Capítulo XII

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Ignorei Harry por dois dias inteiros, e rasguei todas as cartas que ele deixava. Havíamos voltado ao ponto inicial. Eu sabia que estava agindo de forma irracional, mas não conseguia controlar as minhas emoções. Descobri, dessa forma, que além de não saber mentir, eu também não sabia fingir que estava bem, quando não estava.

Aquelas palavras haviam me magoado. Eu nunca pensei que ele havia me enxergado como uma corrente da qual ele estava ansioso para se livrar, já que ninguém era capaz de prendê-lo. Eu nunca fui dele para que ele ousasse dizer que não me queria, em primeiro lugar!

Exasperada, tentei puxar o galho com o máximo de esforço que eu conseguia para colher a única maçã que tinha no pé. Eu estava com fome, e não estava com disposição para andar até o vilarejo, vender mais alguma coisa e tentar conseguir dinheiro para procurar comida. Parecia trabalhoso demais.

Pedir a ele não era uma opção. Eu ainda tinha o meu orgulho.

Tudo que eu queria, agora, era essa infeliz e inalcançável maçã!

— Eu pego para você. — Harry apareceu em minha frente, com a camisa molhada, como se tivesse acabado de voltar de um banho no rio. Ele levantou o braço sem esforço algum e arrancou a maçã do pé.

A minha maçã!

Ele a estendeu, tentando me olhar nos olhos.

Peguei a fruta e a arremessei longe, saindo de perto dele. Eu estava com raiva de tudo, inclusive da natureza, que havia desperdiçado uma quantidade absurda de beleza viril naquele homem indigno.

— Não vá por aí!

— Eu vou por onde eu quiser!

— Cuidado com...

Senti meus pés escorregarem. Meu corpo foi direto ao chão, em uma poça.

— ... a lama. — ele completou, pressionando os lábios para não dar risada. — Eu tentei avisar.

Grunhi, sentindo nojo ao olhar para o meu próprio corpo coberto de terra molhada e algo a mais que fedia.

— O que é isso? — minha voz saiu, quase chorosa.

— Eu acabei de dar banho em bella aí. — Harry coçou a nuca. — Não queira saber o que é, meu bem.

Me levantei devagar, tentando sugar o que restava da minha dignidade. Nenhuma dama deveria ser submetida a tamanha vergonha.

— Não me chame de meu bem! — empinei o queixo, segurando com vigor a saia do vestido creme, que agora, estava marrom.

— Bella, isso já está ficando ridículo! Nós dois já devíamos ter passado dessa maldita fase!

— Não há como passar da maldita fase se o senhor não deixa de agir como um canalha! — saí da poça e o empurrei, ciente de que estava sujando a camisa limpa dele com as mãos. — Isso era um acordo! Tudo estava bem esclarecido e o senhor, mais do que ninguém, deixou bem claro que eu não era a sua esposa! Não existe um mundo em que você decida que não me quer, porque adivinhe, falso Duque? Eu não te quero!

— Tem razão.

Abri a boca para gritar quando percebi que ele não havia refutado o meu argumento. Ele se ajoelhou em meio ao mato pedregoso, colocando a mão no peito.

— Não importa que eu refute que não tive a intenção de dizer aquilo, foi grosseiro e arrogante. Não posso imaginar como se sentiu ao escutar aquilo. Estou profundamente envergonhado. Imploro que me perdoe.

— Eu realmente tenho! — engoli a minha fúria, abalada por vê-lo tão arrependido.

Me senti desarmada. Era o mínimo que ele podia fazer, mas ainda assim, eu não esperava que ele se ajoelhasse.

Insensato AmorWhere stories live. Discover now