sala de estar, atravessei o corredor até a última porta onde seu banheiro ficava. Cada passo e respiração parecia mais alto do que realmente era, e o som estrondoso das batidas do meu coração latejaram atrás da minha cabeça com a ansiedade. Meu Deus. Alyssa não podia estar grávida. Tinha que ser um efeito colateral do estresse, dos medicamentos que ela precisou tomar nos últimos meses, e seu esquecimento contraceptivo seria apenas uma infeliz coincidência que a faria ter o dobro do cuidado do futuro, independente do quão apaixonada estivesse e o quão louca a vida acabasse se tornando.

Meus olhos pousaram sobre os sete testes espalhadas na bancada de pedra da pia, próximos a um grande copo de água.

Porra.

— Gwen?

Eu olhei através da porta aberta para encontrar a figura de Alyssa espreitando no corredor, as mãos cerradas em punhos ao lado do corpo. A camiseta puída escorregou de seu ombro com o movimento, de longe revelando a cicatriz do tiro que poderia ter ceifado sua vida. Eu pensei em como seria se ela tivesse morrido naquele dia. Se Ethan tivesse perdido duas das pessoas que ele mais amava de uma vez só. Penso em como seria se St. John voltasse e explicasse o que aconteceu. Imagino, às vezes, enquanto olho para Ethan, se haverá perdão.

Meio que pensei, também, que quando Alyssa e ele se reconciliassem, não haveria mais problemas a serem resolvidos. Apenas seguir em frente...

Eu ainda sou um pouco tola, como podemos ver.

— Os testes são positivos, Alyssa.

Ela ofegou, espalmando a parede para conseguir apoio. Lentamente, abaixou-se até sentar no chão e encolher as pernas contra o peito e os punhos antes cerrados foram para o seu rosto, cobrindo-o do mundo. Cobrindo-o da vergonha. Eu conhecia essa sensação, mas não poderia imaginar o que ela estava sentindo agora. Tentando me colocar em seu lugar, imaginei como seria descobrir uma gravidez tão cedo com Ethan. Mas então, não tinha nada a ver. Ethan era meu suporte, meu apoio, meu incentivador. E ele estava aqui.

O pai dessa criança de apenas... quase três meses, eu acho? O pai dessa criança deixou a mãe para morrer.

Ele está desaparecido.

Ele está morto, é o que todos pensam, mas são educados demais para dizer em voz alta.

— O que eu vou fazer? — Alyssa murmurou, a voz grossa de lágrimas.

Nos últimos meses, nunca pensei que a veria chorar tanto. Nunca pensei que a veria tão triste. Não havia bálsamo, porque quando eu chegava na casa de Ethan, sabia que a tristeza dele cumprimentaria alegremente o peso que Alyssa deixava em meu coração.

Respirei fundo, agachando-me em sua frente.

— Você tem que ir no médico, Allie — sugeri. — Essa é a primeira coisa que você tem que fazer.

— Não.

Engoli em seco. — Se foi em dezembro, Allie.. Já vai fazer três meses. É muito importante que você faça um acompanhamento, depois de todos os traumas e as medicações...

— Eu não quero, Gwen — ela disse, firme, afastando as mãos do rosto. — Eu não quero essa criança.

Ah. Bem.

— Como eu poderia?

Meu olhar caiu enquanto suas palavras assentavam no ar pesado ao nosso redor. Que ela confiou em mim para vir até aqui era grandioso, mas eu ainda não a entendia tão profundamente quanto apenas uma pessoa fazia. Talvez a única pessoa sensata que ela realmente daria ouvidos. No entanto, ela tem razão, não tem? Como ela poderia gerar essa criança? Depois de tudo? Sozinha? Abrir mão de parte de sua vida tão cedo com uma criança que veio de uma das maiores tragédias que ela já viveu?

Minhas mãos ficaram geladas com uma fina camada de suor.

Eu não sabia o que fazer, exceto dar apoio a ela. Foi o que sempre fizemos.

— Eu vou tirar — ela continuou, resoluta. As lágrimas secaram em seu rosto. — Deve ter uma clínica escondida em algum lugar aqui. Se não, eu sei que na minha antiga cidade tem. Você pode me levar! — ela arregalou os olhos, surpresa com a facilidade da solução que encontrou. — Você pode me levar, eu me livro disso, e ninguém nem vai precisar saber, Gwen.

— Allie...

— Eu não quero que ninguém saiba, Gwen — ela pontuou, procurando meu olhar. — Ninguém.

— Ethan — eu concluí. — Você não quer que ele saiba.

Ela riu; um som amargo e sem humor.

— Você já imaginou a confusão que isso seria? Grávida de um cara que pode muito bem estar morto agora?

Essa era a primeira vez que ela dizia isso, mas era triste, porque sabia que ela não acreditava nisso.

— Do cara que jurou que me amava no mesmo dia em que me deixou para morrer? — ela ri novamente, sacudindo a cabeça. — Todo mundo já me acha uma cadela estúpida, Gwen. Eu me mataria antes de ter essa criança.

Estremeci com as palavras, desviando o olhar. Alyssa respirou fundo, parecendo decidida, e senti algo em meu interior apertar. Ela abortaria a criança? Será que esse era o melhor momento para tomar uma decisão dessa magnitude? E quanto ao que seria o neto de Anthony e Leonard? O sobrinho de Ethan e Calum? O filho dela?

E quem é a única pessoa que terá a vida alterada para sempre?

Alyssa era a mãe da criança. Era quem geraria, quem cuidaria, quem se responsabilizaria pelo resto de sua vida por outra. Seu corpo sofreria as mudanças, seus hormônios, seus dias. Era ela que sofreria as noites sozinhas sem o apoio de um pai, independente de quanta ajuda recebesse.

Era ela que vivia com os traumas deixados por St. John na noite em que ele partiu. Ela levou um tiro por ele.

Ela esteve tão doente, tão traumatizada, que não percebeu que havia uma vida crescendo dentro de si.

Não importava, realmente, o resto. Alyssa era a única arcando com as consequências de um amor que deveria ser esquecido.

— Vem cá — eu a puxei novamente para um abraço, mas dessa vez, ele era resoluto. — Estou aqui para você, não importa o que você decidir.

Isso foi o suficiente para que ela apoiasse a bochecha em meu ombro e começasse a chorar, da maneira mais vulnerável que já vi. Minhas próprias lágrimas zombaram de nós duas, escorrendo pelas minhas bochechas.

— Mas, Allie — eu disse, fungando. — Você precisa contar a ele. Ethan não vai conseguir se perdoar se souber que não pode estar aqui quando você precisou, de novo.

— Ele vai me odiar — ela grunhiu. — Vai me odiar, como já me odeia por não conseguir superar Malorie.

— Ninguém te odeia, meu amor — eu sussurrei. — Todos nós te amamos. Todos nós estamos aqui, ainda estamos aqui. É isso que têm nos mantido vivos. É a única coisa da qual nunca vamos abrir mão.

— Eu só me apaixonei — ela confessou. — Foi só o que eu fiz. Por que tudo isso está acontecendo comigo?

Eu gostaria de ter uma resposta.

No entanto, tudo o que fiz foi consolá-la até que o sol se pôs e a noite caiu. 

.

Oi! 

Fiquem bem depois desse capítulo! Eu amo meus personagens. Fico com a sensação de que às vezes parece o contrário.

Quem já havia teorizado isso? Fico curiosa em saber. Lembro que vocês podem falar comigo através do IG: @hellenptrclliw

Até o próximo! 

Pokračovat ve čtení

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