Capítulo XXVII

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A noite chegou, e eu percebi que precisava tirar aquele vestido vermelho detestável que Arthur tinha escolhido para mim. No entanto, quando Abigail me tomou pela mão, com um sorriso no rosto, e tentou me levar de volta para dentro do Palácio, eu congelei.

Um pânico imensurável tomou o meu coração, e eu comecei a sentir falta de ar. A imagem de Arthur andando em minha direção se tornou quase palpável. Escutei a risada dele pelas paredes, e senti que ele me observava.

Olhei em volta, com medo de que as portas se fechassem ao meu redor, novamente, e percebi que não poderia dormir ali dentro de novo. Nunca mais.

Então, deixando uma amiga confusa e um meio príncipe dracônico para trás, eu corri. Vários guardas tentaram vir atrás de mim, mas pedi que todos recuassem. Eu precisava respirar, e não conseguia.

Minhas pernas se cansaram quando cheguei nos estábulos. Deixei meus joelhos caírem ao chão, e tentei fazer com que o aperto dentro do meu peito desaparecesse, mas ele não saía. Minha respiração transformou-se em uma sinfonia desordenada de soluços.

Cada inspiração era dolorosa, como se eu estivesse sendo pressionada por paredes invisíveis que se fechavam, implacavelmente, enquanto a minha mente se perdia em um mar de pensamentos assustadores.

Em um ato desesperado, busquei apoio nas palavras sussurradas por uma voz suave ao meu redor. "Respire fundo", ecoava, repetidamente, como uma melodia tranquilizadora.

No entanto, o ar escapava de mim como areia entre os dedos, e a sensação de estar perdida em um deserto em meio à tempestade
persistia.

Foi quando um abraço forte e quente me envolveu que as trevas começaram a ceder. As palavras de conforto, agora mais nítidas, foram como raios de sol que rompiam as densas sombras.

Aos poucos, o caos recuou, e eu consegui perceber que estava com a cabeça apoiada no peito de Aland. Ele estava ajoelhado ao chão de terra, junto comigo.

Não soube o que dizer.

— Você está melhor? — ele segurou o meu rosto com as duas mãos, com os olhos roxos repletos de uma preocupação genuína.

— Estou. — me afastei, limpando as lágrimas. Uma vergonha imensurável me engoliu. — Não foi nada.

— Nunca diga que os seus sentimentos não são nada.

— Não quero que sinta pena de mim, como essa que está sentindo nesse momento. — percebi tarde demais que disse a mesma coisa que ele há pouco atrás. — Já me sinto fraca o suficiente.

— Amigos não sentem pena um do outro, eles lutam juntos. — ele segurou as minhas mãos. — Nos sentimos da mesma forma, então que tal combinarmos de nunca sentirmos vergonha um do outro?

— Você não é nada aterrorizante para um dragão.

— Posso ser, se for pra te ajudar a enfrentar todos os medos que tiver. — ele sorriu fraco. — Tem certeza que não quer tentar voltar lá para dentro? Você pode escolher outro quarto. Não está segura nem confortável aqui.

— Não estou segura em lugar algum. — encarei a porta do estábulo aberta, sentindo um vento agradável entrar em meu cabelo.

Aland se levantou.

— Terei que mudar os cavalos de lugar, então.

Alcancei seu braço.

— Não pode, é a casa deles. — engulo uma saliva, lembrando de uma certa égua.

Meu coração doeu. Como ela estaria viva sem Harry? Será que ela estava lá na cabana, ou tinha viajado com ele e morrido aqui em Dazzo?

— O que mais está te angustiando?

Insensato AmorWhere stories live. Discover now