Capítulo XXXVIII

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O faminto animal branco rosnou ferozmente na frente de Aland, sua pelagem imaculadamente clara se camuflando com o ambiente ao redor. Seus músculos poderosos eram evidentes sob o pelo espesso, enquanto seus dentes curvos, afiados como lâminas, brilhavam perigosamente à medida que ele avançava.

— Não se mova, estrela. — Harry sussurrou baixo e segurou forte e firme a minha mão, tentando me passar uma confiança que nem ele sabia se tinha.

— Ele não vai conseguir detê-lo sozinho. — olhei, angustiada para Aland, que já estava em posição de defesa.

— Nós vamos correr, e quando você estiver segura eu volto para ajudá-lo. — Harry acariciou os meus dedos. — Está vendo aquela árvore atrás de você? A maior.

— Estou. — sussurrei de volta, sentindo meu coração acelerar. O tigre avançava a passos lentos, como um felino astuto que se preparava para estraçalhar a presa.

— Ainda é boa em subir em troncos? Eu irei te ajudar, acha que consegue?

— Consigo. — apertei a mão dele de volta.

— Vamos correr no três. Preciso que você seja rápida, sei que irá doer por causa do frio, mas você consegue, meu bem, sei que consegue. Eu estou com você, então não olhe para baixo, não te deixarei cair.  — ele inflou os pulmões. — Um... dois...

O tigre saltou.

— Três.

Nós corremos, tão rápido que não escorregar foi a coisa mais difícil que já fiz na vida, até encarar o enorme tronco da árvore. Harry me ergueu, e eu tentei subir sentindo o frio queimar as minhas mãos.

Tentei escalar enquanto os gritos de Aland me rasgavam por dentro. Quando finalmente cheguei a um galho alto o suficiente para que o tigre não alcançasse, Harry disse que me amava, com os lábios, e correu.

Tentei enxergar o que acontecia por trás das folhas cobertas de neve, até conseguir ver os pelos brancos do animal em cima do corpo de Aland. Ele estava tentando queimá-lo, mas não estava conseguindo, parecia fraco demais, então tentou o estrangular pelo pescoço.

As presas do tigre rasgaram o seu braço e o sangue vermelho se destacou na neve. Levei as mãos à boca tentando não chorar alto até que Harry correu até eles e, retirando a adaga afiada, a cravou nas costelas do tigre, que urrou, já bastante machucado, e saiu de cima de Aland.

Não consegui respirar. Aland não se movia, e o tigre voltou a atenção a Harry. Eu ia perder os dois, e iria assistir ambos morrerem sem conseguir fazer absolutamente nada para salvá-los. O tigre também me rasgaria, ou eu acabaria congelada em cima dessa árvore.

Escolhendo a primeira opção, comecei a descer da árvore até que o meu pé escorregou e eu caí com força ao chão, sentindo meu pé torcer. A agonia da dor lancinante me envolveu, mas eu não podia parar. Me arrastei até conseguir pegar o que parecia ser uma estalagmite de gelo solta no chão. Gritei e joguei na direção dele.

Harry pegou a arma afiada improvisada e se jogou na neve com as costas ao chão no exato momento em que o tigre pulou, tracionando as patas traseiras e se lançando com toda a força que restava para cima do homem que eu amava.

Gritei de desespero ao pensar que eu o tinha perdido de novo, até que o grande animal urrou e o seu corpo foi empurrado.Ele foi empalado, pulando em cima do estalagmite que Harry segurava. O tigre rolou no chão com tanta força que fez o gelo rachar.

Enxergando um trenó velho, me levantei sentindo a adrenalina aquecer o corpo e manquei até o veículo, tentando arrastá-lo até Harry, que ajudou a colocar o corpo desacordado e ferido de Aland nele.

Insensato AmorWhere stories live. Discover now