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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
46. com um coração cheio.
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

53. é o único jeito, querida.

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By hellenptrclliw

Mas eu te prometo que
Sempre vou cuidar de você
É o que eu farei

Meu coração é seu
É a você que eu me apego
É o que eu faço

SPARKS | Coldplay.



JANEIRO


NA SEXTA TENTATIVA de fechar a pulseira de ouro rosa em meu pulso, permiti que um gemido de frustração arranhasse minha garganta e bati o pé, como uma perfeita criança de dez anos. No mesmo instante, batidas suaves interromperam minha breve crise e eu olhei no relógio, percebendo que eu tinha vinte minutos para sair de casa antes de me atrasar para a primeira sessão de terapia do ano e, com sorte, uma das poucas que precisaria em um longo tempo depois de ter estado naquela sala quase todos os dias em um ano inteiro.

Papai enfiou a cabeça na fresta da porta, os olhos percorrendo o espaço como se esperasse encontrar o motivo do meu ganido.

— Precisa de alguma coisa? — sondou.

Ergui minha mão no ar, mostrando a pulseira que não consegui fechar. Ele entrou, abrindo a porta e me surpreendendo por estar usando uma camisa azul celeste por baixo do paletó, considerando que ele era o cara das cores profundamente escuras. Talvez mamãe finalmente tenha conseguido convencê-lo a mudar um pouco. Ano novo, vida nova... algo assim.

— Essa ainda é a pulseira que te dei? — Eu assenti, e ele abriu um pequeno sorriso. — Você deveria colocar pingentes nela. Eu vi um anúncio ou algo assim.

Arqueei uma sobrancelha. — Você viu, é?

Ele deu de ombros, guardando as mãos para si ao fechar a pulseira. Não parecia coincidência que ele estivesse vendo esses "anúncios" quando meu aniversário era no final de semana. Passei a véspera de Natal com Ethan e seus irmãos, mas os convenci a passar o dia de Natal na minha casa, e meus pais os acolheram como se isso fosse assim há muito tempo. No Ano Novo, Hunter e Caden os convenceram a sair para jantar e fazer a contagem regressiva no centro da cidade para que pudéssemos ver as comemorações e os fogos — para delírio de Calum, que amou as duas datas.

Era um pouco doloroso ver o quanto Ethan e Alyssa se esforçaram para agir como se estivessem tão felizes quanto ele, apenas para que ele pudesse ter uma boa memória sobre as primeiras festividades ao lado dos dois. E ao mesmo tempo, era extremamente gratificante e admirável notar o quão determinados todos estavam a continuar preservando as coisas boas que foram conquistadas no último ano, para que se multiplicassem nesse, através de toda a dor e o "luto".

Ainda não existiam informações concretas sobre Leon Reed St. John. Ele se foi, como se nada sobre sua vida tivesse existido até então. Deixou seus pais, seus amigos, a namorada... tudo. Ele fugiu. Eu não queria imaginar seu corpo frio e pálido sem vida, mas sabia que isso assombrava as noites de Ethan e Alyssa. Ele ainda acordava de pesadelos envolvendo o melhor amigo, e Alyssa continuava esperando por algo. A fé dela, de certa forma, parecia inabálavel, e não tínhamos certeza de que isso era muito saudável.

Mas a vida continuou, e eles não fraquejaram.

Alyssa estava feliz em seu emprego e grata pelal terapeuta indicada por Caden. Ela parecia animada, quase ansiosa demais para devorar essa oportunidade até a última gota de aprendizado que poderia ter, e sem a presença constante de Malorie Young ao redor dela, Ethan dizia que ela finalmente se parecia com a irmã mais nova que ele teve por toda vida.

Mas ainda havia aquela questão.

— Gwen? — meu pai chamou, soando impaciente.

Eu pisquei, acordando de meu devaneio ao encontrar seus olhos escuros.

— Sim. Desculpa, o que você disse?

— No seu aniversário — ele repetiu lentamente —, o que você vai querer fazer?

Abri minha boca antes de pensar na resposta, porque ainda não tinha planejado. Meu último aniversário foi um abraço caloroso da mamãe e uma jaqueta de couro que eu queria muito, bolo de morango e chá, somados a um "meio abraço" de papai e um almoço silencioso, com várias palavras que jamais foram ditas. Passei o resto do dia no quarto, amarga e triste.

Esse ano era diferente, no entanto.

Eu não fui feita para ser amarga, triste e solitária. Eu adorava estar perto das pessoas de quem gostava, adorava comemorar e adorava ambientes acolhedores e cheios de companheirismo. E, obviamente, adorava falar. Levava algum tempo para que eu me sentisse à vontade o suficiente para desenrolar minha língua, mas uma vez que acontecia, ela nunca voltava ao seu lugar. A essa altura, as piadas sujas e ridículas dos rapazes não me envergonhava mais, assim como estar ao redor de muitas pessoas não fazia com que eu me sentisse desconfortável. Bom, pelo menos não de uma maneira insuportável.

E esse ano, apesar de tudo, simbolizava novos começos para todos nós.

Mas talvez, papai ainda não estivesse tão avançado quanto eu. Quer dizer, ele tratava Ethan e sua família muito bem, mas...

— Podemos ficar em casa — eu disse, hesitante. — Você, a mamãe e eu.

Ele balançou a cabeça e franziu a testa profusamente.

— Não é isso — começou, apoiando a mão na superfície da minha penteadeira. — Só quero saber se você vai passar com seus amigos e Ethan, ou...

Uh, eu não pretendo escolher um ou outro. Posso ficar com eles no outro dia, mas não tem problema sermos apenas nós três. Para compensar o ano passado, eu acho.

Me arrependi pelas palavras no segundo em que elas saíram da minha boca, porque a culpa tornou o olhar de papai intenso demais para que eu pudesse retribuir. Eu o perdoei por tudo, porque sabia que nada do que ele fez havia sido mal intencionado, para me machucar. Tinha sido a sua maneira de me proteger, e conseguimos parar antes que ela se tornasse o oposto, e eu não guardava ressentimento por nada exceto o tempo que perdemos afastados. Talvez eu devesse ser uma pessoa mais rancorosa, mais agressiva, mas pela primeira vez em algum tempo, eu gostava de quem eu era.

Eu realmente, realmente estava me sentindo bem em minha própria pele, satisfeita com o reflexo que via no espelho e com quem eu era. Tudo pelo que passei no último ano me fez mais forte, e apesar de preferir que aquilo nunca tivesse acontecido, não era mais algo do qual eu me envergonhava.

Eu cresci e aprendi a viver com isso. Processei o acontecimento até que reservei um espaço para ele na minha história, e ele permaneceria lá ao passar dos anos. No entanto, eu prosperaria, e faria novas e melhores histórias para que esse fosse apenas um capítulo triste - um entre outros que existirão, mas que não terão controle sobre todo o resto.

— Bem, se você decidir, nos avise — papai arqueou uma sobrancelha, divertido. — Eu não acho que seu rapaz, Ethan, vá gostar disso.

Bufei, rindo. — Ele vai superar, pai.

Levantei-me, mas antes que eu pudesse dar um passo para longe, papai inclinou-se para um abraço, tipo, um abraço, onde fui engolida pelos braços reconfortantes do homem que amei primeiro — que sempre amei — e isso me pegou completamente desprevenida, espalhando em meu peito uma sensação tão quente, tão agradável e maravilhosa que um sorriso de doer as bochechas surgiu em meu rosto.

Abracei-o de volta, pressionando minha bochecha em seu peito quente.

— Estou orgulhoso da mulher que você se tornou — murmurou ele, a voz vibrando onde meu rosto pressionava. — Tenho me sentido assim há muito tempo. Você puxou as melhores coisas da sua mãe.

— E as suas, — acrescentei.

Ele achou isso muito engraçado. — Não, felizmente não — suspirou. — Mas senti sua falta, G.

— Senti sua falta também, papai.

— Não vamos fazer isso novamente — ele decidiu. — Se alguém te machucar novamente, então eu apenas vou matá-lo.

Eu ri, mas parei quando ele não me acompanhou. Afastei meu rosto para poder encontrar seu olhar e percebi que isso realmente era uma opção para ele.

— Por favor, não faça isso — eu senti que precisava pedir. — Seria desconfortável te visitar na prisão. Mamãe ficaria triste.

— Ela entenderia.

— Pai.

Papai se desvencilhou de mim, dando um tapinha reconfortante em meu ombro ao começar a se retirar. Eu juro que não duvidava que ele fosse capaz de coisas extremas por minha causa, então temia pelo próximo que tentasse fazer algo contra mim. Eu era capaz de lutar minhas próprias batalhas, ou pelo menos estava me tornando cada vez mais, mas sabia que isso seria assim até o dia em que ele morresse.

E, claro, eu me preocupava um pouco mais porque sentia que ele teria um companheiro muito disposto a eliminar quem estivesse disposto a me ferir.

— Eu te amo, — resmunguei, antes que ele saisse.

Houve uma pausa antes que ele dissesse que também me amava, fechando a porta atrás de si. Ainda não havia me movido quando meu celular tocou, surpreendendo-me ao revelar o nome de Ethan na tela. Eu tive a ousadia de salvar o contato dele com um coração ao lado ao ver que o meu estava como "G", antecedendo um coração verde. O gesto não condizia com a carranca que encontrei ao erguer o olhar para perguntar-lhe quando ele tinha feito aquilo.

Eu achava que ele era fofo.

A maioria das pessoas me diria que eu estava muito louca.

— Oi — respondi. — Qual é o problema?

Ethan riu. — Como você sabe que é um problema?

— Porque você nunca liga no meio do trabalho, a menos que seja um problema.

— É. Talvez você me conheça um pouquinho mais do que pensei, — brincou.

Não me senti muito divertida, no entanto. Os últimos dias não tinham sido tão difíceis quanto esperávamos, mas ainda eram muito mais delicados do que gostaríamos entre os altos e baixos, inesperados momentos onde os piores pensamentos e palavras viriam à superfície para uma visita. Ocupando-se com o trabalho, algo que ele realmente gostava, meio que vi uma nova esperança crescer dia após dia em Ethan. Aceitar que, não importava o quão ocupado ele estivesse, ou o quão cercado pela família fosse, nada estava repondo o espaço que a ausência do melhor amigo deixou.

E era triste, porque esse mesmo espaço foi contaminado pela traição e o fato de que uma parte de Ethan jamais irá perdoá-lo...

Temos uma nova informação — disse ele, enfim.

Meu corpo ficou gelado de dentro para fora e eu apoiei o quadril contra a beira da penteadeira, preparando-me para o baque da notícia. Encontraram Leon morto? Cometendo crimes? Sozinho? Preso? Machucado?

Podemos almoçar juntos? — pediu ele, sem ter que acrescentar um "por favor" para que eu soubesse que ele precisava disso. — Naquele restaurante perto do meu trabalho?

— Claro, Ethan — e então, só porque não aguentaria esperar, perguntei: — Ele está morto?

Houve uma pausa onde eu pude contar as batidas do meu coração e ouvir a respiração calma dele do outro lado da linha. Ethan, com sua postura rígida e indiferente que mostrava todos os dias quando estava longe de casa era um contraste impressionante com o homem que eu conhecia há meio ano — e por conhecer, eu queria dizer compreender. Todas as nuances e camadas e mesmo que não concordasse com algumas de suas atitudes e comportamentos, eu ainda não era capaz de julgá-lo.

A dor nos mudava. Alguns um pouco mais que outros, mas ela nunca nos deixava ilesos. Jamais poderia pedir que Ethan fosse diferente do que ele era hoje, porque isso seria querer outra pessoa e não ele em toda sua essência.

Não encontraram o corpo, não — respondeu. — Mas não sei se isso significa muita coisa.

Engoli em seco, aliviada e perturbada.

— Te vejo depois — declarei, tendo o cuidado de colocar um sorriso em minha voz.

Até, querida.

Por precaução, enquanto aguardava a Sra. Kincaid, minha terapeuta, chegar, enviei uma mensagem para Alyssa, esperando que ela estivesse tendo uma folguinha no trabalho para me responder.

Gwen: Oi! Como vc está?

Levou dez minutos para que a mensagem fosse visualizada.

Alyssa: Bem, e vc?
Alyssa: Tenho novidades!

Gwen: Tô bem. Qual é a novidade?

Alyssa: Uma proposta da sua tia....

Gwen: Sério? O quê?

Alyssa: Trabalhando... conto p vocês no jantar.

Gwen: TE ODEIO

Alyssa: Isso é uma pena, então

Alyssa: Mas, ei, preciso do seu apoio em uma coisa....

Alyssa: Quero levar meu irmão no local onde tenho armazenado o que consegui recuperar das coisas dos nossos pais. Tanta coisa aconteceu e isso ficou completamente esquecido

— Merda — respirei, sendo recebida por um olhar torto da recepcionista.

Se Alyssa estava pronta para levá-lo, algo que tinha sido completamente posto em um segundo, terceiro e depois quarto plano, isso signficava que eles tinham cada vez mais pouca ligação com o passado. Malorie havia se mudado da antiga casa dos pais deles há duas semanas e ela estava a venda agora, com boas ofertas à vista, e com o dinheiro que ela finalmente devolveu antes do Natal, Ethan havia fechado a proposta com o corretor do meu pai. Era um horizonte novo, necessário, mas ainda havia... um problema.

Alyssa: você poderia amaciar esse plano para mim, né?

Alyssa: mas se não puder, vou entender também

Sra. Kincaid abriu a porta antes que eu pudesse elaborar uma resposta, resumindo-me em um breve "verei o que posso fazer", sabendo que, na verdade, não podia fazer nada.

— Eu deveria ter tirado uma foto sua na primeira vez em que você apareceu aqui — comentou ela, sorrindo quando nos sentamos. — Mas é bom poder testemunhar a mudança.

— Mudança?

Ela assentiu. — Sua confiança agora, comparada a quando você veio para cá. Eu tinha minhas dúvidas se você ao menos reconhecia a existência dessa palavra.

Ai, — estremeci, rindo.

Com algumas mechas grisalhas a mais do que no último ano, a Sra. Kincaid ainda era tão acolhedora quanto pensei que fosse no final da minha primeira consulta. Ela estava certa, no entanto. Foi tempo demais andando por aí como se eu odiasse minha própria existência, como se eu fosse uma vergonha e devesse poupar tudo e todos de precisarem lidar comigo. Eu poderia ter facilmente me mesclado à decoração nas primeiras vezes em que estive aqui — ou em casa, na faculdade ou qualquer outro lugar.

Agora era diferente. Sentada nessa poltrona em frente à uma larga janela francesa, o sol aquecia minha pele em tons dourados extremamente agradáveis, e a luz — ser vista — não me deixava desconfortável. Não estava sentindo medo do que ela me faria descobrir, porque tudo o que descobri ao longo do tempo foi o que me trouxe até aqui, e eu me sentia muito bem.

Eu não estava mais com vergonha.

Eu não tinha mais medo.

Essa era a minha vida e os meus sentimentos, e eles não deveriam me dominar.

— Eu poderia dar uma volta inteira repassando tudo o que perdi no último mês em que não nos vimos, mas vou direto ao ponto — ela fez uma pausa, inclinando a cabeça. — Você está feliz, Gwen?

— Estou.

E, cara, essa resposta poderia ser vista como muito inadequada por algumas pessoas, considerando tudo o que aconteceu no final do ano. Mas eu não poderia empurrar minha própria felicidade para debaixo do tapete na primeira provação, não depois de lutar tanto para reencontrá-la. Para me reencontrar. Eu lamentava a perda de St. John e me ressentia da dor que isso causava em meus amigos e Ethan, mas a vida continuou para todos nós. E por mais egoístas que as palavras soassem, não tínhamos outra opção senão vivê-la.

E viver bem.

— Sra. Kincaid, eu...

— Me chame de Vera — ela me interrompeu, a voz suave.

— Vera — testei o nome, me consolando com ele com uma pequena risada. — Por que posso te chamar pelo seu primeiro nome só depois de um ano?

— Porque... — ela piscou, oferecendo-me um sorriso satisfeito. — Porque você finalmente é a Gwen.

Minha risada se foi com a percepção do que essa frase signficava. Quem eu fui, quem eu era e quem eu queria ser; finalmente encontramos um meio termo para todas essas versões, e agora eu poderia viver com elas. Me adaptar e adaptá-las, sem querer fingir que não estavam lá. Que uma era melhor do que a outra, ou que simplesmente não eram tão ruins quanto as passadas. Era verdade. Eu finalmente era a Gwen que perdi, e estive procurando por todo esse tempo.

Deus, nunca mais quero me perder de mim mesma.

Eu poderia ser a filha, a estudante, a amiga, a namorada... Mas apenas se eu fosse, em primeiro lugar, eu mesma. E apenas se isso fosse suficiente. Agora eu sabia que era.

Um grande sorriso irrompeu em meu rosto e eu passei a mão na minha bochecha esquerda, tentando afastar o rubor.

— Eu sou.

— É bom, não é? — ela sorriu, observando-me. — É revigorante.

Eu olhei para o relógio em meu pulso, inconscientemente contando os minutos para ver Ethan. Para abraçá-lo, para conversar, para planejar e para experimentar todas essas coisas: o amor que prosperava através da dor, o orgulho, a força extraída do que poderia ser nossa maior fraqueza.

Tudo isso.

Toda a vida.

— É — eu me vi murmurando. — É como encontrar o caminho de volta para casa.

. . .

Talvez levasse um ano inteiro até que eu me acostumasse com a visão de Ethan vestindo camisa e calça social, envolto por um pesado sobretudo preto de inverno. Contrastava com o tom escuro de seu cabelo e a pele branca, evidenciando as nuances claras de seus olhos. Nem castanho demais, nem castanho de menos. A mistura perfeita sob uma camada irisdescente de frieza, que escondia a melhor parte sob a superfície. Meu coração acelerou conforme ele atravessava o bistrô que escolhi para encontrá-lo, indiferente aos seus arredores quando seus olhos encontraram os meus.

Estávamos juntos há tão pouco tempo, se parássemos para pensar. Mas com tudo o que passamos e aprendemos juntos, não eram meses. Eram anos.

Anos.

Será que chegaríamos lá?

Ethan se inclinou sobre a mesa, espalmando minha bochecha e erguendo meu rosto para que pudesse pressionar seus lábios quentes no mais breve e significativo dos beijos. Era suave, gentil, mas ainda deixava bem claro o que eu era. Quem eu era para ele. Foi por isso que, quando ele se afastou para sentar, eu precisei mudar de posição na cadeira, afastando meu cabelo para o lado para que meu rosto pudesse resfriar mais rapidamente.

— Como você está? — perguntei, empurrando o cardápio em sua frente.

— É difícil — começou, folheando as páginas —, porque para eles, sou só um garoto estagiário. Mas eu entendo, afinal, qualquer um naquele departamento tem um cérebro que valeria uma boa grana.

Eu ri. — E o seu também. Eles estão só te testando até que, quando você menos esperar, estará tendo opiniões válidas em uma sala junto com todos eles.

Honestamente, não entendia metade das coisas que Ethan fazia, embora adorasse ouvir as histórias. Envolvia muito cálculo, muita teoria e muita, muita, muita pesquisa — e mais cálculos que não eram de linhas, e sim de páginas. O orientador dele estava apostando todas as suas fichas de que Ethan faria por merecer a oportunidade, e ele estava dando duro por isso. Mesmo que significasse descer no primeiro andar para pegar cafés para os seus superiores.

— Mas estou ganhando consideravelmente bem para um estagiário, então, tudo bem — ele ergueu o olhar para encontrar o meu. — E vamos nos mudar no mês que vem, o que significa que preciso manter o emprego, mesmo que signifique que eu tenha que beber o café que busquei para o meu supervisor, porque ele não gostou da textura em sua boca.

Eu fiz uma careta. — Você não fez isso.

Pfft. — Ele zombou. — Claro que não.

Ethan revirou os olhos, mas o alto de suas bochechas ficou levemente rosado. Mordi o lábio inferior para conter uma risada porque, sim, ele fez.

— Então, o que você acha do yakisoba?

— Por mim tudo bem — dei de ombros. — Você sabe que vim para te ver.

E foi como uma brisa: aquela leveza de antes se dissipou diante dos meus olhos, uma sombra caindo em seu rosto e evidenciando os ainda presentes traços de cansaço e preocupação; com tudo e nada ao mesmo tempo. Como seguimos em frente, mas continuávamos olhando para trás, procurando o que perdemos e pensando, sonhando, na maneira de recuperar.

Estiquei minha mão sobre a mesa e alcancei a sua, envolvendo nossos dedos. Ethan respirou fundo visivelmente, forçando um sorriso de lábios apertados quando o garçom veio anotar nossos pedidos.

— É o St. John... — Ethan meneou a cabeça, frustrado com a dificuldade de falar sobre ele. — Encontraram...

Morto?

— Encontraram o carro dele perto do rio que costeia a cidade vizinha — disse, enfim.

Isso eram... quilômetros... dois meses depois?

Significava que ele esteve por perto em algum momento?

— Leonard disse que não tinha nada relevante. Um mapa, uma mochila velha com roupas e um bicho de pelúcia — Ethan encolheu os ombros, consternado. — Tinha algumas rotas destacadas no mapa. Uma para a Europa.

— Europa?! — eu exclamei, completamente congelada pela realização.

Ethan assentiu. — Tinha um celular velho, também. Mensagens entre Joseph e Leon que só reforçam a teoria que todo mundo tem. Não tinha nenhuma ameaça, nenhuma hostilidade; só "conhecidos" trocando algumas palavras, incluindo o dia da partida.

— Para onde?

— Quem sabe?

Eu engoli um suspiro, murchando em meu assento. Então tudo isso só era munição para o que todos, em especial a polícia, já sabia: que ele não foi sequestrado, e que isso tecnicamente não era um desaparecimento desde que ele esteve consciente e fez uma escolha. Nós sabíamos que isso era errado e que ele precisava ser salvo, mas a polícia só trabalhava em cima de fatos, não história ou sentimentos. Que ele era cúmplice em uma tentativa de assassinato porque deixou uma mulher inocente para morrer, mesmo que não tivesse apertado o gatilho. Que ele desapareceu, mas que chegou a marcar uma data. Que ele conversava com o pai.

Que ele teve oportunidades, mas nunca o entregou. Que ele tinha uma família, mas foi embora mesmo assim.

— Nos últimos dias, tenho sentido ódio — Ethan prosseguiu, a voz mais baixa. — Do que ele fez e como ele fez. Mas não posso acreditar que a essa altura, enquanto estamos aqui almoçando, ele está morto em algum lugar.

Estremeci, apertando sua mão.

— Eu contei para Allie por mensagem mais cedo — declarou. — Eu pedi a ela para ficar do meu lado, porque eu sei que ela continua esperando e acreditando, e eu não quero... perder essa parte dele. Talvez seja apenas culpa. Ou talvez, para honrar o que vivemos juntos.

— Eu entendo — murmurei. — Você sabe que sim.

— Mesmo que eu não possa olhar mais no rosto dele, ainda o quero de volta — confessou. — Ainda quero que ele tenha uma boa vida.

— Eu sei, — sussurrei, me perguntando se ainda havia uma vida a ser vivida.

Deus, isso era horrível. Que não importava o que eles fizessem para seguir em frente, sempre haveria essa sombra pairando sobre suas cabeças — até mesmo sobre mim, que o conheci por pouco tempo. O que poderia ter sido, tudo o que eles poderiam ter tido. Onde, quando, como... Dois meses, e ainda não havia uma resposta.

Era uma situação completamente anormal, inteiramente... não existiam palavras para melhorar isso, exceto sentir e continuar em frente.

Ethan piscou na tentativa de clarear seus pensamentos, voltando sua atenção para mim, para o presente.

— Mas Allie está bem. — Afirmou, balançando a cabeça. — Calum está bem, nossos amigos. Estamos seguinte em frente... — ele ergueu o olhar para encontrar o meu. — Você sabe o que preciso fazer a seguir.

Um nó agitou o alto do meu estômago e eu engoli em seco, desviando o olhar. Presumimos que seria melhor esperar e provar a Alyssa de qual lado Ethan realmente estava antes de contar a verdade, mas isso foi antes. Antes de Alyssa ter seu coração destruído dessa forma, antes de ter sido posta a prova mais uma vez pela vida. Ela se apoiou em Ethan durante os últimos dias, e eles superaram a distância emocional que a distância física não havia coberto nos últimos meses. A perda foi dolorosa, mas os uniu, porque ninguém conhecia isso melhor do que eles, talvez.

Agora, esse cenário era tão perigoso. Será que seria demais para Alyssa?

Ethan sorriu, consternado.

— Eu tenho que fazer isso — disse ele. — Não dá mais pra ficar empurrando, como se possuíssemos o tempo como bem queremos. Se há dois meses Alyssa tivesse morrido, esperar para contar a verdade ainda teria sido a escolha certa?

— Você disse que esperaria, quando se mudassem — apontei. — Será que, no pior dos cenários, o orgulho dela não vai falar mais alto?

— Ela é orgulhosa, não estúpida. O dinheiro que estamos investindo nisso não voltará, e Calum precisa disso. — Ele encolheu os ombros. — Não posso manchar outro capítulo das nossas vidas com o passado. Não depois disso...

Ele tinha dificuldades para dizer o nome de St. John. Era como se uma parte de seu coração quebrasse toda vez que dizia.

— Não importa — suspirou, encarando um ponto fixo acima da minha cabeça. — Podemos chorar o quanto quisermos, mas a vida continuou, e eu tenho a estrutura que queria para eles. Se eu continuar mantendo isso para mim, serei mais um mentiroso.

— Alyssa quer te levar para o armazém onde ela tem mantido as coisas de vocês — confessei. — Dos seus pais, no caso. Com tudo o que aconteceu, isso ficou para depois, e agora...

— Ela te pediu para colorir a ideia para mim, não foi?

Corei, assentindo timidamente.

Ethan ficou em silêncio, reconhecendo a ideia enquanto eu o observava. Eu não achava que ele se importava mais com isso, mas era necessário para Alyssa e para dar um destino para todas as memórias guardadas nos pertences que foram de Elliott e Liliana. Tudo era sobre novos começos, e as oportunidades não podiam ser perdidas, independente do quão assustadoras fossem. Como Ethan disse, não possuímos o tempo a nossa disposição. E o arrependimento não era doce ou suave quando vinha, mais tarde, após tudo o que poderia ter sido e jamais será, porque não agimos com coragem antes.

E se tinha algo que Ethan prezava, era isso. Então eu não precisava "amaciar" a ideia. Eu só precisava preparar seu coração.

— Você vai contar a ela então, não vai? — concluí, inclinando minha cabeça. — Quando visitarem as coisas dos seus pais. Você contará.

— É o único jeito, querida.

Horas mais tarde, aconchegada nos braços de Ethan no sofá extremamente desconfortável de sua casa agora temporária, me encolhi contra seu peito quando a porta da frente foi aberta com certa violência; o que foi curioso, porque o furacão que irrompeu ali era menor do que eu. Alyssa fechou a porta novamente, girando a chave na fechadura e virando-se para nós com grandes olhos coloridos e mechas castanhas bagunçadas.

A jaqueta de couro marrom havia sido diminuída para se encaixar em sua estrutura pequena, e ela usava nos dias mais difíceis de encarar a ausência diária dele.

— Vocês querem ouvir uma coisa muito louca? — anunciou ela, tomando nosso silêncio como resposta. — Então! Sua tia, Kiara, que me despediu meses atrás por causa da nossa tia fodida, agora me quer em um super projeto que ela irá iniciar no próximo mês.

— Que projeto? — Ethan perguntou, curioso.

Alyssa se aproximou, largando sua mochila no chão e acomodando-se na poltrona com um suspiro profundo. Ela perdeu peso no mês anterior, notavelmente, mas atualmente dava para perceber como ela estava melhor. Havia uma luz em sua pele, e ela recuperou o peso, mesmo que não parasse quieta durante o dia todo. A dor continuava lá, claro, mas ela estava prosperando. Todos estavam.

— É um pouco indefinido ainda — contou. — Ela quer associar diferentes tipos de artes em um local para ensino, como um estúdio, envolvendo dança, pintura, música... eu fiquei um pouco confusa, mas ela parece tão certa de que vai funcionar.

— E você vai ser o braço direito dela? — perguntei, animada.

— Alguma coisa do tipo — ela deu de ombros. — Eu não entendi, mas não ligo. Parece legal pra caralho, e me mantém útil, então...

Minha tia não comentou nada, mas novamente, não estávamos nos vendo com frequência e meu pai não gostava de trabalho na mesa quando estávamos juntos.

— Allie — a voz terna de Ethan me tirou dos devaneios —, isso é muito bom.

— Eu sei, — ela concordou, confusa.

— Ela está te dando essa posição porque você merece mais do que ninguém.

Alyssa sorriu, o alto de suas bochechas ficando rosado.

— Você sabe quem falou com ela e cedeu um local para construção? — questionou ela, retórica, com a voz muito baixa.

Senti o peito de Ethan tensionar antes de relaxar novamente, um esforço consciente para que Alyssa não notasse os sentimentos conflitantes que vinham à tona com a menção. Eu aproveitei para me desvencilhar de seus braços, mantendo minha mão em sua coxa quando me inclinei um pouco mais para perto de Alyssa.

— Ele fez isso?

— Fez — ela sussurrou, os olhos brilhando. — Ela esperou, ainda. Para ver se eu realmente tinha potencial, e me contou hoje. Fiquei apavorada... — seu olhar foi na direção de Ethan, esperando sua reação. — Mas, então, era o que eu queria, não era?

Após uma pausa, acrescentou: — Estou sempre perdendo tudo — ela sacudiu a cabeça. — Todos nós, perdendo coisas valiosas. Se eu não pegar isso agora...

Discretamente, apertei a coxa de Ethan, forçando uma reação dele.

— Ele sabia o que todos nós sabíamos, menos você — disse, a voz firme. — Que você é boa demais para ficar nas sombras. É por isso que amo você, rainbow, — ele virou o rosto na minha direção — e você, Gwen. Porque se um dia eu tiver uma filha, vou querer que seja uma mulher tão bela quanto vocês.

.

olá!!!

estamos na reta final de OWH, o que significa novidades, porque a partir de agora a história continua a partir de onde Amnésia I terminou e introduz Amnésia II.

sou suspeita pra falar, mas que gwen e ethan são o meu casal favorito não é segredo. eu amo como eles aprenderam a confiar um no outro mais que tudo, são leais e saudáveis. ethan provou pra gwen que um amor podia sim ser bom e saudável. e a gwen mostrou pra ele, no primeiro amor, que valia a pena (tanto que ele não quer mais ninguém, mais apaixonado impossível)

enfim. preparem os corações.

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