Insensato Amor

By andressarbs123

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Série irmãs Beaumont - Livro 3 Arabella é a filha mais nova das três princesas do reino de Beaumont, sendo co... More

Epígrafe
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capitulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capitulo XLIII
Epílogo
Agradecimentos
Spin-off?❤️

Capítulo XXIII

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By andressarbs123


Eu não o sentia mais. Os sonhos eram vazios, assim como a realidade. A carta de Harry me fez levantar da cama e reagir. Ele me amava.

Os sonhos foram reais, e ele havia lutado por mim. Nada doeria mais, em toda a minha vida, do que conviver com o fato de que ele morreu sem saber que eu o amava também. Com todo o meu coração.

Toda a minha dor se intensificou ao ver que Abigail estava com dois dedos a menos. Arthur havia os arrancado quando soube da minha fuga, e, a partir desse momento, eu quis matá-lo. Com as minhas próprias mãos. A dor foi substituída por um ódio que me consumia. Eu, no entanto, não sabia o que fazer com ele.

— A minha mãe me dizia que, se guardarmos tantos sentimentos ruins dentro de nós, acabamos por nos igualar às pessoas que nos fizeram mal.

— Ele tem que pagar, Abi. — respondi, sem entender como ela podia dizer uma coisa dessa. Ele não havia conseguido me tocar, mas eu sabia que faria isso no momento em que entrasse pela porta na volta da viagem.

— E irá, mas não cabe a nós fazermos justiça. Vamos ter fé!

— Eu farei. — a encarei, sentindo meu sangue ferver. — Ele irá voltar, e quando tentar me atacar de novo, o matarei, mesmo morrendo junto.

— Acha que é isso que o seu Harry gostaria que você fizesse?

O argumento dela me desfez. Olhei para as ataduras que o médico tinha feito em meu braço, que não doía nada comparado ao meu peito.

Abigail, percebendo que havia falado o nome proibido que me paralisava, saiu, me deixando sozinha. Encarei a parede por tempo indeterminado, até sentir que, se não me mexesse, morreria estática.

Eu não sabia mais que horas eram. O dia e a noite não faziam mais diferença. Me levantei para ir ao banheiro quando tropecei na madeira solta novamente.

Chutei a madeira, gritando de ódio, raiva e dor, ao mesmo tempo. Havia um guarda que sempre entrava quando eu gritava para me repreender, mas com o tempo, ele sumiu e os outros não se importavam mais com os barulhos que eu fazia, e não se incomodavam em entrar para conferir o que era.

Peguei todos os vasos novos do quarto que eram repostos todos os dias sempre que eu os quebrava e os lancei ao chão, naquela maldita madeira, até que um buraco se abriu. Arregalei os olhos, surpresa por sentir, no fundo, uma faísca de esperança.

A madeira era oca.

Tentei pegar tudo no quarto que me ajudasse a terminar de quebrar o pedaço de madeira que restava o suficiente para que o meu corpo pudesse passar.

O buraco era escuro e profundo, mas havia escadas. Tossi com a poeira que saiu, e imaginei que aquela passagem era tão antiga que nem Arthur possuía conhecimento dela.

Tentando ser rápida, acendi uma vela e desci com o coração acelerado, temendo que alguém entrasse e visse a minha fuga. Harry começou a pular nas escadas atrás de mim.

— Volte! — sussurrei, brava. Ele me ignorou, erguendo as orelhinhas, e saiu pulando na minha frente. — Coelho teimoso!

As escadas infinitas acabaram, revelando um corredor estreito e escuro. A minha mão tremia enquanto segurava a vela. O único som que eu conseguia escutar parecia ser um barulho de correntes de ferro. Segui o som, percebendo que, no fundo, eu não tinha mais medo de morrer. Viver parecia pior.

O meu pensamento mudou quando a visão que eu tive fez a vela cair com força ao chão. Levei as mãos à boca para não gritar de pavor enquanto encarava uma fera de mais de dez metros de altura e pele escamosa preta me encarar com grandes olhos roxos.

Peguei Harry no colo e corri de volta com tanto desespero que quase caí no chão pelo menos três vezes. Quando voltei ao quarto, empurrei uma cômoda em cima do buraco e me deitei na cama, ofegante.

Pelos reinos, o que era aquela criatura?



Não consegui dormir. A tristeza parecia consumir, a cada minuto, cada parte dos meus ossos. Eu era fraca. Me sentia fraca, e não conseguia mais ver sentido em lutar.

Tantos pensamentos ruins me envolveram que, em breves momentos, eu até ansiava para que Arthur voltasse e me matasse de uma vez por todas, mas eu sabia que não seria isso que aconteceria.

Não sentia mais vontade de fazer nada. Até as coisas que eu mais amava, como ler e costurar pareciam não fazer mais sentido. O Palácio estava sendo enfeitado para o casamento, e os convites já haviam sido distribuídos por Dazzo.

Abigail me deixava ciente de tudo que acontecia, e, parecia cada dia mais madura para a idade que tinha, de tanto que trabalhava.

Tentei me mover para ajudá-la um dia, mas ela me repreendeu, dizendo que se os guardas soubessem que eu estava fazendo serviços domésticos, ela perderia os dedos que sobraram. A ordem era sempre que eu estivesse presa e parada, aguardando a volta do meu noivo.

Sentindo que caía em um profundo abismo a cada momento em que se passava, encarei a cômoda que escondia o buraco feito. Eu não tinha contado a Abigail sobre ele, e não parava de pensar na fera que estava presa lá
embaixo.

Como se eu estivesse sendo guiada a andar em direção à morte, quando a madrugada chegou, afastei a cômoda e, antes que percebesse, me vi novamente nos infinitos túneis escuros. Harry estava dormindo e não me acompanhou dessa vez.

Talvez a fera fosse a solução dos meus problemas. Ela poderia dar fim ao meu sofrimento. Qualquer coisa era melhor do que viver nas mãos de Arthur.

Meus passos pararam, firmes ao chão como uma rocha, quando fiquei em frente ao monstro. Ele, que dormia, acordou ao farejar a minha presença. Tremi, enquanto caminhava devagar em sua direção, com lágrimas descendo ao rosto que eu não me importei de enxugar.

Não era nada nobre caminhar em direção a morte, mas eu era uma covarde. Eu sempre soube que era. Não era como as minhas irmãs, que encontravam forças para lutar. Eu não tinha força alguma, nem para me defender, ou sequer para cogitar matar Arthur. Era mais fácil assim. Era mais fácil, simplesmente, ceder.

Fechei os olhos, confessando silenciosamente que sempre amaria a minha família, e Harry. Eu tinha aprendido a amar, de verdade, pelo menos. Tinha sido suficiente. Eu estava pronta.
Nada aconteceu.

Abri os olhos, engolindo em seco ao ver que estava em frente ao olho da fera, que, agora sabia, era um dragão. Os olhos roxos dele, que possuíam mais da metade da minha própria altura, penetraram os meus, com uma tristeza que parecia ainda mais profunda que a minha.

Meu coração se apertou ao perceber que a pele dele estava rasgada pelas correntes de ferro, com um sangue que parecia seco de tanto que escorreu. O pior, foi ver que em seu pescoço, as correntes tinham pontas que os espetavam se ele se movesse. Sua boca não era capaz de me engolir porque estava fechada com grades de ferro.

Chorei ainda mais, percebendo que, mesmo se ele pudesse, não pretendia me matar. Ele também parecia conformado a esperar a própria morte.

Toquei sua cabeça, sentindo uma escada dura e fria, quando ele rugiu alto em minha direção. Me afastei tão rápido que quase caí ao chão, aterrorizada. O sangue escorreu pelo pescoço ao movimento, mas ele pareceu não mais se importar.

Deixei o meu corpo cair ao chão, escorada na parede em frente a ele. Eu estava exausta. Nem para morrer eu servia.

As correntes eram tão grossas que pareciam impossíveis de serem quebradas. Eu sabia que ele parecia conformado e machucado demais para pedir ajuda, mas tentei analisá-la mesmo assim. Havia, no fim dela, um enorme cadeado de metal. Eu só precisava encontrar a chave.

Estremeci, ao cogitar que eu estava realmente pensando em soltar um dragão. Seria uma morte terrível. Eu morreria estraçalhada ou queimada. Por um momento, confirmei que eu estava mesmo ficando louca.

O dragão me encarou, como se me mandasse ir embora dali.

— Eu não tenho para onde ir! — disse, exausta, em direção a ele.

O ar saiu forte pelas suas narinas.

— Nem você. — completei, me permitindo terminar de chorar enquanto abraçava as minhas próprias pernas.

Fiquei em silêncio, sentindo meu corpo estremecer enquanto as lágrimas desciam. Um barulho de correntes surgiu quando o dragão se moveu para deitar sobre as próprias patas ao perceber que eu não ia embora.

Permaneci escorada na parede de pedras, encarando a escuridão enquanto ela me encarava de volta, até uma fresta de luz surgir no túnel. Havia amanhecido. Cogitei não voltar ao andar de cima, até me lembrar de Abigail.

Ela morreria. Morreria por minha culpa se eu não voltasse, e eu não podia mais permitir que ninguém morresse por mim.

Encarei o dragão, que parecia nunca dormir, e me levantei, deixando-o para trás.



Depois daquela noite, todas as que se seguiram foram iguais. Eu saía do quarto durante as madrugadas, e retornava aos primeiros raios de sol. Eu não conseguia medir o tempo, e não me esforçava por fazê-lo. Com o tempo, fazer companhia ao dragão fazia com que eu me sentisse menos sozinha.

— Eu nunca fiquei tanto tempo em silêncio em toda a minha vida. — confessei baixo, olhando para as correntes que o envolviam. — Sei que não deve entender o que eu digo, então não faz diferença.

O dragão se mexeu, parecendo refutar o que eu disse.

— Você entende?

Ele suspirou forte.

— Claro que não. A propósito, perdão por não me apresentar. O meu nome é Arabella. — sorri fraco, me sentindo uma tola, e em seguida senti as lágrimas descerem novamente. — Sabe, depois da morte do meu pai, eu nunca pensei que sentiria tanta dor assim novamente. É como se eu estivesse morrendo um pouco todos os dias.

Os olhos roxos do dragão fitaram os meus, com uma compaixão que parecia mútua, ou pelo menos era isso que eu gostaria de acreditar. Eu precisava conversar.

— Eu preferia ter morrido junto com o Harry. — esfreguei meus dedos das mãos. — Não há esperança. Não posso voltar para casa. Nunca mais verei a minha família. Eu estou presa aqui, com correntes que me machucam tanto quanto as suas. Não tenho ninguém.

O dragão se levantou, me fazendo estremecer, e tentou dar um passo em minha direção. As correntes o impediram, e o seu pescoço começou a sangrar.

— Não se mexa, está se machucando ainda mais. — me levantei também, tentando tocá-lo. Ele se retraiu e respirou forte.

— Perdão, não irei mais tentar tocar em você.

Me virei para ir embora quando ouvi ele rugir.
Ele também parecia não querer ficar sozinho, e se moveu, em completa agonia. Tudo o machucava.

Corri de volta ao quarto pegando um pano com água, e quando voltei, ele parecia aliviado por eu ter retornado. Passei boa parte do tempo limpando as feridas da pele dele.

— Como veio parar aqui? — encarei seus olhos tristes, até que ele se moveu rápido demais.

As suas asas bateram em mim e eu caí ao chão, sentindo meu braço ainda machucado pela adaga de Arthur doer. Abri a boca para brigar com ele até perceber que, na verdade, ele estava tentando me mostrar algo.

Por trás das asas havia um livro velho e gasto que ele parecia esconder. As lendas diziam que dragões costumavam esconder tesouros, o que fez total sentido para mim quando refleti que, realmente, um livro era um tesouro. Talvez esse era algum histórico?

Um barulho de sino surgiu, fazendo o dragão rugir, ao mesmo tempo em que eu pegava o livro.

— Hora da comida, monstro! — a voz grossa de um homem surgiu, assim como o barulho de uma porta se abrindo.

Estremeci, escutando o barulho da armadura do guarda se aproximar, e corri de volta às escadas em completo desespero. Quando retornei ao quarto, ofegante, fechei a passagem novamente com o tapete e a cômoda e deitei na cama.

Então o dragão era alimentado. Por que ele estava preso? Isso significava que Arthur sabia.
Sabia do dragão e o alimentava para que não morresse.

Abri o livro gasto, percebendo que era um diário, provavelmente de algum rei antigo, e o escondi às pressas debaixo do travesseiro quando a porta do quarto começou a ser destrancada. Eu teria que esperar até a madrugada seguinte. Era a hora de Abigail trazer o desjejum.

No entanto, quando a porta se abriu, outra pessoa entrou por ela. Era o velho jardineiro careca que havia presenciado a minha tentativa de fuga no outro dia.

— Bom dia, Alteza. — ele se curvou com dificuldade, parecendo sentir dor nas costas.

— Onde está a Abigail?

— Ela não estava se sentindo bem nessa manhã. Os servos estão cuidando dela. Me mandaram assumir o lugar, mas não se preocupe, amanhã ela já estará bem. — ele colocou a bandeja ao meu lado na cama. Diferente das outras, essa vinha com uma hortênsia ao lado do prato.

— Achei que as plantas estivessem morrido.

— Essa nasceu, pela primeira vez em anos. — os olhos verdes dele brilharam de uma forma mística. O amargor em sua voz havia desaparecido. — Isso significa que há esperança.

Engoli em seco.

— Não acredito mais nessa palavra.

— Pois acredite. — ele falou baixo, com temor que os guardas ouvissem. — Aguente firme, milady. É o seu destino salvar os oito reinos.

Se sorrir não me machucasse tanto, eu teria dado uma boa gargalhada. Salvar os oito reinos. Eu, que não podia sequer salvar a mim mesma.

— Sinto informar-lhe que terei de decepcionar todos eles. — respondi, com ironia.

— Não desanime antes de lutar.

A porta do quarto foi aberta bruscamente, e um guarda grande entrou por ela.

— O nosso Príncipe voltou! — ele anunciou alto, fazendo minhas mãos tremerem. A frase que se seguiu era tudo o que eu não queria escutar. — Ele ordenou que se prepare. O casamento será amanhã.

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