Capítulo XXV

509 79 14
                                    


O homem se levantou, de costas, parecendo completamente perdido, e quando os seus finalmente encontraram os meus, uma decepção profunda e pungente me atingiu.

Não eram azuis.
Eram roxos.

— Não sou ele, mas preciso de você, Bella. — foi o que ele conseguiu dizer, antes de desabar com força ao chão.

Sua barriga e pernas sangravam, como se ele tivesse sido atingido por flechas e espadas. Paralisada, precisei escutar a voz de outra pessoa para conseguir entender o que estava acontecendo.

— Obrigada, Princesa. Você conseguiu abrir o caminho para a salvação dos oito reinos. — disse o idoso jardineiro ao meu lado, como se sempre aparecesse na hora certa. — A maldição foi quebrada.

— Alteza, vamos embora. — Michael me puxou, apreensivo, enquanto eu encarava os servos olharem com pavor ao homem caído.

— Espera...

— Esperar o que? Não podemos fazer mais nada. Não temos poder aqui, estamos invadindo. Se o Conselho souber, seremos punidos por atacar Dazzo. É a última faísca para a guerra. Arthur deve estar morto. O que mais te prende aqui? Você não estava presa nesse lugar?

Por algum motivo, eu não conseguia ir embora.
O sangue ao redor do homem/dragão só aumentava.

Ele tinha me salvado, e agora, estava pedindo a minha ajuda. Como eu poderia ignorá-lo e ir embora? Deixá-lo para morrer? Todos o temiam.

Não era todo dia que se via um animal se transformar em homem. Os servos, aterrorizados, seguravam estacas, com medo de que ele atacasse, o que era ridículo porque ele estava à beira da morte.

Eu também estava com medo, afinal, eu não o conhecia, mas uma parte de mim, a parte que já tinha sido atormentada o suficiente, não conseguia mais ser dominada pelo medo. Não de novo.

A Arabella antiga saberia o que fazer. Eu seguraria na mão de Michael, e correria de volta para a minha família. Para o local seguro. Para os braços da minha mãe. Eu não devia me importar com um homem amaldiçoado, nem com servos que se calaram enquanto eu estava presa, mas tudo mudou.

Eu não era mais a mesma Arabella.

— Não posso ir.

— O que disse?

— Não posso ir, não agora. Desculpa, Michael.

Dei os passos trêmulos mais rápidos de toda a minha vida, e me abaixei ao lado dele.

Gemendo de dor, ele cuspiu sangue. Seus olhos roxos fixaram nos meus, e o meu medo passou. Uma sensação inexplicável de confiança me invadiu.

— Sou eu. — ele sussurrou, com tanta dor que me fez sentir angústia. Engoli a vontade de chorar, pois sabia que não o ajudaria.

— Eu sei. — apoiei a cabeça dele em meu colo. — Eu sei que é você.

— Ele precisa ser estabilizado, está perdendo muito sangue. — o idoso se abaixou também, pressionando o abdômen com um pano.

— Arabella, não irei deixá-la. — a voz de Michael surgiu atrás de mim. — Se deseja salvar essa criatura, podemos tentar levá-lo à Beaumont.

— Ele não suportaria a viagem. Não vê? — o senhor respondeu em meu lugar.

Quase sem forças, a mão do homem alcançou a minha.

— Bella, vá. Não precisa ficar... — ele tossiu, fazendo mais sangue se espalhar. — ...por mim.

— Você não me deixou, então também não irei deixá-lo. — angustiada, ajudei o idoso a estancar o sangue, e me virei para a multidão estática. — Alguém pode me ajudar?

Insensato AmorWhere stories live. Discover now