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By hellenptrclliw

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➛ A segunda queda: livro 02 da série "The Four Falls". Apaixonar-se não era sequer a última das coisas que Et... More

OWH. #2 Série TFF
sinopse
dedicatória
epígrafe
prólogo
01. quem está julgando?
02. caos com íris cor de avelã.
03. dever e honra.
04. até onde você é capaz...?
05. ethan.jyoung.
06. se você diz.
07. calum young é um menino sábio.
08. quem é gwen evans?
09.1. eu não sei como você consegue.
09.2
09.3
10. movidos pelo instinto de sobrevivência.
11. precisamos parar de nos encontrar assim.
12. por que se explicar tanto para si mesmo?
13. temos tudo sob controle.
14. a verdade que há e suas promessas.
15. um dia, talvez?
16. até o sol nascer.
17. nada é como se apaixonar pela primeira vez.
18. a reputação que me precede.
19. quando o amor cai em mãos erradas.
20. no meu sangue.
21.1. a garota que me encara de volta.
21.2
22.1. os parágrafos escondidos e descobertos.
22.2
23. a sentença das nossas vidas.
24. misericórdia nunca foi o seu forte.
25. a vida acontecendo através desses sentimentos.
26. as estrelas que testemunham nossa queda.
27. isso é sobre quem eu sou.
28.1. a liberdade do meu verdadeiro eu.
28.2
29. isso muda tudo.
30. e quem a protege de mim?
31. "juntos e essa coisa toda".
32. capítulos em branco.
33. é sempre assim?
34. como viemos parar aqui?
35. o narrador que conta a história.
36. neste momento, ele é o mundo inteiro.
37. aquela filha daquela família.
38. me diga que não é tarde demais.
39. me perdoe, eu me apaixonei.
40. boa fé da mulher que me amou primeiro.
41.1. é como deveria ser.
41.2
42. o monstro debaixo das nossas camas.
43. genuína.
44. o sangue puro e o sangue ruim.
45. julgamento
47. rainbow
48.1. as constantes.
48.2
extra: pressentimentos.
49. você vem para o café da manhã?
50. a traição.
51. negação.
52. não esquecer o quanto você o ama.
53. é o único jeito, querida.
54. honra e morte.
55. se apaixonar.
56. este é o meu dever.
57. memórias: nós as construímos e elas nos constroem.
58. sem mais sentir muito.
59. era você que sempre estava lá.
60. o caminho de volta para casa.
epílogo.
nota final.

46. com um coração cheio.

306 35 11
By hellenptrclliw

Antes de você fugir de mim
Antes de você se perder entre as notas
Na hora exata em que você pega o microfone
É exatamente assim que você dança, dança, dança

O quebra-cabeça se encaixa
Então não há nada pra explicar
Vocês se olham quando se cruzam
Ela olha de volta, você olha de volta
Não só uma vez
Nem só duas

Espante o seu pesadelo
Espante o pesadelo
Você tem uma luz, você pode sentir ela te apoiando
Uma luz, que você pode sentir em cima das costas
Quebra-cabeça se encaixando (você acabou de ser pago)

JIGSAW FALLING INTO PLACE | Radiohead.





ETHAN ESTAVA LISTADO ENTRE os mais notáveis alunos da universidade, assim como recebeu, ao longo do tempo, inúmeras propostas para participar de projetos extensivos e utilizar sua notável inteligência em uma área onde ele pudesse ser mais reconhecido. Ele podia fazer um cálculo que tomaria o espaço de mais de uma folha e explicá-lo como se estivesse comentando um seriado de TV que assistiu porque não tinha nada melhor passando nos canais. Seu orientador estava intermediando sua candidatura a um dos melhores estágios de sua área em um centro de pesquisas sediado em nossa cidade.

Sua mente funcionava rápido demais. Diante de determinada situação, ele enumeraria todos os possíveis cenários e seus fins e agiria de acordo com o menos volúvel. Ele ignorava o resto do mundo para seu próprio benefício, assim como escolhia os mais agradáveis momentos para mostrar sua face. Ele tinha um jeito de agir e pensar, como se fosse inalcançável e eternamente tão frio com a maneira que olhava para o restante de nós, meros mortais. Introspectivo. Diabolicamente lindo, havia algo sobre sua aura que era irresistível, mesmo apesar de todos os seus defeitos e questionamentos.

Sua moral.

Suas prioridades, quando confrontadas, sempre revelavam um extenso caminho de perguntas que levavam a respostas perigosas e tão sombrias quanto sua mente.

Analisando e observando com olhos taciturnos e desafiadores, tendo a resposta para tudo, desde que ele quisesse fazer parte da questão.

Até mesmo assustador quando a escuridão com que a vida o contaminou envolvia sua pele traiçoeiramente, trapaceando.

Aquelas caóticas íris avelãs.

Estive tão preocupada com ele me corrompendo quando, na verdade, estive arruinada desde que elas pousaram no meu rosto pela primeira vez.

Mas, caramba, ele era burro.

Atravessei o gramado, precisando de alguma distância do resto do mundo. Peguei o caminho até o banco abaixo da sombra de uma árvore, o mesmo lugar em que estivemos meses atrás, quando pensávamos que tínhamos, realmente, tudo sob controle. A piada estava com a gente o tempo inteiro, cada segundo em que quisemos acreditar que nada disso poderia de fato ser maior do que nós. Maior do que o passado e as consequências dele no presente e como nossas atitudes irão definir o que será do presente.

Há essa força exigindo que Ethan defina tudo antes de tentar.

Eu não queria que Alyssa se preocupasse e adquirisse mais munição para se culpar, então ontem, quando ela estava ocupada tentando encontrar uma maneira de recuperar os pertences de seus pais que Malorie vendeu, eu ocupei sua cabeça com a ideia de um encontro no dia anterior. Ela pareceu aliviada por saber que estávamos bem, e doeu, porque as palavras dele ainda eram tão ácidas quanto no momento em que foram proferidas. E no dia seguinte, eu me forcei a dizer a ela que ele era o idiota que terminou comigo.

Ele foi tão lógico sobre tudo.

X + Y = Eu te amo, mas tenho um problema, portanto não sou decente o suficiente, logo, devemos terminar.

Talvez eu devesse agradecer porque esse foi um término respeitoso e compreensivo e eu devia essas duas coisas a ele. Eu realmente entendia, mas era a ideia de perder Ethan que me deixava completamente irracional e furiosa, porque ele deveria confiar que éramos fortes o suficiente. Ele era o único que não enxergava que suas origens não definiam a pessoa que ele era, o que ele representava no meu coração e como eu conhecia sua essência para afirmar cada palavra.

Ethan não era um anjo. Ethan tinha muitas camadas, muita escuridão e frieza entre cada uma delas, incluindo aquele canto escuro em sua cabeça que ele acreditava ser presente da herança genética de Malorie, de alguma forma. Todas aquelas características questionáveis dele, sendo produto da pessoa que mais queria machucá-lo da maneira que fosse possível.

Ethan era filho de Malorie, e eu mentiria se dissesse que essa não era uma compreensão que mudava todo o cenário e, sim, fazia sentido.

O que ele não entendia era que Ethan James Young não era o bebê que ela deixou para trás. Suas características boas superavam todas as outras.

E sim, não sabíamos se Alyssa seria capaz de passar por cima disso. Mas, se eu tinha certeza que as origens não definiam quem ele era, como Alyssa poderia resumi-lo ao filho de Malorie quando dividia uma vida inteira ao seu lado?

Eu sei que sentimentos e emoções são muito complicados, mas a estupidez de Ethan em relação a eles era um contraste curioso com sua óbvia inteligência.

— Ei, Gwen.

Ergui meu olhar turvo e disperso para encontrar Leon St. John aproximando-se cautelosamente, esquadrinhando meu rosto como se estivesse tentando antecipar qual seria a energia de nossa interação. Ele estava mancando, mas teimosamente, andava sem suas muletas para apoio. Alyssa deveria estar muito contente com ele.

— Oi! — forcei um sorriso, deslizando para o lado para que ele pudesse sentar. — Como você está se sentindo?

Leon bufou, lentamente ocupando o espaço ao meu lado com um pequeno suspiro.

— Bem, apesar dos pesares. Dói, mas o que dói mais é o que a lesão representa.

Que talvez ele nunca volte a jogar como antes.

— Mas tudo ficará bem — ele abanou a mão no ar, como se espantasse os pensamentos negativos. — Cadê o meu irmão?

Estremeci, desviando o olhar. Bom, como vou explicar para ele os últimos acontecimentos caóticos em que seu irmão me colocou?

Dei de ombros, piscando. — Em casa, eu acho.

— Ele nunca perde uma aula — Leon estreitou os olhos em meu rosto. — Nem quando estava virado ou acordava do outro lado da cidade.

Abri um grande sorriso na tentativa de desviá-lo.

— Tem uma primeira vez para tudo, certo?

Leon estreitou ainda mais seus olhos no meu rosto, observando por quanto tempo eu manteria a farsa de que estava tudo bem, quando obviamente nada estava bem há muito tempo. No entanto, era estranho ver essa distância entre os dois, como eles não eram tão atrelados como eram quando comecei a conhecê-los e, presumivelmente, como eram antes de eu chegar.

Ethan precisava de mais apoio, do meu, mas estava sendo um burro.

Um vinco se formou entre as minhas sobrancelhas e eu levantei a mão, massageando, tentando sufocar minha irritação novamente.

— Eu não achava que Alyssa conseguiria fazer amizades — declarou ele. — Você sabe como ela é. Então, há você, que cativou aquele coração difícil dela desde o primeiro momento, apesar de todas as tentativas dela de não ceder ao laço.

Foi difícil compreendê-la no começo, era verdade, mas entendia agora. Está no sangue James-Young.

— É bom para ela, ter você. — Ele balançou a cabeça. — Um toque gentil e esperançoso para lembrar de que ela também é assim, quando ela estiver se perdendo em seu passado.

— Ela tem você — eu murmurei, quase amarga, porque no momento, ele tinha mais sorte do que eu. — E você faz isso muito bem.

Leon ficou em silêncio por um momento mais longo do que o normal. Ele era o toque de gentileza e esperança que Alyssa precisava, o que ela gostava nele e a mantinha presa, mesmo que ela acreditasse que precisava fugir. E, da forma com que Leon orbitava ao seu redor como se ela fosse o sol, eu duvidava muito que ele estivesse indo a algum lugar a centímetros longe dela.

— Por um lado, eu sei que foi a pior escolha me apaixonar pela irmã do meu melhor amigo.

Eu zombei. — Não é bem uma escolha, você sabe.

Eu não escolhi me apaixonar por Ethan. Escolhi permanecer ao seu lado depois disso, ao invés de fugir e fingir que ele não era a única coisa que meu coração queria.

— Ela realmente te adora — eu murmurei. — Você sabe disso, certo?

— Você sabe sabe que Ethan realmente te adora, certo?

Touché. Eu me esquecia que ninguém me entendia melhor do que o cara apaixonado por outro James-Young.

— Na verdade — eu me senti corar, passando a mão em minha bochecha quente —, ele disse que me ama.

— Isso é… — ele soltou um suspiro, arqueando as sobrancelhas. — Eu acreditei que ele tinha algum tipo de… déficit, ou algo assim. Acreditei que ele não sentia tanto as coisas como eu ou você, sabe?

— Ele sente de maneiras diferentes, eu acho. Não era bem o que eu esperava, mas…

— É a única coisa que você quer.

Encontrei o olhar de Leon, silenciosamente concordando com sua descrição perfeita. Ethan apaixonou-se por mim antes de tudo. Antes de nos beijarmos. Antes de estar dentro de mim. Ele se apaixonou por mim como uma pessoa, de mente para mente e de coração para coração. Cada toque gentil e tímido que descobrimos juntos e que ficou sob nossa pele, impossível de arrancar ou esquecer. Cada gentileza que dissemos um ao outro. Cada briga que tivemos tentando encaixar nossos medos e temperamentos.

De desconhecidos para amigos, e de amigos para confidentes e então… tudo.

Como eu sabia disso?

Porque era exatamente como eu me sentia.

Leon sorriu; aquele sorriso suave capaz de acalmar uma mente frenética.

— Apenas dê um tempo a ele, ok?

— Você sabe — eu soprei, então ri. — Claro que você sabe.

— Sei que estive distante dele, mas Hunter acabou espalhando — Leon encolheu um ombro. — Apenas dê um tempo. Ele irá voltar a si mais rápido do que você pensa.

Eu queria tanto acreditar, mas a esperança iria esmagar meu pobre e sonhador coração se ele estivesse errado. Afinal, Leon não sabia da história completa, e que Ethan não tinha confessado tudo ao melhor amigo ainda era tão estranho quanto o resto.

— Como você pode saber?

— Costumava ser eu e ele, sempre — Leon me deu uma olhadela esnobe. — Você sabe, antes de vocês, mulheres, bagunçarem tudo.

Eu empurrei seu ombro, indignada. — Ugh. Cale a boca. Se alguma coisa, colocamos a cabeça de vocês no lugar.

Tsc tsc, princesa — ele estalou a língua em falsa repreensão. — Não fale como se nós fôssemos estúpidos.

Mas vocês são, é o que meu olhar diz.

— Você não vai me achar estúpido quando provar que estou certo, e Ethan deve estar procurando por você agora.

— Já perguntei, como você pode saber?

Ele tocou o peito, dramático. — Porque esses irmãos não vivem mais sem você e eu, princesa.

— Porque somos os únicos que aguentamos, — reclamei, bufando. — Você acha que é normal?

— Se tem uma coisa que nossa vida não é — ele tocou meu ombro, apertando delicadamente —, essa coisa é “normal”.

. . .


Essa era a coisa mais estranha de todas.

A incerteza me dominou em meu lugar, fixando meus pés entre o corredor que interligava a antessala com nossa sala de estar, à distância. As afirmações de Leon St. John pareciam assustadoramente sábias agora, apenas três horas depois. Ele estava certo, infelizmente. A vista não estava me fazendo continuar acreditando que ele era estúpido, porque…

Ethan estava aqui. Na minha casa. Na minha poltrona.

Apertei as pálpebras, uma, duas, três vezes. Mamãe e papai me enviaram uma mensagem horas atrás avisando que saíriam pelo resto do dia, horas atrás, e ela não mencionou absolutamente nada minimamente indicativo de que Ethan tinha procurado por mim - e, acredite, ela teria dito, pois era fã dele. Mesmo quando dormi chorando porque não conseguia ajudá-lo.

Eu soube de suas atividades ontem à noite, porque ele era Ethan James Young, e as pessoas falavam. Não tive tempo de falar diretamente com algum dos caras ou até mesmo Alyssa, mas os boatos foram o suficiente. Eu não era insegura o suficiente para me preocupar com ele estando com outra mulher, mas uma realidade me magoava ainda mais do que o mero pensamento disso: ele terminou comigo porque não era bom o suficiente no momento, mas se enterrou tão facilmente no fundo do poço na mesma noite? Como se nada valesse a pena? Sua mente estava contaminada com todos os argumentos e palavras inteligentes de Malorie Young, distorcendo o coração dele contra ele mesmo.

Como se ele devesse ser tão vazio quanto ela.

Independente disso, no entanto, ele era grande o suficiente para suas próprias escolhas.

Engolindo em seco, eu me aproximei lentamente dele. Sua expressão estava mais pacífica do que nunca; as pálpebras suavemente escondendo as caóticas íris avelãs do mundo, seus lábios relaxados e corados e suas mãos enfiadas nos bolsos de um moletom preto. A cabeça levemente inclinada para o lado. As olheiras sob seus olhos. As linhas cansadas do seu rosto. O cabelo escuro caindo sobre a têmpora, tornando irresistivel a vontade de passar meus dedos ali.

Meu coração parou de doer, como se pudesse vê-lo também.

— Ethan? — chamei, minha voz tão suave quanto possível. — Ethan, acorda.

Eram quatro horas da tarde, pelo amor de Deus. Meus pais estavam fora desde as onze da manhã. O que diabos ele estava fazendo aqui sozinho?

As engrenagens da minha cabeça explodiram no momento em que vi seus olhos se abrindo.

No momento em que ele discerniu meu rosto, sua expressão inteira se transformou.

São os olhos, no entanto.

A maneira com que eles eram tão frios no começo, tão distantes, mas se transformaram com o bater de asas de uma borboleta. Ele piscou, e tão de perto, acompanhei a forma com que suas pupilas se dilataram e ele arregalou os olhos, traçando meu rosto inteiro como se uma eternidade tivesse existido no espaço de um dia.

Respire, eu tentei me lembrar.

Mas sua mão veio para a lateral do meu rosto antes que meu cérebro estúpido pudesse processar a informação corretamente.

Eu sabia que tinha sido só um dia.

Mas a ausência de Ethan era como descobrir um mundo novo, cinza e gelado, desde que ele entrou na minha vida seis meses atrás.

Ele terminou comigo, eu pensei. Ele não deveria estar me tocando, ou molhando os lábios como se fosse me beijar.

Eu empurrei sua mão, segurando seu pulso e me afastando, mas Ethan era mais rápido que eu. Maior do que eu. Mais desenfreado com paixão do que com minha raiva.

— O que você está fazendo? — eu esbravejei, dando outro e outro passo para trás. — Terminamos! Eu estou dando espaço para você….

Eu me lembrava de como me senti quando ele me beijou pela primeira vez.

O beijo que leitores esperariam centenas de páginas para ler e destacariam com marcadores vermelhos.

O beijo.

Não, eu quero gritar não! Ele não pode avançar em mim como se eu fosse tudo o que ele via, porque ele não me quis perto ontem.

Espalmei seu peito, parando de recuar para que ele parasse de me seguir. Aquela paixão em seus olhos, eu nunca vi. Minhas mãos se agarraram ao tecido do moletom, torcendo-o em meu punho enquanto senti o ar gelar a saliva de meus lábios entreabertos, no entanto, eu não via nada além daquelas caóticas, tão caóticas e apaixonadas íris avelãs. Diferente da primeira vez em que as notei, as mãos de Ethan agora cobriam as minhas que o seguravam tão furiosamente.

Eu pisquei, enfeitiçada.

Ele nunca, nunca olhou para mim assim. Nem quando disse que me amava.

Como se eu estivesse, enfim, condenada.

— Você terminou comigo — eu sussurrei, sentindo uma lágrima tola rolar por minha bochecha. — Por que você está fazendo isso? Por que você está aqui? O que mudou, Ethan?

Suas sobrancelhas se franziram como se minha pergunta causasse dor, e ela deveria mesmo.

— Você — ele sussurrou de volta. — Você mudou tudo. Eu entendo agora.

Eu me peguei chegando mais perto, porque o calor que vinha dele era tão viciante, e eu pensei que não teria mais a chance de sentir.

— Entende o que?

— Que eu sou capaz de algo que ela nunca foi — seu olhar caiu na direção dos meus lábios. — Ser amado.

Meu coração atropelou o ritmo cardíaco comum de um humano. Ele se desesperou, enlouquecido, porque fomos pegos nesse jogo outra vez. Tentei tanto, eu disse a meu coração expectante. Eu tentei.

Nunca tive a chance, no entanto.

Sua mão veio até minha bochecha e eu fechei os olhos e derreti contra o toque. Tão simples, como uma brasa esperando o menor sopro de ar para acender e queimar. Senti falta dele. Eu senti falta dele, e chorei por ele porque achei que seus demônios seriam capazes de levá-lo para longe, que Malorie Young conseguiria tirar dele tudo que fazia com que qualquer ligação entre eles fosse apagada.

Eu me senti tão boba de repente.

Quando foi que Ethan deixou alguém dizer a ele o que fazer?

— E eu sou. Estive tendo um momento sombrio, mas eu vejo isso agora. Por meus amigos. Meus irmãos — sua voz chegou perto, baixa, o hálito quente tremulando meus cílios: — Por você.

Todas essas emoções deixando Ethan mais volúvel do que jamais vi. Se perdendo ontem, reencontrando-se hoje. Perdendo o controle para recuperá-lo. Cometendo erros livremente, mas enfim disposto a corrigi-los, custe o que custar.

Custe o que custar.

E ele tinha razão. Era o que eu precisava que ele visse.

Que Malorie Young jamais teve metade do que ele tinha agora.

E que ele tinha o amor, não a obsessão no sangue dela. Ele tinha o amor de seu pai, não o transtorno de sua mãe.

E era esse o homem que eu queria.

Sua boca estava quase sobre a minha quando, finalmente, eu me dei por vencida.

— Sim — sussurrei. — Ela nunca entenderá como é ser amada da maneira que eu amo você.

Minhas palavras foram memorizadas por seus lábios nos minutos seguintes. Como ele me beijava, minha admissão só seria esquecida nas vidas seguintes, e isso selava tudo de agora em diante. Como ele prosperou através da luta contra os demônios em seu passado e escolheu permanecer do lado bom da vida, aquele único que mantinha alguma esperança para nós sobre o amanhã cinzento e complexo. Eu não me importo mais com como ele veio parar aqui. Eu só me importo que ele está aqui.

Se eu julgar a forma com que suas mãos estavam se enfiando por baixo do meu suéter, diria que ele não tinha a pretensão de sair tão cedo.

Fazia sentido agora, todo aquele tempo em que me preocupei em ser arruinada, em ser condenada. Eu poderia morrer aqui e agora em seus braços, e essa seria uma boa morte.

Afastando minha boca da sua, eu segurei sua mão na minha e o puxei através da minha casa para o andar de cima. Ele me magoou e até me decepcionou há um dia atrás. No entanto, desde que nos envolvemos, esse nunca foi um romance água com açúcar com o qual eu pudesse equilibrar a atitude. Ethan nunca deixou de me avisar sobre como ele poderia ser perigoso para mim, mas se esqueceu de que eu também poderia ser. De que ele estava aqui agora, tão louco por mim quanto eu era por ele, e nós dois caímos.

Eu sabia exatamente onde era o meu lugar e o que eu merecia, e tinha plena certeza de que ele poderia ser isso. Porque eu o amo de todas as maneiras que é possível um ser humano amar o outro.

É ele.

É só ele.

Tranquei a porta e me virei, apenas para ser cercada por ele. Suas mãos espalmando a parede dos lados da minha cabeça, sua respiração acelerada misturada com a minha. Seu peito, subindo e descendo tão rapidamente e roçando no volume dos meus seios. O cheiro dele. Seus lábios, o calor que eu tanto senti falta. Ele. Por inteiro. Ele e aquele olhar tão desenfreado, tão emocionante, tão eletrizante.

— Sinto muito — ele sussurrou, a veia em seu pescoço pulsando. — Sinto muito por quase deixar você ir. É um erro que não vou cometer uma segunda vez.

Molhando meus lábios quentes, eu encontrei seu olhar, um arrepio estremecendo sob minha pele.

— Isso é uma promessa?

Ele ri; um som profundo e baixo. Como se eu fosse tão boba.

— É um maldito fato — ele disse, entredentes. — Você é minha. Seu lugar é ao meu lado, porra.

Finalmente, droga.

Meu suéter estava no chão e meus sapatos caídos em lados opostos. O moletom dele estava nos meus pés quando enganchei minhas mãos no cós de sua calça e empurrei para baixo. E então, sua pele estava contra a minha. Quente. Tão quente, que eu queria morrer ali. Minha saia foi abandonada e minha meia calça, rasgada.

Ethan continuava sussurrando palavras tão emocionantes quanto o olhar em seu rosto, aquele me fazendo uma completa refém. Ele perguntou seus pais estão voltando, querida? E eu disse a ele que não, e foi como minhas pernas pararam em torno da sua cintura e minhas costas contra a parede fria, com nada entre nós dois. Ethan foi um amante gentil em nossa primeira vez. Ele não apertou minha pele até doer, e ele não me beijou até meus lábios arderem. Ele não sugou meu peito com tanta força até me marcar. Ele não me empurrou na cama, cobrindo meu corpo vulnerável com o seu, tão forte, tão firme.

Ele não envolveu sua mão no meu pescoço assim.

Ele me deixou ter o controle para que eu não perdesse, e agora era minha vez de retribuir.

Não era um sacrifício, no entanto.

Seu rosto pairou acima do meu quando seus beijos diminuíram, e minha pele queimava e ardia em todos os lugares. Ele estava se pressionando contra mim e cada toque, cada deslizar de sua pele na minha causava uma nova e eufórica sensação que explodia em meu sangue e ecoava nos meus ossos. Ethan James Young estava em todo lugar. Em todo o maldito lugar.

Ele piscou; o avelã de suas íris escuro com o poço mais profundo de sentimentos. As bochechas coradas, a expressão convicta que modelava seus traços perfeitamente, porque era como ele.

Ethan esticou a mão até segurar a minha e guiá-la até a tatuagem da constelação que descia por seu pescoço. Deslizou até que ela parasse em um ponto muito específico, e eu voltei meses atrás, quando perguntei a ele sobre ela. Morte. Nada brilhava tanto quanto Sirius, porque a morte tomava tudo.

— Aqui — ele suspirou. — Aqui é o seu lugar. Você é a minha estrela mais brilhante.

Quando ele entrou em mim, eu realmente me senti como uma estrela.

Ele fechou os olhos, sua cabeça tombando para descansar no vale em meu pescoço. A respiração ofegante ao pé do meu ouvido e a mão direita segurando meu quadril enquanto ele se apoiava no antebraço esquerdo para reduzir o peso sobre mim. Ele puxava e então empurrava de volta, tão lentamente e cada investida nova era um novo som rouco que eu descobria dele, vibrando de seu peito contra o meu. Arrastei minhas mãos pela extensão de suas costas até me agarrar em torno de seu pescoço, meus dedos enredando-se nos fios de cabelo até ele erguer seu rosto para o meu.

Era tão bom que eu queria chorar.

— Minha — ele respirou contra minha boca, gemendo. — Minha. Minha. Minha.

Fechei meus olhos.

Sim. Sua.

. . .

Eu descobri uma coisa que nunca irei superar.

Ficar nua com Ethan enquanto ele dedilhava minha pele em um carinho gentil, beiijando meu pescoço, meu rosto, meus ombros, acariciando meu cabelo. Ele era tão doce comigo, e eu nunca cansava de me sentir privilegiada por isso. Tocando meu queixo com dois dedos, ele ergueu minha cabeça para que pudesse pressionar seus lábios nos meus no beijo mais delicado que já recebi.

Era como se ele estivesse tão ocupado descobrindo meu corpo, já que nossa primeira vez foi mais sobre mim do que sobre nós, e agora estávamos em ordem com o que sentíamos, sendo honestos sobre o que queríamos um do outro. E sem segredos.

Empurrando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, Ethan esquadrinhou meu rosto com as íris calmas que eu amava tanto quanto as desenfreadas de antes.

— Você percebe que fizemos sexo sem camisinha — ele declarou, espalmando minha nuca. — E não está surtando.

Um sorriso lento e meio bêbado cresceu em meu rosto.

— Eu te disse, estou no controle — expliquei a ele. — E você me disse que está limpo, certo?

Meu sorriso refletiu em seu rosto. — Certo. Mas não vamos fazer disso um hábito, por enquanto. Eu meio que já tenho um filho no momento.

Enganchei minha perna em sua cintura, rolando para cima dele quando seu corpo cedeu no meu. Montada em seus quadris, a vista daqui de cima era de um Ethan desgrenhado, corado e de olhos felizes e brilhantes que a partir de agora, queria ser a única a vê-lo assim: tão desprotegido. Tão consciente do quão vulnerável ele era comigo, mas sem temer essa realização. Meu coração acelerou, hipnotizado com a beleza extraordinária que Ethan James Young era.

Suas mãos se arrastaram pelas minhas coxas, cintura, barriga e seios, descendo por meus braços e entrelaçando seus dedos nos meus, tornando a descansar nossas mãos em minhas coxas. Eu me sentia dolorida e suada, tão completa e ao mesmo tempo vazia com o espaço entre as minhas pernas agora que relembrei, tão vividamente, o que era ter Ethan entre as minhas pernas e como tinha sido tão monumental desta vez, com a consciência do que éramos um para o outro.

Mordi um sorriso, sem tirar meu olhar do seu.

— Eu te amo — murmurei, acostumando-me com as palavras.

O sorriso de Ethan cresceu, esticando as bochechas coradas. Ele levantou o tronco até abraçar minha cintura, meus seios apertados contra seu peito.

— Eu te amo — ele disse, tão baixo e confiante, que meu coração doeu. — Há um longo tempo, eu acho.

Toquei sua bochecha, adorando a visão de como suas pálpebras caíram fechadas.

— Estou feliz — disse a ele. — Estou tão feliz, porque estou aqui nos seus braços e você finalmente percebeu que o seu lugar é nos meus. Que o seu lugar é com as pessoas que te amam apesar de tudo, e que são capazes de te compreender.

— Obrigado — ele suspirou, abrindo seus olhos. — Você é uma visão gentil e inspiradora de como as coisas podem ser. Eu estava com medo de não ser bom para você, mas ideia da sua ausência me mata de uma maneira diferente de todas as outras coisas que já sofri. Então, se você merece o melhor, eu serei o melhor, porque você é minha.

Engoli em seco, forçando as lágrimas emotivas para baixo da superfície. Eu quase não conseguia acreditar que Ethan James Young era tão meu dessa forma, porque nunca tive a chance de prever que a primeira vez em que nos encontramos me traria até aqui, nua em seus braços como nunca fiquei com com mais ninguém. Como nunca confiei em mais ninguém.

Ethan se aproximou, deixando vários beijinhos em meus lábios e na linha do meu queixo. Eu ri, me contorcendo em seus braços até que me dei conta de algo.

— Ei — empurrei seu ombro, procurando seus olhos. —  Que hora você veio na minha casa?

— As dez da manhã, eu acho — ele franziu a testa, ponderando. — Eu estava na casa do Caden e me arrumei lá para vir ver você quando a ressaca passou.

— Você me esperou por quase sete horas?

O alto de suas bochechas assumiu um novo tom rosado. — Eu realmente precisava falar com você.

— Ethan… — eu sussurrei gentilmente,  tocada pelo gesto.

— E além do mais — ele enfatizou, arqueando as sobrancelhas. — Seu pai me disse que você estaria chegando “em breve”. Ele me sacaneou, G. Que bom que eu comi você pra caralho para compensar isso.

Corando, eu soltei uma risadinha estridente. — Você não presta, Ethan.

Ele apenas deu de ombros.

— Isso quer dizer que vocês conversaram?

— Isso quer dizer que conversamos, sim, e chegamos a um consenso.

Estreitei meu olhar nele. — Posso saber que consenso é esse e o que isso inclui?

— Tudo o que você precisa saber é que nós dois te amamos.

Meu coração praticamente suspirou em meu peito. Ontem à noite, quando papai me viu chorando, achei que qualquer chance que pudéssemos vir a ter iria por água abaixo, porque ele se agarraria em suas ideias mirabolantes de como o mundo inteiro queria me machucar de uma vez por todas. Eu estava contente com uma possível reconciliação entre papai e Ethan, mas ainda gostaria de ter estado ao seu lado quando ambos acenaram a bandeira branca.

Suspirando, eu acariciei seus ombros.

— Vamos descer e comer algo, ok? — eu me arrastei de seu colo, cobrindo-me com o lençol. — Estou me sentindo mal por você agora.

Nós dois nos limpamos no banheiro, com uma breve pausa para outro amasso, até que ambos estávamos decentes outra vez. Ethan tinha as mãos enfiadas quase nervosamente no bolso do moletom enquanto eu vestia uma calça jeans e pegava meu suéter do chão, vestindo-o novamente. O silêncio na casa indicava que, felizmente, papai e mamãe não decidiram retornar mais cedo de seja lá o que eles estavam fazendo o dia todo, e eu meio que gostei de poder ter um tempo a mais com Ethan, já que estarmos a sós e em paz não era um acontecimento frequente.

Atualizei Ethan sobre como tinham sido meus dois últimos dias enquanto estivemos distantes, incluindo meu encontro com Leon pela manhã. Ele me disse que Caden estava bravo demais com ele por ontem à noite, enquanto Hunter soube como usar a situação a nosso favor, e eu disse a ele para me lembrar de dar um grande abraço de agradecimento em Hunter Wood, que salvou a consciência de Ethan a tempo de colocá-lo na minha cama esta tarde.

— Preciso da sua ajuda com algo — Ethan declarou ao terminar de secar o último prato, sacudindo a cabeça. — É algo que preciso saber para começar a fazer as coisas direito.

Sentei-me novamente na banqueta da ilha, apoiando meus antebraços enquanto observava sua postura tensa retornar, aquele vinco estressado entre suas expressivas sobrancelhas escuras. Ele guardou o prato em que comeu as torradas e deu a volta, sentando-se ao meu lado na cozinha iluminada e eu fiquei quieta, dando a ele o tempo que eu sabia que ele precisava para organizar as coisas em sua cabeça.

Respirei fundo, me preparando para o que quer que ele precisasse, porque eu estava pronta.

— Após o enterro, Malorie quis me entregar isso — ele colocou sobre a bancada um envelope branco, amassado. — Eu vejo agora que ela se aproveitou da minha vulnerabilidade, da morte e de ter descoberto a verdade, como se ela soubesse que eu recusaria receber qualquer coisa dela. Como se ela soubesse que poderia usar contra mim mais tarde.

Suprimi uma onda violenta de ódio.

— É uma carta não endereçada do meu pai. Não sei qual o contexo; se ele iria entregar a alguém, se era só um desabafo… Eu realmente não sei. Só sei que Malorie quer me desestabilizar um pouco mais.

Ethan rasgou o envelope e revelou, talvez, duas páginas escritas com uma caligrafia cursiva, e eu percebi que havia sido justamente o envelope que eu havia encontrado em seu quarto quando fui recolher meus itens pessoas após o término mais breve da história. Não tinha certeza se queria que Ethan lesse, no entanto, ele precisava disso. Precisava conhecer todas as versões possíveis de sua história, e independente do que fosse, ele continuaria sendo essa pessoa que todos nós amávamos.

— Você quer que eu leia? — presumi, estendendo a mão para pegar os papéis. — Até o fim?

— Até o fim.

Então eu fiz o que foi pedido.

Bem, esta é a minha confissão.

Se alguém encontrar isso um dia, não espere em momento algum um pedido de perdão e saiba: eu não procuro absolvição. Perdão requer uma vertente espessa de arrependimento, e eu não me arrependo de nada. Se eu pedisse perdão, significaria que não sou um homem digno da vida que foi e é concedida. Eu assumi as consequências dos meus atos e nunca me lamentei, realmente, por ter que arcar com elas. Se eu soubesse que terminaria como terminou, teria feito diferente? Não, não teria. Fui jovem e estúpido... tão estúpido, e não sei bem porque estou escrevendo isso. Talvez seja um desabafo de consciência…

Mas isso significaria que ela estava pesada, não é? E eu não vivo como se ela estivesse. Talvez eu esteja escrevendo isso, na verdade, na tentativa de entender como acabei com tanta sorte através dos meus erros e com uma redenção muito simples, porque o único perdão que eu precisei em meus 30 anos foi o de minha esposa, e ela sempre foi boa demais para este mundo. Boa demais para mim e para sua família. Ela me escolheu e eu falhei com ela, mas após isso, lutei para que cada suspiro meu fosse digno dela e ela me acolheu, me perdoou e me amou através dos anos mais do que achei que fosse possível.

Não estou com a intenção de romantizar isso. Como se fosse certo, porque não é e assim a vida funciona. Se eu acho que ela deveria ter me perdoado? Talvez. Se eu acho que ela deveria ter me dado outra chance? Não; como eu disse, boa demais para este mundo. Mas sou grato, mais do que ela imagina. Grato por juntos, encontrarmos um lugar na vida onde pertencer. Esta poderia ser uma carta de amor, afinal, mas Liliana sabe que não há outro alguém que poderei amar tanto quanto eu a amo nessa vida e além. Não sou muito religioso, mas Lili é e quer me convencer de que há mais quando morremos. Eu acho que ela está de conversa fiada, mas sempre digo que haja o que houver além da vida, espero que eu possa estar com ela.

Em retrospecto, viver minha vida ao redor de Liliana nem sempre foi minha intenção – minha honra. Houve uma época turbulenta onde sua família não a queria comigo; a maioria me queria bem longe, mas houve uma pessoa em especial que me queria mais perto do que oxigênio. Eu não pude ter essa lógica na época, parte do que me fez fraco, e eu já estava envolvido com Lili. Não diria que a amava, mas estava muito bem nesse caminho.

Então eu a traí.

É. Anos depois e isso ainda tem um gosto tão ruim como se fosse ontem. Era apenas mais uma briga – porque como dito, me queriam longe – que estávamos certos que resolveríamos. Tecnicamente estávamos separados, mas ainda foi uma traição e não foi com uma desconhecida. Sangue com sangue gerou mais sangue e Liliana foi traída por duas pessoas que amava, e eu a traí e traí o sangue que veio do meu erro. Eu era um rostinho bonito que trabalhava duro porque não era rico e também não fiz faculdade. As garotas se jogavam em mim por uma noite e de todas que poderia ter escolhido, escolhi a pior. Malorie Young.

Eu não era burro a ponto de não ter notado seus olhares sobre mim, e ela achava injusto que tivéssemos nos conhecido primeiro e eu tivesse caído nos encantos de sua irmã mais nova, Liliana, tão facilmente. Mas nunca soube explicar a conexão que eu tive com minha esposa desde que a conheci e não éramos nada além de jovens apaixonados. Mas Malorie nunca se abalou, ou pelo menos não demonstrava. Ao longo do tempo, o desgosto de ver a menina de ouro que Lili era se envolver comigo foi se tornando cada vez mais óbvio e Malorie se aproveitava disso. Ela envenenava a cabeça de Lili e sua família espalhava esse veneno por todo o resto.

Nunca toquei Malorie antes da nossa primeira e única vez, porque ela parecia uma garota legal, apenas não senti nada. Com Lili, eu sentia tudo. Acho que Malorie nunca entendeu isso – acho que até hoje não consegue. De qualquer forma, eu não estava bêbado. Eu realmente estava dentro dos padrões de “consciente” e meu único engano foi pensar que uma coisa substituiria a outra. Que eu perceberia que todo o estresse que Liliana trazia consigo poderia ser apaziguado. Nunca me ensinaram sobre o amor. Meu pai não tratava minha mãe como uma mulher deveria ser tratada e nem minha mãe parecia remotamente interessada em tratar meu pai bem desde que me conheço por gente, então houve o divórcio.

Minha infância e adolescência foram de lá para cá. Minha mãe foi uma boa mãe na maior parte do tempo e meu pai também; acho que eles só eram tóxicos quando estavam juntos e me salvaram da contaminação quando se separaram. Mas no que se referia aos assuntos do coração, sempre fui meio ignorante mesmo. Eu pensei... se um casamento poderia ruir tão facilmente, o nosso poderia sequer começar um dia? Eu estava confuso e Liliana parecia estar cedendo as vontades de outros, então eu fiz sexo com sua irmã.

Não existem palavras e nem existirão para que haja uma justificativa para o que fiz. Foi traição e ponto final e todos sabem. Viver com isso é meu castigo eterno e é punição o suficiente, deixe-me te dizer. Contei para Lili no dia seguinte, e os meses que se passaram após isso foram como o inferno na terra. Ela nunca mais me dirigiu a palavra e em uma cidade pequena, era evidente o quanto ela sentia repulsa por qualquer encontro que pudesse ter comigo pelas ruas. Eu disse a Malorie que havia sido um erro que pedi desculpas a ela; afinal, nunca quis partir o coração de ninguém tão deliberadamente. Mas Malorie era muito ardilosa. Ela pensou que eu estava me fazendo de difícil e que essa seria uma história divertida para contar no futuro.

Alerta de spoiler? Não era nada disso. Eu passei meses tentando reparar meu erro com Lili e levei uma eternidade para conseguir sua atenção novamente e anos para conquistar toda sua confiança outra vez. No entanto, naqueles passos de tartaruga com os quais consegui progredir com ela, mais maduros e sábios, ela saiu do domínio de sua família e eu precisei perdê-la para compreender que meu amor não estava fadado a terminar como meus pais. Poderia ser diferente.

TINHA que ser diferente.

Lili não voltou comigo porque me perdoou. Tive que andar religiosamente na linha como um cachorro adestrado (palavras de um antigo amigo) e mostrar a ela que estava disposto, mas acho que ela só pôde me perdoar com todo seu coração, verdadeira e honestamente quando já estávamos casados. Enquanto isso, prosperamos com toda a calma do mundo. Eu não tinha pressa para amá-la e nem deveria. Não assumi a culpa por ter causado discórdia em seu relacionamento com Malorie, pois era sua responsabilidade ser uma boa irmã tal como era minha responsabilidade ser um bom homem para Lili, e ambos falhamos. Porém, enquanto eu lutei para merecê-la de uma vez por todas, os esforços de Malorie nunca foram muito louváveis.

Mas ela nos deixou em paz por um período de tempo, quase mais de um ano.

Houve um dia em especial que eu nunca vou me esquecer.
Eu estava me preparando para sair com Lili, meu pai estava rindo porque nenhuma camisa parecia me agradar. Ele disse “essa menina suporta sua bunda irritadiça e antipática, você acha que ela se importa com sua camisa?”. Eu abri a boca para dar-lhe uma resposta espertinha e que me renderia um tapa na nuca, mas meu celular tocou antes que eu pudesse. Era Lili, e sua voz estava muito calma se eu não conhecesse e não soubesse que ela estava apavorada por dentro.

“Elliott” ela disse, “um vizinho da Lori me ligou há meia hora, procurando por ela”.
Eu fiz uma careta. Mordi a resposta grosseira de que porra sei eu, e murmurei para que ela me desse um contexto. Não via Malorie há um bom tempo e não ter que me preocupar com ela era um santo de um alívio. Entretanto, ela ainda era a irmã de Lili, e eu lhe devia respeito. “Ele disse que não a viu nos últimos dias”, sua voz ficou muito baixa ao acrescentar: “E que em um primeiro momento, pensou que ela estava com a família porque já havia dado à luz ao seu bebê”.

Eu me lembro de que algo em minha expressão fez meu pai baixar o volume do rádio e me olhar com grandes olhos castanhos. Lili prosseguiu, soando tão transtornada quanto eu: “Mas, nos últimos dias ele disse que tem vigiado a propriedade para ela e mais de perto, ele ouve uma criança chorando. Um bebê chorando sem parar. Elliott” Lili chorou. “Se ela esteve conosco por mais dois meses desde que vocês dormiram juntos e já se passaram mais de oito meses que ela foi embora... e se essa criança...”

Fosse minha? Foi o que ela não disse. Mas você vê, nunca me preocupei com isso. Eu me protegi e não era como se eu estivesse interessado em ter um filho nesse momento e, se estivesse, pela minha porra de vida não seria com Malorie Young. Somando o tempo desde que dormimos juntos com certeza somava mais de nove meses, quase passado de dez. Então, este medo na voz de Lili era justificado.

Se Malorie não estava em casa, a criança estava sozinha? Malorie nunca pareceu suicida, mas ela definitivamente era instável. Eu honestamente não sabia o que esperar dela.

“Onde fica?” eu me lembro de ter perguntado. “Tenho que ir até lá e verificar porque...” Nós sabemos o porquê. Malorie nunca foi uma dama recatada e virgem muito antes de eu me entranhar na vida das irmãs Young, mas eu ainda precisava ir até lá e ter certeza de que isso não estava acontecendo. Não podia estar. Minha vida estava finalmente se ajeitando; eu consegui um bom emprego, estava conseguindo a garota e estava de bem com a vida em meus termos. Isso era tudo que eu não precisava e, no fundo, estava confiante de que tudo isso não passava de um mal entendido.. Quem sabe o que ela fez antes e depois de dormirmos juntos?

“Eu sei,” Lili disse, a voz firme. “Vou com você. Já estou pronta”. Meu pai ficou completamente sem reação quando expliquei a situação e peguei as chaves do carro, sem pensar muito. Se eu pensasse no quanto isso poderia dar errado, ou se eu considerasse o quão doente ela realmente era se deixou uma criança sozinha – se tivesse feito o que seu vizinho dissera -, temia que fosse entrar em um estado de choque e ficar paralisado. Poderia ser meu? Tomara que não, foi o que eu pensei enquanto dirigia.

Neste exato segundo em que escrevo isso, tenho que voltar atrás no que escrevi no começo. Talvez eu me arrependa de algo, mas não sei se chegarei a pedir perdão. Arrependo-me de todas as coisas que passaram por minha cabeça enquanto dirigia. Lembro que pensei: isso só pode ser o meu castigo. Disse que não era muito religioso, mas naquele dia rezei para não ver meu rosto naquela criança. O alívio que eu sentiria ao chegar e ver que era completamente diferente de mim hoje em dia ainda cortava meu coração.

Eu assegurei a Lili de que havia me protegido, de que estatisticamente não era possível e que saberíamos se algo dessa magnitude estivesse acontecendo. Malorie era muito engenhosa para se esconder e não usar um possível filho meu para nos infernizar. Lili não disse muito durante a viagem e o medo de perdê-la era palpável ao meu redor. Então nós chegamos na casa simples de dois andares onde Malorie estava vivendo, e não parecia que alguém estava residindo ali todos os dias. Uma folhagem estava seca, a varanda suja e as flores morrendo. Eu quase não ouvi som algum além do meu coração ricocheteando as paredes do meu peito.

Até que Liliana congelou ao meu lado, agarrando o meu braço com força. “Estou ouvindo” ela murmurou, seus olhos se enchendo de lágrimas. “É uma criança”.

Não raciocinei muito depois disso. Arrombei a porta e juntos, adentramos a casa de sua irmã. Tudo estava apático, largado e inutilizado. O silêncio era assustador, exceto pelo choro fraco da criança em algum lugar. Uma coisa era certa: Malorie não estava aqui por no mínimo uma semana. Lili não esperou por mim; ela correu escada cima e cada movimento seu levantava uma nuvem de poeira. Muito devagar, Lili empurrou a porta e nossos olhos inspecionaram o quarto que deveria ser dela. A cama estava arrumada, mas as portas do armário abertas e com apenas um punhado de roupas ali dentro.

Ela foi embora.

Essa percepção caiu sobre mim ao mesmo tempo que Lili cobriu os lábios, lágrimas escapando quando vimos o berço no canto do quarto. Ela correu e a criança quis chorar mais forte, mas sua voz estava quase se acabando. Eu finalmente cedi; fiquei paralisado. Nem piscava. Não sentia meu coração batendo, e meu sangue estava gelado. Lili se inclinou sobre o berço, sussurrando algo para o bebê e o trouxe para seu peito. Ele era muito pequeno. Pequeno demais. Porque ele está largado aí, pensei. Lili fungou, afastando a manta que o envolvia para olhar o rosto da criança.
Ela meneou a cabeça, mais lágrimas vindo. Mas ela sorriu. Não era um sorriso feliz. Era um sorriso quase impressionado.

“Elliott”, ela murmurou, tentando acalmar a criança. “Você é o pai dessa criança”.

Liliana disse aquilo com tanta certeza, tanta convicção. Apenas um olhar e ela selou meu destino para sempre. Eu não toquei na criança ou sequer olhei para ela em dias. Lili permaneceu acompanhando-a no hospital – porque não havia ninguém mais disposto – e eu fui com ela, mas nunca me aproximava muito. A criança estava desnutrida, sua inocente voz levou algum tempo para curar até que ela voltasse a chorar e fazer aqueles sons de bebê. Mas ela precisou ser mantida sob observação e eu precisei admitir que era meu quando a situação foi investigada, mas por Lili, menti que havia sido uma mulher qualquer que eu nem me recordava. Lili deve ter dito algo ao vizinho, porque ele cooperou conosco.

Consequentemente, chegou o dia em que eu deveria tomar uma decisão. Não tenho problema em admitir que fui um covarde, que aquela criança não tinha culpa de nada. Mas tudo parecia completamente irreal. Minha traição parecia estar em outro capítulo da minha vida, e imaginar Malorie abandonando essa criança sem saber se alguém a notaria antes que fosse tarde demais sempre me faz querer vomitar.

O que eu sei sobre criar uma criança?

Liliana balançou a cabeça, desgostosa, quando exigi um teste de DNA. Ela me disse “você não precisaria disso se apenas olhasse para aquela criança”. E o que eu contaria a ela quando crescesse? Porque eu não poderia permitir que sua mãe chegasse perto dela novamente depois do que fez, certo? Mas e se eu o entregasse para adoção? E se ele tivesse uma família de verdade? E se Liliana estivesse apenas se certificando de que a criança ficaria bem antes de me deixar? Como eu poderia abandonar a criança quando ele já foi deixado pela mãe?

Ainda me lembro de tudo isso como se tivesse acabado de acontecer, inclusive o momento em que finalmente entrei no quarto onde ela estava. Lili ficava lá boa parte do tempo, exceto quando estava na faculdade. Eu trabalhava, mas ainda não era desculpa, era? Quando entrei, Lili estava debruçada na guarda do berço com uma expressão de adoração enquanto conversava com a criança. Seu sorriso diminuiu quando me viu, eu me recordo. Ela me conhecia, mas por um momento, pareceu que não; como se ela soubesse o que eu iria decidir e não gostasse nenhum um pouco.

Eu me aproximei até que meus olhos encontraram o bebê no berço e Lili deu alguns passos para trás. Ele estava vestido com um macacão azul escuro que tinha a figura de um ursinho no meio. As pequenas mãozinhas estavam cerradas em punho e ele as balançava acima do peito, impaciente, como se quisesse se levantar e sair andando; até as pequenas perninhas se moviam – ou tentavam. Eu apoiei minhas mãos na guarda do berço e finalmente olhei para ele.

Era um garoto.

Ele já tinha um bom punhado de cabelo castanho escuro em sua cabeça. Era cedo para dizer, mas me parecia que seus olhos teriam um tom de castanho claro como avelãs, e ele não herdara minha heterocromia. O queixinho dele parecia como o meu. O formato dos olhos, os cílios espessos e escuros e o nariz muito parecido com o meu quando eu era um bebê como ele. Mesmo que se parecesse comigo, ele também carregava alguns traços de Malorie; mas ela e Lili eram muito parecidas.

Você quase se esqueceria de que este garoto não era meu e da mulher que eu amava.

Eu estiquei os braços e o garoto me observou, incerto e um pouco endurecido quando eu o peguei de forma desajeitada. Lili não me ajudou e eu consegui ajustá-lo em meu peito sozinho. Seus olhinhos continuavam fixos nos meus como se ele estivesse decidindo se gostava ou não de mim. Ele tinha um cheiro muito gostoso de bebê; me fazia querer mantê-lo perto por tempo indeterminado. Devagar, me recordo de ter levado o dedo até a ponta arrebitada de seu nariz e traçado seu formato, sentindo a familiaridade de nossos traços aquecerem um lugar em meu peito.

Ele pareceu se decidir por nós. Sua mãozinha agarrou meu indicador e ele permaneceu ali, me segurando tão firme quanto podia.  “Ele é tão pequeno”, eu me lembro de ter dito a Lili. “Parece que vai quebrar”.

Como ela pôde deixa-lo?
Nunca vou entender.

“Ele é,” Lili concordou, um sorriso em sua voz. “A coisa mais fofa que já vi na vida”.
E indefeso. Um inocente. Ele não deveria pagar por nossos pecados. Liliana se aproximou, tocando o punhado de cabelo com seus dedos. Seu olhar era pesado, cheio de sentimentos que eu não estava compreendendo de maneira lógica, mas os sentia refletir em mim.  Meu filho. Que incrível reviravolta dos acontecimentos. Eu não sabia muito bem o que sentir por ele nesse momento, mas sabia que nunca me perdoaria se fizesse o mesmo que sua mãe. Seria traição novamente, não contra uma mulher que amo e sim contra minha própria carne e sangue, e eu sabia que me arrependeria.

Não poderia simplesmente mandá-lo para longe como se minha vida fosse voltar a ser a mesma se eu o fizesse. Nunca mais seria o mesmo. Como poderia?

Eu olhei para Liliana naquele momento e não precisei dizer uma palavra para que ela entendesse. Eu tinha que fazer isso. Eu ia fazer isso, não importava o quão custoso fosse se tornar. Minha vida nunca mais seria somente minha; um filho mudava todo o curso para sempre. Essa não era uma escolha leviana. Era uma escolha que eu deveria honrar pelo resto da minha vida. Mas olhando para esse pequeno garotinho em meus braços, o que poderia ser tão terrível sendo como ele?

“Eu sei” meu amor me disse. “Estou com você.”

Alguns podem pensar que Liliana errou em assumir o filho de outra mulher, resultado de uma fodida traição. O filho de ninguém menos que sua irmã. Alguns pensaram quando isso começou a vir à tona. Afinal, o menino se parecia comigo e com Lili, mas Lili não andava pela cidade parecendo muito grávida. As pessoas começaram a somar um mais um muito rapidamente, e Malorie nunca apareceu. Eu imaginava que ela soubesse do rumo de sua decisão.

Quando Liliana disse “estou com você”, ela realmente quis dizer cada palavra. Mas acho que ela se apaixonou pelo garoto desde a primeira vez que o viu, como se ele apenas tivesse chegado até ela de uma maneira diferente mas sempre tivesse sido destinado a ser dela. Eu gostava de pensar assim. Ela ficou completamente encantada com ele. Ela o acolheu com todo seu coração sem questionar, sem ressentimentos, e como poderia verdadeiramente? Ele era apenas um inocente abandonado em uma casa empoeirada e Deus sabe o que poderia ter acontecido com ele.

Lili me escolheu novamente e o escolheu e quando a situação se tornou insustentável, quando percebemos que ao longo do tempo nosso garoto seria manchado pelo passado, ela olhou no fundo dos meus olhos e exigiu que fossemos embora. Queríamos que ele pudesse ter uma chance, um futuro, uma vida farta e feliz que nunca o remeteria ao horror ao qual sobreviveu com tão pouco tempo de vida. Deixado para a morte. Não sou um santo, muito menos estou próximo da perfeição. Mas existem limites. Para tudo.

Eu escolhi o nome dele para ter a minha inicial.

Ethan James Young. Meu forte e destemido garoto, desde sua primeira respiração.

Nós nos mudamos e conquistamos nossa própria casa em uma vizinhança agradável, ensolarada e cheia de jardins. Um lar de verdade onde poderíamos recomeçar visando apenas uma coisa, o que todos nós queremos da vida: felicidade. Sem ninguém para apontar o dedo em nossa cara e julgar nossa vida; julgar nossas decisões e nossos passados. Onde meu garoto poderia ser livre e construir sua própria história.

Estou um pouco atrasado com essa carta, se pudermos chamar assim.

Meu garotinho tem seis anos agora e eu estou sentado aqui ao lado de sua cama, observando-o dormir. Ele parece tão confortável, tão seguro. Como se nada pudesse atingi-lo nunca mais. Era assim que eu pretendia que fosse para sempre.

Ele é muito inteligente, até demais para sua idade. Mesmo com nossa caçula, Alyssa, de apenas dois anos, ele ainda era o “garotinho da mamãe”, mas costumava me seguir pela casa e além em todas as oportunidades que tinha. A cada ano ele se parecia mais comigo, seja em sua aparência ou em sua personalidade. Ele é muito corajoso e independente também, mas isso eu já sabia. Ele lutou pela vida antes mesmo de saber o que era a vida.

Meu filho é um guerreiro. Forte, lindo, uma alma pura neste mundo tão sujo.

Não posso negar que ele tem traços de Malorie. Eles são evidenciados quando ele se isola em sua própria cabeça e encara situações da vida com mais frieza do que é esperado de uma criança de cinco, seis anos. Quando ele tem pequenas explosões de raiva, o que é bom, porque me preocupo quando ele não tem nada. Quando ele deveria ser uma criança e gritar e chorar, ele apenas fica lá. Firme e orgulhoso. Mas eu quero que ele sinta. Quero que ele sinta tudo, porque é isso que o distancia de sua mãe biólogica.

Quero que ele sinta a bondade. Gentileza. Amor. Empatia. Raiva, mas controle. Ódio, mas misericórdia. Felicidade e tristeza. Solidão e companheirismo. Eu quero que o mundo se dobre aos seus pés para que ele possa descobri-lo como quiser, e quero que ele saiba que independente do que aconteça nesse mundo, nessa vida e além, não há nada que eu não faça para colocar um sorriso em seu rosto. Nada.
Então, minha pergunta. Como acabei tendo tanta sorte?

Como cometi o maior erro da vida e, como resultado, tive a maior bênção?

Ethan James Young é meu filho. Ele me ensinou o que é o amor incondicional. O que é amar tanto alguém, que é como se você sentisse as mesmas coisas. A esperança de que a vida será boa, porque Deus me ofereceu a maior dádiva de todas. É por causa de Ethan que eu quis ser pai novamente. É por causa dele que descobri minha melhor versão.

É tudo por ele.

E em tão tenra idade, é como se o tipo de amor que construímos e passamos adiante ligasse Ethan e Alyssa, as razões pela qual eu respiro, de uma maneira que talvez, ao longo do tempo, não fossemos capazes de compreender.

Malorie voltou há dois anos e foi um ajuste impossível. Mas eu passaria por cima de qualquer coisa, mesmo que isso significasse partir o coração de Liliana, para proteger o meu filho. Eu disse a ela. Eu mato Malorie antes de permitir que ela enfie suas mãos sujas e monstruosas no meu garoto.  Não foi uma surpresa que ela nem tenha tentado lutar por ele; nos breves e raros encontros em que Ethan a viu, seu rosto sustentava apenas uma expressão vazia. Mais tarde, em casa, quando Liliana o colocava para dormir era quando eu via como um filho deveria olhar para uma mãe de verdade.

Malorie só terá alguma chance de chegar perto de Ethan no dia em que eu morrer, porque não poderei matá-la primeiro.

Claro, porra, eu não pretendo morrer cedo. Preciso ver meus filhos se formarem, preciso ver meu filho conhecer seu primeiro amor, preciso estar presente em seus casamentos e definitivamente preciso conhecer meus netos. Porque preciso ver no rosto dos meus filhos, enfim, a magnitude desse sentimento transformar sua existência. Não terei prazer maior que esse na vida. Preciso ver Lili segurar seus netos e abraçar seus filhos, mesmo quando estivermos menores do que eles, encolhidos pelo tempo.

Todas as conquistas. O grandioso futuro que preparo, todos os dias, para eles.

Tudo começou com um garotinho de olhos cor de avelã.

Ele é a personificação de tudo que procurei na minha vida.

Eu me tornei religioso como Lili nos últimos anos. Porque eu rezo por meus filhos. Rezo para que a vida seja boa e que eles sejam sempre fortes. Rezo para que eles sejam, para sempre, irmãos. Rezo para que eles se amem, e não que somente um tente amar o mal do outro. Rezo para que a felicidade seja abundante mesmo através dos momentos ruins. Rezo para que eles tenham uma vida farta, um propósito.

E será um erro, eu posso sentir, mas terei sorte se a verdade nunca chegar aos ouvidos dele.

Ele é meu filho; meu e de Liliana.

Essa é a única verdade que existirá até que meu amor e eu tenhamos que dizer adeus a esta vida e esperá-lo além dela.

Com um coração cheio,
Elliott."

Dobrei o papel cuidadosamente e o deslizei de volta para o centro da ilha. Ethan chorou. Silenciosmente. Orgulhosamente.

Então, ele ergueu a cabeça e nesse momento, havia um sorriso resignado em seus lábios corados; um sorriso, enfim, sereno. Essa era a verdade definitiva, e nada mais importava, exceto que ele deu a seu pai e Liliana um propósito maior do que todos eles. Ele nunca esteve sozinho. Eu meio que sentia pena de Malorie, porque ela teve a chance de ter tudo: até mesmo de sentir o que Elliott sentiu com a existência de Ethan. Mas essa mulher estava além da redenção. Talvez já estivesse no inferno, apenas desesperada demais tentando levar alguém com ela.

Ethan se inclinou até que seus lábios pressionaram um beijo suave nos meus. Passei meu polegar em sua bochecha, afastando a lágrima solitária que ali escorregava.

— Obrigado — ele murmurou, a voz pesada em emoções.

— Sempre, Ethan — eu disse, capturando seu sorriso no meu. — Sempre.

.

CAPÍTULO NÃO REVISADO.

placar:
ethan: 1000000000000+
malorie: -0000000000000

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Início: 16/09/23 Término: ?